Espaço utilizado como amparo e reflexão da Holos Consultoria Fiholosofica/Spaço Iluminar. Este espaço se torna o lugar no qual discorremos sobre as implicações, as atividades e os serviços prestados por nós. De forma que buscamos dar uma visão unificada, integrada dos acontecimentos da existência, colorindo-os com uma visão artística, cientifica, desportista, filosófica, denominada pelos gregos de Tecnhé. Contemplando a nossa visão holística e holográfica, isto é, φholosofica.
Eduarda foi a aluna, que
me apresentou ano passado, o livro: “A culpa é das Estrelas.” Leitora assídua,
devorava o livro com a intenção de terminá-lo antes da estreia do filme. Gosto quando
as pessoas estão dentro do livro, imersas na história criada pelo autor,
encontrando um espaço entre as pautas para que elas caibam. Ela estava assim,
se esgueirando entre a estória maravilhosa do livro e a chatura de um professor
que a puxava para vida, a retirando de uma das entrelinhas do livro. As entrelinhas
entre as palavras têm infinitos só preenchidos com a historicidade do leitor,
tornando cada livro, frase, única para cada um, não que lê, e, sim, que entra
nesses espaços infinitos criados pelo autor. Eduarda pegou um desses caminhos
de minhoca e quase me puxou para dentro do livro, eu resisti... infelizmente,
mas estou muito feliz e satisfeito com os mais vendidos.
Tenho me impressionado,
positivamente, pelos atuais best sellers. Primeiro, “A menina que roubava
livros”, agora, a “Culpa é das Estrelas”. O filme é de fato belo. E, a beleza
do filme é tratar de assuntos tão densos, tão pesados de uma forma tão leve;
refiro-me ao câncer e a morte. Mas, o que eu quero mesmo é tratar desse hiato,
dessa lacuna entre um acontecimento e outro. Quero falar do infinito, do
paradoxo de Zenão de Eléia, da renormalização da física quântica para que as
fórmulas não caia no absurdo. Quero falar do interminado.
Interminado não é uma
palavra dicionarizada, pena, porque interminado no texto tem a função de aludir
àquilo que não se termina. Mas, que não é algo interminável. O interminável parece
ter a vida toda e todas as existências para acontecer, já o interminado é o
oposto, o antônimo, já que representa, algo que finda antes de termos chegado
ao fim. O interminado é similar ao não acabado. Aquela concepção freudiana que
ganhou matrizes existencialistas de que o homem é um ser inacabado, um ser por
fazer, um projeto. O interminado é esse mesmo lançar rumo às incertezas do
infinito, sem que o alcance. Esse hiato, esse lapso é o interminado. É basicamente
sobre ele que falamos.
O interminado permeia
todo o filme, está em toda vida. O interminado é esse final da vida antes da
despedida. É o aperto de mão sem a possibilidade de um abraço. É o primeiro
orgasmo que será contabilizado como a última transa. O interminado é o fim que
chega, a dor que arranca, a perna amputada que ainda tenta andar. O interminado
é esse flerte miserável e compulsivo, obsessivo da vida, com uma paixão latente
pela vida, que acaba se encontrando com a morte. O interminado é a paixão que
acaba antes do amor morrer, ou o amor que cessa sem avisar. O interminado é a
dor da escala 10 da personagem.
Durante o filme não
derramamos uma lágrima sequer para a morte, não é ela que nos causa espécie, o
choro vem pela brevidade da vida. Nos causa lágrimas esse encontro certo, inexpugnável, mas
que nos choca todas as vezes que acontece... o interminado. Como somos
dependentes do depois do amanhã. Como carecemos de uma consequência de fatos. Como
somos frágeis diante do fim inesperado, do interminado. Os dois jovens do filme
não se conformam ( talvez mais ele do que ela) do livro terminar no meio de uma
frase. Mas, na realidade, quantos de nós terminamos alguma coisa quando queremos?
Quem termina uma paixão na hora que deseja? Quem cessa uma transa na hora que
quer? Quem se prepara para a morte antes de ela bater na porta e quando ela
bate, já levou. Nossos personagens vitimados pelo câncer desde tenra idade,
flertam com a morte e o que ela tem de mais belo, o interminado. E eles ensinam
cada uma das pessoas do seu convívio a viverem melhor, a serem melhor. Eles transformam
o intermindado em infinito. Não um infinito interminável, mas o infinito que
faz o sorriso do filho, o olhar da mãe, o beijo da amiga, as mãos dadas com a
mulher que se ama ser eterno. Uma eternidade fugaz, breve como um segundo, mas
profunda como o infinito. É sensacional saber que os jovens estão lendo isso. É
sensacional saber que essa gratidão de ter estado com uma pessoa por um
instante faz valer toda uma existência de dor. Um único segundo de amor. Uma única
bafejada de carinho, um hálito de esperança proporcionado pelo ser que nos ama,
faz toda uma existência valer a pena. É sensacional saber que esse amor está
sendo vivido na Terra. E mais ainda que jovens de 15, 18, 20 anos estão
aprendendo sobre ele. Um amor que fui re-conhecer aos 40 e que alguns morrem
aos 95 sem nunca ter conhecido. Amei essa brevidade nas entrelinhas do livro.
Outra brevidade não menos
importante é a de que nós precisamos do adeus, das despedidas, do último
abraço. Nós precisamos dos finais, quando ele não acontece ficamos no vácuo e o
vazio acaba nos preenchendo. Em alguns o vazio preenche todos os espaços, corrói
tudo o que havia, ficando uma dor que dilacera. Em outros, o vazio é preenchido
por outros instantes, ou pela gratidão de um infinito proporcionado por uma
transa, um sorriso, uma convivência, uma amizade. É estranho como que o amor, a
gratidão é capaz de preencher o interminado com um sentido que ocupa toda vida.
Possibilita a eternidade na palma da mão. Possibilita a arte, a redenção, a transcendência.
Possibilita o amor e o melhor de cada um de nós.
De repente ela acontece. Não
se sabe por onde. De modo geral, ignora-se o como. Mas, ela acontece,
significativamente, por diversas vezes na vida. Em momentos nos quais não
sabemos, não esperamos, não controlamos.
