quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

SOMOS TODOS UM: a construção de unidade via grupos virtuais.





Todos somos um. Usamos a frase sem nos darmos conta da dimensão dessa unidade. Todos implica uma quantidade imensurável de seres, de estados, de coisas que desafia a nossa sanidade. Como deve ser sentir essa unidade em si mesmx? Sentir a totalidade? E como sentir essa totalidade e continuar acreditando que se é! Quero dizer que aquelx que sente a unidade em si, perde a dimensão de uma identidade individual, abre-se para uma nova concepção e estado de ser que por hora ultrapassa o nosso entendimento. Estamos falando do copo d’água conter o oceano. 

Diante desse impasse mental, talvez existencial é que as dimensões grupais, coletivas possibilitam a absorção dessa unidade. Se há uma dificuldade conceitual em experimentar essa unidade na individualidade, na diversidade ela se faz mais tranquila. Na multiplicidade variável dos um torna-se mais fácil contemplar a unidade do todos. 

Estou aqui desenhando um caminho quase inverso ao que seguimos e desejamos. Estou ensejando uma via, que não sei se dara em algum lugar, no qual o eu é vivenciado no outro, como outro, mas ainda assim parte complementar de mim mesmo. Na verdade, parte complementar de uma mesma expressão de unidade. Esse eu/mim mesmo perde seu lugar de existir.  
 


Imaginemos uma árvore que se ramifica, ou quadrigêmeos que seguiram juntos por um mesmo caminho, mas que tem diante de si mesmos, múltiplas direções. Não é possível seguir todos os caminhos e nem todas as direções, então cada um dos caminhantes segue por uma via. Elas são diferentes, mas ainda assim, quando os gêmeos se encontram, ou se captam, é como se tivessem percorrido todos os outros caminhos também. Aparentemente são diversos, mas são únicos, pertencem a uma mesma árvore, que compõem uma mesma floresta, que está inserida dentro de um mesmo sistema, de um mesmo Planeta. Essa unidade precisa ser plural, diversa, para continuar sendo e nesse ser, ela se multiplica, se perpetua, se reproduz, sem nunca se repetir. Ainda assim, ou justamente assim, ela é uma. 



Vou seguir essa via, porque ela nos mostra uma teia coletiva cuja pálida expressão podemos apreender nos algoritmos do Facebock. O programa que reestabelece, sugere contato entre amigos, consegue tecer uma rede similar a que desejamos frisar. João que não conhece Pedro, mas que é amigo de Mariana, que é irmã de João que namora com o melhor amigo de Pedro, que é casada com Venceslau que trabalha com João, que mudou para outra cidade e começa a desenhar novas relações, que se virtualizadas deixam um rastro que permite a softwares atentos saber sobre desejos, afinidades, pontos de encontros, orientações partidárias, escolhas sexuais, time de coração, esportes preferidos, hobbies, etc... 







Se por um lado a Matrix habilita a cada pessoa individualmente se conectar a amigos, grupos, tribos; pelo lado empresarial, mapeia-se gostos, desejos, interesses. Num entendimento coletivo, que só é possível a quem controla os algoritmos, desenha-se a capacidade que vai de personalizar propagandas a partir de buscas individuais, passando por vendas de preferências para o mercado, até influência em eleições diversas em qualquer parte do mundo. Resultando na manipulação de um imaginário, de forma coletiva, oferecendo bichos papões e matadores de monstros. Todos, invariavelmente, fakes mas que agradam e personificam desejos individuais-coletivos que nem sabíamos possuir.  




Porém, a unidade que queremos frisar não é essa unidade mensurável, quantificável, tecnológica. Quero me ater a essa unidade na qual Maria se percebe como grama. A grama se entende formiga. A formiga se compreende como insectoide. E, Maria se percebe como parte de tudo isso, compondo uma rede, uma família, um sistema. Há pessoas expressando essas relações e interações. Cresce o número de veganos baseando-se na premissa de que não temos o direito de nos alimentarmos de outras espécies. Discute-se de forma avançada, por vezes parecendo até surreal, o direito dos animais. E, as discussões recordam muito algumas do passado nas quais defendia-se direito dos indígenas e dos negros, dos homossexuais. Pode parecer bizarra a comparação, no entanto, para muitos ainda hoje no século XXI, os diferentes, os não iguais, não são humanos, quando muito são cidadãos de segunda classe podendo ser vítimas de racismo. Podendo receber menos por executar a mesma função. Em cada um desses exemplos, a mensagem clara é que nem todos ainda foram alçados a condição humana. De modo que a escala de direitos e do reconhecimento da humanidade vem crescendo e sendo acolhido cada vez mais, numa luta constante, permanente contra o status quo e o senso comum. É nessa luta que os animais já estão sendo mapeados como detentores de direito e isso é maravilhoso. Estamos alargando nossos laços de afeto, de compreensão, de amorosidade. 
 

Sendo assim, a ideia é perceber e entender todo o escrito sobre essa dimensão da unidade e da coletividade como sendo algo onírico, fantasioso. Algo que permeia e transpassa o mundo da imaginação, do que denominamos de inconsciente. É somente a partir desse lugar que conseguiremos dar uma acolhida a estados de coisas que escapam a um nexo causal imediato, explicável. Esses nexos causais que creio que abordarei tem uma sequência lógica, mas de repente, tem um lapso, um salto e uma continuidade do outro lado como se nada tivesse acontecido. Sabe sonho em que uma hora vc está dentro da sua casa da infância e noutro segundo vc está numa casa que você ira morar daqui há seis anos e não sabe, ou não sabia? Ou uma hora vc está correndo atrás de um bus para fazer prova e num flash tem uma coca-cola gigante, junto com uma prova correndo atrás de vc? (Sonho de uma aluna de mil anos atrás). 

