Quando
comecei a atender com o Aconselhamento Metafísico tinha certeza que resolveria tudo
em 4 sessões. Utilizava o aconselhamento para quem comprava o pacote e ao mesmo
tempo realizava atendimentos avulsos para quem nos procurava ocasionalmente. Invariavelmente,
a coisa que me causava mais perplexidade eram eles marcarem retorno depois das quatro sessões. Eu achava
isso a coisa mais inusitada e por vezes até um sinal de fracasso, como assim,
você deseja voltar? O que eu fiz de errado? Rsrsrsr.
Grande
parte das técnicas bioenergéticas tem uma ampla aplicação nos planos sutis, na
verdade, derivam dos campos sutis e quando as aplicamos por lá, os resultados
são mais rápidos. Lá a consciência responde mais prontamente do que aqui no
plano físico. Os resultados que obtive, na mesma sintonia, que encontramos no plano físico se deram com
pessoas que realizavam ao mesmo tempo um pull maior de técnicas, por exemplo:
realizavam uma atividade física regular, faziam um acompanhamento psicológico e
realizavam o aconselhamento. Essa busca produzia uma maior absorção das
informações e amplitude de entendimento e do atendimento. As informações eram
mais bem absorvidas, seja pelo corpo emocional, mental e até mesmo o físico que
parecia absorver informações pelos poros. O senão a isso é que a gestalt, o
fechamento dessas informações, deveria ser realizado pelo próprio buscador, já
que nós os terapeutas não dialogávamos entre nós. Mas, as percepções da
clínica, os toques clínicos encontravam uma ressonância muito fina com as
percepções energéticas realizadas no aconselhamento e vice-versa.
Retomo
isso por alguns motivos, como por exemplo, o fato de que parte da minha
ansiedade se altera na medida em que vou estagiando em Filosofia Clínica e é
basicamente nesse ponto que eu quero falar, porque acabei encontrando alguém
mais ansioso do que eu. E, esta nossa partilha tem provocado em mim reflexões
que escrevo agora.
O
espaço clínico é o locus da paciência, da observação, da compreensão dos mais
diversos tempos e ritmos.
Há o tempo
externo, cronológico, que está a cada dia mais acelerado. Há o tempo subjetivo
que tenta se encontrar com esse tempo externo e por vezes caminha com a língua
para fora, agitado, sobressaltado, ejaculando precocemente, ou impotente, sem
prazer. Há o tempo biológico, nos chamando à mediação e conciliação entre esses
dois ritmos por vezes tão antagônicos e diversos.
Na
clínica, de certo modo, não declaradamente, tentamos ajudar o partilhante a
encontrar esses três tempos os tornando um. Aproximando o partilhante do seu
ritmo, do seu tempo. Observando junto a ele qual é o que prevalece, como
talvez, um atropela o outro, ultrapassa o outro, ignora o outro. De modo que
fiquei pensando como o poeta fez em “A Procura da Poesia”, algo mais ou menos
assim:
Sua
pressa, sua vontade, seu desejo, seu certificado, isso ainda não é filosofia
clínica. Sua observação, seu circunstanciar, sua cara de gozo frente à
descoberta de uma EP, também não é filosofia clínica. Sua intervenção, sua
tabua de submodos, nossa tábua de salvação, as estruturas de pensamento, também
não o é. A filosofia clínica começa antes de tudo isso e prossegue depois de
tudo isso.
Tua
escuta, o timbre da sua voz, a transcrição da sua fala, ainda não é Filosofia
Clínica. Atente-se para o silêncio que tu faz entre uma fala e outra. Recorde e
reviva cada segundo da sua fala, enquanto transcreves. Recorde do seu corpo, da
sua respiração, do posicionar das suas pernas, das suas mãos aflitas, dos seus
sentimentos de medo e vergonha, agora caminhas, mas não para a filosofia
clínica e sim para si mesmo.
Somente
depois disso, desse engasgo e tormento, desse medo e atração, dessa repulsa e
aversão é que deve entrar, silenciosamente, no universo do seu partilhante, lá
estão as singularidades dele a espera de? A espera do que? Varia de partilhante
para partilhante. E é devido a esse variar que a clínica junto ao outro só
inicia depois de as termos feita em nós. Sem nos submetermos a isso tendemos a
ser destemidos demais, impiedosos demais, secos demais, diretos demais.
Aqui,
novamente, há uma analogia entre o médico e o filósofo clínico no seu estágio.
Ambos podem se apropriar de uma metodologia, de um instrumental cirúrgico, de
um uso. Ambos podem transformar o seu fazer em técnica, mas, quer nos parecer,
que o ser médico e o ser filósofo clínico encontram-se além desse fazer
técnico. Fazem-se nele, com ele, mas quando se reduz a apenas tecnicidade perde
grande parte do efeito. E talvez um afastamento entre médico e filósofo clínico
se faça importante.
