A
frase é lapidar. O autor dela é nada mais e nada menos do que o mais recente e
popular falso profeta do momento- Luís Pereira do Piauí. A frase explicita de forma muito clara o que
é o radicalismo religioso, a fé cega e os seus perigos.
A
frase esboça o desequilíbrio, o desrespeito, o descompromisso dele para com o
que pregava, falava, dizia, fazia. A isenção que ele se deu de toda e total
responsabilidade pelos desatinos cometidos é similar a realizada pelos
banalizadores do mal. Por estes quero entender mais diretamente aqueles que como os nazistas em tribunal alegavam
solenemente: “estava cumprindo ordens!!”
O
profeta do sertão banaliza sua crença, suas convicções ao alegar que Deus se
equivocou. E não estou fazendo nenhuma defesa de Deus, pessoas sérias sabem que
de quando em vez, ele se equivoca, ou melhor, escreve certo por linhas
completamente tortas (pelo menos aos nossos olhos). Não é sem razão que muitos
comparam o reino dos céus a um êxtase regado a vinho e dizem que o reino dos céus é para as
crianças. Pode parecer contradição, mas é continuidade; ou melhor, é um
ziguezague no qual muitos não acompanham. A alegria, a ingenuidade, a proteção
que os céus dão aos bêbados e as crianças, justamente, por estarem com a consciência em
outro lugar, depositada na certeza de que algo as projete e as ampara, mesmo
que elas não saibam, não peçam proteção e amparo.
Mas,
no caso do profeta, ele não esta dialogando com a brejeirice do menino Jesus,
tão pouco esta mirando o voo ébrio do espírito santo, o profeta esta imbuído da
fúria do Deus do Velho Testamento. Mais do que risadas, ele apregoa o ranger de
dentes. Mais do que a graça, ele apregoa a condenação eterna. Mais do que o
amor incondicional, ele prega o proselitismo. O falso profeta é igual a tantos
outros cuja única diferença é: não dizer que é maior que Deus, e nem marcar
data e hora para o fim dos tempos. Fora isso os encontramos nos púlpitos de
milhares de seitas, igrejas, templos, terreiros, salões, casas. A única
diferença é que o declarado e laureado falso profeta anunciou dia e hora para o
fim do mundo e ousou dar voz àquilo que deveras sente: ser maior e mais certo
que Deus. A arrogância deles sabe disso, mas a esperteza jamais vai permitir
dizê-lo. Nunca dirão o que realmente pensam, a não ser quando entre eles.
Em
outras, não é Deus que se equivoca e sim a certeza do profeta. Junto a certeza
do falso profeta equivoca-se os bons e os justos que aguardam com ira e
impotência a solução dos seus problemas reais e concretos. São eles que
aguardam que Jesus venha salvá-los, mas não sem antes rir, zombar, tripudiar, indo
de casa em casa dos inimigos dos eleitos lhes cuspindo na cara. Mais do que avivamento, ressurreição,
graça, libertação, salvamento, eles desejam vingança. É isso que é para eles
difícil de assumir. Estão ligados pelo ódio, pela fúria, pela raiva. Eles
querem que o mundo acabe, termine, mate a todos, destrua tudo. Um mundo que sobre apenas
eles. Mas, e quando eles sobrarem? O que eles farão? O que serão? Juro, que
prefiro o lado entre os mortos do que junto aos salvos, aos proselitistas. Deus me
livre dos bons, creio que era essa oração que Zaratustra fazia na montanha.
E
em certa medida é isso que os falsos profetas oferecem- vingança. Viram Avenida
Brasil? Não foi isso que arrebatou a massa? A menina sofrida se vingar da
madrasta cruel? Não é isso que todos os falsos profetas oferecem- poder rir no
final daqueles que não creram? Vingar-se daqueles que não acreditam? Esses que
seguiram o falso profeta não reelegeram um dos anões do orçamento? E alguém
duvida que se fossemos de novo para praça e tivéssemos que escolher entre Jesus
e Lampião, não faríamos deste, um nosso novo Barrabas?
Mas,
a moral da história é que tudo seria cômico não fosse trágico. E a tragédia aos
meus olhos é a nossa ingenuidade, a nossa confiança e crença numa redenção
fácil alcançada com dia e horário marcado. A tragédia é tomarmos
vinho e ao invés do êxtase termos apenas o porre. Sermos infantis enquanto
acredita-se que esta sendo criança. Tal diferente é uma coisa da outra. A criança é sempre pura, sem mascara. A criança é um estado de ser e não uma
faixa etária. E é um equivoco acreditar que crianças confiam em qualquer um. Sendo que, de
igual sorte, há uma diferença entre o êxtase sagrado e a embriagues, embora aparentemente, ambos, remetam a celebração.
Em
suma, os falsos profetas são os aliados mais preciosos para que o mal floresça
e prospere, porque ao invés deles ensinarem o amor, eles ensinam o medo, a
fúria e o rancor. Pena e tristeza de quem os segue.
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