Esse
texto continua a falar das sombras, do medo dos espiritualistas de lidarem com
isso e, por conseguinte o campo de batalha que eles acabam criando em todos os
lugares que frequentam e estão: família, trabalho, listas de discussão,
encontros, seminários. Na percepção deles o universo os persegue por eles serem
luminosos, as pessoas não os entendem por eles serem muito evoluídos. O que
eles têm dificuldade de perceber é que espiritualistas ao combater as sombras,
alimentam as trevas. As sombras internas ou dos outros não são oponentes a
serem destruídos. Assim, dando prosseguimento a essa argumentação apresento O
TUNEL ESCURO.
A
PARABOLA
Imagine
um túnel escuro com 1 km de comprimento. La dentro tem um breu no qual você não
vê a um palmo de distância. Esse túnel são as trevas.
Com a
finalidade de dissipá-la foram colocadas 1000 velas humanas para iluminar todo
o túnel. Uma vela humana por metro. O túnel sabe que se todas elas acenderem,
ou parte delas acenderem, acabou a escuridão. Assim, a única possibilidade de
vitória das trevas é uma artimanha, a saber: combater toda vela humana que acenda.
A luz
tem milhares de possibilidade, inclusive a de lutar contra si mesma. Pode,
inclusive, combater a sua própria sombra. Quantos de nós, velas humanas acesas,
não ficamos esmurrando as paredes? Dando cabeçada, socos, murros... nos machucando,
enquanto acreditamos estar servindo à luz? Podem responder sinceramente. Só
você esta lendo esse texto. Não somos nós mesmos que nos combatemos? Que nos
difamamos e nos destruímos?
As
trevas têm apenas uma possibilidade: impedir as velas humanas de se acenderem e
de se integrarem, de se fazerem lux. Vamos entender por luz a chama que é a um
só tempo interna e externa. Farol para muitos e despertar interno para si
mesmo. De forma que quando a gente compreende que o sentido é acender a luz no
túnel, você passa a agradecer quem esta com a luz acesa. E às vezes pedir
ajuda: tem jeito de você me ajudar aqui?
Eis a
parábola, mas ela encerra muitas outras questões e considerações.
Primeiras
Considerações:
Nós
sabemos que o escuro evoca os medos mais recônditos do inconsciente. Nesse
escuro, seja ele fora, ou dentro de nós, qualquer barulho é um estrondo. Tudo
amplia. Os mundos internos são atraídos à escuridão externa de tal sorte que em
pouco tempo toda escuridão é medo. Um medo imaginário que se faz concreto,
palpável.
Assim,
nesse breu, o primeiro inimigo é a vela humana que acende, porque, ela se faz
perceptível. A nossa primeira ameaça é o medo da luz. Tanto tempo na escuridão,
que a luz é uma ameaça, um crime, uma afronta. No nosso imaginário não temos
outra solução a não ser atacá-la.
Segundas
Considerações:
Somos
treinados, religiosamente adestrados para combater velas humanas. De forma
equivocada, somos convencidos por mentores espirituais, que o caminho da luz é
o ataque ao ego e as sombras. E acredito que as trevas se divertem demais com
isso, porque elas estão usando a sua única bala e possibilidade de impedirem a
manifestação luminosa. Tento explicar:
Um
ditado ioruba diz que nenhuma escuridão resiste a um palito de fósforo. Esse é
o assombro das trevas, um simples palito de fósforo a dissipa. A escuridão é
capaz de muitas coisas, mas não resistem a essa simplicidade do pequeno
iluminar, do simples acender. Isso me recorda outro ditado, agora budista que
explana algo assim: quando o mal combate o mal temos um bem, mas quando o bem
combate o bem temos dois males.
A
força das trevas é essa: nunca permitir que o mal se oponha ao mal e colocar o
bem para combater o bem. Essa é a tática perfeita. Já fizemos guerra santa,
fazemos jihad, hoje, em pleno século XXI esta ficando cada vez mais habitual
pastores fazerem cruzadas contra as religiões afro-brasileiras. Alguém em sã
consciência pode afirmar que isso é trabalho da luz?
Terceiras
Considerações:
Fico
imaginando a situação dentro do túnel. As 1000 velas humanas ajudariam milhares
a realizar a travessia de forma mais segura. Fico imaginando também que o
objetivo seria e deveria ser a solidariedade, algo como, quando uma vela humana
estivesse apagando, outra a socorreria de pronto para que a chama continuasse
acesa; mas, pelo contrário, uma briga na tentativa de ofuscar a luz da outra.
Como se tal desiderato fosse possível. Não bastasse essa sandice eles criam as
tochas humanas, se juntam, se reúnem, se condensam e se aprisionam em uma
construção cuja luz se mantém apenas num ponto, precisa-se de um número muito
maior de velas humanas para iluminar o mesmo espaço de 1 km.
Quartas
Considerações:
Outro perigo
ofuscante é que a vela humana acendida por outra chama fica eternamente grata
àqueles que lhes deram a luz. Ficam cegos de gratidão por eles. E, gratos, eles
se agrupam, não para iluminar o túnel, e sim, se tornarem tochas humanas. Cada
tocha é convencida de que não é vela humana. De que as velas humanas devem
obediência ao pastor do rebanho. Que as velas humanas não suportam a escuridão
da existência sozinhas precisam estarem juntas, reunidas. Assim, constroem
igrejas e mantém afastado deles toda escuridão.
