Espaço utilizado como amparo e reflexão da Holos Consultoria Fiholosofica/Spaço Iluminar. Este espaço se torna o lugar no qual discorremos sobre as implicações, as atividades e os serviços prestados por nós. De forma que buscamos dar uma visão unificada, integrada dos acontecimentos da existência, colorindo-os com uma visão artística, cientifica, desportista, filosófica, denominada pelos gregos de Tecnhé. Contemplando a nossa visão holística e holográfica, isto é, φholosofica.
A cada ano somos convidados
pelas circunstâncias, pelos amigos espirituais e por minha inquietude a reformularmos nossas reuniões espiritualista. É assim desde 1997. Este ano, inicialmente, eu pensei em não fazer. Não tinha pensado em
nenhum formato, até que resolvi escrever sobre Jejum. Quando postei no grupo
tiveram muitas repercussões, especialmente, sobre a possibilidade de se viver
de luz. Marcos Daniel a partir dessa interação questionou, como habitualmente,
rsrs essas e outras coisas. Foi quando Estevão Verissimo se prontificou a falar
sobre o tema.
Esta prontificação acabou sendo a salvação da lavoura. Como
um fogo de inspiração, já peguei uma parte dos componentes do grupo e marquei
as datas de apresentação de cada um deles, que se dará ao longo do ano no 2° sábado de cada mês até dezembro. A lógica dessa abertura vem de duas premissas: uma: a de abrir espaço para pessoas espiritualizadas, por vezes muito mais do que nós palestrantes, médiuns, terapeutas, falem do que sabem, do que gostam. Duas: que é interdependente da primeira, levarmos a pensar a espiritualidade de forma mais corriqueira, habitual, cotidiana. Longe por vezes de matrizes mais metafísicas, altamente elaboradas. Estava feita as nossas apresentações
e elas nos permitiam abrir espaço para um pessoal muito bom, que fala,
participa, mas agora terá espaço para nos mostrar o que andam estudando,
fazendo, pensando, sendo. Não vou colocar a lista, porque alguns foram tomados de surpresa, rs e ainda não definiram o tema e tem tempo para isso.
Posto isto, podemos dizer que começamos o ano com a fala
de Estevão Verissimo nos falando sobre: TODOS SOMOS UM- A VIA DO ALIMENTO E DO JEJUM.
A fala dele foi muito rica.
Agregou uma percepção dos alimentos que é difícil categorizar, porque não
temos, pelo menos não conheço nos moldes que ele nos apresentou e vocês terão a oportunidade de apreciar nos áudios do outro post.
Mas, fazendo uma comparação
rasteira, para permitir uma aproximação e não uma redução, peço para que
imaginem uma mescla entre um nutricionista que conhece os valores nutritivos
dos alimentos, sua melhor forma de preparação, mais com o conhecimento de solo e
dos nutrientes como um engenheiro agrônomo cozinheiro. Somado ao conhecimento de solo
teríamos um geógrafo que antropologicamente nos conta sobre o clima e os
hábitos alimentares de determinadas culturas e sua forma de lidar com o
alimento e seu preparo, rigorosamente, classificados por conceitos que devem
ser da área da nutrição. Balanceia tudo isso, tempera e temos uma aproximação de como eu ouvi, compreendi a fala e informações do amigo. Talvez outras pessoas mais afeitas a esse universo nutritivo não vera nada demais no que ele nos trouxe, eu, particularmente, fiquei intrigado.
Grande parte da separação e apresentação das informações nutritivas se faz em sua estrutura molecular, química. O que lhe permite falar das
gramíneas e suas diversas propriedades, nos lembrando que espécies
aparentemente diferentes pertencem a esse mesmo grupo. E é a partir dessas
propriedades atômicas e nucleares no que se refere a absorção e eliminação
dessas substâncias pelo organismo que ele nos brindou com suafala. Suprimi o fato de tudo isso vir
ancorado em sua experiência pessoal que passa desde a inedia nos idos anos
2001/2 Até as sopas atuais.
Isso para dizer que esse
pull de informação juntas e reunidas eu ainda não tinha visto. Nem em médicos,
nem em nutricionistas. Não tenho o hábito de ouvir o pessoal da engenharia de alimentos. Cada um fala de alimentos, nutrição ao seu escopo, mas a
percepção disso em toda uma cadeia que vai do plantio, do solo, até as
possíveis reações no organismo, foi a primeira vez.
Isso valeria uma
'habilitação' para poder personalizar tais conhecimentos para outras pessoas.
Curso de nutrição para poder a partir desses
elementos proporcionar a outras pessoas a absorção alimentar, no que isso tem de mais
profundo. A fala do amigo Estevão apresentava muita ressonância com nossa reunião do ano passado, no qual falamos
do Sistema Digestório tendo em mente: do que nos nutrimos? Do que nos
alimentamos? Estevão faz o ciclo completo e amplia aquela nossa interação anterior.
Mas, retornando ao meu
irmão Estêvão. Formado em Engenharia, mas que atua como tradutor juramentado e
por vezes de alguns textos desse povo da nova energia.
Esses caras que eu não sei
o nome, que fazem trabalhos bonitos, Estêvão esteve com a maioria, ciceroneou
muitos quando estiveram no Brasil e conheceu outros tantos lá nos EUA em suas
andanças por lá. Quem me alimentava muito com o que estava acontecendo lá fora
era ele e Gustavo. Sempre antenados a essa cultura, por vezes mercado, que
impulsiona e fomenta cursos, vivências, modismos, transformações substanciais.
