Semana passada a
democracia me visitou. Entrou em meus espaços mentais e me contou sua história,
sua própria trajetória de luta. Mostrou-me sua face ao longo do tempo, seus
defensores ao longo da história e devo dizer que fiquei emocionado. A
DEMOCRACIA é uma das musas mais lindas que já vi. Terna, paciente,
perseverante. Tombou várias vezes, foi derrubada outras tantas, torturada, mas
nunca deixou de percorrer o seu caminho, de ir em busca da sua meta: a
autonomia dos sujeitos.
A democracia nunca se
calou, embora por diversas vezes somente alguns ouviram a sua voz, misto de murmúrio
e suplicio. A democracia é diferente, em tempos brandos, ela praticamente fica
muda. É em tempos de crise, quando os outros se calam, que ela grita,
esbraveja, luta. Nesses momentos, ela fica indócil e indomável. Nessas horas,
eu tive muito medo, nunca vira tanta bravura, ninguém tão destemido por lutar e
defender o direito de todos terem voz.
Ela foi torturada ao
longo do tempo, ela fora, desrespeitada ao longo do tempo, mas junto com a sua
irmã esperança, jamais esmoreceram.
I
Mas, como dizia, ela me
visitou e contou-me sua história que desisti de contar na forma que pensei. Vou
contar à maneira dela, como ela mais ou menos me disse.
Primeiro, ela chegou
vestida de verde-amarelo, mas logo falou:
“minhas
vestes vermelhas são para momentos delicados e especiais. O vermelho é meu
traje de guerra. Uso quando querem me vilipendiar.”
Sorri encantado, para
essa dama madura. E ela prosseguiu:
O que quero,
o que busco, o que iniciei lá atrás nas tribos africanas, o que vos chegou
inadvertidamente pelos gregos. O que espero e vocês herdaram a parte sombria
dos romanos é o que nunca permitiram, mas agora temos mais do que ontem:
EMPODERAMENTO.
O que? Perguntei a ela
como sem entender as críticas aos queridos gregos. Mas, ela suave e
habilmente me contou:
Eu preciso
estar na prática de todos. Eu preciso estar no coração de todos. As crianças
quando sorrirem devem silabar meu nome e os anciões quando derem o último
suspiro, devem exalar nossas tramas para outras gerações. E, nunca consegui
isso como agora.
Nunca, consegui fazer com que os
diferentes tivessem a mesma voz e eles se falassem.
Nos púlpitos
gregos somente os iguais se diziam e nas tribunas romanas, os diferentes eram
lançado aos leões. Mas, hoje, a prostituta pode falar com a freira e ambas
serem ouvidas. A mulher pode questionar os métodos masculinos e ser escutadas.
Os negros e índios não serem convertidos ao discurso dominante, exceto alguns
raivosos e com sobrenome de marca. Os gays assumirem suas preferencias tais
como os heteros.
Nunca
estive tão presente no mundo. Nunca tivemos tantas vozes falando ao mesmo tempo.
Não, eu não
me incomodo que as vozes não tem muito o que dizer, porque o que me ocupa é
justamente, as chances que elas tem de falar. E que bom que falem.
Então, você apoia o
golpe? Fui logo concluindo como argumentam os salgadinhos algumas vezes. Mas,
me justifico, tive que perguntar, porque pensei que estava diante de um
embuste. Pensei tratar-se de um espirito zombeteiro e não um atributo soberano
e magnânimo como a democracia. Mas, ela logo foi esclarecendo:
Muito longe
disso!! O único golpe que apoio é o do vento que sopra todos os seres para a
aceitação da diversidade, da multiplicidade, da interdisciplinaridade. O único
golpe que apoio é o que nasce da vontade de golpear aqueles que me atacam, ou
desejam me ferir. Não, não pode ter golpe.
Ela disse isso entre
lágrimas, emocionada. E, eu impiedoso, não contra a sorte democrática, mas
contra lágrimas ou surtos janainicos, logo questionei: Impecheament não é
golpe!!!
