domingo, 20 de dezembro de 2020

24 HORAS: 6º RELATO- PAI JEREMIAS

 

Salve nosso Senhor Jesus Cristo e a santíssima Virgem Maria. Deus seja convosco e em vossos lares e corações.

Quis nosso Senhor Jesus Cristo que eu viesse por parte de Pai Oxalá mandar uns recados aos irmãos de caminhada.

Andem na luz, pois ela não tem contramão.

Distribua o bem, porque ele é o eterno pão.

Viva com amor, eterna gratidão.

Jesus vos abençoe.

 

Pai Jeremias trabalha como preto-velho. Aparece-nos com um cachimbo de pau na boca, o cabelo grisalho em meio aos poucos fios pretos que restam, o olhar translucido de quem vai engolir o mundo pelos olhos. O coração sereno daquele que a todos amam e amparam. Vinte e quatro horas com Pai Jeremias é conversa de fôlego, de presença de disposição.

Responsável por ele mesmo auxilia a todos onde precisa de cuidados e orientação. O trabalho dele é um tanto diferente de todos os que lemos até agora. Ele está em vários lugares e ao mesmo tempo não está. Essa diferença eram mais sintomáticas há dez, treze anos atrás quando realizamos essas psicografias, hoje como podemos verificar muitas delas conseguem o mesmo nível de deslocamento tempo-espacial que nos serve de parâmetros para assinalarmos uma evolução consciencial deles e nossa. Hoje tentaremos atualizar o que são e como são 24 horas na vida de Pai Jeremias.

Pai Jeremias é uma entidade familiar. Até onde temos registro, ele trabalhou com minha avô, com minha mãe e acho que trabalhou também com meu bisavô. Ele acompanha o desenvolvimento da minha família, especialmente, por parte de mãe há no mínimo três gerações. E isso é bastante curioso, muito embora, eu não faça uso consciente dessas informações, desse histórico familiar que está de ‘posse’ dele. Entre aspas, porque o termo posse não se aplica as entidades que trabalham como preto-velhos, eles além da própria sabedoria não detém nada. Assim, o termo posse não diz respeito a eles. Eles são todo doação, entrega, partilha. Não tem a ver com renuncia, porque eles trabalham numa matriz oposta a do sofrimento, da expiação. A leveza deles pertence a um entendimento muito sábio e leve da vida de tal modo que a renuncia trás um peso, uma dor, que eles também não portam, nem carregam. Um ponto digno de nota é como que uma mesma entidade é entendida, recebida, vivida diferentemente por cada médium.

Minha vó tinha uma ligação mais umbilical com pai Jeremias. A ligação entre ambos era mais simbiótica, mais natural. Mina vó era e estava mais afeita as falas, costumes, trejeitos, daquela personagem/entidade. Ela o captava, o aprendia num grau mais primário de força, vitalidade, vibração, conhecimento. Por minha vó ele benzia, tirava mal olhado, cantava aquelas canções lindas e belas do cancioneiro popular. Canções que como mantras iam imantando e alterando a vibração dos lugares, das pessoas. Por intermédio da minha vó, ele conseguia ser um curador fazendo uso de raízes, ervas, mãos e tudo o que a gente compreende como sendo típico e afeito a um preto-velho.

Com minha mãe essa ligação se fazia pelo corpo emocional, via chacra cardíaco. Aquela força de terra que subia pela coluna vertebral, acendia todos os chacras, dava uma visceralidade gigantesca, minha mãe não tinha. Porém, eles acendiam uma doçura, uma compreensão do universo do outro que acalentava, curava, serenava. Pai Jeremias no trabalho com minha mãe era quase uma vó Conga e por vezes o é. É uma energia muito sutil, muito feminina, de muita doçura, leveza, AMOR. Com ela, ele não benze, não ativa muitas canções do cancioneiro, mas alcança um nível de cura profunda. Promove cura emocional de dores profundas.

Comigo pai Jeremias ativa o timo e o laríngeo. No timo a gente consegue buscar um equilíbrio entre a visceralidade da minha vó (incomparável) com a emotividade de minha mãe (inimitável). Para mim foi uma honra e um desafio trabalhar com ele, justamente pelo histórico. Não conseguiria por meu intermédio realizar metade das coisas que ambas realizaram nas poucas vezes que o manifestaram fisicamente. Ele me explicou que a gente ganharia em tempo de contato, em trabalho realizado e também no fato dele saber que cada um é um e esperava de mim a descoberta de como desenvolveríamos o nosso trabalho. E, de fato, quando abre a minha mediunidade, ele é a entidade que se faz responsável até o aparecimento de Oran (mentor espiritual). Mas, foi ele que durante muito tempo coordenou essa minha apreensão mediúnica. Pois bem, comigo pai Jeremias é um esclarecedor. Ele esclarece, lança luz as questões, situações, as desembaraçando com muito carinho, amor, porém sempre ressaltando o componente mental das nossas ações, dos nossos pensamentos, das nossas atitudes.