Pois é! Numa racionalidade linear, consciente, não tem lógica. Mas, dentro de uma compreensão onírica, subjetiva, esses elementos, ainda que aparentemente estejam faltando elementos compõem um cenário mto preciso e rebuscado da nossa interioridade. Poetas, pintores, cineastas adentram essas realidades, esses mundos. Salvador Dali é o mestre desses mundos e utilizei suas gavetas como que para simbolizar esses acessos em nós mesmos. Portais que nos levam a outros mundos. Mundos que são a um só tempo gaveta do nosso ser e porta para outros. Vamos tentar puxar alguns, na expectativa de que ao final, consigam perceber que há uma hipótese de eles não serem tão individuais assim e também nem tão coletivos assado. Mas, como falar desses universos que habitamos, que passeamos? Como nominar aquilo que para nós foi mera fantasia, mas que para outro é habitat natural, realidade extemporânea? Esses encontros de realidades têm sido feito a cada instante e momento. A cada instante e momento temos enfrentado muros intransponíveis seja de realidades sociais, seja de realidades subjetivas. Mas, qual é qual?  

 

Ontem, durante um atendimento, um buscadoxr atento, depois de uma psicografia que ele tinha realizado, me perguntou, si perguntou: “como sei se o que escrevi é do MEU INCONSCIENTE ou de outro ser?”



É uma pergunta linda, super legitima, fundamental até para o andamento dos trabalhos, para a observação interna do que é seu, do que é do outro, do que é mescla. Uma observação que por vezes tem inviabilizado a mediunidade de diversas pessoas, devido a um rigor que reputo excessivo no que se refere a mistificação, animismo. São gavetas diferentes, requerem cuidado, zelo, atenção, mas a reprovação esteriliza e impede o frutificar. De todo modo, essa é uma prosa que o amigo e companheiro Luís Soares gosta demais e ele tomando da palavra nos abriu outras gavetas de entendimento que busco reportar aqui. Inicialmente, ele implode a nossa concepção de um inconsciente individual, privado, particular no qual acreditamos que só nós temos a chave e que ele fica redutoramente preso na nossa cabeça, na nossa mente. Sem entrar mto no mérito, ele apenas menciona a ideia de um inconsciente coletivo à Jung, para contrapor a esse universo repleto de desejos e repressões. Mas, na verdade, estávamos pensando nisso como campo, como força, algo que Gasparetto mapeou belamente e nos deixou como inspiração. Pelo que pude deduzir dos trabalhos de Gaspa, as dimensões internas se entrelaçam com o que no espiritismo denomina-se mundos astrais: colônias, umbral. Interligados a esses mundos contactamos os seus moradores- entidades, desencarnados, serenões, obsessores, mentores.... Contudo, a questão é perceber tudo isso em relação, como entrelaçamento, como música e dança, ritmo e compasso. 
 


Quando a gente re-observa o Umbral, as tais colônias espirituais uma de muitas chaves de leitura para essas realidades é que elas são construções humanas. Não entendam por isso algo inexistente, mentiroso, pelo contrário, na mesma abordagem que damos ao inconsciente, esses planos, seus moradores, plasmam, co-criam estas e outras realidades. Elas são intersubjetivas. Se eu fosse ousado, eu diria que a gente caminha por sonhos e mundos uns dos outros e tomamos como nossos; nem sempre são. Sabem duas pessoas cuidando de um mesmo jardim? Mas, sempre em dias e horários diferentes, sem que uma nunca se encontre com a outra e nenhuma esteja atenta para ouvir as folhas, frutos, pássaros lhes contando das mãos benfeitoras que as auxiliam? Pois é! Temos ligações similares a essas. Temos mundos em nós que alimentam mundos fora de nós sem que saibamos. Tranca-Rua um Esú sábio não se cansa de nos ensinar e apontar nessa direção. O mestre do subterrâneo vai nos conduzindo a uma reflexão de que o denominado Umbral é composto por partes nossas que ignoramos, desprezamos. Segundo ele são aspectos nossos mesmos que ao não vermos tendem a nos assombrar. É uma dinâmica junguiana no que se refere ao conceito de sombra, mas estendida para um entendimento maior, já que a minha sombra, junto com a de vocês, junto com a de todos nós comporia um campo que pode ser sentido, visualizado, presenciado como Umbral, astral. São partes de cada um de nós, muitas vezes inconscientizados, ou seja, acessamos, vendo isso nas outras pessoas e não em nós mesmos. Condenamos as manifestações dessas características sem nos darmos conta que elas são alimentadas por cada um de nós.   


Elas se fazem plasmações que independem do querer, da vontade, do esforço. Elas, simplesmente são. É difícil falar disso, porque acreditamos que seja algo associado à consciência, por exemplo, a vontade. Poucos seres têm vontade para ficarem no umbral. Mas, o ser deles plasmam aquilo. E essa plasmação não é meramente individual, ela é coletiva. O mesmo vale para a realidade que co-habitamos. Não é uma questão de vontade e desejo morar num Duplex. Tem uma plasmação coletiva, uma reverberação na qual nossa modelagem abaixa, amplia, varia. De todo modo, não é de todo individual.




Assim, a realidade seja ela qual for, em qual nível vibracional estiver, é um constructo da nossa consciência. E, consciência aqui não é o isolamento pincelado do que achamos que queremos é um QUERER, que por vezes nem sabemos, mas a realidade nos aponta e mostra, seja ela qual for. Nenhuma realidade é insuperável. Todas podem ser transformadas, ou melhor, nós mudamos de fase. Ao que parece as realidades permanecem sempre, a gente é que vai ocupando outras. 





Fundamental constatar que grupos tem vida própria. Na Filosofia Clínica a gente chama de Autogenia. Nos meios esotéricos denomina-se egregora. Uma reunião de mentes, desejos, sentimentos, que forma uma coisa só e única. Sabem sala de aula que vai ganhando cor, forma, cheiro, tessitura, alma? Sabe equipes, grupos, que de repente coopta e captura individualidades levando-os a agirem como massa, como horda? Pois bem, é disso que estamos falando. E, nessa fala estamos insinuando que grupos digitais não são de todo diferentes. Há essa energia coletiva. Há essas trocas de informações que afetam estados, humores. Há o silêncio, ou as conversas em privado, que obvio não estamos vendo, sabendo, mas estamos sentindo.  




