Dia
desses via um filme que chamava Palavras e Imagens. É um filme belo de muitas metáforas,
de muitas provocações entre os artistas principais, a saber: uma artista
plástica e um poeta. Vendo o filme viajei por mil caminhos e searas, mas após a
aula de hoje 2/12/2015, minha escrita repousou na sacralidade da palavra e na
banalidade das suas interpretações. Na verdade, não abordo quase nada do filme
e foco mais a sala de aula.
Jovens
lindas me diziam com amor e orgulho da submissão da mulher ao marido. E a
submissão não era porque o marido estava correto, era um homem correto, menos
ainda pela sabedoria dele, ou até mesmo por amor. A submissão era pelo marido
ser macho, ter nascido com pênis. A submissão era a de que Deus, mais
precisamente YHVH, juntamente com seus profetas, recebeu uma interpretação
machista, sexista, por vezes, racista e homofóbica dos seus exegetas. Mas,
disso eu falo no final, agora eu preciso falar da palavra.
Hoje
a gente digita, abrevia, lê, traduz uma palavra para qualquer idioma em menos
de segundos, mas houve tempo em que a palavra era sagrada. Houve tempo que a
escrita era mais um desenho. Era uma imagem, um hieróglifo, um ideograma e
nesse desenhar (mais do que escrever) acreditava-se que a palavra era a coisa.
Heidegger filósofo alemão do século XX, no seu o que é isso a filosofia, fala belamente dessa relação entre os
gregos e para os gregos. Assim, gregos, egípcios, hebreus, caldeus e tantos
outros acreditavam que aqueles que conseguiam transformar as coisas e
expressões em palavras eram um tipo de semideuses, pertenciam a uma hierarquia
diferenciada de homens, de seres. Eles eram magos, ou como prefiro chamar:
poetas/artistas.
É
claro que ler uma poesia é adentrar nas imagens que o poeta nos desvela em seus
versos. Seria fantástico poder desenhar as imagens que o poeta visualiza, mas
este escolhe a palavra para desvelar seu mundo, escolhe o verbo a palavra lhe
dando imagem e lhe criando efeito; ele se faz mago por excelência.
I- O Poeta é um Mago
I- O Poeta é um Mago
O
mago é aquele que compreende a transcendência do mundo. O poeta (artista) é
aquele que realiza a transubstanciação do mundo. É aquele que consegue dar
movimento a essa transcendência.
No movimento interno e psíquico do seu mundo,
ele altera a ordem e as coisas do mundo mesmo. Com uma palavra, mais que nomear,
ele desconstrói e transforma uma coisa em outra e nessa desconstrução, outros
espaços mentais e físicos são criados. A partir dessa criação os mortais podem
co-habitar novos mundos e possibilidades tanto de espaços internos quanto de
espaços físicos. Conseguem visualizar essa imagem? De uma única palavra
invadindo seu campo mental, mudando seu estado emocional?
Para
os hindus essa transformação é som, é eco, é MANTRA. É OM. O som primordial que
fundamenta toda criação. Já para os hebreus essa construção é de fato verbo,
que assim se diz: “E Deus disse: haja luz e a luz se fez”. Uauuuu!!! Conseguem
ver essa imagem? Esse clarão que cega, essa luz que liberta? Consegue
visualizar essa luz abrindo espaços infinitos na escuridão, seja a escuridão
física, seja as morais, intelectuais? Conseguem sentir o hálito do criador
saindo nessa torrente de luz?
Sou
um dramaturgo. Consigo imaginar essa cena. Consigo ver e me maravilhar um
milhão de vezes com a encenação desse ato: HAJA LUZ!! A beleza dessa imagem é
deslumbrante. Transborda meu ser em espasmos, em orgasmos. É lindo, como tudo
que se sucede depois. A beleza dessa fala é a beleza poética de um mago, de um
demiurgo, de um Deus criador de espaços físicos e mentais. Um criador de
estados psíquicos e intersubjetivos. Eis o EDEN, a planície transformada em
paraíso.
