A
história de Aladim nos é famosa. Narra desde a desobediência do mortal em
seguir a profissão do pai (alfaiate), até o encontro dele com um mago que lhe
fala de uma lâmpada maravilhosa. Ilustrativamente simbólico, a estória conta
que na procura pelo gênio (djin), ele deve entrar em uma caverna, gruta, um
local profundo, escuro, debaixo da terra.
Inesperadamente,
aprisionado dentro da gruta pelo próprio mago, tropeça na lâmpada mágica. A
mesma encontra-se empoeirada e ao ser esfregada pelo mortal desperta o gênio
adormecido de dentro dela, lhe assegurando o direito de fazer três pedidos, quaisquer
que fossem. Ele escolhe ser príncipe e se casar com a filha do sultão. Em
síntese, ele se apodera de uma vida e de um destino além do dado pelo seu pai e
por sua tradição. É também dignamente importante, salientar que a profissão do
pai, alfaiate, tem a simbologia do alinhavaamento, similar ao das Moiras.
Em
representações mais atuais, o gênio é despertado depois de mil anos e sai de
dentro da mesma, com um ar de tédio e preguiça. Um dos significados que podemos
dar a isto se relaciona a inconstância do uso que fazemos dessa força, da
inabilidade que ela nos provoca e nos remete.
Mas,
antes de abordarmos isso, quero falar que a história é mágica e tem muitos
sentidos. O que escolho nesse momento, nasce de uma conversa que tivemos com
Luís Soares. Nosso amigo quis ver e apontar o gênio da lâmpada como uma das
metáforas mais ilustrativas da força dos Exus. Sim, ele comparou exus a gênios
da lâmpada. Mas, se a comparação realizada via psicofonia se fez imediatamente
clara e evidente, agora, quando tento escrever, tenho que tentar expor as
categorias que aproximam um e outro, sucintamente, seria: ambos servem
fidedignamente aos seus donos, mesmo que isso possa ser contra o próprio dono.
Paradoxal? Sim, o é. Mas é que ambos manipulam, tratam e realizam desejos e
algumas vezes, os nossos desejos, nos machucam; o que não impede de tê-los
atendidos. Quer me parecer então, que a relação posta por Luis, gravita na
dimensão do desejo. No uso, na consciência e inconsciência que temos daquilo
que desejamos, queremos, sonhamos. Exus, como gênios da lâmpada, realizam esses
nossos desejos esta seria a similitude que abordaremos.
Desejos,
geralmente, envolvem aspectos de nossa personalidade, que não gostamos de
verificar, de saber que temos: ciúme, raiva, inveja, medo, ódio, rancor,
perversão, outros. Desejos que fomos ensinados desde pequenos a não ter, a não
sentir, a achá-los feios: cobiça, inveja. Mas, de modo geral, são esses desejos
que proporcionam a capacidade atrativa, manipulativa dos exus moldarem o real.
É engraçado percebermos sentimentos como energia, mas o são, e esses que tem
vibrações mais baixas (enquanto vibração e não moralidade) são os utilizados
pelos gênios para transformarem a realidade. Sim, os exus são peritos e especialistas
em criar realidades a partir dos nossos desejos. São notórios os casos de bala
que mascam, de carros capotados nos quais as pessoas são retiradas de dentro
ilesas. Na literatura umbandista diz-se que os realizadores desses e outros
feitos, são os exus. Mas não realizam apenas estes. É comum ouvirmos a
expressão: “surra de santo” referindo-se as dificuldades que o médium esta
passando pelo afastamento, ou não cumprimento de suas obrigações.
No
entanto, como poderia um exu congelar a vida de uma pessoa, promover a ruína
financeira, sexual dela? E como poderia garantir a pessoa sucesso nesses
setores? Quais forças estão em jogo?
Parece que o desejo é a chave de leitura e de entendimento não apenas da força
dos exus, mas da sua capacidade de ser utilizado como gênio da lâmpada. Mas
estamos prontos para lidarmos com nossos desejos? Sim ou não, seremos e somos
atendidos.
De
todo modo, os exus nos auxiliam a organizar esses espaços internos da nossa
psique. Nos permitem orientar mais sabiamente o universo ao nosso redor. O que
não deve fomentar a ilusão de que é devido a oferenda que realizamos, ou ao
pedido que recebemos na gira que o sol nasceu na manhã seguinte.
(Continua....)
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