E, muitas vezes isso não é INDIVIDUAL. Há uma conectividade que eu poderia ficar aqui falando horas, dando exemplos só dentro de um mês, das dores que tive na perna. Das vezes a contragosto que fui ao pronto socorro do IPSEMG e no posto de saúde aqui da rua de casa. Nos dois casos, nenhum exame acusa coisa alguma. Poderia perguntar quantos não sonharam com um tema debatido no grupo, ou que sonhou com algo que foi postado no grupo dia, ou dias depois? Poderia associar o mundo digital ao mundo astral. Mundos que adentramos com muito mais facilidade, percorremos com muito mais naturalidade sem nos darmos conta de que quebramos um muro, um padrão do que chamamos realidade. Uma realidade que não é mais interna, ou externa, subjetiva ou objetiva. É uma realidade que quebra esses valores e essas concepções. E, as operamos por dentro ou por fora da máquina? Por onde movimentamos essas realidades? O fake news deve ser combatido na realidade que temos como factual, ou no virtual que temos como imaginário? Seja como for, quem tem desenhado novos cenários e percursos são aplicativos que conseguem fazer essa ponte entre o imaginário, o virtual e a realidade mais concreta: uber, ifood são dois expoentes. São aplicativos que deslocam e movimentam nossa realidade, mas para onde? Por um toque no celular eu entro numa loja virtual, compro um produto real, que em três dias chega a minha residência. Pago por outros produtos que libera o acesso imediato e eu consumo. A loja em questão está onde? As distâncias, os tempos, as localidades, as culturas, perderam a identidade. As barreiras que nos separavam agora são transpostas por um toque. Novas identidades são construídas, antigas pluralidades são esvaziadas. Uns resistem, outros aceitam passivamente. Mas, a questão é: qual identidade, pluralidade estamos construindo? 






Dentro dessa escala grupal, inúmeras pessoas me falaram dessa sensação de morte. Muitas pessoas no grupo estão com dores nas pernas. Quantas pessoas estão com desanimo e sem força? É muito mais do que a casuística. E, como venho a saber? É que as vezes, as pessoas soltam. Outras vezes, elas mandam no privado e fico sabendo. De toda forma há uma rede. A gente faz parte de uma rede. Nós estamos construindo uma rede. Uma rede que precisa de informação, de consciência, de diálogo. Quanto mais claro conseguirmos ser, quanto mais de nós conseguirmos trazer e apresentar na composição da teia, parece que mais claro, mais nítido o desenho vai se fazendo.  


Finalizando, várias culturas utilizam o símbolo da Teia de aranha. E sei como essa imagem é cara a mts meninas do grupo. Não sei se a aranha tem consciência da teia que ela tece, no sentido de ela saber a forma. O uso ela sabe. Tbm não sei se as aranhas tecem juntas suas redes. Tirando essas particularidades, a gente tece junto e a metáfora pode ser estabelecida. 

O mais apropriado seria dizer que estamos no mesmo emaranhado, enrolados nas mesmas teias. Mts vezes não nos vemos, nem nos ouvimos, mas estamos todos enrolados em Maya. Uns de nós, extremamente espertos, acham que despertou e que são os próprios criadores das teias da sua vida e das suas ramificações, rsrs. É lindo e bom pensar assim. É um belo despertar, mas as vezes o cara que está todo enrolado, prestes a ser devorado pela verdadeira tecelã está mais perto de uma descoberta, de uma epifania do que o suposto criador.
 

As vezes uns moços mais sábios tentam nos mostrar essas teias, essas relações, essas redes. Colar de Indra. Gosto desse nome. É um colar mesmo. Enfeita o ser, é um adorno de alguns seres que a gente acessa na teia. Eles têm todo o cuidado de nos mostrar, mas há uma diferença essencial. A totalidade é uma perspectiva deles. Pensando nos homens e mulheres felinos que passeiam por aqui e diversos outros que coabitam conosco. Tudo o que a gente chama de invisível e espiritual, eles veem como MATERIAL. A totalidade é uma expressão mais próxima deles do que nossa. Nós temos uma estrutura cerebral, umas interfaces neurais, que se a gente não sutilizar, a gente não quebra as polarizações. A gente confina tudo num dualismo e não é que ele não exista e não seja importante; é que a gente reduz o universo a um cômodo, a uma casa, a um eu. Reduzimos as experiências a uma viagem que alguns passam a se perceber como escolhidos. 


E, deveria jurar aqui, que o universo é maior do que nosso ego. rsrs. Não vou pq ñ conseguimos sair dele fazendo uso dos meios que empregamos. Mais precisamente, o ego é importante, mas não tira o olho dele e nem o vigia demais. Basta saber: ele confunde demais. Alguns acham que ele mente, rss. Não é um mentiroso é que na compreensão dele, limitada, a tessitura do universo, passa por ele e sem ele não existe universo. E, de fato, ele acha mesmo que tem esse tamanho, pq ele escuta histórias, participa da vida, traduz estados que sem ele fica difícil. É pelo ego que decodificamos e transformamos as coisas em linguagem.
 

Imagina que habitemos uma casa. Alguns de nós percebem que tem um corredor e que há outros quartos, cômodos com outros moradores. Um cara que está num andar acima, ou já descobriu mais passagens do que nós, apresenta uma planta de como seria esse lugar que vivemos. Aí tem uns caras que veem a construção toda. Não é tecnologia é magia. Eles veem os encanamentos, as infiltrações, a parte elétrica, a estrutura física, os moradores, as condições de novos espaços. Isso é junto! Não desassocia. É a mesma e única visão de totalidade, de integração. Corpo para eles não é só a estrutura de carbono é também desejos, emoções, pensamentos, para eles tudo isso é físico. O espírito é o que anima tudo isso. Assim, se nos percebermos como metáfora desses cômodos, eles nos veem numa integralidade.


Mas, como a gente retrata isso? Como que depois de vc ter dado um passeio com os caras que te mostraram o 'colar de Indra', vc não volta com a sensação, a certeza: “sou o DONO da teia toda!  Não há aranha no universo que não passe por mim.” O ego pesa e é preciso adestra-lo. Primeiro para acreditar, segundo para não se achar. E, aí recorremos a astrologia como uma ferramenta para percebermos esse aprendizado.  