De longe, quando deu o boom
da China, eu pensei que Estêvão mudaria para Manhathan e seria mais um novo
bilionário. Estêvão fala mandarim há mais de 20 anos. Muito mais que isso, ele
nasceu falando mandarim, rsrs depois que ele aprendeu sânscrito e as línguas
que derivaram desse tronco linguístico. Agora sem brincadeira, quero dizer que quando
empresários brasileiros tinham dificuldades em reunir com americanos devido a
falta do inglês, ele já dominava o chinês. Esteve por lá umas vezes e não sei
se já voltou depois que a China virou isso que é hoje.
O que Estêvão fez ontem na
palestra (08/02/2020) foi ligar um alimento a todo um ciclo universal. Isso é muito
Tao. Não vou reduzir a Tao da saúde, porque Tao é tao. No entanto, marca todo
um ciclo, toda uma reflexão e ação a ser vivenciada. Um detalhe técnico é o de alertar que eu comecei a gravar depois do inicio da fala dele, assim como numa tentativa de disponibilizar os áudios de forma mais fácil, eu fui quebrando as gravações por volta de 15'. Pelo menos era essa a intenção. Algumas demandaram mais tempo, muitas mídias não suportaram e haverá a perda, rápida, de uma fala para outra. A conta de salvar uma e começar outra.
Creio que por volta de agosto, setembro do ano passado, às 5as feiras,
eu passei a fazer jejum. Acordava por volta das 05:30 e ia até às 19:00 horas.
Realizava a última refeição antes das 22:00 horas do dia anterior. Primavera
estava fazendo jejum em prol do irmão e outras coisas e numa conversa bem
informal, ela tinha me ensinado que era importante uma intencionalidade no
jejum. Acabou que me juntei ao proposito dela e fui contribuir com a causa. Foi
sensacional o que aprendi nesse processo de jejuar. Todo mundo já sabia, já
sabe, mas para mim foi um reaprendizado.
Nas primeiras horas tudo estava tranquilo. Estava em sala de aula e
enquanto leciono não sinto fome. Na verdade, enquanto estamos em atividade a
fome aparece pouco. No intervalo, todo mundo comendo na sua frente, por muitas
vezes peguei o prato, tipicamente, um processo mecânico, como que dizendo: “na
hora do intervalo se come.” Nesse hiato algo em nós nos pergunta: “vc está com
fome?”
E a resposta era não. Era alguma outra coisa que desejava comer, se
alimentar, pelo fato de se está na 'hora' de comer. Não
tinha fome, mas queria comer. Ou melhor, tinha uma fome, talvez relacionada a
um vazio, a uma falta, a uma ansiedade, mas isso não poderia ser nutrido com comida. Demandava
outro alimento.
Dava mais dois horários, terminava a aula, ficava um tempo mais
conversando fiado com os amigos e vinha para casa. E é nessa ociosidade que
todo o processo começa e fiquei escandalizado como que nos ocupa.
A maior parte do tempo, eu ficava pensando no que ia comer. Na outra
parte no que ia fazer para comer. Eram duas horas da tarde e eu pensando às 19 horas da noite. Impressiona o tempo que gastamos pensamos em comida, o tempo que gastamos fazendo comida e a nossa inconsciência de não saber o que estamos buscando alimentar, que estomago é esse que desejamos nutrir. Isso era um pensamento constante e faminto
cuja conclusão que cheguei é de que A GENTE COME É A IDEIA. A comida mesmo, a
gente ingere pouco. A comida é um detalhe. Tem pouco ou nada a ver com a fome.
O que nós comemos, o que nós ingerimos, o que nos engorda ou o que nos emagrece
tem pouco a ver com o que comemos. Tem mais a ver com a forma, o modo no qual
nos alimentamos. Isso chamou a minha atenção.
E, quando achei que estava tudo certo, não tinha nada mais a aprender,
vejo um post de um amigo evangélico que dizia algo mais ou menos assim: “jejum
sem oração é dieta para emagrecimento”.
E é justamente isso. A intenção, o propósito é importante, fundamental
para a obtenção de um objetivo, no entanto, o diferencial está na oração, na
meditação, em algo que nos faça atentar, antenar para essa relação corpo e
alma. Corpo-mente.
Essa é uma relação complexa porque a gente pensa que o malvado é o
corpo, quando na verdade, o sabotador, inúmeras vezes, é a mente. O corpo é um
programa que executa e cumpre sua programação com perfeição, lisura e alta
performance. A questão toda é a mente. Ou melhor, o ‘conflito’ entre o programa
autônomo instalado no próprio corpo e o programador (mente) que pode operar
harmonizando ou desarmonizando o programa. Encontrar essa relação, essa
mediação não é fácil.
A mente tem ideias, tem imagens, tem teorias, tem conhecimentos, que
muitas vezes impedem o funcionamento do corpo. A mente tem percepções que
travam as ações do corpo. O corpo tem outra lógica, uma racionalidade,
endógena, extremamente, funcional.
Aqui, eu exemplifico com o esporte. Há uma velocidade de movimentos que
é impraticável vir da mente, eles acontecem como se as pernas, as mãos,
soubessem o que tivesse que ser feito e a mente não atrapalha a execução. Ela
apenas abre o fluxo para que o movimento se realize. Essa combinação
corpo-mente é linda. É uma interação refinada.