A mudança acontece quando
a gente não espera, quando a gente não repara, quando a gente não está
prestando atenção. Você olha para um lado e ela ocorre na direção oposta. De uma
maneira tão bela, suave, produzindo encaixes e amarras em nossas estruturas
internas, em nossos espaços mentais. Poucas coisas são tão bonitas quanto a
mudança. Acredito que reparar na mudança, olhá-la com carinho é ver o movimento
da vida em nosso entorno, ao nosso redor e dentro de nós. Tudo muda o tempo todo. Heráclito
de Éfeso chamava a nossa atenção para esse eterno devir. Parmênides seu
opositor complementar nos alertava para a permanência de tudo. Olhamos para
vida e vemos mudança e movimento, mas há outras partes da mesma vida que olhamos
e vemos permanência e constância. Fica parecendo que mudamos para encontrarmos o
permanente que existe em nós. Somos conduzidos vida afora para que cheguemos ao
ponto do qual saem todas as mudanças.
Talvez a melhor paisagem
para isso seja o céu e as nuvens. O céu permanece, enquanto as nuvem
passam, mudam de forma, vão de um extremo ao outro. O céu acompanha cada uma
das suas formas, dos seus movimentos, das suas brincadeiras de desenhar
sentidos, das suas transformações, mantendo-se inalterado.
O mesmo
processo, ou bastante similar acontece conosco e em nós. Os budistas comparam nossos pensamentos com as nuvens que passam,
mudam de forma, de intensidade, coloração. Ensinam os mestres que devemos
direcionar nosso olhar para o céu, um ponto na mente, que cria as nuvens, ou
melhor, de onde surgem as nuvens. Nesse ponto, espaço, lugar, tempo que não tem
tempo, espaço, ponto, lugar chegamos ao permanente, ao eterno. Mas, haveria eternidade
sem mudança? Há vida sem devir? Se há, talvez seja a melhor tradução para o
tédio, porque é na mudança é no inesperado que nos realizamos. É no devir que
encontramos o perene. É aqui que nos situamos no que os hindus
chamam de Maya, a deusa da ilusão. A ilusão de que tudo muda, a ilusão de que
tudo permanece. A ilusão de que haja nuvens e a ilusão de que haja céu.
No entanto, independente
disso, a beleza reside na nossa capacidade de nos iludirmos e desiludirmos. Iludirmos com nossas demandas, desiludirmos, naturalmente, com ou sem dor, das nossas ilusões. Nesse caso
as duas coisas são boas, porque em ambas estamos no devir, em ambas estamos na
mudança. E essa deusa (mudança) guarda em si mesma a capacidade de movimentar
em nós algo que não compreendemos, não reparamos, não sabemos como se dá.
Uma hora o menino junta
as silabas e consegue ler palavras. Um dia o adolescente junta as palavras e
decodifica o sentido. Noutro momento o jovem vê o sentido oculto daquilo que
não estão nas palavras. De repente, o adulto compreende que a paixão passou, o
amor acabou, o casamento chegou ao fim. Tudo num estalo. Ou melhor, num
processo continuo ininterrupto, que culmina no clic da mudança. Um estalo sutil, que nos acorda, nos desperta, nos ilumina.
Mas, esse clic não tem um
padrão, uma hora certa para acontecer. Pedagogicamente, tentamos conduzir e provocar
esse momento. Tentamos mediante práticas de ensino e aprendizagem proporcionar
a cada aluno o tempo exato de resposta para as questões por nós suscitadas, mas
como sabemos hoje, esse tempo varia, oscila, sem que com isso possa-se se
mensurar inteligência ou "burrice". Pelo contrário, os avaliadores precisariam
mensurar, ou buscar o que promove e provoca a mudança na vida das pessoas. Se nos aproximássemos disso melhoraríamos o que motivam as pessoas a aprenderem, a mudarem, a criarem situações nas quais desejam romper e sair, enfim, sair da zona de conforto. Mas, como tirar alguém da zona de conforto, do risco iminente? O que nos faz sair da zona de conforto e nos movimentar? Não há um padrão definido, uma regra universal a ser utilizada, pelo contrário, cada pessoa tem um padrão diferente, uma resposta diferente, um motivo diferente para buscar a própria mudança e a mudança das circunstâncias e relações a sua volta.
Na clínica o processo de mudança é
similar ao pedagógico. Uma hora, um momento, a pessoa consegue tomar a decisão que adiou,
postergou por anos, décadas. Ela, simplesmente, compreende. Não uma compreensão
intelectiva e sim um clic que a altera, a muda, a transforma. Um clic que a retira do sofrimento, da dor e lhe garante um alívio.
Na vida também não é
diferente. Situações que nos enervavam, de repente, perdem essa força. Apelidos
que nos faziam babar de raiva, quando escutados, não nos causam nenhuma espécie
e por vezes até graça. Mulheres por quem perdíamos o sono dormem ao nosso lado
profundamente.
A mudança parece ser a fórmula que a vida utiliza para crescermos, ou em termos espiritualistas, evoluirmos. Ela nos amadurece e nos reaproxima de quem somos, do que somos. Por vezes nos agarramos ao velho, ao antigo para que o novo não nos chegue, mas o novo sempre vem. A mudança é o que de melhor podemos ter da vida. Recebê-la, aceitá-la e caminhar esperando a próxima mudança. Mudemos....
Todos nós sabíamos, que
esse dia chegaria, mas poucos de nós nos importamos. Faltou planejamento
estatal, faltou gerenciamento público, faltou mobilização civil. Tínhamos na
cabeça que a água é um recurso infindável, inesgotável, interminável, mesmo
quando desmatamos nascentes e as vemos secar. Mesmo quando a poluímos com
dejetos químicos, minerais, sólidos, emocionais.
As previsões eram a de
que isso só aconteceria por volta do ano 2030, quando essa data era um
horizonte distante tal como 2200. O fim chegou mais rápido e com ele uma
conscientização forçada, que ainda não se dá e não temos de forma geral.
Continuamos tomando banhos de 20 minutos, escovando os dentes com a torneira
aberta, lavando a calçada com mangueira, lavando carros sem baldes. Ações que
há no mínimo trinta anos horrorizam os europeus e povos que não possuem nossa
abundância hídrica. Independente de tudo, continuamos acreditando, que a água é
propriedade individual e temos todo direito a ela, porque pagamos. Sim, o pior
da lógica não é o desperdício, o pior é a tentativa de legitimar que a água é
um bem de consumo e que por pagá-la pode-se desperdiçá-la, ou se fazer o que se
queira e como queira. Essa irracionalidade é castigada com a falta e espelha a
nossa dificuldade de nos entendermos como povo, nação, irmãos. O problema dos
outros não é meu, ou só se torna meu quando me atinge.
