Jung nos ensinou que a
mulher e o feminino não são a mesma coisa, na mesma medida em que o masculino e
o homem não são sinônimos. O psiquiatra suíço seguindo a tradição do Tao nos
mostrou que em cada homem há uma parte feminina (anima) e em cada mulher uma
parte masculina (animus). Isso desgrudou o que até então parecia sinônimos. De modo
que há mulheres yang, isto é com um aspecto masculino mais desenvolvido e há
homens yin, ou seja, com aspectos femininos mais acentuados e não estou me
referindo à sexualidade, pelo menos, não ainda.
No entanto, faço essas colocações
para salientar como trabalhamos mal com o feminino. Como este feminino esta
sendo e sempre foi massacrado, excomungado, torturado, silenciado.
O que tenho observado é
que o feminino não tem lugar. Cada vez mais os lugares do feminino são
diminuídos, negligenciados, desrespeitados, desvalorizados. Nossa sociedade
valoriza, sempre valorizou, mas agora muito mais, as dimensões masculinas do
existir. A distinção com outros momentos é que antes os espaços femininos da
casa, do lar, da maternidade mantinham-se invioláveis. Hoje não. Todos esses
espaços foram igualmente ‘contaminados’. Não há mais exclusividades, os espaços
são compartilhados. Somos cada vez mais uma cultura unissex e para alguns se
tornará bissexualizada. Mas é um unissex que sobrevaloriza o masculino. Não
sei.
Sei que o feminino esta
sendo repreendido por homens e mulheres e parte considerável da nossa tristeza,
da nossa angústia, das nossas depressões, dos nossos remédios tarjas pretas é
que não há mais úteros na sociedade. Por qualquer lugar que se ande todos têm
um pênis. Estamos cada vez mais irascíveis, mais violentos. Ao ponto de
agredirmos as mulheres, espancarmos, matarmos, minuto a minuto. Não apenas no
Brasil como no mundo todo. é um mundo de espadas que competem a todo momento
querendo mostrar ora seu tamanho maior que dos outros, ora seu corte mais
profundo que do outro.
Aos meus olhos não sabemos
mais o que fazer com essa energia do feminino que em contrapartida aumenta a
sua intensidade. É um paradoxo: na medida em que se intensifica a energia
feminina, mais sem lugar esse feminino fica. Misticamente falando há uma
energia feminina no ar. Pais carregam filhos no colo, os beijam, andam de mãos
dadas, os levam e os buscam na escola. Mães saem pela manhã vão para o
trabalho, depois a faculdade e retornam para casa. É um engano pensar a energia
feminina com as representações de chatura e meiguice com que ela é apresentada.
A energia feminina é suave, mas a suavidade dela é similar a da água- já viram
enchente? Tsunami? É tudo água, a mesma que nos banhamos, a mesma que bebemos,
a mesma que se conforma a qualquer coisa, objeto, mas exatamente a mesma que
supera qualquer obstáculo. A energia feminina é a energia da persistência, da
paciência. Sabe mãe de presidiário que viaja toda semana para ver o filho? Sabe
mãe de dependente químico que sai toda noite a procura do filho? Até que o
primeiro saia da prisão, até que o segundo se liberte das drogas. Sabe aquela
coragem feminina que mesmo diante da ameaça de morte, de prisão, de desterro,
continua acompanhando o corpo do filho, marido, amigo crucificado? Quando os
homens por prudência resolveram se retirar?
Enfim, a energia feminina
não tem nada das representações molengas, sem firmeza que apresentamos. A
energia feminina é intransigente. É firme. É convicta. As maiores qualidades
que atribuímos aos homens não vem do seu aspecto masculino e sim de suas
dimensões femininas. Este resgate fica mais ou menos declarado no ditado
popular: “por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher.” Esse por
trás não é meramente físico é igualmente psíquico.
Mas, o ponto contraditório
é que essa energia assusta. Essa energia é assustadora. Não sabemos o que fazer
com ela, como lidar com ela. Não se ensina nada sobre ela. Afinal, o que fazer
com a ternura? Quando eu sinto ternura, compaixão, por alguém que nunca vi, não
conheço, o que eu faço? E se for outro homem, acaso eu sou gay? Um parênteses,
acho que uma maioria de homossexuais são pessoas que interpretaram esse feminino como
sendo questão de gênero, não necessariamente.
UMA VISÃO INTERNA-PSÍQUICA.