Nos atendimentos, por muitas vezes, fico falando para os partilhantes
sobre atividade física. Não na busca de se ter um corpo sarado, de se ficar
gostosa, mas na restauração desse circuito corpo-mente. Na busca de se
encontrar a correspondência entre o pensamento e a execução do mesmo. Em
diminuir o hiato, o lapso entre o que se pensa, o que se deseja e a realização,
a materialização disso. A medida em que vamos afinando esse circuito, vamos
minimizando o nosso tempo de resposta. Isso pode parecer bobo, mas é altamente
significativo. Há dias que entre o abrir os olhos e levantar demoro minutos,
horas. Esse lapso temporal pode ser mensurado em tantas outras coisas ao longo
do dia e da vida. A diferença de se levantar para dar aula no 1º horário numa
turma e no dia seguinte em dar aula para outra turma no mesmo horário. A
diferença de se levantar para ir a uma reunião escolar e ir para o jogo de
futebol. O tempo de resposta para ir aos lugares que gostamos, para realizar o que
desejamos é infinitamente menor. É como se acordar-levantar-aprontar fossem um
único ato e correspondessem a um mesmo movimento. O contrário é inversamente
proporcional.
No jejum com oração/meditação é rigorosamente o mesmo desafio, a mesma
busca por afinar esses dois tempos, essas duas racionalidades: corporal e
mental. No jejum a mente quer comer. Ela tem certeza que se você não comer nos
próximos minutos, você vai morrer. Vai ter um colapso. Situação similar
enfrenta quem por exemplo pratica Cooper, corrida de 5, 10, 21, 42 KM. Exerce
alguma atividade física e busca transpor alguns limites. Limites?
Alguns limites são corporais mesmo. São? Parece que todos os limites são
da mente. Parece que se ela não avisar para o corpo este consegue se superar, ir
além, dar um passo adiante. Quando a gente está correndo, a mente nos mata a
cada metro. A cada passo, ela desvia a sua atenção, te traz uma lembrança, te
ativa um compromisso. Uma conta para pagar. Algo que te bloqueia.
O interessante de todo processo é que a mente consegue correr uma
maratona sem sair do lugar. E, muitas vezes é importante fazer isso. Deixar que
a mente percorra o caminho, mentalize e idealize todo o processo, todo o jogo.
Grandes esportistas realizam isso antes das competições. Eles jogam o jogo
inteiro dias, semanas, horas antes da partida. Depois apenas cumprem o roteiro,
realizam o ritual. Mas, já jogaram o jogo antes e não deixaram a mesma mente
criar obstáculos intransponíveis ao corpo durante a partida. De longe parece que o jogo para eles é fácil porque eles treinam muito e mais do que os outros. Na verdade, é o circuito corpo-mente afinado, sintonizado, que produz um campo mental, físico, visível, quase palpável: os caras dominam o ambiente, fisicamente e mentalmente. É uma força mais ampla que a física, mais concreta do que a da mente. É tangível, perceptível, quase se toca. Luxemburgo quando técnico do Real Madri, num dos seus primeiros jogos na Champions, creio que contra a Juventus na Itália, estava ganhando o jogo, achou que Zidane estava cadenciando demais, poupando demais e rendendo de menos e acaba por substituí-lo. A ele e mais um. O Real toma a virada, perde o jogo ganho, morto, em 15 minutos. A ideia era de que a presença de um jogador, lento, cadenciado estava controlando não a ele, mas ao jogo. O cara tinha imposto o ritmo do jogo para as duas equipes, quando ele é substituído esse campo que ele produziu é quebrado, os caras foram para cima. De fora algumas pessoas não percebem, mas dentro de campo é nítido. Alguns caras controlam o campo de jogo, dominam o ritmo e a intensidade da partida.
Afinar o corpo com a mente não é
fácil. A mente busca a acomodação. Ela sem essa sintonia tenta prescindir do
corpo. Afinal, qual é a diferença? Se fui capaz de mentalizar toda atividade na
cabeça por qual motivo vou fazer isso fisicamente?
É aqui que entra a superação. A excelência, a busca pela execução. É
este o preço que muitas pagam e nem todos estão a fim. Para uma grande parte das pessoas saber que é capaz mentalmente e para si mesmo de correr mais rápido é
suficiente. Outros querem mostrar essa eficiência e cada dia buscam aprimorar
mais. É uma lapidação da mente-corpo. Para muitos a luta é contra o outro,
superar um adversário. Outros aprendem que a superação é contra si mesmo, um
melhoramento de si mesmo. Uma auto superação.
Correr, jejuar, meditar é desafiar a mente, não o contrário. O corpo
quer. O corpo só para na exaustão. Mais precisamente, o corpo tende a inércia.
As leis de Newton se aplicam com muita ‘acertude’. Para retirar o corpo do
repouso é necessária uma força, uma aceleração. Uma programação. Fora isso, ele
age pelo seu próprio comando, seguindo a sua programação instalada de fábrica.
Encontrar o ritmo e a dinâmica entre a programação instalada de fábrica e as
atualizações da mente é o que gera excelência, seja a área que for.
O atleta de ponta é aquele que domina o corpo, respeitando sua
programação e a ampliando em direção a concatenação com a mente. Os melhores
esportistas, como em quaisquer outras atividades são aqueles que minimizam a
distância, o hiato entre o pensamento e a execução. Nos negócios é chamado de
pro-atividade. Consegue-se diminuir as resistências das ideias em relação ao
corpo e da execução em relação as ideias de tal sorte que corpo se faz mente e
mente se transforma em corpo. Efetiva-se uma simbiose que encontramos em parte
no nascimento, na 1ª infância e paulatinamente vamos perdendo. Poucos recuperam
essa relação eficiente, harmoniosa, entre corpo e mente na fase adulta. Na
maioria de nós esse funcionamento se dá a reveria da mente, do próprio corpo. A
consciência não é despertada hora nenhuma. O corpo apenas funciona. A mente
apenas idealiza, pensa. Os dois se fazem distintos, opostos, antagônicos.
Crescem para lados e direções contrárias. Um trava o livre e profícuo fluir do
outro.
Diferente das pessoas que vão se especializando numa atividade física.
