Espaço utilizado como amparo e reflexão da Holos Consultoria Fiholosofica/Spaço Iluminar. Este espaço se torna o lugar no qual discorremos sobre as implicações, as atividades e os serviços prestados por nós. De forma que buscamos dar uma visão unificada, integrada dos acontecimentos da existência, colorindo-os com uma visão artística, cientifica, desportista, filosófica, denominada pelos gregos de Tecnhé. Contemplando a nossa visão holística e holográfica, isto é, φholosofica.
Estamos a poucas horas do
início de um novo ano. Esse novo é sempre complexo, afinal o que muda das 23:59
às 00:01?
Logicamente, só um passar de datas.
Psiquicamente, uma zerada. Energeticamente, uma renovação. Então para aqueles
que curtem, para aquelxs que não curtem está valendo.
Quando criança não entendia
esse fluxo do calendário. Na adolescência achei mágico. Na juventude foi um
peso, imenso, enorme. Era mais um ano perdido, passado. No mundo da bola, a
gente vive em contagem regressiva, qto mais vc se aproxima dos 18 anos mais
velhos vc está e se nos 20 anos vc ainda não vingou, a sensação é de que se está com
60/65 anos. Eu estou aprendendo a ser jovem, recentemente. E acredito que aos
70 vou bater racha, tomar um porre. Rsrs.
Tá vendo? Eu me imaginando
com 70 anos. Essa era uma imagem impossível dez anos atrás. Viver é bom e os
anos não pesam tanto. Nem os que passaram, nem os que restam.
E o gostoso disso são os
amigos, as amizades. O dinheiro também. A saúde também. Mas, os amigos e a amizade dá
uma leveza. Não ganhei todo dinheiro que mereço. Mas, na balança da vida, fico
super grato e entusiasmo (pleno do Espírito Santo) pelas pessoas que tive a
oportunidade de conhecer. Isso é master card, não tem preço.
Família, mãe, pai, irmaos,
filhos, alunos; eu estou integrando tudo no saldo de amigos, porque é bem assim
mesmo. Amigos e amizade.
Então, grato a vocês pelo ano. Pelas trocas, pelos compartilhamentos. Grato a cada um de vocês pelos encontros, pela presença. Agradecido demais. Uma honra pra mim ter
trocado com vocês que nosso nível de troca seja cada vez mais consciente.
Algumas pessoas são
parceiras de mts vidas, de mts encontros e essas moram na alma da gente. Sem
palavras para agradecer vcs. Vou para o clichê, mas uma vez no ano, pode.
2020 é um ano interessante.
Ainda não achei o adjetivo para ele. O 20 vinte trás muitos apelos.
Evoca as dualidades, os
conflitos, os antagonismos (2) e espero que consigamos ver neles a
complementaridade. Perceber essa complementaridade tende a ser um desafio,uma pedra angular (4).
Nesse aspecto é que esse 20
20 se faz 40/4.
O 4 é a solidez, a estrutura,a base. Mas, dessa vez, essa base vem desse desafio de
equilibrar opostos (2020). Oque sugere que os desmoronamentos tendem a ser mts. Os abalos tendem a acontecer para mostrar se estamos ou não fincados em algo sólido. No que edificamos nosso castelo. No entanto, o que destaco como a maior piração dessa
solidificação é que para o 2/20, o sólido pode ser justamente o que se
desmancha no ar. O sólido e o constructo que tende a ser base do ano, talvez
seja os valores, as crenças. E é aqui que 2020 pode acirrar ainda mais
conflitos; afinal qual é a sua base? Quais são as suas estruturas?
Toda a construção parece
vir dessa reflexão. Astrologicamente as conjunções em Capricórnio,
especialmente, de Plutão tem preocupado as pessoas. E os astrologos têm falado de
trabalho, esforço.Algo próprio de um
ano regido por Xango.
Dessa somatória toda, o que
percebo é essa movimentação sutil do feminino que vem ganhando espaço, força.
Milênio regido pelo 2, em declinio do 1. Agora esse dois aparece potencializado pelo zero. Essa barriga útero do infinito que engendra
sonhos, prazeres, desejos, vontades. O zero tem essa magia de transformação, de abrigar em seu seio (0) essa cartola de mágico que tira coelhos, rumos, sentidos não esperados e sonhados.
Nessa lógica, o "ilógico", o
absurdo,o fantasioso, o utópico vai
ganhando forma, cor, colorido, sentido. Esse oco, essa tensão, essa dualidade
vai ganhando forma, espaço. Isso para dizer que essa lógica tende a ser
determinante.
A visão do trabalho, do
esforço, da luta, da tensão é a forma com que nós apreendemos Saturno, Plutão
em Capricórnio. Mas, ouso valorizar a vibração solar. Ouso adentrar no cerne
dessas movimentações perturbadoras e dizer: né nada não! É só a gente
aprendendo a ouvir, sentir, o cosmos em nós. Agindo pelo vies de uma polaridade mais yin e menos yang.
Sabe barriga de gravida
mexendo? Mas, agora sentindo esse revirar por dentro, de dentro. Provavelmente, vai ter
desmaio. Vai ter gritos. Vai ter desespero. Porém tudo é uma nova ordem que
chega, se acomoda, nos move 40/4. É um principio feminino (20 20) que se serpenteia, se duplica nos conduzindo a novas estruturas, ordenamentos, crenças, solidificações. Quando mais resistirmos a isso mais assustador tende a ser e a parecer.
Então, talvez a questão não
seja força e sim leveza. Doçura. Abertura. Seja de receptividade não para um novo ano, mas para uma nova energia que se movimenta a decadas e a cada ano ancora, entranha, enraiza.
Eu não iria escrever sobre a reunião, mas três pessoas me
instigaram a relatar algumas percepções. Primeiro foi uma
moça bonita que foi impedida pela chuva e ventos de chegar ao nosso encontro. Outro
querido, que esteve conosco no encontro anterior e por motivo de localidade não
conseguiu estar conosco, mas se interessou em saber o que tinha rolado. E uma
terceira ao narrar suas investigações internas. No geral, os três me apontavam
um caminho que resolvi seguir. Por essas trilhas fui consultar um texto que
estava psicografando em junho de 2010. Vou colocar esse capitulo especifico a
parte e quem se interessar leia. Embora seja de 2010, ele tem uma pertinência e
relevância imensa com a reunião. https://universofiholosofico.blogspot.com/2019/11/2-os-jardineiros-o-comercio-e-os.html
No encontro desse mês falamos do SISTEMA REPRODUTOR e conversamos
sobre ele a partir de três perguntas:
O QUE RE-PRODUZIMOS? O QUE GESTAMOS? O QUE CRIAMOS?
De uma maneira muito sincrônica as três concepções foram simbolizadas,
representadas, estampadas na figura de um casal gravido que nos honrou com a
presença. Eles, gestando Maria Clara, simbolizavam tudo o que pensamos e mais.
Maria Clara que ainda está no ventre foi a presença mais impactante do nosso
encontro. Ela nos envolveu num espectro que marcou toda a reunião. Ela talvez
seja um desses muitos seres que deslocam nosso planeta para uma nova áurea. Uma
retomada, um reencontro da nossa sexualidade com o nosso coração. Um caminho
que separamos, que nos separou, nos dividiu, nos aprisionou. Um caminho no qual
perdemos parte significativa da nossa consciência criadora, criativa e gestamos
a Idade das Trevas. Um período que sexualmente não saímos de todo, não nos
libertamos ainda. Não coletivamente, não como um padrão harmônico, uma
estrutura de felicidade, de amor e gozo. Volto e insisto que depois leiam o link posto acima, será de grande ajuda.
Quando começamos a reunião não tínhamos noção desse percurso, pelo
contrário. A energia dos que estavam lá presentes, nas mais diversas dimensões
e dos que não puderam estar, nos mais diferentes lugares, nos possibilitou um
itinerário muito bonito. Um caminho no qual fomos conduzidos a percorrer, cada
um individualmente, a partir do nosso próprio entendimento e vivência
reprodutora, criativa, gestadora. De repente estávamos numa seara coletiva. Estávamos trilhando
pegadas sagradas há muito abandonadas, há muito distorcidas, desrespeitadas,
incompreendidas. Um caminho que ao ser perdido, virou lenda, imaginário, porém
se transformou em algo pior e mais corrompido: moralidade tacanha.
Passamos a associar energia sexual a moral e bons costumes, a
tradição e valores, a correção e caráter. E, isso é uma corrupção do
entendimento do que seja essa energia. O fato é que ela é divina, sagrada,
porque ela porta a capacidade criadora, criativa, gestadora da existência. Isso
é mágico. É sublime. Alguns povos e culturas compreendem a energia sexual com
esse espectro, com essa magia. A cultura cristã entorpeceu essa energia, porque
ela não é um sacramento, um ritual. Ela não pode ser sacra de fora para dentro.
A única forma de sacralidade dela é de dentro para fora. É da fusão do
dentro-fora, fora-dentro. E, perdemos isso. Perdemos esse fazer, esse ser e sentir porque fomos buscar uma definição, uma explicação. E, como definir o
divino? Como explica-lo? Pode-se observar a áurea de integridade que ele nos
repassa. Essa áurea nos remete a pureza, a beleza, a castidade, a sacralidade,
no entanto, nada disso é moralista. Nada disso diz respeito ao que é certo ou
errado sexualmente dizendo. Nada disso é um parâmetro que deve ser imposto para
todos e a todos, pelo contrário, a forma dessa energia fluir e se fazer divina
é respeitando a individualidade de cada um. Pouco disso está no ato e sim no
como se faz.