Assim, caracterizar o modo que cada entidade se faz diferente em contato conosco e com outras pessoas, nos leva a perceber aquilo que é nosso e aquilo que é dela. Nos mostra também o entendimento mais ou menos seguro de como o trabalho se desenvolve e se faz de forma diferente, mas igual. Realizadas essas pequenas digressões podemos voltar às 24 horas de Pai Jeremias.

Na maioria das vezes que vamos ao encontro ou somos levados ao encontro de pai Jeremias nós o encontramos em um regaço de campina muito verde, lembrando um campo, com uma casa ao fundo, na verdade, um casebre de palha e de pedra. Uma esteira, um fogão de lenha e uma cozinha bem rustica e rupestre. Legal perceber anos depois que isso é uma representação minha. Isso é mais a forma com a qual eu via e ‘construía’ o lugar, do que necessariamente onde ele fica mesmo. Quero dizer, que por exemplo, a minha mãe tivesse uma outra representação do lugar, e minha vó uma terceira. E isso é porque o lugar que um preto-velho ocupa é um espaço interno. Ele habita, ou ele adentra a nossa morada psíquica, emocional, mental, o que Alícia nos ensina a chamar de símbolos.

É nesse local que Pai Jeremias nos recepciona e nos cicerona quando o visitamos. Basicamente é esse o trabalho dele: a ele são enviados pessoas precisando de aconselhamento, esclarecimentos. Nós somos convidados a achar que na relação com o preto-velho tudo é um fora, um externo, mas no caso dos médiuns que trabalham com eles, acontece um trabalho intersubjetivo. O atendimento que ele faz com outros e para outros é na verdade para nós. Tem como entender? Mais na frente isso ficará mais claro, pelo menos esperamos.

Quando uma pessoa chega a Pai Jeremias, ele encontra-se sentado em um pequeno banco de madeira- toco. Ele coloca as pessoas sentadas ou deitadas na relva e lhes conta estórias, histórias. Para cada pergunta que lhe é feita, ele conta uma história da malha da própria pessoa, utilizando-se os recursos do astral superior de plasmar formas-pensamentos. As histórias são um misto de verdade interior dos seres e de modelos vivenciados por ele através da vida. O fato é que ninguém sai sem consolo e apaziguamento. Hoje observando esse modelo, eu diria que ele adentra nessa historicidade cósmica da pessoa e fala com essa pessoa diretamente. Porém nós vamos criar aqui uma singularidade. Vamos criar um acontecimento tempo-espacial no qual o que acontece no plano físico desdobra-se no mundo astral e vice-versa. Sendo assim, imagine que o médium do terreiro X recebeu uma pessoa para uma consulta com um preto-velho. No plano físico o preto-velho se manifesta por intermédio do médium e manda um recado, dá uma resposta. No plano astral, esse encontro entre médium-buscadora-entidade é um acontecimento que se processa dentro do campo mental do médium. Aquele aconselhamento era mais para o médium do que para a buscadora. Aquelas palavras, aqueles conselhos, aquele carinho, aquela resposta era a forma utilizada pelo preto-velho para resolver, auxiliar alguma demanda interna que o médium estava passando ou iria passar, sem que por muitas vezes, isso requeira materialidade.

Ou seja, aquilo que Júlio veio falando e que Alícia em certo sentido reforçou de que podemos viver diversa situações em uma vida, as temo vivenciando e muitas vezes isso não precisa ser físico. Algumas negociações kármicas que são realizadas são possíveis ser ‘roteirizadas’ e assimiladas sem que se faça material, física. No caso de nós médiuns isso se dá com maior frequência, sobretudo quando estamos atentos a ouvir o que se fala por nosso intermédio. Nossos aconselhamentos em última instância não são para o outro e sim para nós. Não no sentido de que tenhamos realizado as mesmas coisas, pelo contrário, no sentido de que aquela energia pode nos assegurar um aprendizado e uma oportunidade de crescimento que nos retira da dor, do sofrimento.

