Essa cultura que
aposta na eternidade do corpo, tenta de todas as formas eternizar o gozo e o
prazer do corpo. O que não o satisfaz é decadente, é demonde, é fora de lugar.
No entanto, desde
Platão, ou antes, dele sabe-se que a voracidade e a saciedade do corpo são efêmeras.
Alimento-me agora, mas daqui a pouco, tenho fome outra vez, bebo agora e daqui
a pouco tenho sede de novo. É da natureza fisiológica do corpo não se
satisfazer, não se saciar, mesmo porque, os corpos saciados são de espécimes extintos.
Num processo evolutivo, a espécie que ficou satisfeita foi superada, ou foi
dizimada. O corpo em contato estreito e permanente com a natureza chama e
conclama à luta, à batalha pela sobrevivência. Nietzsche já dizia que tudo o
que vive quer permanecer. Isso vai da bactéria, a baleia, todo corpo deseja
permanecer e entre a permanência do meu corpo e a de outra espécie, dizima-se a
da espécie oposta. As leis e regras do corpo são simples: ele deseja
sobreviver, sobre quaisquer inteperies e espécies. O gozo e satisfação dele são
absolutos. A questão é que o homem saciado é um homem pela metade, vazio,
morto, já que os prazeres e a saciedade do corpo não o preenchem por muito
tempo. Pelo próprio processo evolutivo, o corpo não pode se saciar e
sempre tem que querer mais.
Todavia, acreditar
que se ira eternizar o corpo gera vazios enormes, faltas e carências enormes
como as que vivenciamos hoje. Como lidar com esse vazio? Como dar conta desse
vazio? Música alta? Consumir objetos? Tornar o outro objeto a ser consumido? Fazer-me
objeto e me consumir, ou até mesmo me vender?
Essas são questões
que revelam, já que deflagra e aponta a falta de uma instância e dimensão que
não se pode olhar, ver, entrar em contato. Assim, para o corpo se tem tudo, se
tem muito, até sistemas religiosos que oferecem a criptogenia, ou outros métodos
tecnologicamente menos sofisticados, mas que prometem o gozo material sem dor
ou sofrimento. Sem dúvida a maior invenção do capitalismo foi tê-lo associado à
dimensão do desejo, foi tê-lo colocado na dimensão da satisfação do corpo. Isso
o faz andar, mesmo que nunca se chegue a nenhum lugar. Ou melhor, chega-se no
vazio e nele, a saída é a transcendência pelo corpo, mas não do
corpo. Ou de fato alguém acredita que a tecnologia nos fará vampiros?
Eternos? Alguém acredita na juventude perene da Barbie?
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