Foi a partir então dessa energia, dessa sintonia que fomos
convidados a percorrer um caminho sagrado, misterioso, profundo. Uma
peregrinação muito bonita. Eu sempre fico tentando me ater na metodologia que
os caras utilizam para alcançarem, tocarem nossos pontos. E para falar de
re-produção, criação, gestação; eles fizeram uma visualização criativa que
partia do coração. Eles não foram direto ao Sistema Reprodutor. Menos ainda
ficaram tentando mostrar que o sexo é sagrado, ou qualquer coisa parecida. Eles
nos levaram para nosso cardíaco. De dentro dele, internamente, percorremos um
caminho no qual fomos parar no chacra sexual. Esse caminho interno que
percorremos é idêntico, é o mesmo caminho sagrado das peregrinações. Se pudéssemos
fazer uma sobreposição veríamos as mesmas rotas. A distância entre o cardíaco e
o sexual é a distância de Roma a Jerusalém. É rigorosamente o mesmo caminho e
definitivamente a rota que nos ‘aprisiona’ em re-produções viróticas,
desconectadas do sagrado. São ritos, repetições que ativam e reforçam um padrão
no qual não se quer sair.
Toda manipulação que recebemos, sofremos, praticamos em 95% dos
casos passa pela energia sexual. Praticamente, não há carma sem energia sexual.
É o sexo que nos prende, nos aprisiona, nos escraviza. É essa força que é usada
contra nós e somos manipulados. Nossa reprodução de violência, nossas
compulsões, nossos vícios todos eles guardam uma relação ainda estreita,
oprimida e opressora dessa energia sexual. Mais do que da energia, do caminho que
passa do cardíaco ao chacra sexual. De modo geral, nós lidamos com essa energia
de forma mecânica, instintiva. O trabalho que realizamos foi abrir essa senda.
Estava fechada? Parece que sim. Coletivamente falando essa senda é
complicada. Mas, quando dois de nós, ou mais de nós se reúne, essas e outras
portas vão se abrindo. Em nosso encontro a abertura nos remeteu a essa
peregrinação interna, a nossa lenda pessoal, ao nosso trabalho alquímico.
Nessa nossa trilha aconteceu algo diferente, mágico. Uma re-tomada
mesmo de uma sacralidade. Uma retomada conjunta, coletiva, mostrando que essas
saídas são coletivas. Não da humanidade inteira, mas pequenos grupos
movimentando-se. Insisto que é complexo decalcar o movimento que trilhamos em
palavras. Tornar palavra o que fomos fazendo, por onde fomos passeando. Mas, percorremos
em 15 minutos, se isso tudo, mais de 1300 anos de história. Mais de milhares de
quilômetros. Peço que depois, ou agora, leiam o capitulo que postei do A
PREPARAÇÃO DO HERDEIRO. Das muitas coisas interessantes no capitulo em
intercessão com esse texto diz respeito aos símbolos. Como que a partir da força
do símbolo, éramos lançados nesse diálogo entre o subjetivo e do objetivo, de
como nos perdemos nessas relações, nesse imaginário. A imagem que eu senti
quando recebia a mensagem era de que estávamos na iminência de darmos um salto
coletivo, mas forças oriundas das nossas sombras e não apenas delas, nos
retrocederam. Mais do que retroceder, nos trancafiaram dentro de um ciclo virótico.
Quando estávamos na iminência de um salto nos veio a Peste. A peste é mais do
que uma metáfora que dizima a Europa e séculos depois ira contaminar e destruir
em todos os níveis a África, Ásia e América. Esse vírus foi espalhado mundo a
fora. Ele é transmitido a cada reprodução. Ele ganha sobrevida a cada ato
sexual com culpa, tristeza, forçado. É a peste que assola o mundo, intoxica
tudo envolta. Em nosso encontro estávamos acessando uma energia prazerosa,
amorosa, livre dessa reprodução que não tocarei mais nela para focar na beleza
do caminho. Uma beleza que insisto será melhor compreendida na leitura do link deixado acima. Uma beleza que remete a vivência e a experimentação da energia reprodutora como criativa e criadora, não apenas de corpos de carbono como que de sonhos, ideais, espaços de esperança e amor. Essas criações são possíveis em muitos níveis, padrões, dimensões e podemos começar a nos atentar para elas.
Essa jornada interior lembrava, literalmente, a peregrinação de
Roma a Jerusalém e diversos outros caminhos sagrados. Rigorosamente, era e é o
mesmo caminho do cardíaco aos testículos/ovários. Essa é a Jihad que depois da
peste contaminou e entorpeceu a visão dos seres. Essa é a guerra santa a ser
lutada, combatida. Mas, ela não é guerra no sentido das cruzadas. Só vira isso
quando esse interno foi obnubilado. Quando o caminho passa a ser corrompido.
Quando se deseja encontrar e resolver fora- rotas sagradas- estados internos da
alma e do ser.
Saber
distinguir o que é interno do que é externo, o que é subjetivo do que é
objetivo, conseguir perceber as sobreposições dessas abordagens é uma percepção
iniciática. Um processo de iniciação era aprender sobre esses marcadores,
transitar entre essas dimensões e não perder o rumo, o sentido.
Hoje nós temos a Web. Deslocamos do virtual para o real, confundimos os
dois, entremeamos os dois, com-fundimos todas essas dimensões, estados,
humores, pensamentos, desejos, vontades; porém não temos mestres que nos
orientem sobre as sobreposições, o que é interno, o que é externo, o que é
individual, o que é coletivo, o que é real, mas imaginário, de outra dimensão.
O que e como a partir desse imaginário, essa figura pode e movimenta toda nossa
malha energética. Estamos perdidos, desorientados, desnorteados e as doenças
psíquicas se avolumam, os distanciamentos se aprofundam. Fala-se com seres que
existem, realmente existem, em alguma dimensão da intercessão da nossa psique
com o imaginário coletivo, porém não conseguem dar bom dia. Outros estão com
pânico e não chegam ao portão. É importante percebermos como que tudo isso está
fundindo e como que nossa mente, ou nossos desejos, emoções tem dificuldade em
lidar. E a dificuldade é oriunda da dificuldade em aceitar essa integração.
Nessa modelagem que está sendo realizada, que nos aproxima de nós mesmos, de
quem somos e não quem gostaríamos de ser. O tempo das idealizações vão ficando
para trás. Somos convidados a ser quem somos e aceitarmos esse ser. E essa
integridade não se faz por idealização. Se faz permitindo ser quem se é. Se faz
aceitando ser quem é e sobretudo expressando esse ser no mundo.
De modo que, isso vai nos retirando do mecanicismo, biológico, instintivo
e nos conduzindo para uma sintonia criativa, criadora. Podemos trabalhar o
instinto de sobrevivência sem cairmos na re-produção serial e sexual-genital.
Podemos aprendermos e despertamos o prazer sexual para além da genitalidade e
com isso mulheres fertilizarem mundos e homens gestarem criações. É um processo
alquímico que está aberto, lançado no ar e estamos nos perdendo.
Foi belo ver como que dos homens presentes despontavam visões de
arados, terra, cultivo, flores, penas, mandalas. E de como que das mulheres
saiam visões de espadas, flechas. Realizava-se ali um processo de integração
muito bonito; os homens em contato com a terra, as mulheres no manejo da espada,
flecha não estavam em desarmonia ao que eles são.
Esse caminho a gente fez junto. Essa abertura foi coletiva. Um
acesso coletivo que nos permitimos, experimentando a sexualidade num nível de
integridade, que não tem relação com moralidade. É um respeito a energia
sexual, porque ela é divina, criativa, gesta uma nova humanidade, uma nova
forma de ser. Essa sexualidade está relacionada ao coração, ao cardíaco. É um
caminho do amor em sua manifestação e expressão. É sexual no sentido de um
prazer amoroso, semeado e expresso sem culpa. Uma forma de ser. O que acaba por
dar ao sexo um novo significado. O sexo é energia de manifestação, de
precipitação. O sexo é energia de criação. Força capaz de trazer um ser à matéria. Mas, o uso dessa energia pode ser para co-criar, gestar outras
realidades. O que novamente, implica em sairmos da re-produção instintiva,
praticamente virótica que nos encontramos e nos trazer para uma consciência na
qual compreendemos e saibamos usar essa energia sexual para criar felicidade,
alegria, suavidade, beleza, encontros. Já estivemos imersos a essa energia. Nós já a vivenciamos e num processo descrito num capítulo que postei a mais nos Jardineiros, denominado Rotas Comerciais, um amigo fala dessa perda.
Mas, essa energia da alegria, do sexo com prazer, sem culpa já vivenciamos. Temos registros dessas celebrações, festejos, porém nos perdemos no caminho da interioridade/exterioridade. Quando falamos de Alquimia os caras deixaram pegadas sobre esse processo de equivalência de transformar chumbo em ouro, o mais popular dos ensinamentos. Justamente, porque empobrecidos internamente, busca-se riquezas externas e tornam ainda mais árido o interno. Os não iniciados não compreendiam a dimensão subjetiva, arquetípica dessa transformação. Dessa transformação ambicionada em si mesmo e não nas lutas fraticidas por roubar, saquear, destruir de outros povos e seres.
Outra parte dessa energia chegou com a magia. Mas, igualmente não compreenderam que a magia é sexual. Precisa ser. É o encontro de polaridades elétricas em atuação para ativar diversos estados de consciência, comunicação, compreensão. Mais uma vez, se prenderam nos atos, nas cenas e perderam o que movimenta, co-cria a realidade. Finalmente, temos as bruxas e o pavor que essas mulheres provocaram no imaginário coletivo. E as bruxas, demarcam o que foi perdido no não entendimento da magia (a sexualidade) e a da Alquimia (a liberdade da experimentação). Desvelar esses e tantos outros aspectos é o nosso caminho. Em comum temos as metáforas, o percurso subjetivo claro,
marcando com clareza cartografias internas que não se sobrepunham as objetivas.