Elas vão ganhando uma consciência corporal que não funciona sem a mente. Mas,
não uma mente castradora, é uma mente alinhavada a cada musculo, a cada nervo,
a cada neurônio. E estou pensando apenas numa relação mais locomotora,
impulsional, sem adentrar muito no modo da harmonia de todo sistema. Esse
domínio respeitoso, por vezes harmônicas se materializa, se cristaliza, se faz
visível na capacidade de domínio que temos das construções que vamos edificando
ao longo da vida. No caso dos esportistas se fundamenta no controle mental que
eles têm do jogo, do campo. Há um domínio, uma imposição, uma força que se pode
aprender a utilizar com consciência fora daquele espaço de disputa. É comum
jogadores de futebol chamar determinadas partes do campo de sua casa,
representando a capacidade deles de domínio. Alguns conseguem ampliar essa
conquista para fora das quatro linhas, outros quando perdem esse espaço, seja
por contusão, por aposentadoria, entram em declínio, em ruína, em todos os
aspectos, especialmente, os relacionados ao vício. Essa é outra história.
Todo exposto acima, a relação corpo-mente, a disputa corpo x mente têm
relação direta com a sexualidade, com a transa, com a natureza x a cultura e
tudo que reputamos animalesco. O animalesco é da ordem da natureza, do natural,
do software instalado em nosso próprio corpo que roda sozinho sem interferência
de nada, ninguém. O corpo tem um circuito que age por si mesmo, basicamente, no
modus sobrevivência e reprodução. Todos os outros sistemas são atualizações colocadas na
máquina. Encontrar o equilíbrio, o funcionamento harmônico entre cada
corpo-mente com sua cultura, com sua natureza não tem sido fácil. Construímos
uma cultura e temos alimentado um modo de vida que fere todo corpo, negligencia toda natureza e toda naturalidade.
Tudo o que vem do corpo é tido
como repulsivo, primitivo. Gritar de dor é feio, sentir raiva não pode, chorar
em público não deve, transpirar é proibido. Nas escolas o vigiar e punir tem
como escopo uma educação na qual não haja corpo, apenas mente. Desde a infância
em nossa cultura vai se cortando, dividindo, separando a edificação corpo-mente
como continuum à manifestação da consciência. Vamos nos dividindo ao ponto de
uma grande maioria viver como se não tivessem corpo e a outra como se não
tivessem alma. Dois reducionismos perigosos, vulgares, que geram os mais
diversos transtornos, desarmonias, doenças.
Doenças que somos cada vez mais impelidos a ver e a compreender como
individuais, mas que uma análise mais profunda, revelam que elas são coletivas.
Fruto dessa distensão corpo-mente, natureza-cultura.
Obviamente, se não colocarmos a mente como freio, o corpo não encontra
limites. E, no campo da cultura temos limites. Quais? Como os estabelecemos?
Em suma os estabelecemos como sendo aqueles que nos retira da condição
estritamente animalesca e nos abre às condições humanas. Não deveríamos perder
de vista que nosso humano é igualmente biológico, fisiológico, animal e não
somente mental. Talvez a literatura oriental, hindu ao falar de 7 corpos e não
apenas de um, auxilie a mapear isso com mais tranquilidade. Sem dúvida que as
culturas tribais africanas e indígenas conseguiram melhores êxitos nesse
processo do despertar de uma consciência na qual o corpo espelha a cultura e a
mente reflete o respeito a natureza sem desajustes, desarmonias. As doenças
nessas tribos, nesses sistemas são diferentes. As doenças em nossa cultura são
tidas como marca da desarmonia do indivíduo em relação ao todo. Mais
precisamente, nossa cultura tem construído inversões tão danosas, que temos
adoecido e levado ao adoecimento, justamente as pessoas que tem uma dimensão
mais harmonizada com o corpo e suas representações. Pessoas que exteriorizam o
que sentem, são e estão cada vez mais sendo submetidas a tratamentos como sendo
loucas, anormais, doentias, justamente por sentirem.
Mas, retornando ao corpo e agora o classificando como sexual,
instintivo. Esse corpo não vê impeditivo entre ele e a saciedade do próprio
desejo; pelo contrário, tudo o que existe é para saciar o próprio desejo. Tudo
o que existe se faz enquanto ‘vontade de potência’, um conceito nietzschiano
que de maneira bem simplória nos retrata que tudo o que respira, quer viver e
continuar vivo e a programação desse viver é a própria sobrevivência.
Uma sobrevivência individual. Nem se pensa em se preservar o outro. Não
se tem a menor identificação com parceria, alteridade, família, comunidade. É
estritamente egocentrada. O contraponto que preciso estabelecer é o de que
embora possamos cogitar que estejamos vivenciando avanços e melhorias
civilizatórias temos feito uma regressão. Mais, temos criado uma perversão que
resulta no individualismo, no egocentrismo. Uma redução da sexualidade a
genitalidade. Isso que denominam civilização é uma barbárie de alta tecnologia
na qual seres de todos os reinos, assim como toda natureza se tornaram
descartáveis, inúteis, rejeitos que podem ser excluídos, jogado fora, sem
nenhuma objeção. Fala-se de corpos sem mente, zumbis e temos as drogas que
mostram como isso é possível e está em voga. Temos cidades sem um vegetal,
todos arrancados em nome do progresso. Para esses seres que produzem essas coisas, a realidade é uma
projeção holográfica, uma criação computacional. Se tivermos lembrança de natureza
na mente, ela para eles é descartável na fisicalidade. A síntese dessa perversidade é que
ela não consegue alcançar o prazer a não ser matando para saciar-se. É um
prazer sem troca, sem reciprocidade. É um gozo masturbatório, ou uma
“masturbação vaginal” como Reich chamava algumas relações sexuais,
especificamente, aquelas nas quais o macho introduz o pênis, ejacula e termina
a transa que começou sem beijo, abraço e terminou da mesma forma objetal que
começou.