Um dos símbolos astrológicos mais interessantes para se pensar numa dissolução do eu, ou de um eu oceânico seja Netuno. Essa mescla que buscamos integrar ora sendo gota, ora sendo oceano. E no meio desses estados nos encontramos à deriva. De certa forma, os extremos são fáceis de se estar. O complexo é qdo a mente e o ser não se identifica nem com a gota, nem com o oceano. Nessa dissolução/integração se é o que? Aí começam as pirações... 



Nós estamos interligados, interconectados. Óbvio que estamos tbm a diversas outras pessoas e seres. Nós estamos desenvolvendo essa linguagem que seja possível expressar esses estados. 
 
Minto, já a temos desenvolvida. Nós estamos massificando essa linguagem, o que na dualidade acaba incorrendo em regressões. A evolução dessa comunicação é a telepatia. É mesmo acessar o pensamento do outro, pq qdo acesso o pensamento as ideias são mais claras. E ideias são mais do que um pensamento puro. São cores, sons, emoções, tudo junto. Não carece de idioma. A comunhão, interpretação acontece.

Os símbolos, as imagens, o cinema, a captação do onírico vai nos abrindo para o imaginário. Na contramão temos comunicações via emojis que depauperam a linguagem, já que eles não são utilizados como atalhos. Uma coisa é vc ter mil palavras e escolher uma imagem. Outra é você não as ter e se comunicar com imagem. Uma unidade está sendo, novamente costurada, prestemos atenção. 


  





quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

TODOS SOMOS UM: a via do alimento e do jejum.

 
A cada ano somos convidados pelas circunstâncias, pelos amigos espirituais e por minha inquietude a reformularmos nossas reuniões espiritualista. É assim desde 1997. Este ano, inicialmente, eu pensei em não fazer. Não tinha pensado em nenhum formato, até que resolvi escrever sobre Jejum. Quando postei no grupo tiveram muitas repercussões, especialmente, sobre a possibilidade de se viver de luz. Marcos Daniel a partir dessa interação questionou, como habitualmente, rsrs essas e outras coisas. Foi quando Estevão Verissimo se prontificou a falar sobre o tema.



Esta prontificação acabou sendo a salvação da lavoura. Como um fogo de inspiração, já peguei uma parte dos componentes do grupo e marquei as datas de apresentação de cada um deles, que se dará ao longo do ano no 2° sábado de cada mês até dezembro. A lógica dessa abertura vem de duas premissas: 

uma: a de abrir espaço para pessoas espiritualizadas, por vezes muito mais do que nós palestrantes, médiuns, terapeutas, falem do que sabem, do que gostam.

Duas: que é interdependente da primeira, levarmos a pensar a espiritualidade de forma mais corriqueira, habitual, cotidiana. Longe por vezes de matrizes mais metafísicas, altamente elaboradas. 

Estava feita as nossas apresentações e elas nos permitiam abrir espaço para um pessoal muito bom, que fala, participa, mas agora terá espaço para nos mostrar o que andam estudando, fazendo, pensando, sendo. Não vou colocar a lista, porque alguns foram tomados de surpresa, rs e ainda não definiram o tema e tem tempo para isso. 

Posto isto, podemos dizer que começamos o ano com a fala de Estevão Verissimo nos falando sobre: TODOS SOMOS UM- A VIA DO ALIMENTO E DO JEJUM.



A fala dele foi muito rica. Agregou uma percepção dos alimentos que é difícil categorizar, porque não temos, pelo menos não conheço nos moldes que ele nos apresentou e vocês terão a oportunidade de apreciar nos áudios do outro post. 

Mas, fazendo uma comparação rasteira, para permitir uma aproximação e não uma redução, peço para que imaginem uma mescla entre um nutricionista que conhece os valores nutritivos dos alimentos, sua melhor forma de preparação, mais com o conhecimento de solo e dos nutrientes como um engenheiro agrônomo cozinheiro. Somado ao conhecimento de solo teríamos um geógrafo que antropologicamente nos conta sobre o clima e os hábitos alimentares de determinadas culturas e sua forma de lidar com o alimento e seu preparo, rigorosamente, classificados por conceitos que devem ser da área da nutrição. Balanceia tudo isso, tempera e temos uma aproximação de como eu ouvi, compreendi a fala e informações do amigo. Talvez outras pessoas mais afeitas a esse universo nutritivo não vera nada demais no que ele nos trouxe, eu, particularmente, fiquei intrigado. 




Grande parte da separação e apresentação das informações nutritivas se faz em sua estrutura molecular, química. O que lhe permite falar das gramíneas e suas diversas propriedades, nos lembrando que espécies aparentemente diferentes pertencem a esse mesmo grupo. E é a partir dessas propriedades atômicas e nucleares no que se refere a absorção e eliminação dessas substâncias pelo organismo que ele nos brindou com sua  fala. Suprimi o fato de tudo isso vir ancorado em sua experiência pessoal que passa desde a inedia nos idos anos 2001/2 Até as sopas atuais.


Isso para dizer que esse pull de informação juntas e reunidas eu ainda não tinha visto. Nem em médicos, nem em nutricionistas. Não tenho o hábito de ouvir o pessoal da engenharia de alimentos. Cada um fala de alimentos, nutrição ao seu escopo, mas a percepção disso em toda uma cadeia que vai do plantio, do solo, até as possíveis reações no organismo, foi a primeira vez. 

Isso valeria uma 'habilitação' para poder personalizar tais conhecimentos para outras pessoas. Curso de nutrição para poder a partir desses elementos proporcionar a outras pessoas a absorção alimentar, no que isso tem de mais profundo. A fala do amigo Estevão apresentava muita ressonância com nossa reunião do ano passado, no qual falamos do Sistema Digestório tendo em mente: do que nos nutrimos? Do que nos alimentamos? Estevão faz o ciclo completo e amplia aquela nossa interação anterior. 



Mas, retornando ao meu irmão Estêvão. Formado em Engenharia, mas que atua como tradutor juramentado e por vezes de alguns textos desse povo da nova energia.


Esses caras que eu não sei o nome, que fazem trabalhos bonitos, Estêvão esteve com a maioria, ciceroneou muitos quando estiveram no Brasil e conheceu outros tantos lá nos EUA em suas andanças por lá. Quem me alimentava muito com o que estava acontecendo lá fora era ele e Gustavo. Sempre antenados a essa cultura, por vezes mercado, que impulsiona e fomenta cursos, vivências, modismos, transformações substanciais.  