A sobreposição desconfigurou nosso olhar, nos perdeu. Estamos agora
reconstruindo e retomando uma nova abertura para mudança de fase.
Em suma, essa energia vem nos mostrando que sexo é mais do que genital. É mais do que reprodução. É sexualidade no seu sentido mais pleno, o que implica uma relação amorosa consigo, com o outro, com o mundo, com o universo. Uma transa de corpo-mente-coração-alma. Uma integração sagrada e divina entre nosso biológico e nosso espiritual. Essa força é divina e quando a trocamos em comunhão e não há nada mais sexual do que a comunhão na face da Terra, comer o corpo, beber o sangue... essa força se torna CRIATIVA. Gesta-se novos mundos, pare-se novos seres.
Seja bem vinda Maria Clara. Recebamos todos nós a partir dos nossos filhos a vida que se renova, mas nunca se repete. A vida que se nega a aceitar padrões estanques.
Sobre a minha vista se abre um lenço branco. Aos
poucos, o lenço vai se moldando a uma cabeça e forma como um gorro inteiriço
que desce até a altura do pescoço. Esta é apenas a primeira parte de um rosto
que vai se desnudando. Um rosto que vejo desde a minha infância. Uma vestimenta
que vejo desde há muitos anos. O lenço sobre a cabeça revela um rosto de homem,
um homem maduro, aparentando uns 40 anos, com traços duros, bem definidos, bem
marcados, barba cerrada, avolumada. Pele branca queimada pelo sol, deixando-o
bronzeado. O lenço se desvela como uma touca e desce até o pescoço. Uma outra
parte se estende daí pegando dos ombros até a cintura. Um pano branco se
desvela e uma cruz vermelha, imensa, esta estampada em seu peito. Sim, ele é um
cavalheiro, ele é um templário, seja lá o que representa isso. Em suas mãos há
uma espada, um juramento, um segredo, um compromisso, uma missão. Junto a ele
também se vê, um pouco mais afastado, um escudo, mas sem dúvidas fazendo parte
de seus pertencentes. Próximo a ele há uma rosa, vermelha, que nunca murcha, que
ele nunca se afasta dela. Sua vida é proteger e defender a rosa. Todo ele é
marcado de símbolos, de sinais e cada um tem um significado próprio. Cada
símbolo representa um nível dentro da ordem da qual ele pertence e revela as
cidades pelas quais passou, as missões que executou, o nível consciencial que
ele ocupa, a hierarquia e comando a qual pertence. São silenciosos com as
palavras, com os dizeres, com os pensares, mas os seus símbolos gritam e se
comunicam para aqueles que os sabem ler e os entender. São seres simbólicos.
Seres que aprenderam e ensinam mediante a simbologia sagrada do mundo visível e
invisível. São homens que transitam por entre mundos e esferas psíquicas
diferenciadas.
2.1 Mundos Simbólicos.
São pelos símbolos que eles atravessam os desertos,
as montanhas, os penhascos, os desfiladeiros, a vida e cumprem a sua missão.
São homens simbólicos. Preste atenção na marcha do cavalo! O cavalo é também um
iniciado. Seu adestramento, seu instinto natural é a captação da elegância e do
nível do seu dono. É possível perceber isso, enquanto eles marcham? Enquanto
eles combatem? Cavalo e cavaleiro se tornando e se fazendo um?
O cavaleiro deve aprender a domar seu cavalo, a
ouvi-lo, a compreendê-lo. O cavaleiro deve aprender a se conduzir pela noite
com o olhar do cavalo, percebendo o invisível que os cerca, que os ronda. Essa
é a primeira missão do cavaleiro, aprender a ser cavalo. Sendo cavalo,
transformando-se em cavalo aprender a ser cavaleiro. Um dos primeiros registros
simbólicos do cavaleiro é o centauro. O aprendizado de conciliar a razão com o
instinto, libertando a intuição. É a integração entre esses dois opostos que
gera um terceiro, mais claro, mais nítido, mais consciente. Muitos cavalheiros
se perdem no uso demasiado da razão. Outros se empolgam com a capacidade
inebriante dos instintos. Poucos conseguem se tornar Quiron: o centauro. De
todo modo o cavaleiro que não adestra seu cavalo não pode e nem consegue se
preparar para receber a sua donzela, cortejar a sua donzela e sem transpor um
nível, dificilmente outro se abre. Muito embora os caminhos se abram por vias
não lineares.
A donzela é o seu amor intocável. É a sua
Guinevere. É aquela na qual ele amará, pela qual ama. É um símbolo de um outro
encontro, de uma outra busca, de uma outra integração. Deve o cavalheiro
cortejar a sua donzela, buscar a sua donzela e saber que ela é um símbolo. Não
estamos falando da donzela de carne, com a qual terá filhos, casa, lar e sim de
uma donzela interna. Uma donzela que quando ele a desposar, encontrará uma
força dócil, suave, que existe dentro dele. Uma força que vence sem lutar, que
desarma sem ferir, que mesmo ao destronar o oponente, o acolhe. Receber a
donzela, encontrar a sua donzela é encontrar a maior arma do cavaleiro. É a
arma que nasce da fusão do escudo, do elmo, da armadura, da espada e da rosa. A
arma que vence sem lutar, derrota sem combater, submete sem humilhar. A fusão e
integração de cada um desses instrumentos é o véu da donzela, que poucos cavalheiros
encontraram.
Sim, a medida que o cavalheiro se arma, ele se
afasta da sua donzela. E a medida na qual o cavaleiro se desarma, ele se
aproxima da donzela. A donzela nunca se apresenta ela mesma, ela em si. Ela se
preserva ao máximo. Ao primeiro sinal de rudeza, agressividade, grosseria, de
truculência, ela foge, escapa, retorna ao vale da lua, ao mundo das sombras,
para a sua caverna, o local no qual ela habita e sente-se bem. E lá, fica a
espreita, a espera de uma ponte, de uma lança, que possa ajudá-la a atravessar
e entrar no mundo solar do cavalheiro. A donzela no mundo do cavalheiro pode
destruir o seu senso, seus julgamentos, seus instintos. Pode retirar dele a sua
virilidade. Por isso muitos passam a vida apenas deixando suas donzelas
trancadas em um castelo, em uma torre de marfim. Lá, ele sabe, que ela está
protegida, a sua espera. E protegida, eles não se perdem de si mesmos, não se
perdem em combate. Não deixam suas donzelas a mostra e desprotegidas. As
donzelas aceitam qualquer lugar no qual seu cavalheiro as coloque. Os cavalheiros
é que não conseguem se desculpar, nem em se entender ao deixá-las tão a parte
deles mesmos. Fique claro que a donzela é o prêmio máximo da iniciação. Poucos
encontraram a donzela, embora as tenha cortejado como musas, com poesias, com
várias artes. Pelas artes em geral o cavalheiro flertava com sua donzela. Dava
vazão ao seu lado mais sensível sem perder a sua virilidade e masculinidade. Pena
que aqui não é local para que se ensine a arte do cortejar, esse duelo mais
espiritual da existência. Esta preparação iniciática para se buscar o santo
graal.
Todo cavalheiro é símbolo e falamos de dois que
lhes serão a marca primordial. Um por representar o início da jornada (o
cavalo), outro por representar o fim da jornada (a donzela). Nada garante que
se será capaz de adestrar o seu cavalo interno e fazer-se Quiron. Nada garante,
que se adestrando, conseguira chegar diante de sua donzela. São caminhos que
não há garantias, apenas travessias. O cavalheiro de ontem jamais é o mesmo de
hoje e nunca será o mesmo de amanhã. E é isso que os mestres do caminho
observam, se atentam.
Os mestres dos caminhos se encontravam e se
colocavam pelas jornadas dos cavalheiros, diretamente nas estradas,
indiretamente, dentro das grutas, cavernas, templos e mosteiros. Eles eram
homens que conheceram a estrada, que receberam a visão das missões, das
conquistas, das buscas. Do Jihad. Não se espantem a guerra santa existe. A
guerra santa é uma necessidade. A guerra santa existe em todas as culturas, em
todos os tempos. A guerra santa é apenas um símbolo. Uma etapa da luta, do
cortejo entre o cavaleiro e a donzela. É uma etapa do processo no qual o cavalheiro
é impelido a lutar. Ele não pode não lutar, mas lutando ele perderá, mas
lutando, ele perde também. Se ele matar a donzela, ele morre. Se ele a deixar
viver, ela morre. E nesse Jihad os dois só podem existir como um. Os dois só
podem se realizar, aceitando o fim do que foram e sendo um novo começo, uma
nova etapa. Um novo surgimento. E isso é difícil de conciliar, de vivenciar, de
encarar e de aceitar. E esta é a Jihad interna que se colocada no mundo é
motivo de escândalo.
2.2
Mundos sem Símbolos.