Aumentando
a intensidade da luz, aumenta-se o tamanho e a projeção das sombras. Foi assim
que se inventou o diabo- da soma de muitos medos e de muitas tochas
desconhecedoras de suas sombras. Foi assim também que se criou os inimigos, os
oponentes a serem destruídos. É por essas vias que quando recebem o pedido de
ajuda de outra vela humana respondem, não sem muita ira e indignação: “não
tenho pacto com candomblecistas? Vai procurar ajuda em outro lugar.” Para não
ficar para trás e nem deixar barato, a outra vela humana responde: “Sou
kardecista de mesa branca, nada tenho a ver com vocês umbandistas!!” Quando é a
vez do kardecista pedir ajuda, o outro grupo de velas humanas responde assim:
"Não compactuo com você sou evangélico". E creio que as trevas devam
gargalhar disso tudo, porque de fato seria muito engraçado não fosse trágico.
Quintas
Considerações:
De
forma geral as tochas humanas dentro do túnel, trancados em suas construções
tem dois tipos de comportamento:
a-
apagar todas as velas humanas que não foram acesas por eles.
b- queimar
em nome de Jesus, ou desobsediar em nome dos espíritos superiores, ou se implodir,
em nome de Ala, todos os que não concordam com o livro que julgam sagrado.
O que
poucos observam é que Luz demais concentrada agrada tanto as trevas quanto a
escuridão, em verdade, não há diferença, pois ambas cegam e mantém as pessoas
cegas.
Minha diversão,
disse-me certa vez um ser trevoso, é observar túneis e seres iluminados dentro
deles. E em verdade vos digo, me falou ele querendo se passar por religioso: “nunca
as trevas se ri tanto, quanto da estultice dos crentes e dos pios. Para
começar, pelo fato de eles terem nos dado a segunda possibilidade que não tínhamos:
a de administrar as velas humanas a serem acesas.
Referia-se
a série de rituais criados para se acender.
Dizem
eles no Manual pirotécnico das velas humanas, que contem 10 mandamentos da
fundação Tabajara.
1- nunca
faça sozinho, pode ser perigoso.
2- sempre
tenha alguém por perto nesse momento, para evitar o perigo.
3- procure
um lugar sagrado, mas dê alguns milhões, ou realize algumas campanhas para que
ele seja erigido.
4- você
precisa se purificar, mas antes tem que encontrar o seu purificador na Terra.
5- você
não pode se purificar sozinho, necessita de um papa, um guia, um bispo.
6- Não se
esqueça que nosso deus é o capital.
7- Não se
esqueça de que precisa dar condições para o deus reinar, isto é, honrarão o
mercado, como sendo o filho prodígio de deus.
8- Não se
submetera a nenhuma outra seita que não a nossa religião única e verdadeira.
Considerações
Finais:
E o
manual segue sem que as velas humanas percebam que elas nasceram acesas e foram
se deluzindo, se apagando até deixarem de ser luz. E de maneira obnubilada não
percebem que levados a negarem a própria sombra e a combater outras luzes apiam
mais as trevas do que a luz.
Nesse
breu a regra no túnel, estipulado pelas trevas e seguido pelos
filhos-guerreiros-trabalhadores da luz é a de que a escuridão deve permanecer.
Afinal, o que essa gente vai fazer quando não tiver mais sombra e luz para eles
guerrearem? Será que eles já podem amar? São maduros o suficiente para amar o
inimigo? Cresceram o bastante para saber que por amor ao seu inimigo pode-se matá-lo
de forma mais dura e cruel? Estão prontos para aceitarem que não há nenhum Deus
a lhes castigar e lhes culpar? Já suportam um universo no qual não tenha mentor
espiritual, arruda, guine, papa, bispos, preto-velhos a lhes dizer sobre o que
somente eles podem fazer? Estão prontos para ajoelharem-se diante da própria
consciência e assumir quem são? Como que dizendo: “Saio da minha ilusão!!”
As
religiões estão aí organizadas para impedirem as velas humanas de acenderem-se
e dissipar com as trevas. Por isso ela as fomenta. Não sabem viver de outra
coisa e já nem conseguem mais ser outra coisa. Nada mais brilhante do que o
padre de Dostoievski reconhecendo Jesus na praça de Moscou, prendendo-o como
impostor em meio da turba. E em diálogo fraterno com o herdeiro do trono já na
cadeia, o reconhecer e lhe explica, que ele não tem mais lugar entre os humanos
e nem diante da igreja que ele fundou.
Desconfio
que se Jesus voltasse homossexual não poderia entrar em nenhuma Igreja que fala
em seu nome. Se Jesus voltasse mulher não poderia celebrar a eucaristia na
maioria das religiões que foi fundada em honra a ele. Se Jesus voltasse
Umbandista teria seu terreno apedrejado e o seu nome difamado por aqueles que
pregam suas palavras. Enfim, estamos servindo a cegueira e não a luz.