O que observamos ao perceber esses movimentos é que eles não entenderam
o corpo sexual. Por um lado, enquanto perspectiva energética, ao corpo
sexual-instintivo, não interessa se o outro é casado, ou se é mais velho, ou se
é parente, ou se é criança. Esse desejo, essa energia deseja sobreviver,
reproduzir, saciar-se. É a partir do reino da cultura, do coletivo, do plural, do
outro, que se tensiona esse desejo: “mas é a mulher do meu irmão! É o meu
filho!” Isso não é moralista no sentido de certo ou errado, céu ou inferno. É
moralista no sentido de que nível de fluxo de energia, de relação corpo-mente
você se encontra.
A mente é o anteparo da cultura para administrar esse nosso desejo por e
de... Mas, qual sentido e lógica tem para o corpo se a pessoa está ou tem um
anel no dedo? Ou quaisquer uma dessas lógicas que usamos, cobramos? De
modo geral, como quisemos apontar, não tem. E, por não ter no sentido visceral
do termo é que construímos uma ponte para darmos um passo à frente em nosso
processo coletivo, civilizatório.
Saindo da digressão, friccionar o corpo, rompe algumas estruturas da
mente. Friccionar seja no campo da atividade física, seja no ato sexual,
alargam a mente a partir do corpo, da superação dos limites colocados pela
mente. Fortalece o psíquico, o emocional. Amplia a confiança. Compreende-se os
limites.
Mas, o ponto é: do que nosso corpo precisa? Qual é o corpo ideal? Nós exageramos demais no
cuidado com o corpo. Esse corpo mimado não consegue responder às questões. Os
caras com corpo sarado, perfeitos, lindos, levantam 70 kg no supino e não pegam
dois sacos de cimento. O outro nas mesmas condições de saradeza que não
consegue correr 10 minutos. A outra linda, gostosa, barriga negativa, 2% de
gordura no corpo, não dá conta de passar a roleta com uma mochila e duas
sacolas. Corpos de academia. Belos, esculpidos, mas quase artificiais, já que
não conseguem ter espontaneidade, não conseguem ter funcionalidade diante da
vida. Nem cheiro esses corpos possuem. Não há transpiração. O suor não tem
cheiro. É diferente do corpo do trabalhador braçal, na labuta da construção
civil, ou da zona rural. É diferente do corpo da moça gorda, da outra com
joelho doendo, mas que suportam os sacolejos do bus, da vida.
Estamos mimando nossos corpos. E, isso deixa a mente no controle,
indolente. A mente não pode controlar essa esfera, porque ela te faz acreditar
que sem travesseiro de plumas de ave australiana, você não consegue dormir. Que
se a mulher tiver estria você não consegue transar, que se o celular não for da
última geração você não se comunica. E, entramos nessa loucura que estamos
hoje, corpos mimados por mentes que reduzem o corpo a sua instalação de
sobrevivência e ignoram o corpo enquanto corpo, isto é, reflexo e espelho da
natureza e da cultura.
Finalizando, o mestre indiano fala dos EUA, da cultura ocidental. Para
nós ficarmos 8 horas sem nos alimentar é complexo, porque nossa mente está
cheia de conceitos. Nós nos alimentamos pouco dos alimentos e muito mais das
ideias que eles têm e trás. Quando bebo Coca Cola, como Big Mac, estou me
alimentando outra fome. Talvez de reconhecimento, não sei. Nélson Rodrigues lá
no milênio passado nos disse que a fome tinha mudado. Contava o caso de um
transeunte que deu uma bisnaga para um pedinte. O pedinte não teve dúvidas,
bateu com a bisnaga no transeunte. Nélson disse que a fome não era mais de pão.
E, de fato, quando nossa mente nos diz que estamos com fome, abrimos a
geladeira e vemos frutas, verduras, dizemos que não tem nada para comer. Se
saímos para um passeio com uma geração mais nova e se disserem estar com fome e
comprarmos pão, corremos o mesmo risco do transeunte. Poucos conseguem saciar a
fome se alimentando de pão, verdura, frutas, água. Nossa fome é saciada com
enlatados, embutidos, alimentos prontos que abrimos ao invés de descascar. Nossa fome é de um desejo de consumo. O prazer de fazer compras é para muitxs igual ao de comer. Para muitxs a foto do prato que vai se alimentar postado nas redes sociais alimenta mais do que a comida, está pode até ser jogada fora. As fomes são outras e enquanto não temos consciência delas, nós produzimos, somos co-responsáveis na desnutrição e miséria de milhares. Pode não parecer ter relação, porque cada vez mais temos cortado o circuito corpo-mente, natureza-cultura, nos levando a acreditar que somos individualistas. Que não temos co-participação com nada, nem ninguém. Essa alienação, essa ilusão não nos vê como corpos de um mesmo e único sistema. Nos faz acreditar que meu corpo é só meu, sem interação, relação, reciprocidade, contato com os demais.
Isso mostra que o que nos engorda são as ideias que ingerimos dos
enlatados. O que nos engorda é a busca frenética por desejos que não são nossos
e nem da nossa natureza. Consumimos, digerimos sonhos, metas que são de outros
corpos, ou melhor de outras mentes. Mentes individualistas que não compreendem
que por mais perfeita a regulação do corpo, ele se realiza, se plenifica no
outro.