A seca no nordeste foi
motivo de indiferença no sudeste por décadas a fio e eis que agora, o sudeste
vivencia questões similares. As imagens da Cantareira, de Furnas e outros reservatórios
são similares as do nordeste da década de 1980/70.
Nessa carência, nessa falta,
nessa escassez pede-se ao cidadão comum que reduza o consumo, mas as
mineradoras e grandes indústrias continuam não apenas desperdiçando água, como
muitas vezes a poluindo. Eles não pensam em racionalização do consumo, nem em
sustentabilidade, num contra senso desmedido, o presidente da Nestlé fala de
privatização das águas e mercantilização da mesma como se ela fosse uma barra
de chocolate fabricada na Suíça.
Esquece-se que a água é
bem natural. É direito de todos. Pertence a todos. É uma aberração um ser
humano afirmar que é dono das águas, que as pode engarrafar e colocar o preço
que deseja, como ele chegou a insinuar. Aberração maior é pensar que na mente
de alguns o seu valor pode ser aumentado conforme a escassez e a demanda
permitir.
No entanto, o ponto que
pretendo falar e tocar, referente à água, é o energético. E pretendo fazer isso
utilizando de uma concepção psíquica, esotérica na qual se associa a água às
emoções. Sim, haveria uma relação entre os 4 elementos e os 4 estados do ser.
Essa combinação é muito utilizada na astrologia e também encontrada nos arcanos
menores do tarot onde respectivamente cada signo corresponde a um elemento e
cada naipe também.
Mas, o que representa
tudo isso se virmos a água como elemento da natureza, principio inteligente
simbolizado por nossas emoções? É um experimento interessante, especialmente,
quando observamos a nossa desertificação emocional. Ainda mais interessante,
quando dialogamos com pesquisadores que mostram que a água é um ser inteligente,
que está na Terra muito antes de nós e permanecerá depois de nós. Um desses
pesquisadores mostra que quimicamente, não houve alteração de uma molécula de
água que seja no nosso planeta. A mesma quantidade que existia nos tempos dos
dinossauros, no batismo de Jesus no Jordão, no tempo de Ramsés no Egito, de
Buda no Ganges, na coroa pesada por Arquimedes, continua existindo hoje. E a
constatação que ele chega é a de que não é a água que acaba é ela que se
esconde, foge de quem não sabe tratá-la com respeito e dignidade que ela
merece. Essa é a conjectura mostrada e comprovada por Art Sussman em seu “Guia
para o Planeta Terra”.
De
uma perspectiva global de longo prazo, vemos que as mesmas moléculas de Água
são usadas indefinidamente. A hidrosfera, o sistema de Águas do Planeta Terra,
é um sistema fechado. Nenhuma Água nova entra na hidrosfera. Nenhuma Água usada
sai da hidrosfera. A mesma Água passa de um reservatório a outro, circulando
continuadamente, e sugerindo o nome que damos a este fenômeno- Ciclo da Água. (Gente
Cuidando das Águas, p 34)
Mas, nós em nossa
prepotência e arrogância, podemos conceber uma coisa assim? Acreditar que a
água foge de quem a maltrata? Sente nossa falência hídrica? Claro que não.
Inclusive, por isso continuaremos com as dificuldades pertinentes e peculiares
que estamos atravessando.
Embora, essa concepção
acima se faça mais fantasiosa, exagerada, mesmo tendo sustentação cientifica,
pretendo ressaltar, que na contramão dessa irracionalidade, sempre tiveram os
ambientalistas conscientes, os povos ecológicos que não apenas alertaram para o
perigo e futura escassez como fizeram mais, criaram, construíram e
solidificaram uma rede sustentável na qual se fizesse possível a convivência
entre homens e o meio ambiente tendo como meta a preservação e a sustentabilidade.
Gostaria de saber o nome de todos para agradecer o belíssimo trabalho
desenvolvido em prol do Planeta e de Gaia, mas cito três: Demóstenes Romano
Filho, Patrícia Sartrini, Margarida Maria Ferreira autores do livro “GENTE
cuidando das águas” e de uma tecnologia social registrada no conceito
formidável: Meu Quarteirão no Mundo e o Mundo no meu Quarteirão.
Eles são alguns de milhares de pessoas que desenvolveram ferramentas de
sustentabilidade não apenas para o meio ambiente, como que para os homens que
compõem esse ambiente.
É nesse sentido de uma
busca por uma preservação da água, que venho trazer os dados, que aos meus
olhos são os mais impactantes do livro, a saber: A ÁGUA NÃO PRECISA DE NÓS. Ela
vai permanecer, continuar, como sempre continuou e permaneceu até hoje. Nós é
que precisamos da água. Nós é que necessitamos dela para todas as nossas atividades.
Não há civilização sem água.
Jean Pierre Garel, biólogo
molecular, diretor-honorário de pesquisas no centro Nacional de Pesquisas
Cientificas (CNRAS) comprova que a água tem três corpos: o físico, o emocional
e o mental. Ele explora isso ao propor a água como "vetor de informação", o que
implica dizer algo como: que a água é mais, muito mais do que um liquido. Ela
tem um sistema inteligente de captação e transmissão de informação. Mais do que
isso, ela se comunica e consegue realizar limpezas, transportes, em níveis
altamente sofisticado. E isso implica que a água é um ser. Um ser que possui
inteligência? Consciência?
Nessa direção, ele
referencia outros pesquisadores sobre a água cada um com conclusões mais incríveis
e desconcertantes do que outra. E citando o último e provavelmente o mais
famoso, especialmente, devido a sua aparição no filme Quem Somos Nós e ser mais
visual, temos Masaru Emoto, que expõe sua pesquisa no livro: A Mensagem da
Água. O seu trabalho consiste
em fotografar moléculas de água, mas não sem antes escrever nos mais diversos
idiomas algumas palavras que vão desde amor até ódio. O inacreditável é ver
como os padrões e as formas se alteram diante de cada vibração. Essa pesquisa
se estende para músicas, nascentes de água.
Cuidar da água é mais do
que racionar o seu uso. É compreender uma relação de respeito, integridade no
qual cuidamos dela para sermos cuidados.