Em algum lugar da história grupos perderam a visão
simbólica das coisas. Ao ouvirem lendas e histórias dos cavalheiros pela metade,
quiseram fazer e tornar literal algo que só fazia sentido, quando desvelado e
velado pelo simbolismo. Na ânsia em ser cavalheiros fundaram um novo imaginário
para o mundo, em especial, para o ocidente. Os cavalheiros nos quais nos
referíamos, inicialmente, muitos fizeram viagens de milhares de quilômetros sem
nunca terem saído de suas abadias. Sem nunca terem se deslocado de seus
lugares. Outros percorreram milhares de quilômetros, por diversas culturas e
lugares, mas todos eles sabiam incorporar a dimensão simbólica do universo ao
mundo, sem produzir atritos ruidosos. Esses cavalheiros viajantes de mundos
externos e viajantes de jornadas interiores, ambos em seus mundos, lutaram
contra os seus dragões.[1] Domesticaram as forças
mais primitivas e selvagens da psique e sabiam utilizar esse animal
sobrenatural para cuspir fogo, serem respeitados, serem temidos, serem amados.
Os dragões são um símbolo templário para demonstrar
que o cavalheiro adquiriu técnicas e conhecimentos orientais. Simboliza na sua
dimensão histórica o contato com a tradição chinesa, indiana, oriental. Aquela
que demarcamos páginas atrás como sendo semente dos aspectos femininos, voltado
ao feminino. E o detalhe é que tudo o que se relacionava com o feminino, no
advento do cristianismo, foi colocado na pecha da corrupção, da degeneração. E
assim, criou-se fantasias de dragões raptores de donzelas, salvas por cavalheiros.
Uma visão simples, mas que nos permite salientar uma fissura no imaginário pela
qual atravessariam muitas trevas retesadas e reprimidas. Afinal, quando
desvelamos os símbolos deste novo imaginário que se construía, isso
representava primeiro, a luta do feminino (dragão) contra a mulher. Segundo, da
mulher (donzela) contra o feminino. Terceiro, do homem contra o seu feminino,
isto é, a sua sabedoria interior (dragão). Representava um momento de luta,
disputa, de guerra de todos contra todos.
A única parte salutar dessa tensão era o resgate da
donzela pelo cavalheiro, no entanto, isso implicava ou em matar o dragão,
símbolo do feminino, do corpo, da natureza sexual, da energia sexual e outras
forças rejeitadas; ou em aprisionar a donzela em uma torre para que não
corresse riscos. Na primeira alternativa evidencia-se a gradativa demonização
do feminino. Na segunda o temor ao feminino, as mulheres. Mas se isso se dá nas
dimensões simbólicas, a incorporação desse símbolo, o uso dos dragões por parte
dos cavalheiros, representava que ele teve contato com forças da pólvora, do
fogo, dos raios, com um uso ainda mais vigoroso, intenso, do poder da mãe Terra,
da magia telúrica, sexual, feminina, originários na Índia, China.
Representava que conseguiram informações mágicas,
telúricas, acerca das grades cristalinas da Terra. E este momento dos cavalheiros
é muito emblemático, porque registra um momento no qual as coisas fugiram de
controle. No qual as coisas se inverteram. Essas inversões são tão naturais que
a maioria nem se dá conta, nem as percebem. Como este exato momento no qual há
uma inversão do campo magnético e a maioria não sente, não pressente, não
vislumbra. Naquele momento da inversão passamos a ter milhares de cavalheiros
amando donzelas platonicamente, negando contato físico com as mulheres. Outra
gama entrando em cavernas com fúria e temor a procura de dragões para matá-los.
Outra sorte encontrava-se fazendo de fato a Jihad, escolhendo um outro, um
diferente, para atacá-lo, para matá-los, em nome de Deus, ou de Alah. Matavam
em nome de Deus, sem piedade cristã ou mulçumana. E arrastavam para esse
universo fissurado, outros milhares de seres.
2.3 O hálito do dragão.
As atividades dos templários, dos cavalheiros,
mexeram nas estruturas cristalinas da Terra, principalmente, quando
incorporaram, novamente, o uso dos dragões. O dragão é também o símbolo dos
guardiões das grades cristalinas. Dessas forças não locais do espaço-tempo. Conseguem
entender o que é a grade cristalina?
Imaginem um prisma de luz, um espectro luminoso.
Antes de passar pelo espectro temos apenas a cor branca. Essa cor é o que se
denomina realidade. É a parte visível, objetiva, clara. Oposto a essa matriz há
a cor negra e a isso se denomina loucura, irrealidade, sonhos, devaneios. Por
milhares de anos viveu-se com essas duas matizes de cores: preto e branco. O
preto, o escuro, como sendo negativo e o branco, o claro, como sendo positivo.
Esse mundo não oferecia dificuldades de entendimento e permitia aos iniciados
atravessarem para outras freqüências cromáticas. Aqueles que assim procediam
eram respeitados, admirados, temidos. No entanto, o plano de interligar o
mundo, as sementes, levou cada povo a germinar sementes e a trocá-las entre si.
Essas trocas energéticas proporcionaram a re-abertura de uma fissura, pela qual
muitas imagens, muitos devaneios, muitas realidades não locais atravessaram.
Essa travessia gerou perturbações múltiplas em todos os planos.
Acompanhem-nos. Quando se esta fisicamente,
astralmente na Terra a vida é vista assim- preto x branco. A grade cristalina é
a possibilidade de se captar outras matizes de cores dentro desse espectro. O
que queremos ressaltar é que esses espectros às vezes “baixam” e colorem a
realidade, forçam um novo olhar e uma nova perspectiva para as coisas. De toda
forma o que faz com que esses espectros se tornem vivenciáveis é a consciência
dos seres. E nesse molde consciencial, nesse espectro consciencial, não há
tempo, espaço, linearidade, causalidade. As movimentações se fazem de imediato,
de forma não local. Ainda não temos como lhes fornecer provas materiais e
documentais, mas o que estamos dizendo, é que o contato do ocidente com a
simbologia dos dragões abriu uma fenda na grade cristalina que impactou a
distensão entre o objetivo e o subjetivo, o mundo interno e o externo, o sonho
e a realidade e a conseqüência disso foi a criação de um mundo de trevas,
acinzentado, que mergulhou a humanidade por milênios. Um mundo de culpa,
pecado, medo, expiação. Um mundo de dor, lágrimas, sacrifícios. Um mundo no
qual se vivia ao mesmo, simultaneamente, a idade média e os momentos finais de
Atlântida. Em verdade, Atlântida é a ferida de morte do imaginário do planeta.
As dores, as culpas, os medos, as sujeições e controles de todos os tempos se
articulam a retomada desse padrão vibratório.
Poucos conseguiram pontuar essa tensão com tanta
precisão como Rene Descartes em seu “Discurso sobre o Método” e Cervantes na
literatura com “Don Quixote de La Mancha”. Poucos viram que em plena idade
média, abriu-se uma fenda, que provocou uma inversão, similar à vivenciada nos
tempos finais de Atlântida. Poucos percebem que o que se vivenciou no período
da idade média foi um misto de sonho e pesadelo do grupo 2. E o que se
vivenciou do Iluminismo até os dias de 1999 foi o pesadelo e o sonho do grupo
1. Foram os medos, os dissabores, as culpas e as tensões de um grupo sobre o
outro. A demonização de um grupo pelo outro assombrando o astral, o imaginário,
a realidade das pessoas. Diante desses momentos de muitos séculos, eles puderam
perceber que são iguais. Seja pelas searas da fé, seja pelas searas da razão,
eles buscam a dominação pelo medo, pela subjugação, pelo controle do outro,
pela escravização dos mais fracos, pela não aceitação dos diferentes.
Nesses períodos medievais os cavalheiros iniciados
se recolheram para dentro dos templos. Nesses momentos muitos tiveram que
trabalhar esses símbolos em um nível ainda mais sutil e mais distante do que
era ostentado pela massa conduzida por lideres políticos e religiosos. Lideres
que sempre sonharam e desejaram possuir esse poder “sobrenatural” que eles
acreditavam que os cavalheiros possuíam. Acreditavam que as glorias seriam
alcançadas mediante a luta fratricida, os rancores e o ódio contra o diferente.
Não percebiam como que com tais praticas ficava-se a cada momento, mais
evidenciado, de que eles não eram iniciados, de que eles nada entenderam da vida
dos cavalheiros, do trabalho da Ordem. De que os feitos de justiça, de paz, de
lealdade, de princípios, de nobreza não eram dados pelo nascimento, nem pela
sua capacidade de comprar o alazão mais caro e de cortejar as donzelas mais
belas. Que de pouco adiantava a obtenção dos conhecimentos simbólicos sem
saberem por qual processo se realiza a incorporação desses conhecimentos na
própria vida. De maneira que se entenda que todo símbolo templário é o
cavalheiro mesmo. Ele é a um só tempo: o escudo, a rosa, a armadura, a espada,
o véu, o cavalo, a donzela, o cálice, o graal. Se ele não se faz o símbolo de
si mesmo, de nada lhe adianta os conhecimentos, as lanças, as pontes, as
travessias, os lenços e os brasões.
Os mestres do caminho conseguiam observar, clara e
cristalinamente, cavalheiros montados em jumentos. Cavalheiros cortando lenhas.
Cavalheiros desposando mulheres desprovidas da beleza física. Os mestres do
caminho conseguiam deixar claro e estampado que o caminho do cavalheiro não
passava exclusivamente pela vida monástica, ou militar, pelo contrário. E é a
partir desse contrário que a Ordem investe em outra modalidade de contato e de
busca interior. Essa modalidade será anos, séculos mais tarde imitada,
corrompida, representando a necessidade de se criar outra alternativa e uma
outra via. Esse tem sido a senda dos puros- percorrer caminhos de forma
pioneira e abandoná-los quando esses caminhos se fazem perniciosos e
corrompidos.