A contradição que pira é que o corpo, software que vem com instalação de
fábrica, instalação altamente singular, criada para cada indivíduo como uma
impressão digital, alcança o seu gozo, o seu orgasmo, a sua plenitude, junto ao
outro. O corpo ganha plenitude quando se torna e se faz abraço. Já a mente, que
é coletiva, plural, só ganha sentido, quando se individualiza. Se a mente não
consegue tocar a singularidade do corpo, ele o paralisa, o imobiliza, o adoece,
o frustra, o cinde. E quando a mente se singulariza pela percepção que ela
ganha do seu corpo, a consciência expande. Corpo se faz mente. Mente se faz
corpo. Ambas são consciência do que somos, de quem somos. Consciência de
limites e aberturas.
Ficar 8 horas sem se alimentar quebra a forma com que vemos o mundo. Se
eu fosse comunista iria propor regime para refletirmos sobre a sociedade de
consumo, rsrs. Mas, a ideia de se ficar 8 horas sem se alimentar, ou a de fazer jejum uma vez no mês, na semana, na vida é a de
perceber qual é a sua fome? Do que você se alimenta? Quem e o que a gente
alimenta quando comemos? De modo geral, constatamos que comemos muito mais do
que nosso corpo físico necessita e deixamos a mingua, em inanição o que
precisaríamos alimentar: nossas mentes, nossas almas, nossa transcendência.
Ainda nessa linha, 8 horas sem comer, assim como o jejum, nos auxilia a
perceber qual o tempo de resposta entre a nossa intenção e nosso ato? Quanto
tempo levamos entre nosso desejo e a busca por ele? Esses processos tendem a
nos dar consciência de que somos e estamos muito mais reativos, correndo para
onde nos mandam, fazendo o que esperam de nós, do que atentos as nossas
verdadeiras vontades. A nossa fome real e não a fome conceitual, insaciável,
que para ser saciada representa a nossa anulação, ou a anulação do outro. Quase
nunca um banquete à Platão, ou uma ceia à Jesus. Estamos nos alimentando como
se fossemos máquinas hospedeiras de uma força perversa, que não sabe o prazer
de compartilhar, dividir, gozar. Uma mente que não sabe o que é ser corpo. Um
corpo entorpecido que não consegue individualizar a própria mente.
Desde o
atentado terrorista de Trump que estou buscando alguém para nos esclarecer se a
moratória está valendo? Estou me referindo a DATA LIMITE revelada por Chico
Xavier. Como nem fiz essa busca e tampouco achei a resposta, resolvi eu mesmo
especular.
Por um
lado, de fato conseguimos. Conseguimos igual nós professores garantimos a aprovação de alguns
alunos. Porque se fosse exigir os 60% por esforço e competência própria a reprovação seria em massa. Então os
caras olharam para o lado e não relevaram as guerras fraticidas, as ditaduras,
as invasões a territórios dos coleguinhas. Eles só computaram 3ª guerra
mundial. Essa não teve, ufa. Nem terá, demos graças. Não obstante, os malditos
não param de conspirar e atentar para causar a destruição em massa.
Ontem
depois do revide do Irã, eu já não sei mais se não teremos, todavia, fiquei pensando: o que nós meros
mortais podemos fazer?
Nesses
momentos sempre se receita oração e jejum, porém quero incrementar mais coisas
e problematizar outras tantas. Tem traficantes orando a Deus depois de destruírem
terreiros de religiões de matrizes africanas. Tem ladrões, latrocidas orando
para Deus abençoar suas ações. Tem homens acendendo velas para ter as mulheres
de outros homens. Tem fieis orando para presidentes canalhas. Então, quero
nesse momento, desqualificar essas orações e propor uma análise do motivo e em
seguida alguns procedimentos que talvez possamos adotar, afinal como chegamos a
isso?
Melhor
não fazer essa pergunta, porque não teremos tempo de responder e sou tentado a
acreditar que apesar de tudo, nós melhoramos. Melhoramos? Por incrível que pareça
sim. Somos pouca coisa melhor do que antes, mas queremos mais. Desejamos e
necessitamos mais. Não mais nesse sentido louco, desenfreado, insano do
consumo. Mais no sentido de nos melhorarmos, de sermos mais fraternos, mais
abençoados, mais humanos. Tal empreitada nos coloca diante de duas portas,
propostas, lados. Um lado técnico, que não tem nenhum pudor em substituir o
humano, descarta-lo, não apenas o humano como tudo o que vive, em detrimento das
máquinas, do luxo, da riqueza. Outro lado que não abandona a técnica, mas que a
pensa a partir de uma relação sistêmica, ecológica, com todo o meio ambiente.
Na primeira temos uma lógica de exploração, dominação. Na segunda temos uma
lógica de sustentabilidade, amorosidade. Não somente a outros humanos como a
todos os outros reinos. E isto evoca duas forças poderosas que rondam nosso
planeta desde sempre. Tentemos falar sobre elas.
A
primeira força, eu vou denominar de abutre. Nada contra os animais úteis e
importantes a cadeia alimentar. Utilizaremos a analogia e veremos no que elas
se aproximam e naquilo que se distanciam dos nossos amigos do reino animal.
Um
abutre não abate a presa para dela se saciar. Ou seja, ele não ganha duas
vezes, uma abatendo, outra se saciando. Pelo contrário, ele se alimenta depois
da presa ter sido abatida e depois de várias outras espécies ter se saciado. É
nesse sentido que os abutres nos quais referimos são seres trevosos. Forças que
se alimentam dos restos. Seres que matam para eles terem acesso a carniça, que
eles mesmos comem. De modo que, os abutres no sentido que queremos dar são
seres que se satisfazem e se locupletam com a miserabilidade da cadeia
alimentar. Da ponta ao rabo apenas eles se saciam, se deliciam. Se deliciam criando
guerras, matando, vendendo armas para matar, coletando despojos, enviando
missionários para encaminharem as ‘almas’, reconstruindo as cidades que destruíram.