Se
cuido das Águas por essas razões, cuido porque EU POSSO CUIDAR, cuido porque EU
QUERO CUIDAR. Cuido por minhas razões, por uma ética existencial, e não por
razões dos outros, por conveniências ou por obrigações que me são impostas,
explicita ou, subliminarmente, em forma de campanhas terroristas ( o fim da
Água no Planeta Terra), de “marquetagens” manipuladoras (“salvar” os rios e não
nós mesmos), de sentimentos de culpa (assumir responsabilidade ao invés de
cuidar por oportunidade). CUIDAR DA ÁGUA, SIM; MAS CUIDAR COM A LEVEZA, A
GENEROSIDADE E A EMPATIA QUE UMA PESSOA EVOLUIDA DEDICA AOS SERES VIVOS QUE ELA
MAIS VALORIZA. (op cit, 37).
Todas as vezes que vejo o filme Coração Valente do Mel
Gibson representando Willian Wallace recordo das classes brasileiras. Há os pobres
no qual Wallace faz parte, que tem por sonho apenas sentir-se cidadão do seu
país. Ele não quer BMW, nem iate, nem ir trabalhar de helicóptero. Ele deseja
um meio de transporte que o conduza como ser humano e não como gado, que são
melhores transportados em nosso país do que a classe trabalhadora. Ele quer uma
casa e não um palácio. Ele quer um programa que o possibilite pagar mensalmente
uma habitação. Programa que usa a verba da Caixa Econômica Federal cujo dinheiro
sempre esteve lá, mas apenas para uma parte da população, a que se acha dona do Brasil sem sentir-se brasileira.
Há a elite que cria onda, faz movimento de internet,
mas são capazes de vender o próprio povo para continuarem com o mesmo status quo. Acho Arminio Fraga o seu
melhor representante. Eles não se sentem brasileiros, nunca se sentiram. Eles já
foram portugueses, depois ingleses, na republica franceses, na ditadura
americanos, agora não sei o que são, talvez, cidadãos do universo. Seres virtuais.
O fato é que nunca sentiram-se brasileiros. Na copa vaiaram a presidente.
Disseram que seria a copa do caos. Foram à Europa enquanto o torneio se
realizava. De lá criavam movimentos apartidários. Seria cômico, se não fosse
trágico. E seria ao menos inteligente se os acontecimentos históricos não se
repetissem primeiramente como tragédia e em segundo como farsa, como bem
apontou Marx.
Em algum lugar entre esses dois tem a classe média,
que nos seus arroubos de mediocridade pende para um lado ou para o outro. Eles/ nós me incluo, transita entre esses dois universos, mas é incapaz de uma isenção,
de uma leitura critica, de um posicionamento que não seja midiático. E entenda-se
por mídia: globo, Veja, Estadão e correlatos, que há mais de uma década não tem
uma semana, quiçá um dia, que não bata no governo. Atendem, rigorosamente, o
conjunto de valores, daqueles que usam o Brasil sem sentirem-se brasileiros. Sentem vergonha de terem nascido entre nós.
Independente disso,
o filme Coração Valente, retrata um fato social, histórico ocorrido no século
XIII, de lá para cá, o sentimento de nacionalidade escocês e europeu, americano
se consolidou. Não se discute se o governo é de direita, ou de esquerda, ou de
centro esquerda, parte-se do pressuposto, do dado, do construído e solidificado
que todos são cidadãos e são iguais. Entende-se que para garantir essa
igualdade foi realizado ações afirmativas para dar a todos condições idênticas. Luta-se e briga-se hoje com uma xenofobia cada vez maior para que esses direitos conquistados não sejam estendidos a imigrantes, sobretudo, os ilegais. Aqui, nossa elite, acompanhada por parte da classe média rasga a bochecha com a
unha quando se fala disso e se prática isso. A classe média está disposta e predisposta a dividir com a elite, mas aceitar que uma classe menos favorecida não precise de favor e caridade, que ocupe e acesse os mesmos espaços é para eles motivo de revolta.
Lá fora, sabe-se que para efetivar essa igualdade
lutaram, mataram, guilhotinaram toda uma elite e a elite antes de ter os seus
bens materiais e imateriais queimados, estraçalhados, deram os anéis e ensinou o
valor que eles têm. Deram educação ao povo para poderem ter e apreciar os seus
bens imateriais. Se pensarmos que os grandes museus europeus eram espaços
reais, pertencentes a uma única família e dono, compreende-se o que afirmo. Quem já
passou aquele frio europeu no qual parece que os ossos congelam, sabe que
qualquer obra de arte vira fogueira se a pessoa não for educada para ver a
diferença entre a pintura de Da Vinci e o papel ofício.
Aqui entre nós mantemos o modelo de CASA GRANDE E SENZALA,
com a classe média na função de capitão do mato e de agregado. Estamos longes
demais da elite e queremos uma distância cada vez maior dos pobres, mesmo
quando dizemos o contrário. Defendemos mudanças desde que não mude nada em
nossas vidas. Não somos racistas desde que o negro não ganhe minha vaga, ou a
dos meus filhos. Não somos machistas desde que a mulher não receba mais do que nós. Não somos homofobicos desde que ele não manifeste seu desejo com o mesmo
erotismo que manifestamos o nosso em espaço público. Gostamos de viagens de
avião desde que no aeroporto ou no assento do lado não esteja um nordestino. Enfim,
nossos espaços públicos são categorizados para a casa grande e para a senzala,
haja vista, nossa arquitetura que tem quarto de empregada (não se tem isso em
lugar nenhum do mundo, creio que nem na África do Sul) e os novos estádios, ambos mantêm a divisão do espaço, o compartilhamento sem partilha, a tentativa de integrar deixando claro que se está fora.
Mas, onde desejo chegar com tudo isso é nas
contradições de uma classe média que irreflexiva, acrítica, imbecilizada não
por se opor ao PT, a Dilma, a Lula, seja a quem for, é por se opor sem buscar
fundamentos, enraizamentos, motivos. Nessa alienação informatizada, porque tem
informação em rede; viral, porque se espalha como besteirol, querem sair às ruas
para pedir Impeachment da presidente que está adotando políticas econômicas que
o candidato derrotado deles estaria fazendo!!! Ou!!!
É para sacanear não é? Quem
tem que estar descontente, revoltado, inconformado, sentindo-se traído são os
eleitores de Dilma que não defendem esse modelo. Quem tem que estar furioso e
enraivecido é a esquerda que se uniu mais uma vez para não permitir que a
direita (quem diria que chamaríamos o PSDB de direita) fosse ao governo
realizar essas atrocidades que estão sendo feitas. Jean Wyllys ao ver a
composição dos ministérios deu o grito. Eu mantive-me calado. Antes dele,
Luciana Genro já tinha nos alertado: "são todos iguais".
