À uma
amiga
No
facebok corre um post, entre as mulheres apaixonadas, que mostra duas pessoas e
uma mesma gominha esticada no dedo de ambos, com os seguintes dizeres que podem
ler ao lado. A imagem, assim como a frase é ilustrativa para o que desejamos
escrever, porque retoma a singeleza do amor no seu aspecto mais lúdico,
infantil, espontâneo, terno.
Extrapolando
a imagem, insinuo que a brincadeira retoma uma parte da infância, que será
primordial para o restante da vida- a confiança. Não há relação que se construa
sem confiança. E não importa a idade que temos, todas as vezes que alguém trai
a nossa confiança, alguma coisa em nós retoma a fragilidade infantil, a
ingenuidade. Lidar com essa fragilidade não é fácil em nenhuma época, em nenhum
momento da vida, seja ela adulta, juvenil, sênior.
Assim,
na brincadeira de gominnha (e creio que todos nós brincamos) mesmo quando a
usávamos para acertar o outro, ali se estabelecia uma relação de troca. Nessa
direção chego ao ditado popular que diz: “se um não quer dois não brigam.” Pura
verdade! Mas o que tenho observado na clínica é que: se um não quer, dois não
se amam, não ficam juntos, não se relacionam.
E isso
é a parte dolorosa das relações, sejam amorosas, ou não, é que basta apenas um
dos parceiros não querer mais para que tudo acabe, se finde, termine.
Lidar com essa fragilidade não é fácil. É de fato complexo. Uma das
grandes tensões da relação consiste nesse voto de confiança tácito e mutuo: não
largue a corda. E quando alguém larga, isso é frustrante demais.
A
frustração é a de que simplesmente não temos controle sobre a vida do outro, os
sentimentos, pensamentos e emoções dos outros. Mais igualmente frustrante é
saber que mesmo amando, gostando, o outro já não sente mais o mesmo e não há
nada a ser feito a não ser aceitar o término. Mas como se aceita isso? Como se
aceita que a qualquer momento, no ápice da brincadeira, o parceiro (a) pode
desistir, dizer que não quer mais, que cansou? Essa sensação de impotência
dilacera a alma, corroi as entranhas, amargura a vida. A pessoa olha para todos
os lados em busca de uma explicação, por que eu?
Novamente,
a clínica tem me mostrado que ninguém aceita Altas no amor. Um pedido tão
natural e tolerável nas brincadeiras da infância. Quando no amor, ela se faz
inaceitável. Em nossa concepção o outro não tem direito a rendição. O outro está
fadado ao compromisso eterno até que a morte os separe. Não quero entrar nessas
divagações. Nessas que tentam mostrar o outro lado, isto é, o direito que todo
ser humano tem e deve ter e infelizmente até fazer uso, de desistir, largar,
soltar, não querer mais. Mas, quero retornar na dor do não, a negativa amorosa.
Afinal,
como sobreviver depois dessa recusa? Como não olhar para dentro de si mesmo e
tentar encontrar onde errou? Como não sentir-se culpado (a)? Como não se
condenar pela perda de tensão e interesse do outro e ao mesmo tempo não
amaldiçoá-lo por ter desistido?
Muitas
partilhantes chegam até mim procurando essas respostas. Elas chegam trazendo
uma fenda n’alma. De modo que muito mais
do que uma resposta para essa cicatriz, elas querem um remédio que atenue a
dor: ora da falta, ora do orgulho, ora da vaidade, ora da rejeição, ora do amor
mesmo.
E a
tristeza é que não há receita, não se tem remédio pronto, não se tem uma
dosagem predeterminada e pré-estabelecida. Mesmo porque a dor advêm de uma
fenda que é anterior a relação. E essa fenda quer ser vista, percebida, notada
que há uma dor e para remediá-la tem que olhá-la nos olhos.
A única
dica que atrevo a passar é que nesse momento de fragilidade não aceite
respostas fáceis, respostas prontas. Não aceite nada menos do que a verdade por
mais que ela machuque e maltrate. Trabalhos não trazem a pessoa amada e por
amor a si mesma, a vida, ao outro, ao amor, nada é menos amoroso do que o amor
obrigado, sem vontade. Então não aceite essa resposta pronta e mal acabada. Tão
pouco se sujeite as caricias fáceis, daqueles que esperam sua fragilidade para
ter aquilo que nunca deu quando estava centrada.
Sugiro
que procure uma amiga (o) que te escute. Que esta amiga não fale nada, não diga
nada, apenas fique ao seu lado. Ora passando a mão nos seus cabelos. Ora,
tomando um porre juntos. Ora falando mal de todos homens, amaldiçoando a todos.
Até que um vento silencioso e misterioso traga a certeza de que não ira morrer
pela falta dele (a). Até que o coração esteja aberto para receber uma flechada
misteriosa que vai lhe fazer pegar outra gominha e começar uma outra relação.
No
mais, minha amiga, me parece que tudo é muito fácil e muito falso.
Bjs
para vc!!!
É mesmo interessante como um mesmo texto pode ter diversas interpretações. Certo dia o meu psicanalista sugeriu uma reflexão sobre o tema, com a seguinte pergunta: você já reparou o número de mulheres que são arrimo de família? O que nos remete a fala das nossas avós: "antes sós do que mal acompanhado"....espero que este mísero comentário possa ajudar a sua amiga...
ResponderExcluirCreio que ajuda sim. Ajuda sempre. Cada vez mais importante a roda de conversas entre vcs/mulheres, falando desses temas. Conversando entre si.
ResponderExcluirBjs querida!!