Enfim... vomitam para comerem de novo, lamberem outra vez o seu gozo.
Essas
forças sempre existiram. Não são uma descoberta recente. Elas atentam os seres,
fragmenta, divide os reinos desde sempre. O seu objetivo é ser adorado,
idolatrado e essa força vive da idolatria, da adoração. Elas permeiam nosso
campo astral, vivem nos porões do nosso universo psíquico. O diferencial é que
talvez essas forças passam por um processo de integração. Nos convidam para uma
integração. Nada fácil, nada tranquila, mas que temos desenvolvido há milênios
e estamos nos minutos finais. Finais de que?
Os
cristãos esperam o fim desde o início. Poucos séculos, décadas depois da
crucificação e a ideia de fim já estava rolando na cabeça dos fiéis. Já se
passaram dois mil anos e ainda não começaram, nem terminaram, viraram o início
do fim, o pior do que se pode ser. O pior, porque não honram a vida, o viver.
Tudo vira pecado, culpa, remorso, dor, sofrimento, cansaço. Tudo se faz morte antes de ter sido vida. Uma tristeza de
quem ao nascer já espera o fim, sem saber quando ele vem, quando ele chega e
nessa ânsia, mortificam-se todos os dias, o dia todo.
Por isso
é tão complexo mensurar esse fim. Historicamente, podemos deduzir que o mundo
não acabara como pensamos. Nem em fogo, enquanto bomba atômica, nem em água
estritamente física, se bem que essa é mais possível. E, saindo dessa
perspectiva talvez possamos abrir o campo do simbólico para pensarmos esse
termino como RENASCIMENTO. Fogo e água nesse sentido mais profundo e simbólico
denota renascimento, transformação. Uma transformação que acontece a todo tempo,
o tempo todo, desde que a pessoa se permitam a fusão do início sem temer o fim.
Talvez seja esse batizado com água ( João Batista, Ganges) e com fogo ( Kristo,
Krishna) estejam nos ensejando. E, isso já está acontecendo com forjas cada vez
mais fortes. O fim não é escatológico, porque o início é agora, a qualquer
tempo, a qualquer momento. Num ato de graça, num encontro da intenção
vocacionada com o ar, com o fogo, com a terra, com a água, o milagre acontece.
A transformação ocorre. Da água em vinho, da lepra em cura, da cegueira em
visão, de 5 pães para a multidão, do pão em corpo, do vinho em sangue, do homem
em deus. A integração se dá no agora, onde quer que esse agora seja, esteja.
Ele se faz e não há fórmulas para a Graça. Não se controla o sopro do espírito
que leva e conduz o filho do homem.
Então há forças de prontidão para
impedir e inviabilizar aqueles que desejam e pleiteiam o fim. Essas forças agem
pelo intermédio de nossas vontades, intenções, quereres. Podem agir a revelia de
tudo isso, mas agindo assim, elas perdem aquilo que as diferencia: o respeito
sagrado pelo outro ser.
Creio
ser importante salientar que essas forças são físicas. Necessito abrir um
parêntese para destacar essa ideia.
Compreendam
que os abutres existem e se alimentam de nossos medos, frustrações, raivas,
intolerâncias, ódios. Essas forças não são físicas, pelo menos não no sentido
de criação. Por mais dualistas que somos e tentamos pensar o bem sempre ao lado
do mal, a luz ao lado das trevas, aqui estamos falando de outra ordem das
coisas. Num entendimento superficial da física não se distingue matéria de
energia. Uma e outra são intercambiáveis. No entanto, os abutres só ganham
densidade, condensação, materialidade na alimentação desses atributos que
mencionei acima. Essas forças por si mesmas não tem constituição material. A
materialização delas demanda a soma de todos os medos, exclusões, ódios,
rejeitos mentais do nosso ser.
Por
incrível que pareça, as forças de prontidão são físicas, visíveis, atuam no
invisível. A cultuamos como se fossem entes distantes, lendários, mitológicos,
sobrenaturais. E isso é como se restringíssemos a força de atuação delas. O
belo. O bem. O amor são existências concretas, independem da matéria para
serem. Expressam nela também, mas independem dela. O amor existe, naturalmente,
sem demandar esforço, oração, simpatia, caridade. Ele é a expressão natural da
vida. Porém, nós invertemos isso. A maioria das religiões pentecostais cultuam
mais o temor ao diabo do que o amor de Cristo. A teologia da prosperidade
ensina mais a miséria dos abutres do que a Graça divina. Invertemos as coisas. Invertemos
a lógica e fomos dando materialidade as trevas, aos abutres. Fomos dando
densidade, materialidade a atributos que só existem enquanto ilusão, perversão
daquilo que somos. Talvez aqui seja o Armagedon, enquanto representação de uma
luta de cada um de nós contra as próprias crenças, contra as nossas trevas.
Volto a
me repetir, enfatizando que sombras é diferente de trevas. Luz e sombra são
opostos complementares. Trevas é o resíduo excretado disso. Esse resíduo
excretado tem, basicamente, duas fontes, uma que vem da integração e
naturalmente deixa um resíduo, facilmente identificado e transformado. Dois, da
ignorância, do desconhecimento das nossas sombras. Os abutres se materializam a
partir dessa ignorância. Alimentam-se, nutrem-se, dessa materialidade espúria,
dessa redução do homem a pó, a corpo. Dessa redução do agora ao depois de
amanhã, da vida terrena ao paraíso. As trevas se insinuam, seduzem, persuadem
em muitos segmentos, lugares. São joio infiltrado no meio do trigo
Pois
bem, quando permitimos, ou melhor, quando votamos em Trump, Bolsonaro e
similares somos nós dando materialidade aos abutres que existem em nós, que
também sou eu. O preocupante é que o alcance das minhas trevas é o quarteirão
do meu bairro, são as dezenas de pessoas com quem convivo diariamente. Já
quando sou alçado a astro pop, a ídolo do esporte, a vereador da minha cidade,
deputado do meu estado, presidente da minha República/país, eu amplifico o
tamanho da minha maldade. As trevas se condensam em torno de um lugar, de um
ser. Esse ser pode desencadear a força dos abutres em muitas direções. Impingir
uma lógica de carniça como sendo a de um banquete. É assim que nós encontramos.
