domingo, 17 de março de 2013

7 de março


Desde o dia 7 uma inquietude me agita. Estava dando aula no 1º ano, quando uma aluna disse que amanhã elas estariam dispensadas. Não entendi o motivo e quase me zanguei. No que ela me explicou se tratar do dia 8. Mas, aí olhei para ela, olhei para as outras alunas, imaginei todas minhas alunas e tive que fazer a pergunta: vocês são mulheres?


A pergunta é cretina, eu sei! Mas o que eu queria discutir é se elas se viam mulheres, não enquanto gênero. Eu na minha ignorância estava me perguntando: o que é SER MULHER? Por que dentro do meu imaginário, simplesmente, elas não se encaixavam.


Sei que o que é SER MULHER é outra pergunta absurda, ridícula, mas diante do meu imaginário e a presença física de cada uma delas, eu tive que a realizar. Nisso, uma aluna me disse que já se nasce mulher. Eu, rapidamente, recupero Simone de Beauvoir e fico pensando comigo mesmo... será? Enquanto gênero eu concordo. Enquanto gênero, elas são mulheres desde o quinto mês de gravidez, mas isso ainda não é ser mulher. Nascer mulher não é ser mulher. Parece que o SER mulher é uma construção social repleto de hábitos, costumes, desejos. Hoje há uma universalização e plastificação das identidades, mas já houve tempo que as mulheres nórdicas, guerreiras e combatentes eram tidas como homens para os romanos que deixavam suas mulheres em casa e possuíam outras ocupações. 


Na minha juventude, isto é, no milênio passado, alunas não recebiam parabéns pelo dia das mulheres. Era notório na mentalidade da maioria, inclusive delas mesmas, que elas não eram mulheres na acepção maior do termo. Hoje não. A maioria das alunas da sala se reconhece e se afirmaram mulheres. O que inicialmente é bom, mas como pai eu fiquei super preocupado. Explico a preocupação mais no final.


Uma aluna me disse: “ se eu trabalho, cuido de casa, cuido dos meus irmãos, estudo; eu sou mulher!” Como dizer o contrário? Se uma garota de 16 anos trabalha fora para ajudar em casa, se a outra cuida dos irmãos para que os pais trabalhem fora, se a outra tem a vida sexualmente ativa, como não compreendê-las como mulheres? Por que eu fico desafiando o bom senso e também não concordo, dizendo simplesmente: sim vocês são mulheres?


Simplesmente, porque como me disse outra: “ uma semente, ainda que não plantada já é um fruto. Uma maça mesmo verde, já é maça.” E eu aproveitei a metáfora do fruto, pedi desculpa pela grosseria, mas tive que dizer: sim, mas o fruto verde, ninguém come.


De modo que o ser mulher é uma discussão sobre a mentalidade e também sobre a sexualidade. Algumas quiseram ligar o ser mulher a maternidade, mas nem precisei entrar no mérito, porque muitas objetaram essa visão. Falando que não achavam a menina grávida de 13 anos mulher. Outra, já revoltada comigo, me perguntou: “ e o que é ser homem?” E isso é tão mais claro, tão mais tranqüilo, tão mais límpido. O homem é homem desde o nascimento, mas podemos demarcar sem maiores implicações- infância, adolescência, juventude, adulto.Poucos alunos se aborrecem quando chamados de jovens e salientando- vocês não são “homens” ainda. Essa clareza esta sendo perdida no universo feminino. Todas já se acham mulheres, independente da idade. Meninas de dez anos se vestem como “mulheres” de vinte e cinco. Passam maquiagem como mulheres de trinta. Meninas de quinze, dezesseis anos entram no bisturi como se tivessem quarenta, cinqüenta. E mulheres de sessenta usam mini-saia como se tivessem treze. Esse fenômeno é estudado por outro viés, mas aponta para as diretrizes da sociedade de consumo que tem como vigor e centralidade das suas informações a juventude.


O ideal primaveril, jovem, sarado, gostoso, bonito, novo no qual todos devem se submeter. As rugas são proibidas, as celulites um atentado ao pudor. Toda pele tem que ter a marca de vinte e poucos anos de idade. Nessa toada, nossas alunas não podem ser mais crianças, menos ainda adolescentes, agora não podem nem ser mais jovens; são mulheres no sentido adulto do termo.


Essa é a minha preocupação. Há uma pressa para ser mulher que só agrada a pedófilos e tarados. Há uma forçação de barra para o amadurecimento que chega a ser grosseiro, temerário, escandaloso.


Ao final, eu disse para elas que o meu receio em cada uma delas em se ver mulher e se achar mulheres no sentido adulto do termo é que provavelmente aos 19 anos elas vão se casar, terão filhos, cuidarão da casa, do marido sem antes ter desfrutado dos encantos da feminilidade. Mais trágico ainda, aos meus olhos, é que elas estarão e estão prontas para o abate. Elas são presas fáceis para pedófilos, conquistadores de todo monte. Alguns podem estar se perguntando, mas não foram sempre? Antes a inocência protegia. Agora, sem inocência, precisa-se ter uma maldade, uma malícia que provavelmente não se tem aos quinze anos, pelo menos não para confrontar com alguém de vinte e cinco, trinta anos ou mais.

Falei mas não defini o que é Ser mulher para mim; faço isso no post seguinte. 


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