De longe, quando deu o boom da China, eu pensei que Estêvão mudaria para Manhathan e seria mais um novo bilionário. Estêvão fala mandarim há mais de 20 anos. Muito mais que isso, ele nasceu falando mandarim, rsrs depois que ele aprendeu sânscrito e as línguas que derivaram desse tronco linguístico. Agora sem brincadeira, quero dizer que quando empresários brasileiros tinham dificuldades em reunir com americanos devido a falta do inglês, ele já dominava o chinês. Esteve por lá umas vezes e não sei se já voltou depois que a China virou isso que é hoje.


O que Estêvão fez ontem na palestra (08/02/2020) foi ligar um alimento a todo um ciclo universal. Isso é muito Tao. Não vou reduzir a Tao da saúde, porque Tao é tao. No entanto, marca todo um ciclo, toda uma reflexão e ação a ser vivenciada. Um detalhe técnico é o de alertar que eu comecei a gravar depois do inicio da fala dele, assim como numa tentativa de disponibilizar os áudios de forma mais fácil, eu fui quebrando as gravações por volta de 15'. Pelo menos era essa a intenção. Algumas demandaram mais tempo, muitas mídias não suportaram e haverá a perda, rápida, de uma fala para outra. A conta de salvar uma e começar outra. 










TODOS SOMOS UM: via do alimento e do jejum/ÁUDIOS

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

JEJUM: quando o corpo ensina a mente.




Creio que por volta de agosto, setembro do ano passado, às 5as feiras, eu passei a fazer jejum. Acordava por volta das 05:30 e ia até às 19:00 horas. Realizava a última refeição antes das 22:00 horas do dia anterior. Primavera estava fazendo jejum em prol do irmão e outras coisas e numa conversa bem informal, ela tinha me ensinado que era importante uma intencionalidade no jejum. Acabou que me juntei ao proposito dela e fui contribuir com a causa. Foi sensacional o que aprendi nesse processo de jejuar. Todo mundo já sabia, já sabe, mas para mim foi um reaprendizado. 

Nas primeiras horas tudo estava tranquilo. Estava em sala de aula e enquanto leciono não sinto fome. Na verdade, enquanto estamos em atividade a fome aparece pouco. No intervalo, todo mundo comendo na sua frente, por muitas vezes peguei o prato, tipicamente, um processo mecânico, como que dizendo: “na hora do intervalo se come.” Nesse hiato algo em nós nos pergunta: “vc está com fome?”
E a resposta era não. Era alguma outra coisa que desejava comer, se alimentar, pelo fato de  se está na 'hora' de comer. Não tinha fome, mas queria comer. Ou melhor, tinha uma fome, talvez relacionada a um vazio, a uma falta, a uma ansiedade, mas isso não poderia ser nutrido com comida. Demandava outro alimento. 

Dava mais dois horários, terminava a aula, ficava um tempo mais conversando fiado com os amigos e vinha para casa. E é nessa ociosidade que todo o processo começa e fiquei escandalizado como que nos ocupa.

A maior parte do tempo, eu ficava pensando no que ia comer. Na outra parte no que ia fazer para comer. Eram duas horas da tarde e eu pensando às 19 horas da noite. Impressiona o tempo que gastamos pensamos em comida, o tempo que gastamos fazendo comida e a nossa inconsciência de não saber o que estamos buscando alimentar, que estomago é esse que desejamos nutrir. Isso era um pensamento constante e faminto cuja conclusão que cheguei é de que A GENTE COME É A IDEIA. A comida mesmo, a gente ingere pouco. A comida é um detalhe. Tem pouco ou nada a ver com a fome. O que nós comemos, o que nós ingerimos, o que nos engorda ou o que nos emagrece tem pouco a ver com o que comemos. Tem mais a ver com a forma, o modo no qual nos alimentamos. Isso chamou a minha atenção.

E, quando achei que estava tudo certo, não tinha nada mais a aprender, vejo um post de um amigo evangélico que dizia algo mais ou menos assim: “jejum sem oração é dieta para emagrecimento”. 


E é justamente isso. A intenção, o propósito é importante, fundamental para a obtenção de um objetivo, no entanto, o diferencial está na oração, na meditação, em algo que nos faça atentar, antenar para essa relação corpo e alma. Corpo-mente.
Essa é uma relação complexa porque a gente pensa que o malvado é o corpo, quando na verdade, o sabotador, inúmeras vezes, é a mente. O corpo é um programa que executa e cumpre sua programação com perfeição, lisura e alta performance. A questão toda é a mente. Ou melhor, o ‘conflito’ entre o programa autônomo instalado no próprio corpo e o programador (mente) que pode operar harmonizando ou desarmonizando o programa. Encontrar essa relação, essa mediação não é fácil. 

A mente tem ideias, tem imagens, tem teorias, tem conhecimentos, que muitas vezes impedem o funcionamento do corpo. A mente tem percepções que travam as ações do corpo. O corpo tem outra lógica, uma racionalidade, endógena, extremamente, funcional.

Aqui, eu exemplifico com o esporte. Há uma velocidade de movimentos que é impraticável vir da mente, eles acontecem como se as pernas, as mãos, soubessem o que tivesse que ser feito e a mente não atrapalha a execução. Ela apenas abre o fluxo para que o movimento se realize. Essa combinação corpo-mente é linda. É uma interação refinada. 

Nos atendimentos, por muitas vezes, fico falando para os partilhantes sobre atividade física. Não na busca de se ter um corpo sarado, de se ficar gostosa, mas na restauração desse circuito corpo-mente. Na busca de se encontrar a correspondência entre o pensamento e a execução do mesmo. Em diminuir o hiato, o lapso entre o que se pensa, o que se deseja e a realização, a materialização disso. A medida em que vamos afinando esse circuito, vamos minimizando o nosso tempo de resposta. Isso pode parecer bobo, mas é altamente significativo. Há dias que entre o abrir os olhos e levantar demoro minutos, horas. Esse lapso temporal pode ser mensurado em tantas outras coisas ao longo do dia e da vida. A diferença de se levantar para dar aula no 1º horário numa turma e no dia seguinte em dar aula para outra turma no mesmo horário. A diferença de se levantar para ir a uma reunião escolar e ir para o jogo de futebol. O tempo de resposta para ir aos lugares que gostamos, para realizar o que desejamos é infinitamente menor. É como se acordar-levantar-aprontar fossem um único ato e correspondessem a um mesmo movimento. O contrário é inversamente proporcional.