E são, querem o poder. Não tem programa de governo,
tem programa de manutenção de poder. E poder de empreiteiras, construtoras, consórcios
midiáticos, bancos e especulação financeira, imobiliária. Paro aqui para não
entrar no tráfico de armas, de drogas, de seres humanos. É nojento. É podre. É revoltante.
Assim, são todos iguais- PT/PSDB/PSB. Todos estão a venda, seja nanicos, ou
não.
Essa política do repasse os eleitores do Aécio,
especialmente, os de classe média e pobre não podem reclamar, não têm o direito
ideológico e moral de reclamar, porque é a política da livre concorrência com a
mínima participação do governo. Quem votou em Aécio votou nessa ideologia econômica.
Nós que somos contrários a isso é que tínhamos que está puto e estamos, mas
longe disso, muito longe disso defendermos intervenção militar e depor
presidenta eleita por adotar um programa de governo tirado da bolsa Gucci do
FMI.
De modo que quem deveria estar revoltado e estamos somos nós. E, não
falo de aumento de gasolina, reforma das leis previdenciárias e outros pacotes
de maldade, que precisam ser pensados, debatidos, realizados. Ações defendidas pelo projeto de Estado minimo que abre espaço para iniciativa privada e livre concorrência e aqui é que escancaram as contradições. O governo não pode subsidiar projetos sociais para a população de baixa renda, a classe média se revolta. No entanto, raramente se questionou as benesses concedidas a bancos, multinacionais e outros. A socialite pegou empréstimo de 2,9 milhões com o nome sujo. Para não ficar em um único governo, Wagner Canhedo cansou de pegar empréstimos para salvar a Vasp. O bom senso pede coerência, quem é contra o subsidio não pode reclamar do aumento da gasolina (subsidiada pelo governo) e pela luz (igualmente subsidiada). E não deve ficar esperando da previdência mediação na arrecadação, por mais ganancioso e extorsivo seja o Estado na sua mordida de leão.
Reclamamos de um
governo eleito que age como se fosse derrotado e oposição. Falo de um governo
que vem com medidas que são um retrocesso aos avanços sociais que conseguimos e
poderíamos avançar ainda mais.
Assim, a elite que a classe média esta fechando e
compactuando, tal como no filme Coração Valente é a mesma que vendeu o país aos
americanos e aplicaram a operação COM-DOR, mediante torturas, desaparecimentos,
extermínios e a outra ações inenarráveis, crimes contra a humanidade, que
somente entre nós brasileiros prescreveram e foram anistiadas.
Em todo o mundo, desde sempre, a elite perdeu. Aqui,
eles nunca perderam. Nunca cederam. São os eternos Donos do Poder. Mandam,
desmandam, fazem o que querem. Crise d’água? As mineradoras não tem, poluem,
utilizam a água potável e seguem causando impactos ambientais, sociais, tudo
por garantir dividendos econômicos. Mendes Junior, Andrades Gutierrez, Correa
tem contrato com o governo "desde o império". É um absurdo acreditar, insinuar que começaram a pagar propinas para ganhar licitação apenas em 2002, que antes disso sempre foram republicanos. Isso é
sacanagem, promiscuidade ventilada pelos meios de comunicação e engolida pela classe média sem reflexão e questionamento. Sabe-se do interesse internacional pelo pré-sal. Sabe-se do interesse de Soros pelas ações da Petrobras que despencam, mas tem gente comprando, quem? Por que?
Não temos outra opção para fazer frente a esses grupos econômicos senão a
consolidação dos espaços democráticos. Não temos alternativas senão a
construção basilar de mecanismos de transparência na qual se coloque em cargos estratégicos,
técnicos profissionais de carreira. Nós só podemos nos defender desse poder que
oprime e compra sim o que quer, mediante, um funcionamento em rede na qual a voz de um pode ser amplificada para milhões. Falamos da Petrobras, mas o que sabemos do condomínio do nosso prédio? O que sabemos das contas da prefeitura da nossa cidade? Em Minas as prefeituras foram compradas pelo mineroduto, independente de impacto ambiental, social. Se investigar tem corrupção, propina, tem escândalo, enriquecimento ilícito. É um preço muito caro para permitir o funcionamento nesses moldes das mineradoras. Mais do
que nunca precisamos do cacique Seattle de 1855.
É humanamente inviável, acreditar que um individuo
frente a corporações como essas será capaz de resistir ao poderio econômico. Creio
que somente um a cada cem mil seres humanos negariam uma propina de 200 mil
reais. Não estou falando de milhões e menos ainda que isso aconteceria uma única vez. Estou falando
de uma valor estimado por baixo para liberar um contrato. São dezenas. Quem vai
dizer não? Como se fala não em uma sociedade que apregoa o ter e o individualismo em detrimento do ser e do coletivo? Falamos em combate a corrupção,
mas aceita-se e oferece-se propinas, suborno, cachaça, queijo e o que está na
medida dos recursos de cada um.
Particularmente, acredito que o preço que o PT pagou
para chegar ao poder faça parte do jogo, dá para entender. O preço que o PT está pagando para
permanecer é caro demais. Nenhum deles, absolutamente, nenhum, por tudo o que
fizeram, lutaram, necessitava de uma pecha dessa nos seus nomes. O mesmo vale
para FHC, Serra e graças a Deus, Covas morreu antes. É caro demais perder a
liberdade, a veemência daquele grito que Mel Gibson pode bradar ao final: FREEDON.
Morrer tendo tido uma vida ilibada, ainda não tem
preço.
Terceiro excluído é um termo da lógica. Nela apregoamos
o sentido de igualdade, o de diferença e o terceiro excluído. O da igualdade
seria A = A. O da diferença seria: A ≠ B. Dentro dessa lógica binária o
terceiro é automaticamente excluído. Na nossa lógica formal sabemos pouco o que
fazer com o terceiro. A dialética hegeliana chegará mais tarde.
Numerologicamente, o 3 é o número do equilíbrio. Alguns
vêem até mesmo harmonia. Mas, o três é antes de tudo o número da busca. Três sempre
são dois contra um (1+2), o que força a um equilíbrio, mas nunca a uma estabilidade,
que será encontrada no 4.
