A propaganda, claramente,
nos fala do desapego, embora de forma comercial. Ela se torna emblemática para
pensarmos e analisarmos algumas situações referentes ao apego, tanto na sua
esfera material, quanto na sua esfera espiritual. O que de forma alguma nos
impede de pensarmos e refletirmos: a que e ao que estamos apegados? Na maioria
das vezes não sabemos, não percebemos e só nos damos conta em situações
limites. Situações nos quais privados desse algo constatamos o tanto que
estávamos apegados, desde uma pessoa, passando por circunstâncias até chegarmos
às coisas. Estamos presos, apegados a algo ou alguém.
Friso isso, porque espiritualistas
falam muito do apEGO e do desa-pEGO. Estamos entendendo, o apEGO como aquilo
que se associa ao ego e o desapEGO como aquilo com o que o ego não mais se
associa. Mais do que uma associação o apego é uma identificação. E como nos
identificamos atualmente. Temos tantas identificações que identificar-se tem sido
um problema. De todo modo, vale o exame de consciência: você está apegado a
que? A quem? Se morresse amanhã ficaria preso a alguma coisa? Alguém te
prenderia? E aqui exploramos duas possibilidades do apego.
Recordo-me que na década
de 1990, eu respondi a essa pergunta eu era mais solto, não tinha nenhum
entrave existencial que me fizesse pedir por mais dois minutos caso a morte me
chamasse. Hoje, tenho filhos, tenho ações não feitas, tenho amores não
concluídos. Hoje estou apegado, mas é isso um mal como alardeiam os
espiritualistas? Provavelmente, não. Para mim e muitas pessoas que conheço e
atendo, esses apegos nos deram ancora, nos deram chão, nos deram Terra e
incorporação. Sem eles estaríamos vagando por aí. Muitos veem e interpretam
isso como sendo condição necessária para o desenvolvimento e a prática
espiritual, o que não deixa de ser uma verdade. Mas, não posso deixar de frisar
e salientar como que o se atentar para o relacionamento, para o matrimônio,
para com os filhos, remete a mesma compenetração e profundidade da vida
celibatária, monástica, dedicada ao outro. Quero dizer que embora esses dois
caminhos sejam apresentados como antagônicos, há possibilidades cada vez
maiores de seres que os integram, os unificam e caminham pelos dois ao mesmo tempo,
que percorre um só, ou ambos.
Na vida de modo geral não
é nada diferente. Nos apegamos, nos agarramos a pequenas coisas que se nos
tiram- agredimos, ficamos ofendidos, magoados, chateados. A maioria de nós tem
dificuldade de deixar uma pessoa passar na nossa frente ao entrar no ônibus e
quando nos sentamos... aquilo não é mais uma cadeira, é um trono. Nós nos
apegamos à cadeira de bus. Eu fico curioso com tudo isso, como que ao alugarmos
um quarto no hotel, no primeiro dia tudo é estranho, no segundo, terceiro dia,
nos apegamos. Somos capturados pelo pronome possessivo MEU. Você poderia pedir
para limparem MEU QUARTO! Você pode me chamar no MEU QUARTO! Vamos embora no
dia seguinte, mas tomamos posse. Fazemos o mesmo movimento com casa alugada,
com carro, com bichos, com outro ser humano. A medida que o pronome vai sendo
usado com desenvoltura, mais o apego cresce, se avoluma em nós. Mais prendemos
e vamos ficando presos.
De modo que desapegar não
é fácil e não é atoa que é a grande lição do budismo e da maioria dos
ensinamentos espirituais. Nas reuniões espirituais o que observamos são os
apegos, são eles que nos prendem. Não importa aqui se é o de álcool, de drogas,
de sexo, de carne, de ciúme, amor, ódio e vingança. É o apEGO que nos
aprisiona, nos retém, nos paralisa, nos inviabiliza, porque todo apEGO é
repleto de medo, de ansiedade e por vezes de angustia.
Longe da proposta do
abandono e da renuncia do ego o que reputo salutar é praticarmos a arte do
desapEGO todos os dias, ou melhor, todo mês, no mínimo uma vez por ano para que
ele não se solidifique muito. Para que a gente não se ache demais,
demasiadamente. Quanto mais seres, objetos temos sob nossa captura, maior a
sensação do Ego de comando, de domínio, de potência, de arrogância, enfim, de ilusão.
O dar, o compartilhar, o renunciar auxilia na diminuição desse estado.
A arte OLX, isto é, de
desapegar-se das coisas, dos outros, de nós mesmos vai nos auxiliando a
consolidar um espaço de liberdade e autonomia aos seres a nossa volta. No que
se refere aos objetos, a medida que nos desapegamos vamos ficando mais livres,
mais conscientes, aquele espaço antes reservado a ansiedade, a angustia, a dor
e ao sofrimento vai sendo preenchido por algo mais leve, mais tênue, mais
substancial. Uma outra substância vai crescendo e nos coabitando, vamos ficando
mais plenos de nós mesmos ao não estarmos apEGOdos, identificados a outras
coisas que são e não são eus.
Só não gostei de uma frase de Osho no meio do texto, dele como exemplo, pois há muitas informações negativas sobre essa pessoa, quando ele esteve aqui na Terra... Acho que ele não era bem a pessoa que muitos acreditam que tenha sido...
ResponderExcluirEntão, Alex; Osho é uma figura controvertida. Um anti-guru, mais iconoclasta que Krishnamurti. Mas, os ensinamentos deles são bacanas. Recomendo a todos os cristãos a leitura da Semente de Mostarda é uma explicação mto bela do evangelho. Abraços.
ExcluirEntrando aqui hj, 8 de maio de 2021 anos depois, rsrs. Na Netflix tem um documentário sobre o Osho que acentua ainda mais as controversias que o Alex acabou mencionando, 5 anos atrás. Wild Wild Country.
ResponderExcluirNão consegui terminar de ver.