No jejum com oração/meditação é rigorosamente o mesmo desafio, a mesma busca por afinar esses dois tempos, essas duas racionalidades: corporal e mental. No jejum a mente quer comer. Ela tem certeza que se você não comer nos próximos minutos, você vai morrer. Vai ter um colapso. Situação similar enfrenta quem por exemplo pratica Cooper, corrida de 5, 10, 21, 42 KM. Exerce alguma atividade física e busca transpor alguns limites. Limites? 

Alguns limites são corporais mesmo. São? Parece que todos os limites são da mente. Parece que se ela não avisar para o corpo este consegue se superar, ir além, dar um passo adiante. Quando a gente está correndo, a mente nos mata a cada metro. A cada passo, ela desvia a sua atenção, te traz uma lembrança, te ativa um compromisso. Uma conta para pagar. Algo que te bloqueia. 


O interessante de todo processo é que a mente consegue correr uma maratona sem sair do lugar. E, muitas vezes é importante fazer isso. Deixar que a mente percorra o caminho, mentalize e idealize todo o processo, todo o jogo. Grandes esportistas realizam isso antes das competições. Eles jogam o jogo inteiro dias, semanas, horas antes da partida. Depois apenas cumprem o roteiro, realizam o ritual. Mas, já jogaram o jogo antes e não deixaram a mesma mente criar obstáculos intransponíveis ao corpo durante a partida. De longe parece que o jogo para eles é fácil porque eles treinam muito e mais do que os outros. Na verdade, é o circuito corpo-mente afinado, sintonizado, que produz um campo mental, físico, visível, quase palpável: os caras dominam o ambiente, fisicamente e mentalmente. É uma força mais ampla que a física, mais concreta do que a da mente. É tangível, perceptível, quase se toca. 

Luxemburgo quando técnico do Real Madri, num dos seus primeiros jogos na Champions, creio que contra a Juventus na Itália, estava ganhando o jogo, achou que Zidane estava cadenciando demais, poupando demais e rendendo de menos e acaba por substituí-lo. A ele e mais um. O Real toma a virada, perde o jogo ganho, morto, em 15 minutos. A ideia era de que a presença de um jogador, lento, cadenciado estava controlando não a ele, mas ao jogo. O cara tinha imposto o ritmo do jogo para as duas equipes, quando ele é substituído esse campo que ele produziu é quebrado, os caras foram para cima. De fora algumas pessoas não percebem, mas dentro de campo é nítido. Alguns caras controlam o campo de jogo, dominam o ritmo e a intensidade da partida.  

Afinar o corpo com a mente não é fácil. A mente busca a acomodação. Ela sem essa sintonia tenta prescindir do corpo. Afinal, qual é a diferença? Se fui capaz de mentalizar toda atividade na cabeça por qual motivo vou fazer isso fisicamente?
É aqui que entra a superação. A excelência, a busca pela execução. É este o preço que muitas pagam e nem todos estão a fim. Para uma grande parte das pessoas saber que é capaz mentalmente e para si mesmo de correr mais rápido é suficiente. Outros querem mostrar essa eficiência e cada dia buscam aprimorar mais. É uma lapidação da mente-corpo. Para muitos a luta é contra o outro, superar um adversário. Outros aprendem que a superação é contra si mesmo, um melhoramento de si mesmo. Uma auto superação. 

Correr, jejuar, meditar é desafiar a mente, não o contrário. O corpo quer. O corpo só para na exaustão. Mais precisamente, o corpo tende a inércia. As leis de Newton se aplicam com muita ‘acertude’. Para retirar o corpo do repouso é necessária uma força, uma aceleração. Uma programação. Fora isso, ele age pelo seu próprio comando, seguindo a sua programação instalada de fábrica. Encontrar o ritmo e a dinâmica entre a programação instalada de fábrica e as atualizações da mente é o que gera excelência, seja a área que for. 

O atleta de ponta é aquele que domina o corpo, respeitando sua programação e a ampliando em direção a concatenação com a mente. Os melhores esportistas, como em quaisquer outras atividades são aqueles que minimizam a distância, o hiato entre o pensamento e a execução. Nos negócios é chamado de pro-atividade. Consegue-se diminuir as resistências das ideias em relação ao corpo e da execução em relação as ideias de tal sorte que corpo se faz mente e mente se transforma em corpo. Efetiva-se uma simbiose que encontramos em parte no nascimento, na 1ª infância e paulatinamente vamos perdendo. Poucos recuperam essa relação eficiente, harmoniosa, entre corpo e mente na fase adulta. Na maioria de nós esse funcionamento se dá a reveria da mente, do próprio corpo. A consciência não é despertada hora nenhuma. O corpo apenas funciona. A mente apenas idealiza, pensa. Os dois se fazem distintos, opostos, antagônicos. Crescem para lados e direções contrárias. Um trava o livre e profícuo fluir do outro. 

Diferente das pessoas que vão se especializando numa atividade física. Elas vão ganhando uma consciência corporal que não funciona sem a mente. Mas, não uma mente castradora, é uma mente alinhavada a cada musculo, a cada nervo, a cada neurônio. E estou pensando apenas numa relação mais locomotora, impulsional, sem adentrar muito no modo da harmonia de todo sistema. Esse domínio respeitoso, por vezes harmônicas se materializa, se cristaliza, se faz visível na capacidade de domínio que temos das construções que vamos edificando ao longo da vida. No caso dos esportistas se fundamenta no controle mental que eles têm do jogo, do campo. Há um domínio, uma imposição, uma força que se pode aprender a utilizar com consciência fora daquele espaço de disputa. É comum jogadores de futebol chamar determinadas partes do campo de sua casa, representando a capacidade deles de domínio. Alguns conseguem ampliar essa conquista para fora das quatro linhas, outros quando perdem esse espaço, seja por contusão, por aposentadoria, entram em declínio, em ruína, em todos os aspectos, especialmente, os relacionados ao vício. Essa é outra história.