Nas relações amorosas pensamos sempre na dualidade (2)
e a chegada de um terceiro altera a relação, a direciona para outro patamar. Provoca
uma instabilidade, por vezes insegurança, que ou se efetiva uma construção mais
sólida (4) ou se rompe retomando as individualidades, 1 e 1.
É elegante observar e perceber o que as individualidades
vão construindo ao longo de sua jornada, (1) se encontra com o outro (1), ou o
outro (1) se encontra com um (1) e efetivam o casal (2). Essa relação para se consolidar e
se efetivar se faz ora por identificação, ora por distinção, mas vai se
efetivando algo que ao final não é nem mais e nem o outro- é a relação (3).
Essa relação é colocada em choque quando aparece, se
aproxima, um elemento x que não estava, inicialmente, na equação e que
naturalmente provoca um desconforto, uma instabilidade, inicialmente, em um dos
parceiros, que acaba culminando na relação (3). Isso denota ou a solidificação,
estruturação dos envolvidos (4), ou a desconstrução do processo e um novo
recomeço (1) e (1).
Se substituirmos os algarismos e darmos nomes
estaremos diante de muitos, senão todos os relacionamentos. Troquemos o (1) por
João, o outro por Maria (2) e o elemento x por Fê (que pode ser de Fernando ou
Fernanda). Os casais vivenciam essas tensões, essas instabilidades, essas
buscas por construções e solidificações mais estáveis, ou não. Há inúmeros casais
que se equilibram, justamente, na instabilidade do surgimento de um terceiro,
uma terceira, na transa com esses terceiros sejam juntos ou separados. As construções
de João e Maria se dão das formas mais diversas e singulares possíveis e não
vem ao caso e nem ao mérito, especialmente, quando acordadas entre os dois.
Bem, minha questão, como quero colocar é que toda essa
lógica se estrutura em uma racionalidade que afirma que o que denominamos ser humano
é marcado pela capacidade de pensar, de raciocinar. Nessa primazia estamos falando
de uma racionalidade lógica, binária, dual produtora do mundo e da linguagem
capaz de nos diferenciar dos animais, capaz de nos colocar no cume do patamar
evolutivo. Todavia, há tempos que vemos no horizonte outra conceituação, uma
outra etapa para o humano, relacionado a capacidade de amar. Sabemos que a
razão, ou a racionalidade é capaz de produções celestiais e produções bestiais.
Sobre as celestiais podemos falar do invento humano, que em diálogo com a
natureza, lhe transcende, mas permanece humano, mesmo buscando o celestial. Acerca
das bestiais podemos falar do que os frankfurtianos chamaram de racionalidade
instrumental, isto é, uma propensão a transformar tudo em objeto, inclusive, e,
principalmente, outros humanos.
Assim, temos essa racionalidade celestial, que chamaremos
no melhor exemplo de Hanna e Habermas de DIALÓGICA, porque a sua função é o
entendimento, é o respeito. E temos essa outra racionalidade INSTRUMENTAL cuja
funcionalidade é a conquista, o poder, o mando. Nós humanos vivenciamos essas
duas formas de linguagem, de racionalidade, de estar e ser no mundo. Trocamos uma
pela outra, quando não nos esquecemos completamente da existência de uma outra
racionalidade, ainda para nós nova, que começamos a tatear agora. Sendo
que nessa perspectiva que caminhamos o que nos faria humanos não seria apenas a
racionalidade, mas também a nossa capacidade amorosa. Nessa direção poderíamos falar
de uma integração que seria algo como: “pensar com o coração e sentir com a
mente”. É preciso deixar claro que esse não é um movimento suave, fácil. Pelo contrário
é um movimento que tem travado a maioria de nós, porque quando a gente
conseguiu dominar uma ferramenta que conquistou o mundo e ainda o conquista
somos convidados a experimentar uma nova forma de ver as coisas, falar das
coisas, percebê-las e interagir com elas. É frustrante.
Mas, o ponto que desejo tocar é que na lógica amorosa
não há terceiro excluído. Precisamos começar a compreender que o amor açambarca
os amantes e os amados. Longe de defender aqui a orgia, a poligamia, a poliandria,
os relacionamentos abertos, mas longe também de condená-los. Cada João, cada
Maria deve equilibrar a sua relação (3) e consolidar o seu relacionamento (4)
de tal forma que o amor não seja encarado com culpa, vergonha, medo. O amor não
merece essa pecha. Não precisa carregar a partir das nossas escolhas a raiva, o
fracasso, a derrota, a maldição, elas podem estar envoltas na ternura, na
candura, na aceitação, na compreensão e na felicidade, pares e companheiros
muito mais afeitos ao amor do que os primeiros.
E é aqui que falo dos parceiros visíveis. Escrevi sobre
os parceiros invisíveis num post anterior.
Era uma dinâmica de um atendimento que tinha
realizado. João ama Maria, mas por diversos motivos, por inúmeras razões, João
pisou na bola, não uma, duas, três vezes. João pisou na bola de tal forma que
as marcas foram profundas, profundas ao ponto de atingir aspectos energéticos,
entidades espirituais que impediram Maria de retornar para João.
Maria queria, estava dividida, balançada, mas uma
amiga invisível de Maria colocou no caminho dela Fê. E Fê não queria ser pedra
de tropeço no caminho dos dois. Não queria ser entrave no caminho dos dois. Ao
mesmo tempo, o retorno de Maria era um movimento que ela achava logicamente
possível, mas a questão já não estava no terreno da lógica. Estava em um ponto,
em um local que sem ela reconhecer o tanto que foi magoada, traída,
envergonhada, toda a tentativa dela seria algo como esparadrapo sobre fratura
exposta. Ela poderia se enganar passando mertiolate, afirmando estar cuidando,
dizendo que estava querendo, mas o que há de mais profundo nela, negaria e a
afastaria dessa experiência novamente.
Bem, esse é um lado, porque do outro há o arrependimento
sincero, verdadeiro de João. Ele quer voltar, ele deseja o retorno. No entanto,
o tempo dele passou. Não por ter ido embora, passou, porque o que ele poderia
fazer, ele já tinha feito. Agora, ele estava sob a dependência da vontade dela,
do tempo dela. O tempo dos dois havia sido desfeito e precisava ser reconstruído.
Mas, com base em que? Confiando como? Como se aposta de novo em quem te feriu
tão profundamente? Mas, o novo não pode promover a mesma decepção? Como escolher?
