Fico
ouvindo minhas partilhantes, algumas amigas, algumas namoradas falando de sexo,
sexualidade, prazer, frustração, culpa...
De forma machista, isto é, considerando o mundo a partir do nosso falo, somos levados a acreditar que na transa a
mulher quer gozar. Que o que elas esperam de nós é que as levemos ao orgasmo.
Como se elas não pudessem chegar a isso sozinhas, ou com outra pessoa.
Temos essa fixação que é mesmo muito do nosso universo masculino no qual sexo
é gozar e gozo é orgasmo. Feito isso, alcançamos o sucesso. Cumprimos a meta.
É
uma mecânica do prazer bem direta, simplista, altamente satisfatória viu minhas
amigas. Rsrs. Não tem complexidade nessa elaboração.
Já às mulheres, o sexo não se resume ao orgasmo. O prazer delas começa antes e
termina depois do ato sexual em si. O durante é só um processo que a gente não
dá conta. Como compreender que o bom dia das seis horas da manhã, ou a falta
dele, tem uma relação direta com o sexo a ser realizado, ou não, às dez da noite?
Meu
amigo, isso tem relação direta. Para elas é tão claro e óbvio quanto dois mais
dois são quatro. É um esquenta, um aquecimento, dado em pequenos gestos.
Sinais sutis tais como a brasa de uma fogueira. Em suma, o sexo para elas
não é só genital. Mexe e envolve um carinho, um cuidado, uma atenção. Mas, não
é o cuidado, a atenção, o carinho pre-m-editado. Vou falar/fazer isso para
ganhar aquilo. Vou dar bom dia às seis da manhã para transar às dez da noite.
Há uma relação com o acumulo, com o recorrente, com uma constância e
permanência. Não é a gentileza de um dia.
Então
se o sexo para elas não se reduz ao orgasmo, não é meramente algo mecânico, se
reduz a que? Primeiramente, não se reduz. Tenho observado que para todas as
mulheres, especialmente, as que se dizem RESOLVIDAS, que o sexo sempre é algo
especial. É sempre algo a mais do que uma transa, uma trepada; mesmo quando é só isso.
A transa mais banal para as mulheres tem componentes mágicos,
íntimos de quem abriu as portas do seu universo para outro visitar. De quem
seja por qual for o motivo de escolha, permitiu-se, concedeu ao outro acesso ao
seu mundo, ao seu universo. Assim, já não me iludo mais, com os dizeres delas:
foi só sexo. É só sexo. Parece, que biologicamente, por pior e mais
decepcionante que seja, nunca será só sexo. E que bom que não seja. O sexo
carrega uma entrega, que para poucos de nós homens tem. O sexo guarda um
sagrado, que em nossa forma exploratória, mecânica, simplista, a banalizamos.
Então,
quando na escuta mais atenta, compreendemos que há uma dor na relação na qual
o cara entrou, visitou e foi embora. Fica uma coisa aí. Algumas anestesiam e
têm se anestesiado. Não sentem nem a entrada, nem a saída. Ficam nelas, com
elas e fazem um uso genital da transa, como a maioria de nós (homens) fazemos. Aquele relaxamento
gostoso que a ejaculação proporciona. Isso satisfaz algumas, pelo menos a curto prazo e numa dimensão mais epidérmica. Quando adentramos em camadas mais profundas, o emocional, por exemplo, há uma falta. E nessa falta uma queixa, uma angústia. Um espaço no qual a busca não é pelo gozo e sim pelo outro. Ou melhor, é esse encontro com o outro que plenifica o orgasmo.
Torna-se bonito ver mulheres encontrando esse prazer no sair com as amigas, na ida ao teatro, na ida ao campo de futebol. É belo observar que os espaços de gozo, prazer delas tem se ampliado. Mesmo com uma identificação confusa em algumas que levam esse espaço para a mesma banalização que muitos homens. A ejaculação mecânica, que por vezes até prescinde do outro. O que Reich chamava de "masturbação vaginal".
Torna-se bonito ver mulheres encontrando esse prazer no sair com as amigas, na ida ao teatro, na ida ao campo de futebol. É belo observar que os espaços de gozo, prazer delas tem se ampliado. Mesmo com uma identificação confusa em algumas que levam esse espaço para a mesma banalização que muitos homens. A ejaculação mecânica, que por vezes até prescinde do outro. O que Reich chamava de "masturbação vaginal".
Que
fique claro, não falo dessas mulheres. Estas tem se resolvido a sua maneira, ou seja, tem se dilacerado sem perceber, porque desativaram o corpo emocional. Nós homens fazemos isso há milhares de anos. Por isso é tão fácil, tão simples e tão mecânico algumas relações. Porém pelo que tenho observado, a desativação do corpo emocional, amplia feridas, dores, que poderiam estar remediadas.
Busco então, falar com o outro polo dessa mesma vibração, na qual
encontramos milhares de mulheres que mesmo com vontade, com necessidade
fisiológica de transar, não conseguem fazer sexo por sexo. E, nisso há culpa e
frustração. Falo das que estão casadas e os caras as silenciam durante
todo o dia, toda a semana e na noite da folhinha, querem sexo. E, reclamam da
entrega e do desempenho delas. Aumentando o vazio, a falta de uma cumplicidade.
Falo das que estão solteiras e por terem saído de um casamento de
muitos anos, ter conhecido o cara certo na hora errada, hoje tem receio de
voltar para esse cara, de ver se ainda tem química. Acredito que ele esteja te
'esperando'.
