Ao que parece não há
lugar para sabedoria, para experiência acumulada, para anciãos.
A memória boa não é a que guarda e sim a que deleta. A memória deve
estar aberta para receber novas informações e não ficar guardando
conhecimentos, possivelmente desnecessários.
O paradoxo disso é
que estamos inseridos numa cultura da morte, justamente porque nada é eterno,
nada é permanente, nada é para sempre. É uma sociedade em que tudo esta em
constante mudança e até a mudança tem que mudar. O fluxo do tempo não pode ser
simplesmente contínuo, ele precisa ser acelerado.
O lado mais latente
desse paradoxo é a mensagem indireta que confessa e revela: “tudo
é descartável, não se pode prender a nada, a ninguém”. Não se forma elos,
vínculos. Há grupos e propósitos movidos por interesses em comum. Quando o
interesse é alcançado o elo é rompido, a sociedade, o contrato é desfeito,
desmanchado. De modo que de forma geral as relações são descartáveis,
estão aí o aumento do número de divórcios que não me deixam mentir. Assim,
como as novas relações entre pais e filhos- ninguém se prende
a ninguém. Não nos prendemos mais nem as convicções religiosas.
Muda-se de religião conforme a conveniência. Quero trair meu marido, mas a
igreja falou que é pecado, encontra uma na qual não seja. Os desígnios antes
eternos e perenes se adéquam ao meu interesse e vontade momentânea. Chega de
acreditar no sofrimento para obter o reino dos céus e chega de ficar esperando
tanto tempo por minha casa, meu emprego; mudo de igreja para que as
transformações ocorram mais rápido. É um mundo fast.
Tudo isso não é ruim,
mas ainda não é bom, já que não se distingue o outro do objeto. Já que não
sabemos distanciar ou até mesmo compreender a violência que é ser tratado e
tratar o outro como objeto de meu uso e do meu desejo. Objeto de posse, de
relação descartável.
Assim, o impasse
alcança a sala de aula, afinal a proposta de ensino é voltada para o alimento
da alma, ao preenchimento de um vazio que devora todos os humanos. Mas se toda
uma sociedade se volta aos valores do corpo, se rendem e devotam tudo ao corpo,
um novo deus passa a ser adorado e novos profetas a discursarem sobre as
maravilhas do novo reino dos céus. O reinado é consagrado na posse, no ter em
detrimento da partilha e do ser. Abre-se, na verdade, alarga-se uma outra forma
de evolução. Completamente baseada no corpo, no ter, na aparência, no mercado,
na publicidade e propaganda. Na vendagem de si mesmo. A outra linha evolutiva
que se deu na partilha, na solidariedade, na cumplicidade, na criação de laços
amorosos, na explicitude do ser, no amor ao próximo, no respeito ao outro é
paulatinamente, posta a margem. Afinal pra que amar e respeitar o outro?
Esse é o vazio atual.
Mais do que um vazio é um dilema, um paradoxo que nos toma e nos preenche. O
que nos torna humanos é podermos ser além do corpo. Sermos ele, com ele, mas
além dele. Quando nos identificamos ao corpo somos bichos, “animais morais”. E na
normatividade selvagem não há nenhuma razão para convivermos com a dor, a
velhice e a morte sem devorá-las. Os mais fracos devem ser abatidos e
subtraídos. O que nos faz humano, volto a insistir é que diante da dor, da
velhice e da morte constatamos a nossa fragilidade diante da natureza.
Fragilidade que as conquistas tecnológicas escamoteiam, mas não retiram. Somos
frágeis, somos seres que doemos, envelhecemos, morremos e poucos sabem como
atenuar essa angústia do corpo, esse apelo para que se de a ele não medo, não
regras, mas compreensão e consciência de que ele é parte de uma estrutura
maior.
São poucas as escolas
que garantem essa formação, esse preenchimento do vazio, mesmo porque,
professores não estão imunes a ele. Simplesmente, na busca insandecida pelo
gozo do corpo, pela satisfação imediata do desejo, não há o que se ensinar,
vivencia-se o ABSURDO no sentido existencialista. Nada se ensina, porque educa-se
para as sensações e as mesmas são mutáveis, variáveis, fluidas, inconstantes.
É um bom momento para
se viver, mas também não é ruim morrer depressa. É um momento que
apresenta um novo paradigma e como tal precisamos construir, criar nova forma
de nos educar, de nos manter equilibrados e em equilíbrio com o todo que nos
cerca.
Bjs em todos.
De fato, não respeitamos mais os velhos. É uma pena!!
ResponderExcluirSim, de certa forma tememos a velhice e o que ela representa, simboliza.
ResponderExcluirAbraços.