domingo, 7 de abril de 2013

“O FUTURO DA HUMANIDADE”



"O Futuro da Humanidade" é um livro de Cury. Um livro que apresenta idéias ousadas, inspiradoras, passíveis de serem praticadas, especialmente, por quem não é da área médica. O melhor do livro é sua dimensão humanista. A tentativa de um jovem sonhador, realizador e mais tarde inspirador (Marco Polo) ofertar novas buscas e rumos para si mesmo e aqueles que estão em sua volta.

Numa dessas contribuições, o jovem estudante de Medicina e mais tarde Psiquiatra, desvenda a historicidade dos cadáveres da sala de anatomia. Uma postura simples que ajuda a humanizar alunos e professores no trato com outro ser, mesmo que defunto, morto.


Num segundo momento, o desbravador encontra-se com os moradores de rua. E junto a eles aprende a história de cada um, as dores e amarguras de cada um. Ali fica estampado a nossa dificuldade, não em lidar com nosso sistema de pensamento, e, sim com as nossas emoções e sentimentos. Nossa dificuldade é suportar as agruras quando o nosso emocional transborda e derruba nossas crenças, nossas concepções prévias, nossas resistências. Poucos, raros indivíduos suportam e não sucumbem diante dessa avalanche. E uma parte considerável dos moradores de rua são seres cujo o emocional transbordou e avassalou paisagens internas e externas. Encontrar outro ser humano, com suas dores e dilemas por detrás da sujeira, da bebida, dos transtornos emocionais e mentais é tarefa árdua, mas é realização humana, isto é, algo possível de ser feito.


Outro processo de humanização se dá mediante a escuta desse portador de transtornos mentais que se encontra não apenas enclausurado em si mesmo, mas também em um manicômio. É ali na seara difícil do diagnostico que se busca ir além dos rótulos. Se deseja ir além da medicação pura e simplista, se deseja chegar as causas dos sofrimentos internos que assolaram as paisagens internas do individuo. Nessa busca há um reencontro com a individualidade do paciente, mas igualmente com os componentes sociais nos quais ele abandonou e foi abandonado. Esse encontro é a cura não de um, mas de muitos. É a apresentação do transtorno numa visão mais sistêmica e menos individualizada. 


Em cada passo, em cada construção, em cada realização o que acompanhamos é uma tentativa de enxergar o outro como SER HUMANO. Na busca por esse olhar, o personagem realiza o percurso da Interdisciplinaridade. Para além do ato médico, ele postula a necessidade de se estudar neurologia na Psicologia e na Medicina estudar Psicologia. Mais do que meramente estudar como se faz e se tem feito, ele conclama à necessidade desses saberes se abraçarem para possibilitarem um olhar mais humano ao paciente.


É nessa direção que tacitamente, durante todo o livro esta inserido a FILOSOFIA. Não para pensar sobre o pensamento. Não para criar hipóteses e confabulações acerca de si mesmo, mas para indo ao encontro do outro, de frente a dor e o desamparo do outro, reconhecer esse outro como igual e singular. Esse olhar que ele apresenta ao longo de todo livro falta, invariavelmente, a sociedade como um todo. Falta nos cursos superiores, falta aos profissionais. Falta a postura de se assumir humano e aceitar a humanidade por vezes desumana do seu alter, do seu outro, do seu igual.


É nessa direção que retomo o post mais comentado desse blog e também mais lido: “A Menina que Nasceu Esquizofrênica”. O que aquele post quer dizer e poderia ter dito mais claramente é que um ser não pode ser reduzido a sua doença. Não pelo menos sem que a gente retire dele as inúmeras possibilidades e potencialidades que esse ser possui. Tal redução acarreta no desprezo, no descaso e na coisificação ou na 'doentificação' dos seres humanos. Finalizando, outra coisa que aquele post quis refletir era sobre o sentido da medicação. Quis discutir qual a crença, a ideologia que se encontra por detrás do uso desses remédios. Qual o caráter salvífico que passou a se dar a componentes exógenos que afetam os neurotransmissores supostamente alterando condutas? Até que ponto o ‘sucesso’ desses medicamentos não poderiam ser alcançados por técnicas de escuta, respeito, compreensão do outro?


Enfim, a ideia era discutir não meramente o surto, momento no qual a medicação se faz necessária e adequada para controlar os diversos e multifacetados impulsos do ser fora de si mesmo, ou ensimesmado por demasia. A discussão do texto era ir ao encontro da pergunta: O QUE FAZEMOS DEPOIS DO SURTO? E me parece que depois disso precisamos largar rótulos, métodos, fórmulas e ir em direção ao outro. Abraça-lo, tocá-lo, vê-lo. Ainda não fazemos esse movimento, seja porque há um entorpecimento medicamentoso do paciente que lhe impede de sentir; seja porque há um entorpecimento teórico, acadêmico por parte dos profissionais que lhes impede de envolver. 

Nesse lugar que é o meio do meio do caminho só os rótulos são possíveis. Somente a ideia salvífica seja a de acreditar que há cura sem medicação, seja a de acreditar que só há cura medicando, seja a de acreditar que se cura sem ajuda. Mas, quero crer e acreditar que há um lugar no qual os saberes se encontram e ficam desimportantes; porque o fundamental é a compreensão do outro, desse não eu. Nesse lugar acho que existe não a cura, mas o encontro. 

Nesse lugar que é o meio do meio do caminho só os rótulos são possíveis. Somente a ideia salvífica seja a de acreditar que há cura sem medicação, seja a de acreditar que só há cura medicando, seja a de acreditar que se cura sem ajuda se fazem práticas. Mas, quero crer e acreditar que há um lugar no qual os saberes se encontram e ficam desimportantes, porque o fundamental é a compreensão do outro, desse não eu. Nesse lugar acho que existe não a cura, mas o encontro, o abraço.
  

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