O novo caminho dos caminhantes. As novas sementes
dos jardineiros receberam o nome de comércio e de alquimistas. Os comerciantes
fizeram a aglutinação e o encontro das muitas sementes, riquezas dos povos e
dos mundos. Os alquimistas fizeram a contra partida dos monges, aqueles que
ilaçavam os símbolos, seus sentidos e significados, a partir da reflexão, do
silêncio, da jardinagem interior. Os comerciantes faziam as vezes dos cavalheiros
a andar pelos campos, a colher sementes, a plantar grãos. Mas poucos sabiam que
esse trabalho era um trabalho do espírito, de muitas vidas. Depois de muitos
grãos reunidos, muitas sementes plantadas, nascia-se como monge para auxiliar a
si e aos outros na compreensão do quebra-cabeça. Na compreensão dos plantios e
jardinagens que estavam realizando.
Mas é a partir dos comerciantes que unificações
serão realizadas e contatos estreitados. Comerciantes europeus com comerciantes
árabes difundem a matemática, os algarismos arábicos, retomam Platão e Aristóteles,
abrem as portas de entrada do mundo grego perdido, despedaçado. Aos poucos, o
Logos vai retornando ao seio da Europa, clareando e iluminando concepções
fechadas. O contato com os árabes enriquecem a Europa de conhecimentos. O mesmo
acontece quando encontram os africanos e descobrem o valor dos livros, das
universidades, dos centros de estudo. Tradição que os africanos mantiveram
intactas desde a destruição da biblioteca de Alexandria. E que acalentaram como
guardadores da semente de feitos prodigiosos de outros tempos. O contato com os
chineses abre os horizontes para novas paragens, novos lugares, novas terras e
o sonho de que deveriam ir ao outro lado do mundo. Lá onde existia o paraíso.
O comércio fez a fusão e a globalização do mundo
mediante um sistema de trocas, de interesses que não se restringia apenas ao
lado material e físico das coisas. Houve um comércio de informação, de bens
imateriais, só comparável com a Web no século XXI. O que se transportou, o que
se levou de um lugar para outro. Devolveu ao mundo, pelo menos a figuras de
relevância e importância um conhecimento que se encontrava disperso há
milênios. E esse é o tema do nosso próximo capitulo.
9/6/10
5- As rotas comerciais.
(30/6/10)
Genova e Veneza. Colocar o mapa dessa rota para se
chegar ao oriente, assim como outras. A busca de Portugal e Espanha para furar
o bloqueio e buscar além mar. Preste atenção nas informações. Lide com elas com
cuidado e destreza, habilidade e cuidado. Como disse o poeta:
“navegar é
preciso, viver não é preciso.”
Tutto va da Itália. Tuto pasa per la Itália. Era essa a frase mais recorrente no final do
século XIV, início do XV e meados do XVI. Os italianos, herdeiros de Roma,
filhos de César, berço de nossa civilização gozavam de um poder formidável, maravilhoso,
universal. Isso não é acaso, não é coincidência e tal fortuna, como diria
Maquiavel, pode ser entendida por um ângulo pouco explorado: o clerical e
espiritual. Vá com calma. Falaremos de coisa que não se diz, de segredos de
estado que não se revelam. Tenha paciência e destreza. Busque a comprovação
documental, elas estão aí à espera de serem coligadas, interligadas, mostrada.
Por poder clerical entenda-se o poder dos papas e do clero católico. Por
análise espiritual entenda esses desdobramentos que abordaremos.
Genova e Veneza eram as capitais do Ocidente. Tudo
passava por elas. Tudo, que entrava na Europa vinha por ali. Essa força foi
sendo reunida e acumulada desde o período das cruzadas. Não mais a cruzada dos
cavalheiros e sim a cruzada dos clérigos. Sim, eles também empreenderam as suas
cruzadas em busca de ouro, fortuna, riqueza e bens materiais. Como é sabido,
eles encontraram. O que não se sabe muito é que eles também tomaram, seqüestraram,
roubaram, saquearam, não apenas a mouros, na sua maioria, nossos irmãos
cavalheiros, nossos irmãos que nos deram inúmeras contribuições, que nos
forneceram inúmeras informações. Roubaram, seqüestraram, mataram, torturam,
queimaram na fogueira, principalmente, os templários e os cavalheiros das Ordens
secretas. Por detrás das cruzadas clericais escondia-se a busca e a batalha por
apoderar-se do poder dos templários. Sim, eles acreditavam que nós tínhamos
poder. E de fato o tínhamos. Nos moldes colocados páginas atrás, mas sempre
fomos vistos como uma ameaça. E ameaçados fomos perseguidos, mortos, queimados,
torturados, banidos, excomungados. Assim como nossos conhecimentos, assim como
nossas descobertas, assim como o mundo que vivíamos e habitávamos. Isso é
difícil de compreender, de explicar, de ensinar, de falar, de escrever, mas o
mundo já acabou várias vezes. Neste período em questão o mundo acabou.
O mundo acaba, quando subitamente e inesperadamente
a consciência dá um salto e muda de fase, muda de plano. Seja por susto, seja
por medo, seja por quantum de alegria e de esperança. Nesses sustos a
consciência salta, altera e mundos inteiros são deixados para trás, são
esquecidos. O mundo acabou no século XIII. Quando voltou estávamos todos no
século XIV, XV assistindo o poder infinito das crendices católicas. O terror
que eles impuseram aos seus, queimando vivo outros seres humanos, retroagiu a
humanidade em séculos, milênios. Sim, o medo pode produzir esse salto
consciencial. Na iminência do perigo, os seres, coletivamente, podem alterar a
percepção de realidade. Esses momentos aconteceram outras vezes e mais
recentemente como puderam observar em pleno século XX. O mundo também acabou.
Muitos ainda não perceberam e nem perceberão. Todavia desta feita o padrão de
alteração foi realizado por consciências esperançosas, confiantes em um futuro
agora, capaz de remodelar esse passado. E foi por esse presente ter sido
possível, que este retorno ao passado se faz realizável. Voltem comigo. Não sei
se chegaremos, mais voltem comigo.
É meio dia na Terra, mas tudo está escuro. Não há
luz. As trevas reinam e vencem. O meio dia é a hora mais sombria. O meio dia é
o momento mais doloroso. Os animais se calam. As vegetações secam. É o reinado
da morte. É a força das trevas reinando. As mulheres se escondem e os homens se
calam. Qualquer fiapo de luz pode levar à destruição, à ruína. As luzes são
caçadas. Mulheres, crianças, homens, pensamentos, verdades, tudo é caçado e
extinto. A alegria, o prazer, a satisfação, o gozo, a harmonia, a felicidade
são proibidos. A Terra pesa como se estivesse grávida. E a Terra pare ratazanas
monstruosas e abundantes. Rituais são feitos nos centros do poder para que as
ratazanas não parem de nascer, não parem de gerar e elas se reproduzem, levando
o medo, a morte, a fome, a peste. A escuridão repousa sobre a Europa, não há
possibilidades de saída, de alteração, de mudança. A opressão é grande e
aqueles que a desafiam são lançados à fogueira. Tem seus direitos cassados, são
mortos de forma infame, são torturados de maneira vil. Tudo alimenta as
ratazanas. Tudo fortalece a peste.
Missas negras são celebradas. A degeneração toma
conta dos centros de poder. O cetro se faz objeto fálico, e é instrumento de
gozo, orgias e delírios. Os Bórgias alçam voo, alcançam o poder, profanam a
Igreja, denigrem as Marias, sodomizam Jesus, bestializam seus fieis, seus
seguidores. Os templários são perseguidos. Os magos são perseguidos. As
mulheres são transformadas em bruxas.
As bruxas. Sabem o que era uma bruxa? Sabem quem
eram as bruxas? O sonho de todas as meninas, o dever sagrado de todas as
mulheres. Encontrar no contato com o amado o desvelamento do mundo. Encontrar
junto ao outro o sentido intimo da natureza. Ler o que a Terra lhes
confidenciava e juntas celebrar a alegria da mãe, no próprio útero, com os
próprios filhos. Essas mulheres de poder foram combatidas, dizimadas, seus
nomes esquecidos, seus segredos extintos da Terra, retirados da Terra e
lançados no fogo. Foram tristes estes momentos. Este momento só teve alegria e
gozo para alguns poucos. A totalidade sofreu as dores, os medos, as angústias
de ter tudo o que acreditava distorcido.
Poucas rotas existem para sair da Europa. A
opressão é legitimada pelo monopólio, pela exclusividade. É necessária a
criação de uma rota alternativa. É necessário encontrar frestas de luz nesse
universo de ratazanas, pelo menos antes que a amnésia contamine a todos. Antes
que os cavalheiros esqueçam quem são, qual mundo habitam, de onde saíram, de
onde vieram. As Ordens secretas precisam se tornar braços armados, pontos
estratégicos dos governos que desejam lutar contra as trevas. Por sobrevivência
os templários e as Ordens se ramificam, se descentralizam e oferecem serviços
de consultoria, aconselhamentos a padres, bispos, reis de outras
nacionalidades. Em Portugal e Espanha a gente trabalha com o mar. Com o
além-mar. Criamos centros de estudos de caráter secreto, com total autonomia
dos reis, que cooptamos para nosso lado oferecendo poderes inimagináveis e
jamais sonhados. Montamos a Escola de Sagres.
Conhecem a NASA? A Escola de Sagres tinha a mesma
importância. Em todos os sentidos. Em verdade, a NASA é Sagres. O que fazíamos
ali? Os livros de história não têm registros. O que ensinávamos lá, a história
não sabe ao certo. Restaram alguns artefatos como um astrolábio, umas vaus,
alguns mapas e eles nos são suficientes para brindarmos simbolicamente com o
mundo.
Acreditariam em chineses em Portugal no século XIV
e XV? Mas como há chineses que falam português? Por que nós chegamos até lá?