Dispensamos natureza, amor, família, fraternidade para nos regalar com
tecnologia sem alma, asfalto, esgoto a céu aberto, competição desenfreada.
Acreditamos mesmo que viver na favela dos grandes centros, comendo fastfood,
quando se tem algo para comer é mais prazeroso, verdadeiro, do que comer arroz,
feijão, angu e couve plantada e produzidos nas zonas rurais.
Todavia,
longe de culpar nossos dirigentes, individualmente e exclusivamente, é
importante que saibamos e nos conscientizemos que eles são fruto e somatória de
nossas esperanças tristes, frias, materialistas, egoísta, mesquinhas, tolas,
fúteis, quase inúteis. Em verdade, inúteis a propósitos maiores que nos
conectam e nos interconectam a vida.
O texto não tem o objetivo de pedir oração, vibração, porque muitas trevas são geradas
por aqueles que não percebem as próprias sombras. Por aqueles que focados numa
concepção de bondade, de luminosidade, cegam e queimam a todos que estão a sua
volta.
O
objetivo do texto é nos convidar a não temermos nossas sombras e a abraçá-la, acolhe-la.
Seja com raiva, seja com dor, seja com medo, seja com briga. Acolher a sombra.
Nossas dores, feridas, ressentimentos. Frustrações. Acolher partes nossas
preteridas, abandonadas. Sermos carinhosos para recebermos as dores, as feridas
do outro e a consolarmos.
O
objetivo do texto é nos convidar a sermos sinceros com o que pensamos e
sentimos sem nos condenarmos por isso. Os abutres se alimentam da culpa, do
remorso, da negação. E a sinceridade dissipa a atuação e a influência desses
seres. Eles se esvaziam. Perdem o ar e deixam de ser, de estar. Abandonam nosso
ser, não porque viramos luz e sim porque aceitamos nossas sombras.
As
trevas é o que se esconde da luz por medo e das sombras por vergonha e identificação. Ela
mesma não resiste nem ao acender do pau de fósforo e menos ainda ao
reconhecimento de que sombra não é treva. Sombra é parte integrante da luz.
Igual árvore é copa e raiz. Ser integral é composto de luz e sombra. É esse reconhecimento
que nos movimenta existencialmente.
É esse movimento que consolida níveis
dimensionais que muitos deslumbrados ficam repetindo sem compreender a
importância e o significado. Ser da 1ª ou da milésima dimensão só implica na
consciência e na responsabilidade de saber os limites da sua luz e o
alcance da sua sombra. É essa consciência que altera estados dimensionais. Os
deslumbrados falam de seres da 5ª, 6ª, 7ª, milésima dimensão sem compreenderem
que a maior parte dessa escala está sendo dado pela idolatria, pela ilusão que
os abutres incutiram em nosso sistema de crenças.
Dessa
forma nossa oração é nosso ato. E, todas as vezes que eu penso em mim em
detrimento do outro e do todo, estou sendo trevas e alimentando as trevas. Os
votos que elegeram e tem elegido uma grande parte dos dirigentes mundiais
tiveram essa característica. Ou quem em sã consciência pode afirmar que Qasem
representa o melhor de um povo? Que o voto em Trump foi pensando no outro e no
todo? Que se elegeu o capitão por sua consciência moral acolhedora? Esses votos
são a expressão de nosso individualismo, dos nossos medos, das nossas frustrações.
Esses votos condensam a esperança medrosa de que algum ente material, numa
posição de destaque pode consertar e salvar o mundo. Esse voto representa a
tentativa medrosa de que um ente vai nos salvar. Esse recrudescimento, esse materialismo
impossibilita a Graça de realizar a transformação, a magia, o milagre em cada
um de nós. De sermos aqueles que em harmonia com o todo, beneficiam o outro e
aos envolta.
Não
poderia deixar de registrar que esse texto é fruto de uma ‘conversa’ que tive
com uns seres quando estive em Santana dos Montes com a Vênus Negra.
Olhando
para o céu no dia em que chegamos percebi naquele silêncio da noite estrelada,
algumas movimentações luminosas, que se davam em formação. Como não conhecia e
nem sabia quem era, não dei muita trela, mas ao tomar banho, um ser com uma
cabeça similar aos caras que chamo de cabeça de skate, se apresentou para mim. Eu
os chamei de homens pássaros e parte do que se segue tem uma relação com o que ‘eles’
transmitiram e sonhei pelas duas noites que lá estivemos. Uma hora volto a
isso, mas fica o registro.
A imagem tem pouco ou nada a ver, apenas as asas. A cabeça era próxima a de um falcão. O tamanho era em torno de 1,90/2,10. Parecia ser masculino. O rosto era sério. Tinha na face algo que parecia plumagem, barba. A energia era severa, brava, minha forma de definir seriedade, austeridade. Nem ele e nem eu estavamos desejosos da conversa. Ao mesmo tempo um sentimento de liberdade. É o que dá para trazer agora. Não vou entrar na energia, continuo não querendo contato, por não saber do que se trata.