Sendo assim, as orientações mediúnicas que ele realiza se dão dessa forma e desse jeito. Na verdade, 99% de todos os que vão a casa no campo são médiuns necessitados de esclarecimentos e através das conversas com pai Jeremias são inseridos modelos de ação e conduta que mais tarde será utilizada pelos mentores espirituais. E por mediúnicas compreende-se a relação entre dois planos e não necessariamente apenas kardecistas, umbandistas. Ele entende como médium todos os seres e pessoas que em maior ou menor grau vislumbra o intercambio entre o visível e o invisível. 10% desses casos são relacionados ao que eu vou chamar de estudo de caso. Pessoas que tem casos simbólicos, icônicos que servirão de experiência para cada um de nós que lá vamos. Mas, de modo geral faz parte da atuação dos preto-velhos o tratamento psíquico dos seus médiuns, daqueles que cuidamos e a supervisão dos nossos cuidados. Um preto-velho é um terapeuta na melhor acepção do termo e do método. É difícil pensar um consultório que não prime pela companhia, a orientação e a supervisão desses amigos que conhecem a estrutura da alma, as dores da alma, as relações de complexidade da alma como poucos. Grandes estudiosos que foram de magia, por vezes manipuladores de ectoplasma de seres e pessoas, hoje eles tem o compromisso moral com o planeta de limparem o máximo possível os seres das vibrações mentais pesadas, tristes, sedutoras, manipulativas que eles ajudaram a instaurar em nossa psique. Diríamos que eles fazem uma ação reversa.  

As mudanças de sintonia mediúnica assim como o aumento de sua capacitação se fazem mediante a técnica salutar que em tudo lembra os divãs psicanalistas: a forma de se deitar, o recanto sossegado, a elaboração metódica. Se podemos definir um preto-velho os definiríamos como terapeutas/psicólogos, acariciadores da alma. São conhecedores profundos da psique humana, mais do que isso, conseguem sondar o intimo dos seres sem nos percebermos sondados, invadidos. Seres lindos com uma evolução refinadíssima, eles primam pelo respeito ao próximo e a humildade no serviço a Cristo. Por escolha deliberada que fizeram em ‘mudar’ de lado e virem para o lado do Cordeiro e não dos dragões. Nessa perspectiva, não há nenhum exagero em pontuar que os pretos-velhos são os que rivalizam com os magos negros. Muitos dos pretos-velhos foram seres que manipularam energia, pessoas, situações e em determinado momento fizeram a escolha de limpar essa energia, de não mais continuar com essas ações e atitudes. Fazem isso sem condenação, sem julgamento, amparando e aproximando a todos os que estão em dificuldade.

 Outro ponto salutar das 24 horas de Pai Jeremias na figura de preto-velho é o de que todo trabalho de desenvolvimento mediúnico inicia-se e desenvolve-se sob a tutela de um preto-velho. Numa ‘pajelança xamanica’ amorosa e revigorante. Ainda que inúmeros médiuns e dirigentes virem a cara para esses grandes conhecedores do espirito são eles que supervisionam o nosso aparato psíquico para que ele não dê pau, entre em curto circuito, ou surto. É de fundamental importância a todo cuidador a recepção do seu preto-velho. É por intermédio das orientações deles que encontramos apaziguamento, esclarecimento, florescimento interno para lidarmos com nossos trabalhos. Nesse período de depressão, estres, cansaço físico e mental os conselhos desses seres nos direcionam para o caminho da saúde interna.

 Enquanto estive lá, pai Jeremias atendeu de três a cinco irmãos que lidam nos trabalhos espirituais: um padre, um pastor, um médium de desobsessão, um casal. Os resultados práticos, cotidianos da conversa por ele desencadeados variam de grau para grau de evolução e de urgência. É como se ele colocasse conhecimentos específicos que seriam abertos em determinados momentos. Um programa de computador ou algo similar seria a ideia que apresento. Hoje em 2017 podemos dizer que seriam comandos apometricos, associados com PNL, algo que coachs tem utilizado em suas abordagens. No momento especifico, esse programa abre e a pessoa tem as condições de optar pela resolução do problema.

Observando dentro desse novo cenário de entendimento, diretamente, nenhum dos casos me dizem respeito, porem cada um deles se tivesse passado pelo meu consultório, por um atendimento, aconselhamento, diriam respeito a mim também, simbolicamente, indiretamente.

OS RELATOS:

O padre estava vivendo as dificuldades do celibato, espirito viciado nas experiências sexuais descontroladas, era assediado física e espiritualmente por imagens de mulheres e cenas de orgias do passado remoto. Fora auxiliado por pai Jeremias a enxergar o outro lado da busca sexual: o amor. Não sei se o padre resistiu ou resiste à tentação, todavia ficou claro que as lições foram de grande ajuda, pois os problemas de irritação e descontrole manifestado diminuíram e muito. Outro aspecto salutar é o entendimento de que o programa instalado por pai Jeremias desencadeia ações responsáveis e amorosas, longe da culpa e do julgamento. Ainda que o padre venha a cair na quebra do celibato, pai Jeremias deixa subtendido que ele haja por amor, faça sexo com amor e caso não venha a cair, que amplie sua capacidade amorosa valendo-se da conscientização dessa energia.

