quarta-feira, 29 de agosto de 2012


SUPER-CLÁSSICO


É triste o jogo de uma torcida só. Na verdade, a partida de futebol que priva a outra equipe de ter ao seu lado um torcedor na arquibancada com radinho de pilha cria outra coisa- o anti-jogo, o anti-futebol.
Todos sabem que o campo de futebol é uma arena no melhor sentido grego, isto é, palco das tragédias. Encenação dos sentimentos e emoções humanas. São 90 minutos em que se joga não uma partida e sim a própria vida, a própria morte. Os jogadores não são mais seres humanos e sim deuses e semideuses que conduzirão os seus a vitória, ao triunfo. É épico, é uma epopéia. Quem não se recorda da batalha dos Aflitos? Quem não se recorda de Reinaldo calando o Maracana? É algo para sempre.
Minas fez e continua a fazer o que não há precedente na tragédia universal: restringir o acesso a batalha para apenas um dos lados do combate. Alegam motivo de segurança. Mas, ontem deram atestado de incompetência publica. A incompetência não estava no fato de se arremessar copos, celular, pipoca para dentro do campo, mas em colocar em risco toda delegação de uma equipe, toda comissão de arbitragem. O que o Ministério Público e a Policia Militar do Estado de Minas disseram ontem e vem dizendo há dois anos é que o futebol é uma guerra. Como salientei anteriormente, eles vem incentivando a um grupo de delinqüentes, de perturbados, que todo o mundo é uma arena e que todo aquele que se opõe ao rival é inimigo que deve ser morto.
A PM vem acreditando que pode impedir um sujeito de arremessar um copo em direção ao arbitro, uma pedra em direção ao ônibus, um tiro em direção a um transeunte com a camisa rival. E, simplesmente, não podem. E esta é a incompetência e irresponsabilidade maior, não admitir isso de forma clara. Não admitir que a única forma de se dar segurança é contando com a submissão voluntária de muitos, com a obediência civil. Sem ela não há segurança publica. Se os sujeitos quiserem se sublevar o Estado não resiste. Assim, o que cabe a segurança pública é imputar e responsabilizar os culpados de agressões, seja a da injuria qualificada, seja a do homicídio doloso. Impedir, restringir o acesso a partidas de futebol ou outros eventos daqueles que reconhecidamente não conseguem se comportar de outra forma.

Retomo a argumentação de que o futebol no mundo inteiro é a arena popular. É o palco das grandes encenações. Traz junto a si o caráter da mimese (repetição) e da catarse. Cada tordedor vai a campo na expectativa de que as coisas se repitam, isto é, que seu time vença mais uma vez, como de costume, como era desde sempre. O adversário vai à expectativa de que hoje será diferente, hoje uma nova estória começa a ser contada e desenhada. O que todos sabem é que novos heróis vão surgir, eternos heróis serão ressuscitados, vilões surgirão. Essa beleza não pode estar restrita apenas a um lado dos torcedores.  É covardia: contra aqueles que torcem, contra aqueles que jogam, contra aqueles que apitam e até mesmo contra aqueles que trabalham para dar segurança. Desequilibra o fiel da balança. Intensifica um momento cuja tensão é peculiar e intrínseco e diga-se de passagem, perder ou retirar isso representa o final do futebol, a retirada do seu caráter mágico. O que necessitamos é deixar cada vez mais claro que o foco das batalhas, das tensões, distensões se dão no gramado, na correria de onze contra onze, com regras claras e definidas. É lá que cada jogador se faz personagem de um gladio, de uma arena. Lá ele representa não apenas um homem e sim toda uma nação. Nós meros mortais roemos os dedos, os dentes, nos apertamos, nos abraçamos, rimos, choramos e ao final voltamos para casa com um sorriso nos lábios, ou uma lágrima perdida no olhar. 
No final nos preparamos para que a outra cena, no próximo jogo seja melhor. Mas não deveríamos perder de vista que no término disso, nos cabe abraçar o companheiro de arquibancada. No final do jogo, acabou a encenação e retomamos a vida normal em que atleticanos e cruzeirenses co-habitam o mesmo espaço, dormem sobre o mesmo teto. 


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