Não, eles chegaram até nós, muito antes. Acreditariam em informações de que
sabíamos a existência de terras além-mar, habitados por povos de peles
avermelhadas? Havia inúmeras espécimes trazidos de lá, desde antes a data do
descobrimento da América e da chegada de Cabral. Acreditam em negros habitando
as terras portuguesas e espanholas em pleno século XV? Dando aulas em nossas
universidades? Ensinando direito, filosofia do mundo grego? Vejam como a
jurisprudência portuguesa é diferente da jurisprudência francesa e inglesa e compare-a
com a do mundo árabe, em especial dos países negros de cultura árabe. Esta tudo
aí. As pistas, os registros. Precisam ler e olhar com outros olhos. Não mais os
olhos do medo, das sombras do mal e sim os olhos da alegria, da inocência, do
amor que nos permitiu sonhar em meio ao maior pesadelo da Terra.
Eles acabaram com o mundo, mas nós o reconstruímos.
Ainda dentro desse mundo de trevas, houve a luz do Renascimento. O sopro da
arte, da beleza, dos gregos. Da riqueza, do monopólio e das taxações alfandegárias
criou-se também o mecenato. E artistas puderam viver de suas obras. A arte
passou a ser valorizada. E naquele cenário de opressão a única possibilidade
era revisitar os antigos essa é a interpretação dada para esta fase. Todavia,
ele revisita não aos gregos, ela revisita o homem ocidental antes da peste e do
domínio das ratazanas. Eles falam não de um ontem, distante, cujos olhos não
viram, e sim, de um ontem próximo, que a memória se negou a esquecer, que a
alma se negou em calar. Os artistas renascentistas criam o homem que eram, que
foram, que voltaríamos a ser. O homem expresso por Leonardo de forma divina e
maravilhosa. O homem Davi esculpido em pedra por Michelangelo. Davi o símbolo
tão caro a nossa ordem. Davi a representação da batalha que travávamos naqueles
momentos.
Sim, ainda há lágrimas em meu peito. Ainda vejo o
mundo mergulhado em uma noite escura e em um sono profundo. Ainda vejo e ouço
as gargalhadas de Morfeu, enquanto outros cerram os olhos de meus irmãos. Ainda
vejo os olhares patrulhadores dos morcegos noturnos, a espreitar durante a
noite, os movimentos de nossos passos. Ainda vejo os ferros em meus braços, o
aço perfurando minha carne. Ainda vejo os rostos sanguinários pronunciando
palavras mágicas. Mas tudo isso em carne e alma como as nossas, nos fortalecem,
nos aumenta. E se um dia senti ódio a tudo isso, hoje, acho graça, porque aqui
estamos de novo. Por que aqui estamos mais uma vez. Aqui estamos trazendo o
perfume das rosas, a brisa do sol. Aqui estamos como colibris, pequenos,
diminutos, mas realizando um trabalho que acredita ser de parceria com o sol e
com toda primavera. Com todo outono e todas as estações. E tenho uma felicidade
que transborda o tempo, que abraça aquele homem carrancudo, cujo nome foi
lançado da história. Que abraça aquele peregrino que foi desterrado, jogado fora
lançado aos cães para morrer como lobo, mas sobreviveu. Vive e agora sorri para
mim, sorri comigo, porque nós não nos esquecemos de quem somos, o que somos, do
que somos feitos. Somos feitos da armadura das pétalas de rosas. Nossas
lágrimas é o nosso sol. Somos templários, cavalheiros do tempo, guardiões da
rosa. O irmão que zela e protege o irmão. Nós somos os guardiões de nossos
irmãos. E assim como eles vieram da África, da China, do mundo árabe e até das
Américas nos abraçar. Nós também fomos até eles retribuir os abraços. Somos
irmãos. Somos um. Somos da mesma Ordem, da mesma família: os guardiões do
graal. E se houve fel no cálice, agora o pulo, o lustro, o ofereço aos meus
inimigos: brindem conosco, bebam conosco. Nós não esquecemos quem somos. E só
podemos ser aquilo que somos. Não foi isto, meu irmão, que deixastes gravado
para ti mesmo, em muitas vidas nas quais não te apagaram? Aprendemos com tu.
Agradecemos a todos. Em resposta as ratazanas, nós criamos Sagres, que é um
capitulo a parte.
É difícil explicar o que Hanna denominou a “Banalidade do Mal”.
Assim, as respostas fáceis, prontas, coloridas, acabadas nos trazem alivio,
apaziguamento. Nos dão uma compreensão que mesmo equivocada, pálida, tênue, nos
confortam. O filme tenta nos tirar desse conforto. Dessa estabilidade, o que
uma amiga em sua análise do filme chamou de ‘normose’.
Tentarei evitar as análises ao meu ver equivocadas, apressadas,
superficiais que foram feitas ao conjugarem psicopatia com portadores de
sofrimento e transtorno mental. Essa é uma discussão que eu gostaria
imensamente em me ater, em aprofundar, em abordar, porém talvez passe a reboque
dela.
Quero acreditar que as identificações da violência com a miséria,
com o sofrimento mental, com a psicopatia fazem parte desse pensamento rasteiro,
desejante de explicação. Esse pensamento que não suporta o ‘contato furioso da
existência’, que recorre a palavras mágicas, entendimentos breves, para lhes
poupar do breve flerte com o ABSURDO.
O absurdo é esse olhar para o abismo e de repente sentir o abismo
devassando sua alma, procurando espaços nos quais pensava não ter, como nos diz
Nietzsche. Diante desse nada, queremos terra firme, ares tranquilos, mares
calmos. Desejamos explicações racionais. Elegemos salvadores da pátria. O filme
tenta não nos deixar cair nisso. Nos desaloja desse encontro fácil, dessa
resposta fácil e rápida. O filme desaloja.
Mas, para onde vamos? Para onde tem ido muitas das análises: para
as explicações reconfortantes e acalentadoras. Os Incels americanos e talvez
mundiais se identificaram com o Coringa, mas eles entenderam? Eles entendem
alguma coisa fora do pobre e desértico universo subjetivo deles? É culpa nossa,
eles serem assim? As perguntas evocam questões, igualmente complexas, novamente
polêmicas, que nos conduzem para novas e outras análises, tais como: a ficção
pode influenciar a realidade? A arte, no caso um filme, pode mesmo levar uma
pessoa a cometer crimes? Qual é esse limite entre o imaginário subjetivo e o
transpessoal, coletivo? Como que algumas pessoas esbarram nessa realidade como
se estivessem chocando com uma parede cinza de concreto e outras a atravessam
como se estivessem passando por uma nevoa?
É inegável que há pessoas, geralmente, artistas, que ao falarem do
seu imaginário abrigam em si toda uma geração, toda uma humanidade. Poderia
ficar aqui até o restante do texto dando exemplos, mas eu quero nesse momento,
pensar naqueles que esmagados por uma realidade cinzenta, não conseguem
libertar seus sonhos, fantasias, sua vida de uma realidade concretada. Simplesmente,
não conseguem. A realidade para eles é mais densa, espessa, sombria. O mundo
interno deles é tão solitário quanto o externo. Aquilo que rodopia por um
segundo em sua malha intelectiva é deglutido como se fosse um buraco negro.
Consomem o outro ser por inteiro e ao final não resta nada, ninguém. Nem ele,
nem o outro. Se o artista constrói pontes e muros, algumas dessas pessoas dinamitam todas as relações, inclusive, a delas com elas mesmas.
"Para mim, a arte pode ser complicada
e, às vezes, a arte é feita para ser complicada. Se você quer arte
descomplicada, talvez você deva ter aulas de caligrafia, mas fazer cinema é
sempre uma arte complicada". Todd Philips
Assim, nos preocupam os rótulos, os clichês, um pouco similares
aos que fiz acima e venho desconstruir aqui. Coringa é um psicopata? Coringa é
um louco? É ele um doente mental que não gosta de ricos? Coringa é um doente
mental, pobre, fracassado, que não gosta de ricos e mata sem sentir culpa?
Notadamente, ele pode ser tudo isso, mas o filme não nos permite explicações
fáceis e simplistas como essas. O filme nos convida a perceber várias coisas,
em muitas direções e profundidades: o sofrimento mental é um. A falta de apoio
psicoterapêutico e farmacológico diante de uma política pública da indiferença
é outra. Todavia, o que assinalo como mais significativo é como o diretor nos
convida a ‘vivenciar’, perceber o conflito por dentro. E nessa vivência
adentramos níveis para além da nossa epiderme. Vejamos:
Uma primeira camada é a do campo subjetivo. Arthur Fleck com ele.
O segundo é o campo da intersubjetividade, Arthur com o outro, com o mundo. O
terceiro é o desaparecimento de Arthur Fleck e o surgimento da máscara;
Coringa. Essa gradação me fez lembrar de Drummond, na verdade, lembrei-me de
Afonso Romano de Santana que distingue as três fases de Drummond como que
demarcando: a 1ª na qual ele é menor do que o mundo. A segunda na qual o mundo
é grande e pesa mais do que a mão de uma criança. Uma terceira que o poeta, o
eu poético, se iguala ao mundo. Esse é um exercício de folego. É um processo
iniciatico. É belo ver como os artistas conseguem realizar essa transcendência
a partir de imanências, introspecções, mergulhos selvagens para dentro de si
mesmos. Vou tentar correlacionar esses movimentos com a astrologia. Espero
obter clareza. Espero que a linguagem consiga fazer essa travessia das ideias
que me habitam com o filme que nos captura, com a realidade- a cara do absurdo
que nos devora sem dentes. Apenas boca arreganhada que engole o mundo, o eu.