O pastor vivia um problema de ordem prática: enxergava e ouvia espíritos. Tendo sido esclarecido da normalidade desses fatos, dormiu melhor, voltou às lidas evangélicas e ficou menos irritadiço com as correntes religiosas diferentes da sua, que combatia com ira, num caso típico de projeção.  

O médium passou a ser assediado pelos assediadores dos outros. Recebeu esclarecimentos sobre o seu passado faltoso, não de forma direta, mas simbólica e passou a vigiar o seu interior e não apenas pregar e esclarecer o outro, mas primordialmente, a si próprio. Compreendeu que o processo de desobsessão que ele praticava, mais do que para os outros era para ele mesmo.

Nos três casos de conversa com pai Jeremias a tomada de consciência se faz gradual, mas constante. Despertam com um sentimento de paz interior, de que sonharam com uma fazenda, ou que estiveram em uma plantação e cultivaram a terra. Outros que sonhava com um homem mau, mas que enfim conseguiu ajuda-lo a se recuperar. É como ao acordar os símbolos dos sonhos passarem a ser percebido por nossas roupagens, nossos entendimentos, nosso grau de clareza. A gente só enxerga aquilo que conseguimos ver e interpretar. Ninguém vê antes do conceito, ou da incrustação do símbolo em si mesmo.

Cada uma dessas práticas realizadas por nossos amigos espirituais na figura de preto-velho tem como compromisso o resgate de conhecimentos perdidos e deixados para trás na Atlântida. Como vemos registrando muitos preto-velhos eram sacerdotes desses templos e depois ao se perderem passaram a realizar rituais de sangue, de sacrifícios humanos por estarem conectados a seres perversos, manipuladores. O trabalho dos preto-velhos, antigos sacerdotes atlantes é revigorar o surgimento desse conhecimento que alia amor-respeito-humildade; sabedoria-amor-poder; ciência-filosofia-religião; em uma unidade. Em um conhecimento de que tudo e todos são um. A integração de tudo no todo. Esse processo inicia-se com a perda do preconceito racial, social, econômico, cultural para o entendimento de que tudo e todos são um.

E, agora podemos então pontuar com mais clareza o que são as 24 horas de Pai Jeremias um preto-velho. Assim ele nos conta:

Minhas 24 horas se perdem, porque não temos mais esse modelo de tempo. O tempo nosso agora é coletivo e podemos caminhar e coabitar vários seres ao mesmo tempo, o que denominamos de família. Quando menciona o trabalho dedicado ao longo do tempo com seu bisavô, avó, mãe, você e seus filhos estamos falando de um trabalho ancestral de mudança de DNA numa perspectiva consciencial, simbólica. Enquanto nossos amigos-irmãos trabalham em naves com a mudança genética propriamente dita, nós outros utilizamos as mais diversas formas: preto-velhos na cultura de matriz africana, xamãs nas culturas de matriz indígenas, gurus nas de matriz asiáticas para irmos acompanhando e implementando mudanças simbólicas, conscienciais na estrutura psíquica de grupos terráqueos.

Todo nosso trabalho é o de acompanhar ciclicamente como estão sendo utilizados os mapeadores genéticos, conscienciais que estamos implementando para a ativação de uma cultura mais harmônica, menos bélica, mais fraterna, mais humilde. Se forem capaz então de ouvir a fala de uma criança, de um preto-velho, de um índio são capazes ou se aproximam da essência do evangelho, da essência dos semeadores da Vinha, que é o de conhecer as pessoas pela essência e não pela aparência, de valorizar o conteúdo e não a superficialidade. Essas são as pegadas dos ensinamentos espirituais em todo o orbe terrestre e vamos contatctando os seres até que eles possam compreender que podemos fazer uso das mais diversas formas, imagens, para que divulguemos e realizemos nosso trabalho de amor e esperança.

