Somos
filhos do tempo. Esse Cronos que nos devora. E cada vez mais temos a sensação
quase física de que o tempo passa mais rápido, avança mais célere, nos devora
mais rápido sem nos permitir digerir enquanto somos devorados.
Metafisicamente
falando, vivemos muitos tempos de forma simultânea. Décadas atrás uma vida
correspondia a apenas uma vida, no máximo duas, três a gente já considerava um
karma pesado. Explicando melhor. Geralmente renascemos para acertarmos algumas
contas, zerarmos alguns saldos, abatermos outras dividas, aferirmos mais lucros
e experiências em outros setores. Assim, se sobrepõe uma vida a outra. Estamos
vivendo o século XX, mas, por exemplo, resolvendo arestas do século XV. Nessa
toada arranjava-se todo um esquete no qual o circulo karmico do passado atuava-se
junto (com o mesmo ou um roteiro invertido). Assim, tinha-se um casamento para
vida toda, um emprego para a vida toda, tudo era um- para a vida toda.
Hoje
tudo é múltiplo. Vivencia-se quatro, cinco vidas, seis vidas em uma apenas. A
intensidade aumentou demais. O que se demorava dois séculos para se resolver
soluciona-se em meses, anos. A gente quer tentar entender por qual motivo o
amor acabou, porque não ficamos juntos. Outros choram e se prendem ao padrão
antigo de um relacionamento para sempre por vez, mas agora não se pode lamentar
mais a perda, a separação e sim agradecê-la. Mais do que nunca estamos nos
maturando. Nossa consciência esta fundindo aspectos, traços, temas,
características que por milênios ficaram separados. Hoje temos acompanhados
essa integração. Estamos ficando mais íntegros e integrados. Aqueles que
resistem a isso pagam com os transtornos psíquicos que nos assolam. Ninguém
disse que seria fácil, mas até onde sei fomos nós que escolhemos. Não todos. Para
alguns a velocidade dos acontecimentos os esta deixando tontos, sem lugar, sem
rumo, sem chão. Vira e mexe posso ouvi-los cantar: “Para o mundo que eu quero
descer!”
Isso
faz com que alguns advoguem que estamos caminho para o fim dos tempos, afinal
vamos tão rápidos, cada vez mais rápidos, que de fato temos que estar à beira
de um precipício. No entanto, ao que tudo indica, o tempo é circular, é
labiríntico como as fantasias, o desejo, o inconsciente. Nada em nós compreende
melhor e mais o tempo do que a inconsciência. Esse reduto do qual os medos da
infância renascem como se fossemos bebes. Mas, o que escapou a Freud e
começamos a usar em terapia é que se o passado aterroriza o presente. Este
mesmo presente pode acalentar o passado. Enfim.... estamos falando do não
tempo. Se no mundo ordinário o tempo corre como uma seta lançada do passado
para o futuro. No inconsciente ele avança em todas as direções, em todos os
sentidos, para todos os lugares. O tempo se funde ao espaço. Mas há uma fusão
ainda esquecida e pouco abordada, aquela na qual o tempo deixa de ser um ente e
se faz um ser. Um ser que se atrela a consciência.
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