De
modo que, o paraíso não está num lugar, nem deixou de estar. O paraíso é o
estado de um ser que se abriu para que todos entrassem, habitassem. Mas, mesmo
dentro do universo de um criador, a criação não para ou cessa. E Adão e Eva e a
serpente criaram um enredo dentro do criador. Um enredo que não cabia na trama
traçada, mas é igualmente bela, igualmente linda. Mas, como compreender isso
sem criar? Como compreender a beleza do Haja luz e a luz se fez sem ter tido
por um segundo uma faísca na alma que afugentasse todo medo e todo temor? Como
impedir novas tramas, novos Adões e Evas senão instaurando o medo, o temor, o
castigo e a culpa? Como coibir os espasmos de amor infinito senão culpando o
ato sexual e a mulher que gera a vida em si mesma por todo co-criador que ousar
ser?
Como
impedir a luz do criador senão instituindo que só há uma fonte de luz, a
PALAVRA SAGRADA!!?
II- A Semente é uma Imagem.
Sim, é na instituição da palavra sagrada, repleta de esterilidade que a palavra morre, se perde. O mestre falava por parábolas e uma das que ele usava de modo até redundante era a da semente. Aquele filho de carpinteiro compreendia que a vida não para, não cessa, se reinventa, se transforma. A semente só pode ser o que lhe é destinada, se ela morrer para nascer. A semente é a prova diária e constante da ressurreição, da transformação, da magia. A semente é a mensagem plantada no Evangelho.
Sim, é na instituição da palavra sagrada, repleta de esterilidade que a palavra morre, se perde. O mestre falava por parábolas e uma das que ele usava de modo até redundante era a da semente. Aquele filho de carpinteiro compreendia que a vida não para, não cessa, se reinventa, se transforma. A semente só pode ser o que lhe é destinada, se ela morrer para nascer. A semente é a prova diária e constante da ressurreição, da transformação, da magia. A semente é a mensagem plantada no Evangelho.
Na
verdade, as boas novas é o reino dos céus compreendido como semente, como algo
que necessita morrer para germinar. É na metáfora da semente que o início e o
fim se une. O jardim do Éden e o jardineiro das almas nos faz renascer. É na
metáfora da semente, que a ressurreição se faz magia, poesia, vida e
encantamento.
Eis o único sagrado da existência. Compreender que o mundo não
está na palavra e sim além dela. Compreender que a transformação se dá e se
realiza na negação, na desobediência, até que uma força maior nos conduza e nos
direciona. Eis o único sentido da submissão.
A
submissão, no seu apelo sagrado, não nasce de um medo, nem de uma dor, nem de
uma espera. A submissão nasce de uma renúncia, de uma luta. Jacó luta contra o
anjo do senhor por quase uma noite e por travar essa batalha ele passa a ser
conhecido como Israel. A submissão dele não vem de um temor, do medo, ou até
mesmo do respeito, não; a submissão do patriarca vem da luta que sua alma
lutou, com toda sua força, com toda sua coragem, com todo o seu ser e ainda
assim não encontrou vitória, mas ele ganhou. Ganhou a si mesmo e a Deus como
parceiro. É pela luta que Jacó recebe a benção do anjo do senhor e nessa luta
ele recupera a confiança, a fé, na providência divina. Ele obedece, porque ele
sabe que esse ser jamais vai fazer alguma coisa que o prejudique. Nesse momento
poderíamos falar de Jó, mas nos perderíamos. É em honra a sua luta que Jacó é
alçado a Israel. Seu nome, sua vida, sua história, sua descendência é alterada,
não porque ele submeteu e sim porque ele lutou e após a luta conseguiu o
respeito do seu Senhor e como transcendência, ele deu a única coisa que podemos
dar aquele que criou todas as coisas: gratidão. Ou se preferirem submissão.
III- A luta de Jacó como metáfora da submissão.
III- A luta de Jacó como metáfora da submissão.
Mas,
é importante perceber que a submissão concedida pelo anjo em nome de YHVH tem
uma relação direta com a luz, com a capacidade criadora, afirmativa da
existência. O princípio da benção concedida ao patriarca não vem da obediência,
do temor, pelo contrário nasce do desafio, da rebeldia, da luta, do
inconformismo. É somente após essa luta que a submissão faz sentido e a benção
pode ser concedida.
