De repente ela acontece. Não
se sabe por onde. De modo geral, ignora-se o como. Mas, ela acontece,
significativamente, por diversas vezes na vida. Em momentos nos quais não
sabemos, não esperamos, não controlamos.
A mudança acontece quando
a gente não espera, quando a gente não repara, quando a gente não está
prestando atenção. Você olha para um lado e ela ocorre na direção oposta. De uma
maneira tão bela, suave, produzindo encaixes e amarras em nossas estruturas
internas, em nossos espaços mentais. Poucas coisas são tão bonitas quanto a
mudança. Acredito que reparar na mudança, olhá-la com carinho é ver o movimento
da vida em nosso entorno, ao nosso redor e dentro de nós. Tudo muda o tempo todo.
Heráclito de Éfeso chamava a nossa atenção para esse eterno devir. Parmênides seu opositor complementar nos alertava para a permanência de tudo. Olhamos para vida e vemos mudança e movimento, mas há outras partes da mesma vida que olhamos e vemos permanência e constância. Fica parecendo que mudamos para encontrarmos o permanente que existe em nós. Somos conduzidos vida afora para que cheguemos ao ponto do qual saem todas as mudanças.
Heráclito de Éfeso chamava a nossa atenção para esse eterno devir. Parmênides seu opositor complementar nos alertava para a permanência de tudo. Olhamos para vida e vemos mudança e movimento, mas há outras partes da mesma vida que olhamos e vemos permanência e constância. Fica parecendo que mudamos para encontrarmos o permanente que existe em nós. Somos conduzidos vida afora para que cheguemos ao ponto do qual saem todas as mudanças.
Talvez a melhor paisagem
para isso seja o céu e as nuvens. O céu permanece, enquanto as nuvem
passam, mudam de forma, vão de um extremo ao outro. O céu acompanha cada uma
das suas formas, dos seus movimentos, das suas brincadeiras de desenhar
sentidos, das suas transformações, mantendo-se inalterado.
O mesmo
processo, ou bastante similar acontece conosco e em nós. Os budistas comparam nossos pensamentos com as nuvens que passam,
mudam de forma, de intensidade, coloração. Ensinam os mestres que devemos
direcionar nosso olhar para o céu, um ponto na mente, que cria as nuvens, ou
melhor, de onde surgem as nuvens. Nesse ponto, espaço, lugar, tempo que não tem
tempo, espaço, ponto, lugar chegamos ao permanente, ao eterno. Mas, haveria eternidade
sem mudança? Há vida sem devir? Se há, talvez seja a melhor tradução para o
tédio, porque é na mudança é no inesperado que nos realizamos. É no devir que
encontramos o perene. É aqui que nos situamos no que os hindus
chamam de Maya, a deusa da ilusão. A ilusão de que tudo muda, a ilusão de que
tudo permanece. A ilusão de que haja nuvens e a ilusão de que haja céu.
No entanto, independente
disso, a beleza reside na nossa capacidade de nos iludirmos e desiludirmos. Iludirmos com nossas demandas, desiludirmos, naturalmente, com ou sem dor, das nossas ilusões. Nesse caso
as duas coisas são boas, porque em ambas estamos no devir, em ambas estamos na
mudança. E essa deusa (mudança) guarda em si mesma a capacidade de movimentar
em nós algo que não compreendemos, não reparamos, não sabemos como se dá.
Uma hora o menino junta
as silabas e consegue ler palavras. Um dia o adolescente junta as palavras e
decodifica o sentido. Noutro momento o jovem vê o sentido oculto daquilo que
não estão nas palavras. De repente, o adulto compreende que a paixão passou, o
amor acabou, o casamento chegou ao fim. Tudo num estalo. Ou melhor, num
processo continuo ininterrupto, que culmina no clic da mudança. Um estalo sutil, que nos acorda, nos desperta, nos ilumina.
Mas, esse clic não tem um
padrão, uma hora certa para acontecer. Pedagogicamente, tentamos conduzir e provocar
esse momento. Tentamos mediante práticas de ensino e aprendizagem proporcionar
a cada aluno o tempo exato de resposta para as questões por nós suscitadas, mas
como sabemos hoje, esse tempo varia, oscila, sem que com isso possa-se se
mensurar inteligência ou "burrice". Pelo contrário, os avaliadores precisariam
mensurar, ou buscar o que promove e provoca a mudança na vida das pessoas. Se nos aproximássemos disso melhoraríamos o que motivam as pessoas a aprenderem, a mudarem, a criarem situações nas quais desejam romper e sair, enfim, sair da zona de conforto.
Mas, como tirar alguém da zona de conforto, do risco iminente? O que nos faz sair da zona de conforto e nos movimentar? Não há um padrão definido, uma regra universal a ser utilizada, pelo contrário, cada pessoa tem um padrão diferente, uma resposta diferente, um motivo diferente para buscar a própria mudança e a mudança das circunstâncias e relações a sua volta.
Mas, como tirar alguém da zona de conforto, do risco iminente? O que nos faz sair da zona de conforto e nos movimentar? Não há um padrão definido, uma regra universal a ser utilizada, pelo contrário, cada pessoa tem um padrão diferente, uma resposta diferente, um motivo diferente para buscar a própria mudança e a mudança das circunstâncias e relações a sua volta.
Na clínica o processo de mudança é
similar ao pedagógico. Uma hora, um momento, a pessoa consegue tomar a decisão que adiou,
postergou por anos, décadas. Ela, simplesmente, compreende. Não uma compreensão
intelectiva e sim um clic que a altera, a muda, a transforma. Um clic que a retira do sofrimento, da dor e lhe garante um alívio.
Na vida também não é diferente. Situações que nos enervavam, de repente, perdem essa força. Apelidos que nos faziam babar de raiva, quando escutados, não nos causam nenhuma espécie e por vezes até graça. Mulheres por quem perdíamos o sono dormem ao nosso lado profundamente.
Na vida também não é diferente. Situações que nos enervavam, de repente, perdem essa força. Apelidos que nos faziam babar de raiva, quando escutados, não nos causam nenhuma espécie e por vezes até graça. Mulheres por quem perdíamos o sono dormem ao nosso lado profundamente.
A mudança parece ser a fórmula que a vida utiliza para crescermos, ou em termos espiritualistas, evoluirmos. Ela nos amadurece e nos reaproxima de quem somos, do que somos. Por vezes nos agarramos ao velho, ao antigo para que o novo não nos chegue, mas o novo sempre vem. A mudança é o que de melhor podemos ter da vida. Recebê-la, aceitá-la e caminhar esperando a próxima mudança.
Mudemos....
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