O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor
O que você não pode, eu não vou te
pedir
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone
Todos sabem que os
relacionamentos são tensos. Conviver é perigoso. Mulheres têm TPM, variações
hormonais e explodem.... ora de candura, ora de ternura, ora de raiva, ora sem
motivo aparente a não ser aquela gestação invisível que precisa ser parida. No
entanto, a maior influência vem da lua, este astro romântico. E pobre coitado
do homem que não sabe disso. Mas, não quero falar da lua. Quero falar dessa
relação louca que desenvolvemos. Mais precisamente, quero falar da loucura de
pedir ao outro, justamente aquilo, que ele não pode nos dar. Pelo menos não
para aquela pessoa, muito menos naquele momento.
E me ocorre duas coisas:
uma- se fazemos isso de forma consciente ou inconsciente? Duas- se fazemos
tendo como finalidade terminar a relação?
Respondendo as duas de
uma vez só, acredito que haja uma inconsciência intencional, ou seja, queremos
que algo termine, queremos que algo acabe, não necessariamente, a relação. Pelo
contrário até, muitas vezes se deseja que a relação se transforme, mas a falta
de clareza acaba levando a relação à berlinda.
Na letra dos Engenheiros
a relação é pensada e discutida pela ótica de um. Esse um tenta explicar ao
outro os seus limites e isso não é uma tarefa fácil. Nem para quem realiza o
comunicado, nem para quem o recebe. Quem o realiza, provavelmente, já o tenha
feito outras vezes, de outras formas, em outros carnavais e com outras
fantasias. Quem recebe se depara com uma situação na qual pode estar imprensado
na parede, diante do seu limite. E toda questão é: como cobrar? Como pedir ao
outro aquilo que ele não pode dar? Por outro lado, como não cobrar? Como não
pedir ao outro aquilo que a gente deseja?
Assim, se de certo modo,
acho que não podemos, nem devemos fazer tais exigências. Por outro lado, não se
pode exigir que a pessoa que realizou o pedido se acomode e viva insatisfeita, permanecendo
numa situação que ao que tudo indica a faz infeliz. Tento exemplificar:
frigidez, impotência, depressão são motivos para se terminar uma relação? Sim?
Não? Depende? Bebida, traição, toalha molhada em cima da cama, calcinha
pendurada na torneira são motivos para se terminar uma relação? Muitas vezes
mais do que terminar, retirar essa pessoa do seu convívio? A maioria vai dizer
que não, mas a maioria terminou relacionamentos por motivos similares a esses.
É aqui que se relacionar
é complicado, é tenso, é árduo, é difícil e é a um só tempo útil e inútil
ficar brigando. Útil porque as pessoas podem mudar. Inútil, porque as pessoas
não mudam. Mais precisamente, há coisas que nós mudamos, deixamos de fazer, de
realizar, de praticar. A namorada pode deixar de conversar com um determinado
amigo devido ao ciúme do namorado. O namorado pode deixar de jogar futebol
cinco vezes na semana por carência da namorada. O marido pode voltar mais cedo
para casa a pedido da esposa. A esposa pode falar menos das atividades do dia
para não entendiar o marido. Isso é possível fazer. Mas há princípios que
talvez o outro não possa, em detrimento de deixar de ser ele mesmo, abrir mão.
Assim existem mudanças que se solicitadas ao outro só podem ser atendidas se a
pessoa deixar de ser quem ela é, ou o que ela foi até aquele momento. E em
parte é melhor procurar outra pessoa do que desejar essa mudança.
Relacionamentos terminam,
findam. E todo término é prenuncio de morte, ou melhor, sensação de morte,
mesmo que gere alívio. Mesmo que temos ciência da vida eterna. Mas, o término
faz parte do ato de se relacionar.
Enfim... há pedidos
nossos que nunca serão atendidos, que o outro, simplesmente, não pode atender,
pois se não, ele já não é mais ele. Ele é outro.
E aqui é talvez um dos x
da questão que escapa a nossa consciência: o que de fato queremos? Quem de fato
amamos ou estamos apaixonados? Se estamos em busca de um par perfeito, um ser
idealizado na própria cabeça, é fácil, simples, ao não encontrarmos as características
que desejamos, imediatamente, mudarmos a nossa afecção. Mas, isso significa que
não estamos apaixonados, ou envolvidos com o outro e sim com nosso mundo ideal.
Se por outro lado, nos
apaixonamos pela pessoa e descobrimos que ela é assim, vivencia-se a relação. O
meio termo entre o egocentrismo da primeira experiência e o altruísmo da
segunda é a clareza- dos sentimentos, da linguagem, do diálogo. Ou seja, aquele
papo chato, mas real e verdadeiro: “te acho uma pessoa super bacana, mas você
não é a pessoa com quem quero ter meus filhos”. Ou, “gosto demais de você, mas
te prefiro como amigo(a) do que namorada(o)”. Ou, “você é a mãe dos meus
filhos, mas eu desejo a sua amiga”, o inverso é recíproco: “você é o pai dos
meus filhos, mas eu não te desejo mais como homem”.
Parece que é fundamental
termos esses dizeres, essas conversas para diminuirmos nossas dores, amarguras
e infelicidades.
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