Prosseguindo... internamente, tenho visualizado nos atendimentos que presto, sobretudo entre as mulheres, que o feminino esta preso. Preso mesmo. Energeticamente, ao analisar os corpos sutis, muitas e muitos trancaram seu feminino em torres de marfim (a minha esta em uma), outras continuam fazendo uso de cintos de castidade. Algumas ignoram por completo onde estão esses aspectos delas. São mulheres, mas o feminino enquanto desejo, sedução, querer, magia esta completamente esquecido, negligenciado. E é incrível como é essa energia que se volta contra elas. Como é essa energia que se torna a maior rival e as vezes inimiga delas. Essas energias se apresentam algumas vezes aos meus olhos como Pombas-Giras, outras vezes como Ciganas, outras vezes como mentoras espirituais.
Sem entrar no mérito da
incorporação dessas forças, elas estão presentes e atuantes no entorno delas. Provocando
doenças, desentendimentos, mas tendo como intenção chamar atenção, se fazer
vista, lembrada. É como se uma parte nossa nos chamasse atenção para a existência
de um aspecto negligenciado.
Focando o caso das
mulheres, mas agora pelo universo externo, quando eu pergunto a elas o que elas
acham das mulheres que andam de burca, das que são apedrejadas por terem
cometido adultério, enfim quando falo de machismo, elas sobem nas tamancas. Acham
um absurdo que isso ocorra no século XXI. Fazem discursos maravilhosos. No
entanto, quando digo que internamente, elas são ainda mais repressoras, elas se
assustam; mas são. Quando tento mostrar que elas têm feito com o feminino delas
é mais opressor, elas se assustam. Mas, quando se faz possível visualizar esse
corpo sutil, muitas se encontram de burca, outras aprisionadas em torres,
algumas com cinto de castidade. Outras recebendo o que hoje poderíamos chamar
de assédio moral.
O FEMININO SEM
LUGAR.
De modo que o feminino não tem espaço não é só no mundo, o feminino não tem espaço dentro de nós. Poucos de nós dão espaço para o feminino e são para estes que as coisas acontecem. As chaves da prosperidade, da mudança, da criatividade, da inventividade esta no feminino preso, torturado, amarrado, castigado. Ficamos nos perguntando por que as coisas não acontecem em nossas vidas e elas não acontecem por não darmos espaço para o feminino.
De modo que o feminino não tem espaço não é só no mundo, o feminino não tem espaço dentro de nós. Poucos de nós dão espaço para o feminino e são para estes que as coisas acontecem. As chaves da prosperidade, da mudança, da criatividade, da inventividade esta no feminino preso, torturado, amarrado, castigado. Ficamos nos perguntando por que as coisas não acontecem em nossas vidas e elas não acontecem por não darmos espaço para o feminino.
O feminino representa
nossa potencialidade. O feminino representa nosso prazer, nosso sonho, nossa
fantasia, mas a gente é ensinado a não levar isso em consideração. Somos
ensinados a acreditar que mesmo gostando de cozinhar o futuro é ser engenheiro,
que amando escrever o futuro é ser padeiro. Somos desacreditados dos nossos
sonhos, porque não sabemos onde colocar na vida.
A busca pelo sucesso que
descabela as pessoas tem a fórmula masculina da dedicação, da ambição, da
metodologia, da disciplina, mas tem também a feminina que é DESEJAR e aceitar
que aconteça.
É simples. De uma
simplicidade que amedronta. Mas é a simplicidade de se saber que o seu filho
não deve sair hoje, nem casar com essa pessoa. A simplicidade de apostar o que
tem na bolsa de valores e dar certo. A simplicidade de acreditar que a sua
intuição esta certa. Essa simplicidade que não é lógica, não é convencional não
tem um lugar seguro para desenvolver. Durante séculos aqueles que demonstraram
esse tipo de conhecimento foram queimados, expulsos, barbarizados. Durante milênios
aqueles que desenvolveram habilidades opostas as masculinas foram
incompreendidos, violentados, degradados, ridicularizados, torturados,
explorados.
De modo que ainda hoje
falamos que há espaço, muitos de nós continuamos guardando, na verdade,
trancando o feminino do mundo e nessa tranca aprisionamos o que há de melhor em
nós. Num primeiro olhar mais apressado esse lugar é o lugar do desterro, é o
lugar da repressão e da reprovação. Num olhar mais acurado, em grande parte das
vezes, esse é o lugar da proteção. É o lugar no qual o cavalheiro encontrou
para proteger a sua amada das dores, dos sofrimentos, da sua falta, das suas
ausências e especialmente das habilidades que ela possui e amedronta as
pessoas.
Liberta o feminino é mais
do que proteger as mulheres é dar espaço para os sonhos, as fantasias,
especialmente os desejos e os quereres.
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