Todavia, tudo isso se perde, quando as pessoas se prendem na palavra. Elas se voltam a Moises, a Jesus como se eles tivessem sido obedientes. Como se eles tivessem cumprido as palavras e as imagens. O filho do carpinteiro jamais seria Cristo se seguisse as palavras e a tradição. O salvo das águas jamais seria o libertador do seu povo se fosse obediente as tradições do povo egípcio no qual ele foi criado e educado. Jacó jamais seria Israel se não tivesse enganado seu pai e desonrado Esaú. Foi por serem criadores que nos legaram o novo, o diferente, outro caminho além do dado. Mas, nós queremos seguir não a eles e sim as palavras que eles disseram num contexto específico.
Todavia, tudo isso se perde, quando as pessoas se prendem na palavra. Elas se voltam a Moises, a Jesus como se eles tivessem sido obedientes. Como se eles tivessem cumprido as palavras e as imagens. O filho do carpinteiro jamais seria Cristo se seguisse as palavras e a tradição. O salvo das águas jamais seria o libertador do seu povo se fosse obediente as tradições do povo egípcio no qual ele foi criado e educado. Jacó jamais seria Israel se não tivesse enganado seu pai e desonrado Esaú. Foi por serem criadores que nos legaram o novo, o diferente, outro caminho além do dado. Mas, nós queremos seguir não a eles e sim as palavras que eles disseram num contexto específico.
E,
eis como somos manipulados. Eis como nos tem ensinado que a benção nasce do
temor e da obediência. Eis como tem sido ensinado, praticamente, ao inverso do
que nos conta YHVH, que o temor é o caminho para benção; mas ouso dizer que não
é e quando permitimos essa interpretação nosso temor a Deus se transforma em
obra do adversário. Eis como por obediência e submissão acabamos, justamente,
por edificar a obra do adversário e não do CRIADOR. Acabamos acreditando que há
povos a ser subjugados, a pessoas a ser escravizadas, quando, na verdade, a
mensagem parece dizer e falar, primeiro a nós mesmos, depois a nossa
descendência. Mas, por extensão e não por coação e imposição. A incompreensão
da submissão como mecanismo interno e subjetivo, de uma transformação na qual
algo pessoal morre em nós para renascer alterado, modificado é o que ocasiona
as mais diversas injustiças cometidas em nome de YHVH, ou Alá, ou.... Ou é de
fato crível que aquele que nos ensinou a luta, a semente, o amor, a justiça, seja
o mesmo que apregoe que negros são inferiores a brancos? Que homossexuais são
inferiores a heteros? Que mulheres são inferiores a homens?
Quando
lideres religiosos de quaisquer denominação ensinam o desamor aos jovens, a
intolerância às crianças, a insensatez aos adultos precisamos nos perguntar:
estamos ensinando o Haja Luz e a luz se fez, ou pelo contrário, a permanência e
persistência das trevas? Estamos trilhando o caminho da benção graciosa
concedida por YHVH aos filhos da luz, ou o caminho do adversário que seduz não
com os prazeres e sim com as restrições. É outro equivoco acreditar que o
maldito repousa e habita nos prazeres, na bebida, na festa; não, ele habita na
negação da vida e do viver.
Aquele
que disse: HAJA LUZ E A LUZ SE FEZ é o criador de todas as coisas. Porque,
depois desse decreto não há possibilidade de não ser. Ou melhor, o não ser é
uma possibilidade facultada aos homens. Somente nós humanos, na negação da
nossa própria escolha podemos impedir a luz. E é isso que as religiões tem
feito historicamente. Ensinando cada um a temer ser e se fazer co-criador da
sua vida, da sua história, da sua descendência. As religiões têm ensinado a
submissão e esse submeter é um processo de esconder a própria luz. As religiões
têm ensinado a apontar com o dedo todos aqueles que ousaram criar e
desobedecer. Eu poderia falar da ovelha desgarrada, de como o Mestre nos aponta
com o dedo a direção, mostrando que a ovelha desgarrada retorna nos braços do
pastor. Mas, hoje eu quero falar da palavra sagrada.