O
médico não precisa ter tido uma fratura exposta, ou um corte no supercílio, ou
realizado uma cirurgia plástica para operar, mas ele precisa saber o quanto um
bisturi é afiado, como minimizar as cicatrizes. No mesmo sentido, o filósofo
clínico precisa saber o quanto aplicar as categorias alivia o partilhante. Saber
como que conhecer o histórico do partilhante o deixa mais seguro e confortável,
relaxado e confiante. Como que sabendo quem ele é, o que ele deseja, o que ele
busca, onde ele se encontra, para onde ele deseja ir, a operação se faz harmônica.
É baseado nesse alívio que ele pode explicar com mais convicção ao partilhante:
você apresentou um quadro x (baseando-se na EP) e o melhor 'tratamento' é Y
(utilizando-se dos submodos).
Mas,
se o médico tem apenas o outro para aplicar os procedimentos técnicos, o
filósofo clínico tem a possibilidade de realizar isso em si mesmo, não por si
mesmo, mas em si mesmo. Creio ser esse o motivo do estágio. Mais do que obter
um certificado, mais do que um tempo para se alcançar, ele representa uma
maturação, uma descoberta do seu tempo cronológico, com o seu tempo subjetivo,
provocando uma harmonia no tempo biológico. Pode ser um tempo de pressa, mas
não de atropelamento. Pode ser um tempo de espera, mas não de abandono. Pode
ser um tempo.... o seu tempo, mas consciente dessa temporalidade, dessa
dimensionalidade. Mas, eis a questão: como se ensina isso? Como se transmite
isso?
O que
tenho observado é que durante o estágio pode-se encontrar as técnicas e saber
operacionalizá-las de forma hábil e atenta. Mas, isso cria uma distância entre
o filósofo clínico e o partilhante. De modo geral, esse filósofo clínico jamais
vai saber de onde deriva e sai a busca, a queixa, a dor, o sofrimento do
partilhante. Ele tende a ajudar o mesmo, talvez até mais do que o outro filósofo,
mas talvez perca a beleza do encontro, do desanuviar uma singularidade, de se
tornar antes de tudo e depois de tudo, amigo. Amigo no melhor sentido
filosófico do termo e do ato, isto é, ser com o outro. Não ser ele, mas
compreender quem ele é e porque ele é. Talvez esse seja o sentido da técnica
aparelhar, fundamentar o que o filósofo ‘deveria’ ser; amigo. Não apenas da
sabedoria, como de outros sabedores. Amigo do saber e do saborear- outras
vidas, histórias, historicidades.
Um
saborear que trás a dimensão do tempo. Da paciência. Da espera. Da
subjetividade do outro aflorando, se revelando, se mostrando, num tempo
diferente que o do calendário, que avança diuturnamente, semanalmente. Com
movimentos previsíveis, observáveis, controlados e marcados semanalmente. Até
que um dia, sem nenhum motivo aparente a não ser o da paciência e da espera, da
confiança e da entrega, o tempo subjetivo se mostra, se expõe, se deixa ver por
todos, preenche a historicidade e a transborda, significando e circunstanciando
todos os tempos, todos os espaços. O outro não é mais tempo, ele é sua história.
Mas,
como alcançar isso se o desejo inicial é antes de tudo, terminar? Como se
inicia se a busca é antes de tudo o final? E como posso dizer a esses e a nós
estagiários, que já somos filósofos? Mas, talvez seja esse um pedido: esqueça o
certificado, apenas aprenda, compartilhe. E, mais, como eu posso te falar que
antes de escutar o outro como filósofo clínico é essencial que você tenha se
escutado, se visto, se desnudado, senão para o seu professor, inevitavelmente,
para si mesmo.
É
importante ao filósofo clínico ter tido o medo, receio de se expor, de se
abrir, de se mostrar. Saber da tensão e dificuldade que é ser desnudado pelo
outro. Ver e aceitar o outro apreendendo dimensões suas nas quais a gente não
chega, não vê, não sabia. Aprender a lidar com essa fragilidade. Fragilidade
que se mostra no bafão, mas que prossegue além dele, evidenciando que a questão é o hálito.
Finalizando,
os seus bafões, seus segredos guardados ainda não é estágio, mas soltar e
descobrir o seu hálito e junto a ele coordenar sua autogenia, se perceber como
responsável por sua história e não meramente figura decorativa, aí estamos
falando de clínica. Ser capaz de compreender a dificuldade de ser quem se é,
especialmente, diante do outro, isso é estágio. Parece que o restante é pressa,
técnica, obtenção de certificado.
Acompanho teus posts e te acho uma graça.
ResponderExcluirGrato anonima(o), abraços!!!
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