Todo exposto acima, a relação corpo-mente, a disputa corpo x mente têm relação direta com a sexualidade, com a transa, com a natureza x a cultura e tudo que reputamos animalesco. O animalesco é da ordem da natureza, do natural, do software instalado em nosso próprio corpo que roda sozinho sem interferência de nada, ninguém. O corpo tem um circuito que age por si mesmo, basicamente, no modus sobrevivência e reprodução. Todos os outros sistemas são atualizações colocadas na máquina. Encontrar o equilíbrio, o funcionamento harmônico entre cada corpo-mente com sua cultura, com sua natureza não tem sido fácil. Construímos uma cultura e temos alimentado um modo de vida que fere todo corpo, negligencia toda natureza e toda naturalidade. 


Tudo o que vem do corpo é tido como repulsivo, primitivo. Gritar de dor é feio, sentir raiva não pode, chorar em público não deve, transpirar é proibido. Nas escolas o vigiar e punir tem como escopo uma educação na qual não haja corpo, apenas mente. Desde a infância em nossa cultura vai se cortando, dividindo, separando a edificação corpo-mente como continuum à manifestação da consciência. Vamos nos dividindo ao ponto de uma grande maioria viver como se não tivessem corpo e a outra como se não tivessem alma. Dois reducionismos perigosos, vulgares, que geram os mais diversos transtornos, desarmonias, doenças.

Doenças que somos cada vez mais impelidos a ver e a compreender como individuais, mas que uma análise mais profunda, revelam que elas são coletivas. Fruto dessa distensão corpo-mente, natureza-cultura.

Obviamente, se não colocarmos a mente como freio, o corpo não encontra limites. E, no campo da cultura temos limites. Quais? Como os estabelecemos? 

Em suma os estabelecemos como sendo aqueles que nos retira da condição estritamente animalesca e nos abre às condições humanas. Não deveríamos perder de vista que nosso humano é igualmente biológico, fisiológico, animal e não somente mental. Talvez a literatura oriental, hindu ao falar de 7 corpos e não apenas de um, auxilie a mapear isso com mais tranquilidade. Sem dúvida que as culturas tribais africanas e indígenas conseguiram melhores êxitos nesse processo do despertar de uma consciência na qual o corpo espelha a cultura e a mente reflete o respeito a natureza sem desajustes, desarmonias. As doenças nessas tribos, nesses sistemas são diferentes. As doenças em nossa cultura são tidas como marca da desarmonia do indivíduo em relação ao todo. Mais precisamente, nossa cultura tem construído inversões tão danosas, que temos adoecido e levado ao adoecimento, justamente as pessoas que tem uma dimensão mais harmonizada com o corpo e suas representações. Pessoas que exteriorizam o que sentem, são e estão cada vez mais sendo submetidas a tratamentos como sendo loucas, anormais, doentias, justamente por sentirem.

Mas, retornando ao corpo e agora o classificando como sexual, instintivo. Esse corpo não vê impeditivo entre ele e a saciedade do próprio desejo; pelo contrário, tudo o que existe é para saciar o próprio desejo. Tudo o que existe se faz enquanto ‘vontade de potência’, um conceito nietzschiano que de maneira bem simplória nos retrata que tudo o que respira, quer viver e continuar vivo e a programação desse viver é a própria sobrevivência. 

Uma sobrevivência individual. Nem se pensa em se preservar o outro. Não se tem a menor identificação com parceria, alteridade, família, comunidade. É estritamente egocentrada. O contraponto que preciso estabelecer é o de que embora possamos cogitar que estejamos vivenciando avanços e melhorias civilizatórias temos feito uma regressão. Mais, temos criado uma perversão que resulta no individualismo, no egocentrismo. Uma redução da sexualidade a genitalidade. Isso que denominam civilização é uma barbárie de alta tecnologia na qual seres de todos os reinos, assim como toda natureza se tornaram descartáveis, inúteis, rejeitos que podem ser excluídos, jogado fora, sem nenhuma objeção. Fala-se de corpos sem mente, zumbis e temos as drogas que mostram como isso é possível e está em voga. Temos cidades sem um vegetal, todos arrancados em nome do progresso. Para esses seres que produzem essas coisas, a realidade é uma projeção holográfica, uma criação computacional. Se tivermos lembrança de natureza na mente, ela para eles é descartável na fisicalidade. A síntese dessa perversidade é que ela não consegue alcançar o prazer a não ser matando para saciar-se. É um prazer sem troca, sem reciprocidade. É um gozo masturbatório, ou uma “masturbação vaginal” como Reich chamava algumas relações sexuais, especificamente, aquelas nas quais o macho introduz o pênis, ejacula e termina a transa que começou sem beijo, abraço e terminou da mesma forma objetal que começou. 

O que observamos ao perceber esses movimentos é que eles não entenderam o corpo sexual. Por um lado, enquanto perspectiva energética, ao corpo sexual-instintivo, não interessa se o outro é casado, ou se é mais velho, ou se é parente, ou se é criança. Esse desejo, essa energia deseja sobreviver, reproduzir, saciar-se. É a partir do reino da cultura, do coletivo, do plural, do outro, que se tensiona esse desejo: “mas é a mulher do meu irmão! É o meu filho!” Isso não é moralista no sentido de certo ou errado, céu ou inferno. É moralista no sentido de que nível de fluxo de energia, de relação corpo-mente você se encontra.

A mente é o anteparo da cultura para administrar esse nosso desejo por e de... Mas, qual sentido e lógica tem para o corpo se a pessoa está ou tem um anel no dedo?  Ou quaisquer uma dessas lógicas que usamos, cobramos? De modo geral, como quisemos apontar, não tem. E, por não ter no sentido visceral do termo é que construímos uma ponte para darmos um passo à frente em nosso processo coletivo, civilizatório.

