domingo, 16 de dezembro de 2012

TEMPO E TRANSCENDÊNCIA



Somos filhos do tempo. Esse Cronos que nos devora. E cada vez mais temos a sensação quase física de que o tempo passa mais rápido, avança mais célere, nos devora mais rápido sem nos permitir digerir enquanto somos devorados.

Metafisicamente falando, vivemos muitos tempos de forma simultânea. Décadas atrás uma vida correspondia a apenas uma vida, no máximo duas, três a gente já considerava um karma pesado. Explicando melhor. Geralmente renascemos para acertarmos algumas contas, zerarmos alguns saldos, abatermos outras dividas, aferirmos mais lucros e experiências em outros setores. Assim, se sobrepõe uma vida a outra. Estamos vivendo o século XX, mas, por exemplo, resolvendo arestas do século XV. Nessa toada arranjava-se todo um esquete no qual o circulo karmico do passado atuava-se junto (com o mesmo ou um roteiro invertido). Assim, tinha-se um casamento para vida toda, um emprego para a vida toda, tudo era um- para a vida toda.

Hoje tudo é múltiplo. Vivencia-se quatro, cinco vidas, seis vidas em uma apenas. A intensidade aumentou demais. O que se demorava dois séculos para se resolver soluciona-se em meses, anos. A gente quer tentar entender por qual motivo o amor acabou, porque não ficamos juntos. Outros choram e se prendem ao padrão antigo de um relacionamento para sempre por vez, mas agora não se pode lamentar mais a perda, a separação e sim agradecê-la. Mais do que nunca estamos nos maturando. Nossa consciência esta fundindo aspectos, traços, temas, características que por milênios ficaram separados. Hoje temos acompanhados essa integração. Estamos ficando mais íntegros e integrados. Aqueles que resistem a isso pagam com os transtornos psíquicos que nos assolam. Ninguém disse que seria fácil, mas até onde sei fomos nós que escolhemos. Não todos. Para alguns a velocidade dos acontecimentos os esta deixando tontos, sem lugar, sem rumo, sem chão. Vira e mexe posso ouvi-los cantar: “Para o mundo que eu quero descer!”

Isso faz com que alguns advoguem que estamos caminho para o fim dos tempos, afinal vamos tão rápidos, cada vez mais rápidos, que de fato temos que estar à beira de um precipício. No entanto, ao que tudo indica, o tempo é circular, é labiríntico como as fantasias, o desejo, o inconsciente. Nada em nós compreende melhor e mais o tempo do que a inconsciência. Esse reduto do qual os medos da infância renascem como se fossemos bebes. Mas, o que escapou a Freud e começamos a usar em terapia é que se o passado aterroriza o presente. Este mesmo presente pode acalentar o passado. Enfim.... estamos falando do não tempo. Se no mundo ordinário o tempo corre como uma seta lançada do passado para o futuro. No inconsciente ele avança em todas as direções, em todos os sentidos, para todos os lugares. O tempo se funde ao espaço. Mas há uma fusão ainda esquecida e pouco abordada, aquela na qual o tempo deixa de ser um ente e se faz um ser. Um ser que se atrela a consciência.  

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