SUBJETIVO
Durante muitas cenas somos movidos para dentro da visão de mundo
de Arthur Fleck e deliramos com ele. Porém, passado poucas cenas, antes
do fim do filme, o diretor nos mostra, que era delírio. Insisto- o diretor nos
mostra. Sem os cortes dele, a edição e retomada das cenas deliramos juntos.
Acreditamos naquilo que Arthur vê, sente, compreende, interpreta o mundo. E
enquanto não há esse corte parece que todos no cinema amam o filme. É como se
aquela dor, sendo sofrida em silêncio, calada, intimamente, nos condoesse. Eu telespectador me
condoía, me solidarizava. Queria correr atrás dos meninos que roubaram o
cartaz. Queria que ele soubesse se defender melhor. Que ele se transformasse em
Van Dame, ou Charles Bronson, mas ele é só Arthur. Não haverá reviravolta.
Nenhum mestre Jedi chega, nem de artes marciais. Nem um amigo, nem um colega,
nem um policial. Fleck está condenado a ser ele mesmo: frágil, belo, bem-intencionado,
bonito. Um anônimo. Um ninguém. Alguém que se demitido não faz falta, alguém que seguindo uma pessoa por toda uma cidade, não é visto. Alguém que diante de uma terapeuta não é ouvido. O nada da existência o ronda, se faz indiferença política-social.
Isso para destacar que o delírio é tão convincente, tão real, que
acreditamos. Se o diretor não nos retira, continuamos dentro da realidade dele.
Mas, nós estamos fora, somos outro. Talvez tenhamos nossos próprios delírios e
nos percamos neles. Reconhecemos o dos outros, rechaçamos até. Vivenciamos
delírios coletivos, que se tornam realidades- opressivas, massacrantes. Legitimadas, justificadas o tempo inteiro. Sabemos nos convencer que a desigualdade e a indiferença são innevitáveis.
Fleck é
o cara sensível, amoroso, cuidadoso, que desejava fazer as pessoas rirem e
levar alegria e felicidade para todos. Quase nunca obtinha êxito. As pessoas
não riam para ele, não riam com ele; as pessoas riam dele. Ele era motivo de
deboche, desprezo. Um palhaço sem graça. Um comediante de piadas ruins. Motivo
de zombaria e escárnio, entre os colegas, nas ruas, depois em rede nacional.
Isso não é um delírio no qual ele sai. Essa é a realidade que ele vivencia
todos os dias. É a vida que não desgruda do ser. É a amargura que não sai da
pele. É a dor que vai obnubilando os passos até virar vazio. Se fazer absurdo,
se transformar em nada. E é nesse vazio, no qual o delírio que é parte dele,
age dentro dele, atua nele, ele se identifica com a própria máscara. A persona
assume a identidade. Porém antes de chegar a mascara, preciso passar pela invisibilidade.
INTERSUBJETIVO
Se a dor fosse só de Arthur, se essa miséria de vida, fosse só
dele, o filme não causaria polêmica, nem criaria alarde. Fleck nasceu, como
disse sua mãe, para levar felicidade e alegria para o mundo. A vida dele
gravita em torno dessa fantasia, na qual ele faz de tudo para ser realidade.
Ele é o cara bom. Tão bom que chega a ser bobo. Tão bobo que é visto como ingênuo.
Desculpem, ele não é psicopata. Ele tem uma inadequação completa para vivenciar nossa realidade. Ele não tem punhos,
nem dentes, não morde, não unha, não grita de raiva, não fala palavrão. Ele
apanha e volta a levantar. Ele é trapaceado e volta a sonhar. Ele é ignorado e
continua acreditando. Ele é brasileiro. Ele é o cidadão comum. O padeiro, o
professor, a dona que vende bala no sinal com o filho no colo. E nós não
ligamos para nenhuma dessas dores, dessas vidas, porque temos as nossas, mas
principalmente, porque elas não nos incomodam.
O que perturba em Coringa é que um dia esse cara mata. Não o
vizinho de rua. Não o outro preto que estava de bobeira na quebrada e esqueceu
da guerra das ruas. Não a mulher que o ex marido sentiu ciúme. Perturba porque
ele mata três ricos. Ricos? Mata três caras bem empregados e isso acende uma
questão e se virar moda? E se as pessoas perceberem que a desigualdade não pode ser justificada com o descaramento que utilizamos? E se eles quiserem o que é nosso? Pensam alguns.
Olhando as discussões acerca do filme, a questão não é mesmo sobre
a dignidade humana, ou o valor à vida. A questão é que homens brancos, heteros,
ricos não podem ser mortos como pretos, pobres, trans, no metro do mundo, por
um PALHAÇO. Por que como destaca, maravilhosamente o diretor Todd Philipps:
O que me intriga é sobre essa masculinidade tóxica branca.
Quando você diz ‘oh, acabei de ver John Wick 3’, ele é um homem branco que mata
300 pessoas e todo mundo ri, torce e vibra. Por que esse filme é pautado em
parâmetros diferentes? Honestamente não faz sentido para mim".
Não deveria fazer sentido para ninguém, mas definitivamente,
algumas vidas valem menos, muito menos do que outras. E essa discussão na
sociedade americana e em todas as outras não poderia deixar de ser feita. Por
que o assédio de três homens no metro a uma mulher não causa indignação? Por
que a agressão de três homens a uma outra no mesmo metro não perturba o sono de
ninguém? Por que a violência dos talks shows que tripudiam de outros é
aceitável? Saindo da ficção, saindo?
POSSO CONTAR UMA PIADA? Essa frase virou um bordão, que como o filme seria cômico se não fosse trágico. Ou é trágico, porque é cômico. O ponto é que nessas piadas há o surgimento do Coringa. O Coringa nasce, cresce, ganha corpo, alma nas entranhas de Fleck. Coringa é o resultado de relações subjetivas e intersubjetivas. Não nasceu pronto, não está acabado. Mas, foi o que melhor deu um sentido para Arthur. E, comicamente, o sentido é que não tem sentido. O diretor nos traz para dentro do absurdo quando imaginávamos sair.
O Coringa anterior do Ledger encontra sentido no caos, na anarquia, na loucura completa e total. Ele é apaixonante. Mas, esse Coringa não é revolucionário, não odeia ricos, não sabe o que está acontecendo. É só mais um mascarado na multidão. E é aqui que adentro a Trasnspessoalidade.
Coringa é uma carta na manga. Um palhaço. Um bobo. Um arquétipo.
Coringa é o avesso do avesso do avesso. É então a realidade negada, é o desejo
não manifesto. Coringa é o reprimido, o censurado. Nessa combinação, ele se faz
clareza e transparência da nossa insanidade. Ele nos devolve a nossa realidade.
O autor nos fez isso, quando ele nos mostra que Arthur Fleck delira, ele ao
mesmo tempo, nos esbofeteia com a insanidade do nosso cotidiano. E, claro,
pode-se ver nesse movimento uma apologia à violência, ou uma banalização do
sofrimento mental com a psicopatia. Não me pareceu isso, nem um pouco. O movimento
da câmera retira o cimento que impede algumas pessoas de verem o absurdo da nossa escolha de vida. O filme
transpassa do subjetivo de alguém que é portador de sofrimento mental, para uma
sociedade que é insana, com muita delicadeza. Uma delicadeza tão grande que nos perdemos. E a loucura começa, justamente, quando as pessoas
atacam o filme, o diretor para protegerem a realidade.
Plinio Marcos teve sua peça Navalha na Carne censurada na década de 1970. Nélson Rodrigues faz uma crônica contando de uma mulher que adentra a redação desesperada pedindo ajuda. O marido dela, taxista tinha sido preso arbitrariamente, acusado arbitrariamente e na cela fora possuído por outros homens. Ela estava desesperada, porque o seu marido dias depois foi libertado, mas continuava preso. Nélson então termina nos mostrando como que censuramos a arte enquanto ignoramos, banalizamos a realidade.
Há insanidade maior? Há prova de loucura melhor? Condenar a arte por ela espelhar uma visão de mundo? Arthur Fleck é
bom. É um cara legal. Digo mais, ele é sensível as dores do mundo. Ele deseja
fazer as pessoas rirem. Rirem com ele, rir das piadas dele, mas a gente só ri
dele. Debocha, humilha, espanca. Se ele estivesse medicado ele teria dado
tiros? Claro que não. Mas, a insanidade maior dessa sociedade, a nossa, é que
só vemos as pessoas quando elas vão para o campo da raiva.
Quem nunca pediu por favor, pelo amor de Deus, pela Ave Maria, ajoelhado no milho e
não foi ouvido, pelo contrário, foi ignorado, desprezada. Quantos pais tiveram que voltar a um estabelecimento para o filho ser atendido? Quantas vezes as pessoas não tem que se passar por filho de idosos para eles serem respeitados? Quantas vezes na sua vida, no seu dia-a-dia você só foi ouvido depois de
um grito, um tapa na mesa, um palavrão? Aí as pessoas se voltam para atender os
pedidos como se estivessem diante de uma majestade? Isso não é insano? Não é doentio? O que mais desespera no
filme é ele ter encontrado essa solução no disparo da arma. Ali, naquele homicídio
triplo, ele matou 4 pessoas e talvez a mais bela de todos; ele mesmo. O assassinato dos moços, num ato de medo, defesa, crueldade, prazer, ele vai se aproximando do Coringa. O Coringa encontra uma forma de se aproximar dele. É uma pena, porque ali perdemos um ser bonito. E quantos perdemos por dia? Por ano? Quantos nós deixamos cair nesse universo turbulento devido a nossa indiferença? Há milhares de médicos em depressão, centenas de padres e pastores cometendo suicídio, milhares de professores com pânico, dezenas de policiais com tendências suicidas. No outro lado da ponta: milhares de pacientes com doenças psicossomáticas, centenas de fiéis em desespero, milhares de alunos com problemas psíquicos. Todo mundo tomando remédio, uns para acordarem, outros para dormirem, outros para relaxar, outros para tensionar. E, todos como Arthur acreditando que o problema é ele, que é uma questão individual, que se ele se esforçar, melhorar, tudo vai se resolver. Ninguém percebe que o sistema enlouquece, entristece, emburrece, instabiliza. O sistema precisa da indiferença. E a opressão maior é transferir todo esse peso para as costas do individuo, sem nunca questionar, o sistema. Sem nunca se perguntar: E, se....?