Saindo da digressão, friccionar o corpo, rompe algumas estruturas da mente. Friccionar seja no campo da atividade física, seja no ato sexual, alargam a mente a partir do corpo, da superação dos limites colocados pela mente. Fortalece o psíquico, o emocional. Amplia a confiança. Compreende-se os limites.


Mas, o ponto é: do que nosso corpo precisa? Qual é o corpo ideal? Nós exageramos demais no cuidado com o corpo. Esse corpo mimado não consegue responder às questões. Os caras com corpo sarado, perfeitos, lindos, levantam 70 kg no supino e não pegam dois sacos de cimento. O outro nas mesmas condições de saradeza que não consegue correr 10 minutos. A outra linda, gostosa, barriga negativa, 2% de gordura no corpo, não dá conta de passar a roleta com uma mochila e duas sacolas. Corpos de academia. Belos, esculpidos, mas quase artificiais, já que não conseguem ter espontaneidade, não conseguem ter funcionalidade diante da vida. Nem cheiro esses corpos possuem. Não há transpiração. O suor não tem cheiro. É diferente do corpo do trabalhador braçal, na labuta da construção civil, ou da zona rural. É diferente do corpo da moça gorda, da outra com joelho doendo, mas que suportam os sacolejos do bus, da vida.

Estamos mimando nossos corpos. E, isso deixa a mente no controle, indolente. A mente não pode controlar essa esfera, porque ela te faz acreditar que sem travesseiro de plumas de ave australiana, você não consegue dormir. Que se a mulher tiver estria você não consegue transar, que se o celular não for da última geração você não se comunica. E, entramos nessa loucura que estamos hoje, corpos mimados por mentes que reduzem o corpo a sua instalação de sobrevivência e ignoram o corpo enquanto corpo, isto é, reflexo e espelho da natureza e da cultura.

Finalizando, o mestre indiano fala dos EUA, da cultura ocidental.

Para nós ficarmos 8 horas sem nos alimentar é complexo, porque nossa mente está cheia de conceitos. Nós nos alimentamos pouco dos alimentos e muito mais das ideias que eles têm e trás. Quando bebo Coca Cola, como Big Mac, estou me alimentando outra fome. Talvez de reconhecimento, não sei. Nélson Rodrigues lá no milênio passado nos disse que a fome tinha mudado. Contava o caso de um transeunte que deu uma bisnaga para um pedinte. O pedinte não teve dúvidas, bateu com a bisnaga no transeunte. Nélson disse que a fome não era mais de pão. 

E, de fato, quando nossa mente nos diz que estamos com fome, abrimos a geladeira e vemos frutas, verduras, dizemos que não tem nada para comer. Se saímos para um passeio com uma geração mais nova e se disserem estar com fome e comprarmos pão, corremos o mesmo risco do transeunte. Poucos conseguem saciar a fome se alimentando de pão, verdura, frutas, água. Nossa fome é saciada com enlatados, embutidos, alimentos prontos que abrimos ao invés de descascar. Nossa fome é de um desejo de consumo. O prazer de fazer compras é para muitxs igual ao de comer. Para muitxs a foto do prato que vai se alimentar postado nas redes sociais alimenta mais do que a comida, está pode até ser jogada fora. As fomes são outras e enquanto não temos consciência delas, nós produzimos, somos co-responsáveis na desnutrição e miséria de milhares. Pode não parecer ter relação, porque cada vez mais temos cortado o circuito corpo-mente, natureza-cultura, nos levando a acreditar que somos individualistas. Que não temos co-participação com nada, nem ninguém. Essa alienação, essa ilusão não nos vê como corpos de um mesmo e único sistema. Nos faz acreditar que meu corpo é só meu, sem interação, relação, reciprocidade, contato com os demais. 

Isso mostra que o que nos engorda são as ideias que ingerimos dos enlatados. O que nos engorda é a busca frenética por desejos que não são nossos e nem da nossa natureza. Consumimos, digerimos sonhos, metas que são de outros corpos, ou melhor de outras mentes. Mentes individualistas que não compreendem que por mais perfeita a regulação do corpo, ele se realiza, se plenifica no outro. 

A contradição que pira é que o corpo, software que vem com instalação de fábrica, instalação altamente singular, criada para cada indivíduo como uma impressão digital, alcança o seu gozo, o seu orgasmo, a sua plenitude, junto ao outro. O corpo ganha plenitude quando se torna e se faz abraço. Já a mente, que é coletiva, plural, só ganha sentido, quando se individualiza. Se a mente não consegue tocar a singularidade do corpo, ele o paralisa, o imobiliza, o adoece, o frustra, o cinde. E quando a mente se singulariza pela percepção que ela ganha do seu corpo, a consciência expande. Corpo se faz mente. Mente se faz corpo. Ambas são consciência do que somos, de quem somos. Consciência de limites e aberturas. 

Ficar 8 horas sem se alimentar quebra a forma com que vemos o mundo. Se eu fosse comunista iria propor regime para refletirmos sobre a sociedade de consumo, rsrs. Mas, a ideia de se ficar 8 horas sem se alimentar, ou a de fazer jejum uma vez no mês, na semana, na vida é a de perceber qual é a sua fome? Do que você se alimenta? Quem e o que a gente alimenta quando comemos? De modo geral, constatamos que comemos muito mais do que nosso corpo físico necessita e deixamos a mingua, em inanição o que precisaríamos alimentar: nossas mentes, nossas almas, nossa transcendência. 

Ainda nessa linha, 8 horas sem comer, assim como o jejum, nos auxilia a perceber qual o tempo de resposta entre a nossa intenção e nosso ato? Quanto tempo levamos entre nosso desejo e a busca por ele? Esses processos tendem a nos dar consciência de que somos e estamos muito mais reativos, correndo para onde nos mandam, fazendo o que esperam de nós, do que atentos as nossas verdadeiras vontades. A nossa fome real e não a fome conceitual, insaciável, que para ser saciada representa a nossa anulação, ou a anulação do outro. Quase nunca um banquete à Platão, ou uma ceia à Jesus. Estamos nos alimentando como se fossemos máquinas hospedeiras de uma força perversa, que não sabe o prazer de compartilhar, dividir, gozar. Uma mente que não sabe o que é ser corpo. Um corpo entorpecido que não consegue individualizar a própria mente.