IV- A palavra como criação.
IV- A palavra como criação.
Retomando a palavra, quero
falar de como que aqueles que conseguiam capturar a coisa em palavra eram magos
e essa foi a primeira forma de magia, a mais genuína, a mais original, a mais
primitiva. A capacidade de se pegar uma coisa e torna-la palavra, ou como nos
conta os hebreus, em verbo. Transformar em verbo. Fazer algo ser ação, ato e
potência do desejo. Imagem e movimento da vontade. Querer e ardência, isto é,
arte, é poesia. É ato criador e criativo que fecunda a humanidade. A diferença
entre uma coisa e outra é simples: quando o poeta escreve cruz, ele,
imediatamente, vê luz e ressurreição. Quando os incautos escrevem cruz, eles
veem o crucificado e ranger de dentes. Eles saem culpando a todos por não
respeitarem o sofrimento do crucificado, eles saem dizendo que ele morreu por
nossos pecados e que nós continuamos a pecar. Eles não compreendem que a
semente frutificou para além da cruz.
Por
isso eu amo a poesia. Isto é, amo a beleza com que o poeta transforma o som em
verbo. A beleza com que ele pega a palavra dada, construída e a transforma em
metáfora. Poucos disseram tão bem sobre isso como Gilberto Gil justamente em
sua letra-música Metáfora:
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
Esse
poder da metáfora, dado a um poeta é o que nos dimensiona a ficar perto do mago
do universo que apenas disse: HAJA LUZ E A LUZ SE FEZ!! Quando o homem cria, quando a mulher ama,
quando o ser humano goza, é dessa força, dessa luz que nos aproximamos. Quando
ensinamos o inverso disso, sempre me parece que estamos mais perto do discurso
do adversário do que do criador.
Assim,
falo da arte, falo da poesia, porque quero falar do CRIADOR. Se os poetas no
seu incontível conseguem essa amplitude, como o criador de todas as coisas, o
demiurgo de todos os sistemas se faz um limitado?
Agora
cheguei onde quero, onde desejo, nos livros sagrados.
O sagrado na Bíblia, no Bhagavad Gita não é o que lá está dito, mas sim aquilo que está para ser escrito. O sagrado dos livros sagrados é a compreensão criadora, ilimitada, incontível que lá se encontra e não as palavras que a escreveram, menos ainda ou tão pouco os homens que a psicografaram. A beleza da poesia está em como uma imagem, uma palavra entra na gente e nos toma por completo.
O sagrado na Bíblia, no Bhagavad Gita não é o que lá está dito, mas sim aquilo que está para ser escrito. O sagrado dos livros sagrados é a compreensão criadora, ilimitada, incontível que lá se encontra e não as palavras que a escreveram, menos ainda ou tão pouco os homens que a psicografaram. A beleza da poesia está em como uma imagem, uma palavra entra na gente e nos toma por completo.
E
assim, eu posso ouvir e ver YHVH dizendo: “não criareis nenhuma imagem minha”. Parece
que o Criador queria nos libertar de toda e completa limitação. Ele queria nos salvaguardar de não criarmos ídolos, imagens, que limitassem a expansão da luz,
que fixasse e nos prendesse apenas em um ponto, em um modelo, a uma visão. Ele combatia a idolatria, os idolatras.
Não
tereis nenhuma imagem minha, é uma aposta de que aqueles que veem irão co-criar
novos horizontes, novas possibilidades. Irão além de e não se congelarão. Mas
eis que nosso temor é tanto, nosso medo é tamanho que tememos até mesmo a
palavra criadora. E assim construímos os livros sagrados e nos agarramos e nos
pautamos a ele. Fazemos da palavra uma imagem que nos congela, nos limita, nos
restringe, com todos os absurdos, com todas as contradições que o tempo nos
proporciona.
V- Entre o quixotesco e o Sagrado.
V- Entre o quixotesco e o Sagrado.
Tudo
precisa atualizar até a Bíblia, o Alcorão, porque senão eles se transformam em
letras mortas. Se não nos atualizamos viramos aqueles que Cervantes desenhou e
descreveu tão bem lá no século XVI- Dom Quixote- O cavaleiro de triste figura.