Quando ele se identifica com a máscara, ele deixa de ser ele e
passa a ser o CORINGA.
E o Coringa é psicopata? É louco? Odeia os ricos? O Coringa é uma
persona, uma mascara, ele é mais do que o palhaço. Ele é o receptáculo de
forças que ele não controla, não conhece, não se importa e vai se manifestar
nele, por ele. Poderia ter sido outro. Poderia ter sido ‘qualquer um’. O Joker é a somatória desses elementos. Ele é o cara que rompeu com as regras, na verdade, o rompimento se dá dentro para fora. O psiquismo dele é rasgado, fissurado e de dentro dessa fenda sai a mascara que melhor retrata a leitura que ele tem da sociedade. E aqui
falo, brevemente de representação, atuação e sigo, finalmente para astrologia.
Um personagem não é o ator. O ator dá vida, pele, consistência a
essa persona/mascara. Por vezes, essa mascara ganha vida própria. Coringa tem
vida própria. Jack Nicholson não cansa de avisar, falar. Essa persona por vezes
não desgruda mais do ator, tira o eu dele, o rouba. Milhares de pessoas estão
perdidas numa persona. Fleck parece nunca ter tido uma. Olhando para ele dá
impressão de que ele estava no mundo de peito aberto, nu, escancarado. Quando,
ele encontrou uma persona, essa o tomou por inteiro.
TRANSPESSOALIDADE: o fim.
Para quem não sabe, essa imagem acima é do Arcano, o Louco no Tarot. O mundialmente conhecido nas ruas como 22. No tarot mesmo, essa carta não é numerada, porque ela não é serial. Ela é o inicio e o fim. O meio também como cantaria Raul, um 22. Uso o arcano, por razões óbvias. O arcano flerta com a personagem. Eu escrevi tudo isso, porque enquanto via o filme, as pessoas com
as máscaras de Palhaço, eu ia recordando do filme V de Vingança, da máscara que
viralizou. Ia vendo os conflitos no filme e elas eram sobrepostas na minha
mente com as convulsões sociais no Chile, no Equador, em Hong Kong. E então
pensava na astrologia, no tarot, respectivamente, em Urano e o Louco. Ficava
pensando, como que os artistas conseguem captar, capturar esse imaginário? Como
que eles acessam isso?
O filme é lançado já causando polêmica. E para mim é impossível não
falar do filme sem trazer para as demandas sócio-econômicas que temos
vivenciado com a politica neoliberal. Como desassociar? Como não relacionar
agora sim, ficção e realidade? Sim, por mais que defendam a lógica neoliberal, ela é insana. Não há loucura maior do que acreditar na Bolsa de Valores, em lucros e divivendos e pautar medidas reais baseando-se nisso. Isso é insano. Mas, legitimamos. Cortamos gastos, reduzimos custos, privatizamos para que alguns ganhem. Essa lógica da exploração é desumana.
Nesse âmbito desse flerte entre o filme e acontecimentos sociais, ele passa a ser ainda mais emblemático, letal. E se....?
A astrologia fala de planetas transpessoais, também conhecidos
como geracionais. Geracionais porque são planetas cuja orbita é tão demorada
que acaba influenciando gerações inteiras, estamos falando de Urano, Netuno e
Plutão. Transpessoais porque eles estão além do eu. Não é mais seu, pessoal. Eles
transpassam essa dimensão. Passam por nos, mas atravessam. O que eles expressam
nos mobiliza, nos conduz, mas não deveria nos prender, apreender. Tentaremos
deixar isso mais claro. De modo que o simbolismo desses planetas se conecta ao
que estava acontecendo no mundo à época do seu descobrimento.
A descoberta de Urano em 1781 está relacionada à Revolução
Francesa em 1789 e podemos estender para a Independência Americana, a
Conjuração Mineira, a revolução Haitiana. Todas elas têm como centralidade uma
luta pelos fins dos privilégios de um determinado grupo. Em verdade, os ideais
de liberdade, igualdade, fraternidade acaba por caracterizar esse planeta e a
conexão dele com a Terra. De modo que quando falamos de Urano estamos falando
num primeiro momento desses acontecimentos coletivos de transformação. Estamos
falando de eletricidade, de racionalidade numa oitava acima da que funcionamos,
normalmente. É uma inteligência coletiva, mas impregnada pela individualidade.
Por tudo isso, o signo que é regido por Urano é aquário. Um signo de elemento
ar, com grande capacidade de captar ideias à frente do seu tempo, por vezes do
seu espaço. Aquário e Urano no mapa representam, respectivamente, lugares nos
quais somos mais iconoclastas, mais propensos a desviar do padrão. Isso se dá
ao mesmo tempo em que Urano no mapa representa essa tendência, propensão
coletiva que temos de fugir às regras, de criar, inspirar, se deixar inspirar
por novos movimentos. Quando pensamos na famigerada era de aquário estamos
falando da inspiração desses novos valores de igualdade, de liberdade, de
fraternidade.
Pois bem, os signos de elemento ar (gêmeos, libra, aquário) nos
apresentam duais, como se não tivessem peso, fossem leves e de fato tendem a
ser até essas ideias quererem se fazer matéria, realidade. Gêmeos caminha
pela indecisão, pela dualidade. Libra pelo esforço de pesar e encontrar a
medida correta. Aquário coloca 'fim' à contenda ao encontrar a melhor maneira do indivíduo
se posicionar coletivamente. É uma operação matemática tensa, confusa, árdua, cujos movimentos são, inevitavelmente, transformadores, revolucionários, inquietantes.
Aquário pensa em conjunto e age coletivamente. É aqui que vamos vendo a força
eletromagnética de Urano na construção de campos, invisíveis, por vezes não
mensuráveis, que de repente irrompem em revolução. Na França dizem que foi por
brioches. No Brasil de 2013 por 0,20 centavos. No Chile pelo aumento das
passagens do metrô. No Equador, na Bolívia, em Hong Kong, simplesmente irrompe
um estopim e por vezes inflama.
O mundo está vivendo esse transito de Urano em Touro, promovendo fissuras em nossas estruturas de posse, de controle, de bens, de riqueza, de segurança. Tanto numa perspectiva econômica, quanto numa perspectiva psíquica. Essa duplicidade do dentro-fora, interno-externo, subjetivo-objetivo é onde o filme passeia com maestria e é também onde os movimentos sociais, coletivos, vem fazendo suas reivindicações.
Por um lado, jovens, estudantes, (urano) questionando com valentia, uma lógica distributiva (Chile, Equador) que eles não veem sentido. Uns com muito, outros com pouco (racionalidade coletiva). A operação não fecha. Por outro lado há toda uma lógica e racionalidade de segurança, de bem estar, apoiado em posses e valores de mercado mais tradicionais (touro). Aqui há uma associação com o tradicional, os adultos/velhos e seus ideias e cosmovisão que contrasta com a deles. Visualizado em Hong Kong nos quais a questão da extradição, segurança foi o estopim.
O filme consegue dialogar com esse momento, trazendo um ícone que
simboliza demais o que é esse momento Urano em touro. Ele é Coringa. E aqui
podemos pensar o Joker como carta mesmo no baralho, dependendo do contexto, ele
muda as feições, porém traz a marca transformadora, inquietante, desafiadora.
Artur Fleck é o porta-voz do Coringa. O cara invisível, sem voz,
que se encontra numa máscara. Mas, se o Coringa se utiliza de Fleck para se
expressar e vice-versa; o palhaço é a máscara de milhares de Flecks. E nessa
máscara, voltando as convulsões pelo mundo, ela é coletiva. Não se aponta uma
liderança. A revolta não para, ou cessa capturando, prendendo, matando,
degolando um ou muitos deles. O movimento é coletivo, aparentemente guiado por algo que paira no ar. Em 2013 nunca vimos tanta gente. Era fruto de uma insatisfação, qual? Todas. Qual rosto, qual liderança? Parece não ter. É anônimo.
O filme Coringa é o ícone de um sentimento inominável, indefinido,
amorfo, sem cara, até que ele dispara tiros no metro matando três cidadãos de
bem. Ali a ideia começa a ganhar forma, na verdade, ganha um rosto, mais
precisamente: uma mascara. Talvez na primeira onda de protesto contra a
exibição do filme, ele ganha o mundo.
Seria importante falarmos de Netuno e Plutão, mas ficara para uma
próxima vez. O filme é netuniano, no sentido estético do termo. Na forma com que atravessa telas, sonhos, desejos e transpassa imaginários, os aglutinando em torno de várias miragens, ou seriam delírios? Ou seria mesmo, realidade? A ficção e a realidade se confundem numa interdisciplinaridade ébria. Mas, isso fica para outra
vez. Coringa é a mascara do que colocamos nele, como todo bom filme. O Coringa mesmo, talvez seja um delírio no qual ainda não saímos.