O que observei na dinâmica e da dinâmica, sem ousar
interferir um segundo. Apenas tentando expor o mais fidedignamente a situação
para todos os envolvidos é que o único que não pode perder é o amor.
João ama Maria. Pisou na bola, mas o ama. Maria ama
João, foi pisada, mas ama. Maria ama Fê. E Fê e João não precisam se odiar, não
tem que se matar, nem brigar. Perceba o nível de tensão disso. Porque é claro que
João tem que lutar por Maria. É obvio que Fê tem que defender a relação. Mas, nenhum
dos envolvidos precisa excluir o outro. Nenhum deles precisa tirar o amor fora,
especialmente, o recheando de ódio e vingança.
Luis Soares nos contava da necessidade e importância dos
dois que se assumem juntos, que escolhem ficar juntos abraçar esse terceiro,
acolher esse terceiro. Reconhecer a importância do amor, do afeto, da lealdade
dele não apenas para com a mulher que eles amam, mas para com a vida, para com
o todo. Isso ajuda a todos nós a crescermos, expandirmos, evoluirmos. E, claro
que dói, mas essa dor pode ser acolhida, respeitada, compreendida e
transmutada.
A maioria deve estar pensando e dizendo: nunca!! Não
tem como. Não tem jeito!!! E eu digo que tem. Há inúmeros casais vivenciando
isso de forma mais fraterna, mais amorosa. Compreendendo que o amor não acaba,
não morre, mas a paixão por vezes apaga, a confiança as vezes se finda. A convivência
se faz insuportável como disse certa feita uma partilhante. Mas, nada disso
retira o amor, apaga a história.
Na outra ponta da mesma corda, do mesmo barco há
aquele que ficou só, que ficou, momentaneamente, sem par. E esse precisa
agradecer tudo o que foi. Se construir para vivenciar uma relação que será
melhor do que a anterior. Melhor, porque crescemos, maduramos, e a próxima
relação se tivermos aprendido com as nossas falhas, os nossos equívocos, os
nossos erros, estaremos mais presente, mais atento para olhar o outro e a
relação. E as relações nos ensinam. Elas começam justamente do ponto no qual
paramos na anterior. E daí para frente caminhamos até o surgimento de mais
um(a) Fê na relação.
De modo que, na perspectiva de nossa racionalidade
instrumental sempre teremos três perspectivas que se excluem, já que a que deve
prevalecer é a pessoal/individual em detrimento das demais. Os portadores dessa
racionalidade sofrem, doem. Sofrem e doem uma dor muito mais forte do que a
separação, porque desejam um controle, um lugar que essa racionalidade não
alcança e por não alcançar se angustia e sofre.
Há outra perspectiva, a dialógica, que vê tudo isso
como amor. E aí ninguém perdeu por amar e todos ganham por estar amando. É uma
perspectiva que nos aproxima da integração e da percepção de que nada aconteceu
fora do espectro do amor. Até mesmo as palavras rudes, as lágrimas doces, os
apertos de mão aflitos, os beijos mordidos, os olhares superficiais. Foi o amor
que demos conta de manifestar, foi o amor que demos conta de ser. E o amor tem
uma dinâmica plural, sexual, que se dá apenas no encaixe, no encontro com o
outro. O amor busca o outro. O amor é um sair de si mesmo e se colocar em
direção ao outro, ao mundo. Nosso fazer, nosso ser são expressões amorosas. Bem,
nesse horizonte, não há culpados, traídos, traidores. Há entrega, entendimento,
aceitação e as formas com que escolhemos manifestar o amor em nossas vidas. Mais
do que nunca, mais do que em qualquer outra época e tempo temos chances de
escrevermos amor sem drama, sem tragédia, sem dor. podemos começar a rimar amor
a felicidade, a prazer, a alegria, a abundancia. Podemos libertar a nossa
manifestação amorosa da angustia, da culpa, da vergonha, da derrota, do drama,
da falta, do vazio. Amor pode ser manifestação do nosso ser em potência, na
plenitude de tudo o que ele pode nos legar.
Amor pode ser mais encontro que espera
Mais luz do que trevas
Mais calor do que agonia
Mais ternura do que inveja.
Amor pode ser mais ato do que fala
Mais expressão da gente do que fera.
Amor é um ser, um atributo, que podemos nos fazer, nos
tornar.
Ou deixá-lo se aproximar como fez o poeta:
Creio que pode ser vivido sem sofrer. Vivamos o amor, escolhendo, sem excluir.
Os acontecimentos na França retomam a eterna discussão
sobre liberdade. E é estranho como uma palavra vai ganhando significados
diferentes ao longo do tempo.
Na revolução de 1789 liberdade era uma conquista que
assegurava a individualidade dos seres, assegurava, inclusive, esse ser não ser
tratado como objeto, como coisa, como escravo. O ideal de liberdade era
garantir que todos fossem tratados iguais.
Por anos quando se brigava por liberdade, brigava-se
por esse direito inalienável de ser pessoa. Brigava-se, defendia-se o direito
de se expressar. Para muitos sempre foi uma liberdade burguesa. Eu não me
enveredo por esse caminho, prefiro observar que as liberdades, no que elas têm
de “vontade de potência”, entraram em choque após o fim da 2ª guerra mundial. Vontade
de potência é um conceito do filósofo alemão Nietzsche. Um conceito que foi
extremamente deturpado pelos nazistas, mas que em suma diz respeito a um tipo de
vontade, que se afirma, inclusive, em detrimento do outro.
Mas, o registro é para salientar que ali (pós 45) o
conceito de liberdade foi alterado e muitos não perceberam. Evidenciou-se que a
liberdade não pode ser um livre expressar, um livre fazer, vimos que nesse
sentido, nessa direção alguns indivíduos, ou grupos podem submeter milhares a
condição de coisa, objeto, por terem, gozarem, exercerem de um quantum maior de
potência. Essa liberdade associada a um fazer, a uma desmedida que só poderia
ser dada, sentida, mensurada por dentro e nunca por fora, entrou em colapso.
A partir desse colapso temos novas concepções de
liberdade e vou pensar nas de Sartre, um francês que talvez não fosse Charlie e
Levinas que sem dúvida é Charlie; ou não?!!