E quase abri um sorriso,
desses de lagarto, desses de canalhas, que querem parecer inteligente com
sofismas tão pueris e baratos. E, ela me dando uma aula de constituição, desde
os gregos, passando pela jurisprudência latina, enfatizando a tripartição dos
poderes frânces, a legalidade alemã e a tão má interpretada guinada
americana, me disse sorridente, mas de forma enérgica:
Não use de
sofismas, medíocre filósofo. Sabes como pouco o que é ser impedido de... Tu
como negro, ela como mulher, outros como gays, tantos como pobres, sabem muito
bem o que é ser impedido como se fosse regra natural e divina do jogo da existência.
E, não me venha com chorumelas afirmando que não se trata disso, porque eu sei
bem do que se trata. Trata-se do que sempre se tratou. Trata-se daquilo que lhe
disse acima e que não podem impedir, não poderão, não passarão. Trata-se do meu
empoderamento. Trata-se de negar isso a todos. Trata-se de demo nizar o povo.
Trata-se de achar que pode-se continuar falando e pensando por aqueles que
agora querem pensar e falar por si mesmos, do seu modo, de seu jeito.
Sim, os
heterossexuais não podem continuar falando pelos homossexuais. Os brancos não podem
continuar falando para e pelos negros e índios. Os adultos não podem mais fazer
ouvidos moucos aos jovens, adolescentes e crianças. Os ricos não podem mais
falar para os pobres. É preciso que aceitem a diversidade e a polifonia das
vozes. É necessário que compreendam a autonomia dos sujeitos.
Afinal,
acreditam que depois do golpe, 54 milhões vão se calar? Acredita-se que eles
não têm mídias sociais? Acredita-se que todos os jornais e jornalistas são favoráveis
a esses desmandos? Acredita-se que prenderão todos esses que se oponham? E que
os calarão, os proibindo de mandar mensagens? Postarem vídeos? Enviar e-mails?
Escreverem cartas? Fazerem música? Reunir-se em praças? Marcharem sobre as
cidades? Fazer teatro? Escrever poema? Acreditam que calarão as pessoas no
século XXI? Pensam mesmo que estamos em 1964 e temos uma operação Condor? Vós
que pensais isso, me subestimam por demais. Não viram a Primavera Árabe? Não
viram Ocupe Wall Street? Não viram e não participaram no não é por 0,20
centavos? Não viram as manifestações antes da copa em vosso país? Não assistem
e não viram os jovens chilenos, franceses e paulistas? Como ousam me subestimarem
tanto?
Vocês não
entenderam. Eu vim pra ficar. Eu sempre estive e esse é o meu momento. Esse é o
meu tempo, mas os tempos futuros serão ainda mais belos e mais lindos. Vós
outros, não passarão. Vosso tempo chega ao fim.
Vós que
usas do poder para controlar as mentes e as pessoas, colorindo o céu de medo.
Vós que faz da tribuna um balcão e das suas colunas e matérias negociatas
àqueles que podem pagar-lhes pela distorção e silêncio. Vós que fazendo uso do
maior dos meus lideres, o mais belo de todos eles, pastoreia as ovelhas que são
dele e não vossa as conduzindo para intolerância politica, religiosa, sexual...
VÓS NÃO PASSARÃO!!!! E malditos seja vosso nome!!
Mas, a
vocês outros que clamaram por justiça, eis que vos torno, lhes trazendo as mídias
capazes de lhes dar voz, de se fazerem escutados, atendidos. Por vocês, eu sou,
eu estou, eu permaneço. Eu sou a democracia e caminho ao longo dos tempos e das
eras. Abram as portas da sua vida, as portas da sua casa, do seu trabalho, da
sua congregação religiosa; eu estou impregnada na mente de muitos e no coração
de valentes.
Agora, quem chorava era
eu. Como menino que tem utopia de igualdade, de fraternidade, de liberdade.
Chorava, enquanto ela me pedia:
você também tem seu
papel, dê o seu grito, mostre a minha voz.
E eu vim fazer isso. Dar
voz a sua voz. Dar voz a voz dela, que grita de forma indignada dentro de mim. Deixar
que a democracia fale em mim, comigo, em nós, conosco e por nós. Pedir que nos façamos
mais democráticos em nossas relações.
Depois conto a outra
parte da história quando Sócrates, Platão, Montesquieu e Foucault chegaram para
conversarmos, mas isso fica para depois.
Por agora bastaria dizer:
NÃO VAI TER GOLPE. ESTAMOS NA LUTA!!!
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