Falo para outras que estão vivenciando o
celibato forçado por questão de raça. As preteridas por serem negras.
Preteridas pelos homens brancos e também por nós homens pretos. Falo para
as que sendo extremamente gostosas, foram convencidas de que sem um corpo tipo
modelo exportação, elas não tem chance. E, assim se destroem internamente
buscando um padrão inatingível, ou buscando se esculpir fazendo dietas
intermináveis, cirurgias irremediáveis. Desejando ser aceita. Falo para as
que se sentem velhas. Falo para tantas outras que não sei mapear. Falo para
essas nas quais localizamos dor, amargura, e uma armadura.
Para
a maioria delas o sexo não se reduz ao ORGASMO e sim ao cuidado, a gentileza, a
atenção. E, na cama, no ato sexual em si, o que elas desejam é o SILÊNCIO.
Não há nada mais erótico, sedutor para a maioria das mulheres, do
que serem ouvidas, escutadas e ao mesmo tempo, quando isso resulta em ato
sexual, encontrar alguém que as silencie. Alguém que numa transa por amor, por
dinheiro, por pegação, por... consiga conduzi-la para um espaço no qual ela se
escute. Ou melhor, nem ela mesma se escute.
É um lugar no qual toda agitação, toda
falação se equaliza com o ato sexual. É o ponto certo. É o acertar a veia. Isso
é raro de acontecer. Por vezes não envolve amor, nem técnica. É um encaixe, um
ajuste que dois conseguem ter e encontrar. Isso é especial.
Tão
especial e mágico que suscita o silêncio. Um vazio que a preenche, a
arruma. Similar a um closet que está organizado sem que ela faça nada, apenas
fique lá. E as roupas fazem combinações perfeitas sem que ela precise montar.
As peças se auto combinam da roupa intima até os sapatos, passando pelos
óculos, a bolsa, a cor do esmalte, batom. Tudo se adéqua e se conforma sem
esforço, sem pedido, sem luta, sem cobrança.
Quando a maioria delas falam dessa boa transa, elas falam que
chegaram nesse closet. Nesse silêncio. Nesse lugar.
Nós
homens nos silenciamos com maior facilidade, mesmo pq temos o falo para
silenciar os outros a nossa volta. O silêncio para grande parte de nós não é
uma questão. Nós homens conseguimos um alto nível de relaxamento vendo um jogo
de futebol, com uma cerveja na mão. Podemos aumentar esse nível de relaxamento
nos masturbando ou transando. Alcançamos esse nível sem muita complexidade.
Já a
maioria das mulheres tem vozes na cabeça que falam com elas o tempo inteiro. Vozes
imemoriais. Juro para vocês que muitas moças escutam Adão e Eva como você está
escutando sua voz interna lendo esse post. Escuta de travar no lençol, lembrar
da mãe e imaginá-la sabendo que ela está transando. Isso independe da idade. Vai
dos 13 aos 91 anos. Tem vozes que acompanham as moças por toda a vida. Essas
vozes as cerceiam, mas elas ainda escapam.
No
entanto, há as vozes dos maridos, dos filhos, dos chefes, dos funcionários, das
amigas, dos inimigos, dos pais, dos amigos do marido. Há vozes demais. E, para
completar nós queremos transar com elas para elas gozarem, pq assim, segundo o
que acreditamos, elas vão relaxar!
De modo
geral, aumentamos a pressão.
Finalizando,
elas me contam que a transa mágica não foi a que o cara fez o kama sutra em
duas horas. Ou o cara que conseguiu seis seguidas sem parar. Elas falam que foi
o cara que as silenciou.
Não
é o silenciamento do cala a boca.
É o silenciamento de estar com alguém e o pensamento não flutuou
para outro lugar senão lá. O cara encontrou um ponto, um lugar no qual ela
estava presente, inteira. Ela conseguia ser ela. Um ela que por vezes, ela
desconhecia, mas achava fascinante e incontrolável. Por isso, magicamente,
excitante. Ser e não ser ela, mas sobretudo, não se repreender, se controlar,
se cercear.
Então,
se vc é marido, namorado, amante (esses fazem isso com mais naturalidade),
comece transado com a sua esposa no café da manhã. No bom dia, na ajuda das
tarefas, na escuta do que está acontecendo com ela no trabalho e com seu filho
na escola. Pode parecer loucura, mas isso é excitante.
Se
o seu colega de trabalho, seu amigo estiver reclamando da vida sexual dele,
ajude a sua companheira de trabalho a não ser assediada, física, moralmente.
Não a assedie. Quando, ela disser não para sua cantada não a chame de puta,
vaca, piranha ou vagabunda; você vai estar contribuindo demais para a melhora
da vida sexual do seu amigo.
Se
você é filho, filha, não deixe que ela fale com você mil vezes a mesma coisa
toda semana. Se ela for a sua professora, não pense que ela é a sua mãe. Só as
mães amam incondicionalmente.
Finalmente, não
vote no coiso. Você não pode transferir para terceiro a sua impotência. Ou até
pode, mas o melhor seria, se perguntar e perguntar a sua companheira: como
podemos ser mais felizes?
Essa
pergunta, para elas já é uma forma de orgasmo. Poucos prazeres são maiores para
muitas mulheres, do que o de se sentir compreendida, agradecida no seu cuidado
e dedicação.
Bora,
buscar o silêncio conjunto sem precisar de silenciarmos negros, negras, homo,
bi, trans, mulheres, gordos, gordas, estrangeiros.