E, porque ele é de triste figura? Por que ele não acompanhou a mudança do
tempo. Ele quer o século XII/XIII em pleno XVII. Ele é uma caricatura dos cavaleiros
andantes que já não existem mais. Ele é o sonhador perdido, confuso e
aprisionado no seu tempo interno, subjetivo. Monta um pangaré e acredita se
tratar de um alazão. Confunde moinhos de vento com gigantes. Ele é quixotesco,
não por não ser nobre, mas por não ter atualizado seus ideais de nobreza.
Essa metáfora cabe aos religiosos. Eles de modo muito similar, embora bem mais sutil, ao fixarem na palavra escrita esquecem que a beleza do livro sagrado está naquilo que não foi dito, não foi posto. A beleza repousa na capacidade de cada individuo, ou grupo, ser capaz de desvelar a metáfora daqueles ensinamentos para a atualidade, para o seu momento agora. É provavelmente por isso que as parábolas são eternas, porque elas descem do céu, tocam a terra, tocam o individuo no nível que ele se encontra e prossegue seu caminho de retorno aos céus. É diferente dos códigos de conduta, dos preceitos morais, desenhado para um povo que precisava atravessar o deserto e necessitava de ordem, controle, disciplina em todos os aspectos. É diferente de quem abre a Palavra, a lê, mas tenta dar a mesma uma significação literal, sem imaginação, sem capacidade amorosa, ou criativa.
Se não estamos prontos para alcançar a metáfora da existência que estejamos minimamente abertos para a contextualização dos códigos morais.
Essa metáfora cabe aos religiosos. Eles de modo muito similar, embora bem mais sutil, ao fixarem na palavra escrita esquecem que a beleza do livro sagrado está naquilo que não foi dito, não foi posto. A beleza repousa na capacidade de cada individuo, ou grupo, ser capaz de desvelar a metáfora daqueles ensinamentos para a atualidade, para o seu momento agora. É provavelmente por isso que as parábolas são eternas, porque elas descem do céu, tocam a terra, tocam o individuo no nível que ele se encontra e prossegue seu caminho de retorno aos céus. É diferente dos códigos de conduta, dos preceitos morais, desenhado para um povo que precisava atravessar o deserto e necessitava de ordem, controle, disciplina em todos os aspectos. É diferente de quem abre a Palavra, a lê, mas tenta dar a mesma uma significação literal, sem imaginação, sem capacidade amorosa, ou criativa.
Se não estamos prontos para alcançar a metáfora da existência que estejamos minimamente abertos para a contextualização dos códigos morais.
VI- O que é isso a submissão feminina?
Toda essa volta para dizer: como é triste um livre sagrado. Como é profano o livro no qual ninguém mais consegue ver metáforas, nem novas interpretações, nem novas possibilidades. Como é triste o livro no qual tudo já está escrito e nada mais há para se encontrar ou se entender a não ser a repetição.
Como é lamentável que pessoas sigam esses livros naquilo que eles nada acrescentam: a obediência cega. A falta de imaginação para colorir outros cenários, abrir novas portas, criar novos mundos. A sacralidade da Bíblia se dá quando trazemos YHVH para um paraíso que ele não tinha desenhado, mais o colocamos dentro da gente e ele dentro de nós. Porque desde o momento em que há luz nós somos e já éramos antes da luz se fazer.
Minhas
alunas querem se submeter ao marido, porque ele tem pênis e assim a palavra
diz. Eu acho triste, não a entrega, mas a submissão por obediência, a submissão
de quem não errou, não extraviou, não desobedeceu. De que adianta a obediência
de Adão e Eva por decreto? De que vale a servidão da mulher que não sente
desejo? De que vale a obediência e a ação de quem não tem escolha? Quer me
parecer que todo amor é sagrado e que a sacralidade bíblica nos fala da escolha
por amor, por criação.
Eu
co-criador submeto minha criação ao CRIADOR de universos e mundos na esperança
de que juntos possamos escrever o melhor para minha vida, minha comunidade, meu
grupo, o mundo, o universo inteiro.