Nossos grandes sociólogos,
especialmente e provavelmente, o maior de todos ao lado de Gilberto Freire,
Sérgio Buarque de Hollanda, nos viu como homens cordiais. Em obras como casa
grande e senzala e Raízes do Brasil os renomados autores e pensadores
apresentam e descrevem um país cordato, um sujeito cordato, mas a
historiografia mais atualizada mostra que não fomos bem isso. Assim, em
oposição a esta visão apresento a de Nélson Rodrigues que nos diz: “o
brasileiro é um furioso nato” e a historiografia nos dá conta de uma proporção
de quilombos que até então não se tinha registro, e mais importante, abre nossos olhos para uma constação obvia e que escapou a geração de historiadores: se
negros e índios sempre foram dóceis e meigos, por que tantos castigos?
No entanto, mesmo furiosos, a fúria
nossa de cada dia não é a mesma que vemos na Argentina, no Chile, na França,
nos países árabes, ou seja, a nossa fúria não é social, não é coletiva, não é
plural. A nossa fúria não alcança essa modalidade, porque isso necessita de
identidade e como vimos no post abaixo, a nossa identidade é sempre uma negação.
O bonito em nossa identidade é não mostrá-la. O branco brasileiro se acha
europeu. O negro brasileiro é um personagem do século XX, talvez da década de
70 para cá. O mesmo Nélson Rodrigues nos declara que o único negro brasileiro era Abdias do Nascimento e Pelé era quase o anti-negro. O índio brasileiro é uma fantasia romântica à Peri de Jose de
Alencar. As afirmações de negros e índios enquanto legitimas ao espaço de poder
é recente e ainda assim, fratricidas. O branco brasileiro não enxerga
desigualdade racial. Às vezes, ele percebe a social. A de gênero ele nunca ouviu
falar. De forma que a nossa fúria é sempre voltada contra o mais fraco e
aqui já não importa mais sexo, raça, gênero, opção sexual; a covardia se volta
contra o mais fraco.
Quero pensar que o policial
humilhado em serviço, seja pelas condições de trabalho, seja pelo superior que
nem precisa ser de uma patente tão mais alta, pelo bandido que ri e insulta a
farda que ele veste, ele não se rebela contra as condições, nem contra o
bandido, nem contra os superiores. A ação dele se volta contra os filhos,
contra a esposa, contra o sem teto, o grevista, o sem lugar. Diante desses, ele
se apodera de uma valentia, ele se apodera de uma fúria, de uma legitimidade,
que espanca, curra, ameaça, tortura. Como eles são todos os outros.
A elite do nosso país acredita até
hoje, que o país é deles. Eles são mais brancos, mais civilizados, mais
europeizados do que o restante de nós e nisso renegam nossa africanidade, nossa relação intrínseca com o legado indígena. Eles até hoje, nunca fizeram nenhuma
concessão, porque acreditam que estar entre nós já é a concessão a ser feita.
Eles não perderam um metro de terra, não perderam nenhum dos brasões, não
cederam nenhum bem cultural, simbólico, nem educação para o povo eles acham que
devem dar. É a elite mais perversa, mais anti-democratica, mais corrupta e
corruptora de todos os povos conhecidos. Porque, na maioria das elites, o crime
de traição a pátria era motivo de exilamento e morte, mas entre nós, colocar-se
ao lado da pátria é motivo de desonra. Ser confundido com um preto, um índio é
uma ofensa gravíssima. Carnaval, futebol são palavrões que eles ignoram, mesmo
quando se exibem fazendo uso dos símbolos que eles negam, renegam e tripudiam.
Nada ilustra isso tão bem quanto a
copa a ser realizada no Brasil em 2014. Ricardo Teixeira, Nuzman, governadores,
empresários passaram a se interessar por esportes. Disseram até que não haveria
um centavo do governo federal. Funcionários sem aumento, Minas acusando
problemas financeiros, logo Minas, do choque de gestão, esta em congestão para pagar o piso dos professores, dos policiais, dos trabalhadores da saúde. Eles vendem a paixão
nacional para o capital estrangeiro e nos curram. Em suma, eles se fazem
brasileiros para se alçarem enconomicamente mais próximo a elite europeia que
eles desejam ser e freqüentar.
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