A liberdade para Sartre, diante do cinismo
irresponsável dos acusados de crime contra a humanidade, passou a ser sinônimo de
RESPONSABILIDADE e engajamento. Liberdade é escolha. Não de situações
absolutas, claras, mas situações cotidianas, na sua maioria simples, tal como,
publicar ou não uma charge? Veja, que a discussão não é sobre fazê-la ou não,
mas sim, publicá-la. Sartre nos chamava atenção para como que nessas pequenas
escolhas, escolhemos o mundo. E como que somos responsáveis por isso, como que
ao escolhermos, escolhemos a humanidade inteira. De tal modo, que não me eximo,
por estar seguindo ordens, ou por ser professor, ou por ser cartunista, ou por
ser artista; sou ser no mundo e arco pelas minhas atitudes não para mim mesmo,
mas para humanidade.
Levinas diante do mesmo cinismo, viu a imoralidade,
viu a falta de uma eticidade por aqueles que praticaram as inumeráveis
atrocidades. No entanto, na sua leitura do nazismo, historicamente, eles deram
cor, forma, tom, a uma racionalidade que sempre foi brutal, sempre foi imperialista,
sempre foi dominadora, o nazismo a maximiza. Ao final dessa racionalidade a
constatação dele, de Hanna e alguns outros é de que nunca existiu outra
liberdade se não a do EU, a da IDENTINDADE, a dos iguais. A liberdade sempre
esteve assegurada aos mais fortes, aos mais poderosos, àqueles que nasceram
assim e impunham essa concepção aos outros.
Levinas, junto com tantos outros, nos desvelaram O
OUTRO. O outro nunca tinha existido na história do pensamento ocidental. O outro
nunca fora respeitado. O outro sempre foi subjugado. O outro nunca teve
LIBERDADE. Durante todo o tempo fizemos a expressividade do EU, da IDENTIDADE,
dos iguais. E o EU sempre foi: homem-adulto-hetero-branco-letrado-rico. As mulheres,
as crianças, os homossexuais, os negros, asiáticos, indígenas; analfabetos,
assalariados sempre foram OUTROS. Isto é, nunca foram. Para alguns... nunca
serão.
Assim, quando falamos de liberdade no século XXI não
estamos mais debatendo sobre o direito a igualdade de todos. Isso é conquista,
embora não respeitada, de todo ser humano que nasce desde 1948 com a Declaração
dos Direitos dos Homens. Estamos debatendo sobre o respeito às diferenças, de
alguns, de poucos. Se há um que se mostra diferente no meio da totalidade, esse
um precisa ser RESPEITADO. E diante da representatividade desse um, não há
liberdade de expressão que se justifique.
Não há mais espaço para a discussão de liberdade que
finalize com a frase: “os incomodados que se retirem!!!” Não!! São os
incomodados que demarcam os limites da nossa expressividade. Porque a
liberdade, desde o pós guerra não pode mais ser tratada como sendo um direito
inalienável de um grupo, um segmento, sobre o outro. Liberdade precisa ser
compreendida como respeito às diferenças, ao não igual, ao OUTRO. Mas e o
humor? E a liberdade de se fazer graça? Temos que aprender a rir de outras
coisas.
Historiadores comentam que foi comum entre os
conquistadores espanhóis apostarem ao verem uma mulher grávida de muitos meses,
se a ‘cria’ era macho ou fêmea. Para garantirem a aposta, abriam a barriga da
mulher, tiravam o bebê de dentro. Ah!! E entre muitas risadas e gracejos.
Temos que aprender a rir de outras coisas.
Mas, finalizando, talvez Sartre condenasse as charges
de Charlie, por ver nelas um aspecto opressor, gratuito, injustificado, por
vezes. Já Levinas, talvez apoiasse Charlie, não por ser judeu, mas por tentar
assegurar ao cartunista o direito de ele ser o OUTRO. Talvez, se desse o
contrário, Sartre apoiasse o cartunista e Levinas o condenasse.
Fato é que nunca saberemos qual seria a posição de um
ou outro. E é nesse limiar que Bourdieu nos fala de violência simbólica. A liberdade
que estamos apregoando, saindo as ruas com camisa, botons é a que legitima o
direito do mais forte, seja por ser mais culto, seja por ser mais rico, seja
por deter os mecanismos de reprodução seriada, de oprimir, silenciar, escorraçar
o OUTRO, por ele ser diferente.
Trazendo a questão para os chargistas, é um equivoco
chamar de liberdade de expressão uma charge que ofende, agride- isso é
violência, tão selvagem, tão primitiva, quanto metralhar outro ser humano. Mas,
o que não quero deixar escapar é que um artista pintar uma tela e fazer a
exposição dessa pintura é liberdade de expressão e precisamos assegurá-la,
mesmo e ainda que contra outros segmentos. Um poeta, escritor expressar seu universo
é liberdade de expressão e a mesma garantia deve ser dada.
Já a industria cultural de reprodução em massa, não é
liberdade de expressão é massacre simbólico. É covardia. Publicar quase que
semanalmente, por décadas charges e representações de algo que milhares
sentiram-se constrangidos, ofendidos, magoados, desrespeitados, não pode ser
visto como liberdade de expressão. É aos meus olhos similar a indiana que
diariamente ia a delegacia reclamar de maus tratos, de espancamento por parte do marido, e nenhuma
ação é tomada, nenhuma medida é realizada. Até que ela degola e corta o pênis
do opressor, aí ela é presa e chamada de violenta.
Precisamos reconhecer que a violência simbólica é
criminosa. Os cartunistas podem se expressar, porque tem um mecanismo de
reprodução que assegura e lhes garante, no melhor exemplo de Goebells todas as
cretinices que lhes são possíveis. E para tirar isso desse enfeite e colocar
sobre o prisma do mercado, o atentado tirou a vida e feriu dezenas de seres
humanos, assim como multiplicou exponencialmente a tiragem do folhetim. Num humor tão estúpido quanto o deles poder-se-ia criar charges nas
quais se pensaria em possíveis alvos entre eles.
Enfim... se a questão fosse de liberdade de expressão garantir-se-ia
o direito da comunidade muçulmana fazer charges dos chargistas no seu ambiente
de trabalho e com suas tintas. Isso não é assegurado. Asseguraria aos
muçulmanos e outros grupos, espaço para responderem as provocações.
Isso não é liberdade de expressão é vontade de potência
no seu grau mais fascista, mas diga-se de passagem, essa é a égide da indústria
cultural, não é uma especificidade de Charlie e seu grupo.