domingo, 28 de julho de 2013

Snowden: a sociedade discutindo a liberdade individual.


O caso de espionagem de Snowden reacende velhos debates e considerações- a mais importante aos meus olhos é a da liberdade na sociedade de informação. No entanto, o mais curioso para mim é o espanto indignado, quase com ar de surpresa e estupefação sobre a espionagem. Fico me perguntando: será mesmo que o roubo de informações, a bisbilhotagem internacional é algo mesmo recente, súbito, inesperado como a maioria dos governos pintaram e querem fazer acreditar? Cada um mais surpreso que o outro com algo que entre eles não é apenas comum, como fundamental, essencial e faz parte do métier; ou seja, não há informação capturada por uma agência de inteligência que não seja compartilhada no mínimo com outras duas.

Sem adentrar a história, mas também não a deixando a reboque, é bom recordar que a Inglaterra para cada kg de ouro saqueado em alto mar dispunha de uma rede de roubo de informações igualmente elaborada e destemida. Entrando no século XX e passando pelos países latino-americanos, não houve um, siquer um, cujas ditaduras não tenha se efetivado e se cristalizado sem o apoio irrestrito da CIA (inteligência americana) que ensinou tudo, inclusive tortura. Assim, me causa espécie, trinta e poucos anos depois, toda essa gente se mostrar indignada, como se de fato isso fosse novidade. Assim me pergunto: há alguém de fato, que não saiba que somos vigiados e que o uso gratuito da internet, especialmente de sítios como faceboock e google, alimentam as estatísticas mundiais? Ou melhor, o quanto eles custam caro à liberdade individual, mas que aceitamos pagar esse preço numa renúncia coletiva de nossa individualidade?

Tentando acreditar nessa inocência fiz duas pesquisas rápidas. Uma relacionada a hackers e outra mais melindrosa que exponho daqui a pouco.

I Hackers



No que se refere a hackers institucionais, com carteirinha de governo e tudo, encontrei inúmeros, mas destaco os chineses que tem roubado informações corporativas do mundo inteiro, inclusive de embaixadas, como fizeram com a canadense por anos a fio. Não obstante, encontrei uma denuncia de hackers informando que agência de segurança alemã estava introduzindo trojans em computadores dos seus usuários. Nessa loucura toda, o que ficou implícito é que quanto mais clandestino, caso de hackers russos, mais ousado são os ataques a embaixadas e a dados oficiais.


II Espionagem psíquica

Foi nessa direção de encontrar órgãos oficiais e oficiosos que me recordei de filmes como “Scanners sua mente pode destruir”. Era um filme da década de 80 que falava do uso de paranormais para obtenção de informações privilegiadas. Esses paranormais eram treinados por agentes do governo, no caso russo e americano para realizarem espionagem e contra espionagem.

Assim, a partir dessa idéia “ingênua, surreal”, exagerada do filme fui buscar mais informações e pude verificar que a guerra psíquica é um tema amplamente documentado, especialmente pelos russos. Inúmeros psicólogos publicaram seus vários anos de pesquisa de ponta. Esse know How foi jogado fora? Será mesmo que as autoridades militares que ridicularizam o fenômeno psi em público fazem o mesmo em meios fechados? Independente das respostas hoje sabemos sem sombra de dúvidas que a guerra psíquica foi uma arma utilizada por potencias mundiais no período da guerra fria e depois dela também.


III Relações



Nesse ponto, o que acho interessante delinear, de forma mais clara, é que, praticamente, não há distinção entre o espião psíquico e o hacker. O mais inusitado de tudo é que acreditamos que é mais possível realizar isso de posse de um artefato tecnológico do que por mecanismos naturais (mente e os outros sentidos). As habilidades são correlatas. Adentrar um computador, invadir um sistema à distância é similar a acessar a mente de outro ser humano; mas volto a insistir que achamos isso muito menos provável e possível, o que não deixa de ser uma pena.

IV O Imaginário  

Sendo que entrando nesse imaginário, que recupero filmes como “O Inimigo do Estado” (1988), “ A Rede” (1995); “A Senha” (2001); “Controle Absoluto” (2008) para falar dessa relação do Estado com mecanismos tecnológicos  capazes de espiar a vida de seus cidadãos. Mais do que espiar são capazes de adentrar, invadir e controlar a vida dos cidadãos. E a se espelhar pelos filmes mencionados, cada vez com maior nível de precisão e sufocamento. 

É então de posse desse cenário e desses argumentos que recupero Snowden e a espionagem. Acreditar que não estamos sendo vigiados, controlados, mapeados é um deleite da inocência. É um pensamento ingênuo de quem não esta atento às transformações e imposições de uma nova sociedade. Nesta nova ordem, ao que parece, não tememos abrir mão de nossa liberdade individual desde que tenhamos condições e meios de usufruir dos recursos que nos oferecem. No final das contas podemos dizer que vendemos a nossa liberdade por um preço bem barato. Ou, pode-se alegar, que o conceito de liberdade foi deslocado e isso é paranoia filosófica.

De todo modo, a espionagem esta em toda parte, em todo lugar. Há câmeras de vigilância espalhada pelas cidades. Câmeras de vigilância no supermercado, lojas, casas, apartamentos; por enquanto, poupam os banheiros. Os programas de televisão de maior apelo são os que expõem a vida das celebridades, noticiando desde o que elas comeram até com quem saíram, o que vestiram e coisas do gênero. Pelo Twitter e face pessoas comuns registram um a um dos seus passos durante o dia, num pedido incomum de ter a vida compartilhada, ou vasculhada. Muitas vezes essa é uma pessoa que pede ao pai e o marido sair do quarto para não invadir a privacidade dele, sem ver nisso nenhuma contradição. Isso tudo sem contar  os programas de monitoramento no qual se acompanha a vida das pessoas passo a passo, meses a fio, e que no Brasil já dura mais de uma década. 

V Snowden

Finalizando, Snowden expõe as feridas de um mundo que recusamos a enxergar. Ele indica, claramente, que no momento no qual mais se fala de liberdade individual, na qual achamos, ou sabemos, que gozamos de um grau de liberdade nunca experenciado em toda a história da humanidade, nunca estivemos tão controlados. Essa contradição é algo que teremos que aprender a lidar nos próximos anos, talvez décadas. Teremos que aprender a lidar com os limites do controle, dos acessos, dos registros, das informações criadas na sociedade da informação. Sendo que nessa nova abordagem não podemos ser ingênuos de acreditar que uma tecnologia como o Google Earth pode ser disponibilizada para o mundo inteiro sem ter ficado completamente obsoleta para quem as criou por volta dos anos 50/60. Ou vamos continuar acreditando que os satélites e telescópios de milhões, bilhões de dólares são mesmo para as telecomunicações pacíficas e não bélicas? Vamos continuar acreditando que o sequestro de informações por parte de agentes oficiais é monitoramento contra possíveis ataques terroristas? "Rede de Intrigas" (2008) seria o ícone do que estamos falando, tanto nos furos, quanto na possível paranoia desse mundo que antes privado e seleto tem se tornado mais coletivo, por vezes brutal e totalitário. 


E ainda acerca desse controle não vou entrar no terreno dos monitoramentos e implantes realizado por... por??? 

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