Nesses moldes minhas 24 horas se confundem e se interpenetram com esses tempos familiares, coletivos nos quais podemos ativar alguns padrões e retirar alguns comandos viciados e viciosos da psique de vocês. Cada vez mais o conceito de tempo vai se fazendo e adentrando no de espaço, causando uma integração consciencial que é a busca de todos os orbes, o nascimento de seres que consigam trazer no corpo físico suas lembranças astrais. Nosso trabalho de desenvolvimento junto às famílias, aos terreiros é sermos o aporte dessas energias, sermos a central de distribuição que mantem a memoria coletiva acessa, ativa, pronta para ser acionada quando necessário, por quem se fizer de direito. Todo o trabalho da tradição é esse, o ensinamento para que as pessoas consultem essa memória, ativem essa memoria, façam uso dessa memoria coletiva ampliando cada vez mais e auxiliando a dar suporte individual para que cada um a use com mais consciência, sabendo que é possível acessar essas informações, esse conhecimentos tanto individual, quanto familiar.

Sobre essa integração do tempo-espaço num processo de individuação, individualização, conexão, Oran irá falar melhor. Ele e Somater irão fazer o arremate dessa perspectiva, mas ressalto que trabalhar como preto-velho junto a você e a sua família é resgatar a memória lemuriana dos povos de cor preta. É ativar toda uma herança de conhecimentos siderais, de poderes extrassensoriais que assustaram os nativos dessa localidade e os viram como seres demoníacos, deuses, por não saberem como tinham a capacidade telepática, empática de se comunicarem com as folhas, as ervas, as plantas, os animais, os elementos e todo o sagrado, todo o natural. Cada incorporação é a ativação dessa e outras capacidades, é o empoderamento de um individuo e de todos os outros do nosso compromisso com o planeta, com o sistema, com o cosmos.

Não se pode perder isso de vista, que somos todos um. Que pertencemos a mesma raiz fundante das estrelas e que caminhamos para voltar para elas.

Que Oxalá vos proteja e vos guie.



8/9/2017

Como amor e luz

Kélsen A e Pai Jeremias. 22/05/03

 

sábado, 12 de dezembro de 2020

24 HORAS. 5o RELATO: Alícia

 

Alícia trabalha com padres, pastores, umbandistas, budistas, muçulmanos, ateus, pois há em comum em todos eles a mediunidade. Não no sentido de estarem abertos à comunicação com os espíritos, mas a de estarem abertos, esteticamente, a compreenderem o Belo como luz, amor, sabedoria, independente de quaisquer juízos valorativos que possamos estabelecer. Na Cidade de Cristal filósofos, cientistas são denominados artistas. Vivem juntos, pensam e sentem juntos. Trabalham juntos os conceitos estéticos-filosóficos-científicos. Demonstram que tudo é um, que todos os saberes estão inseridos na busca da compreensão da verdade. Vários seres se deslocam para lá para ‘ter’ aulas com esses amigos. Embora a maioria esqueça ao acordar, o fato é que estão tendo a sua mente-coração burilados por um esmeril de grande crédito e maestria. Nada passivo, pois todos são responsáveis pelo seu conhecimento.

(O vídeo com a leitura comentada encontra ao final do post). 

Esse trabalho de seleção dos cursos, muito similar a uma Universidade Sideral na qual se trocam experiências de vidas e de conhecimentos sobre modelos artísticos buscando sempre aquilo que brota do seu ser, de sua verdade interior. Essa é a obra de arte almejada e sonhada. Nessa seleção dos cursos a serem oferecidos, onde e para quem será oferecido se encontra o trabalho de Alícia que opera como uma reitora. Na verdade, preferimos chamá-las de Musas, mas a função é de reitoras. Um grupo de mulheres sensíveis e notáveis orientam, supervisionam, inter-relacionam espaços, estudos, alunos entre si para que produzam, resolvam, apresentem, seus trabalhos. São, invariavelmente equipes inter e transdisciplinares nas quais se busca resolver e equalizar processos de áreas dispares. Um problema matemático sendo pensado artisticamente. Uma questão artística sendo pensado fisicamente. Uma questão física sendo pensada corporalmente e assim sucessivamente até que todos tenham a possibilidade de aplicar fisicamente, existencialmente. 

Finalmente, na região da crosta. Alícia se apresenta como uma cigana de 14 anos. É dessa forma perispiritual que ela desenvolve a magia nossa de todos os dias. Ensinando de forma direta a mulheres e homens a magia da vida. A magia de enxergar a vida em todos os seus aspectos mais sublimes e desconcertantes. Ela ensina a magia da celebração da vida e do viver, do doar, do receber, do amor, do servir. Esse é o trabalho que mais desgasta, mas que ela tanto gosta, muito embora esteja trabalhando mais no plano etérico do que no material. No etérico ela dá cursos de magia, isto é, de capacidade de se realizar esteticamente, de materializar fisicamente os símbolos da alma, as forças e movimentos do espirito.

(Livro a venda. Entre em contato). 

Esse curso, esses moldes de estruturação no astral é mesmo uma forma cigana de enxergar a vida com amor, alegria, coragem para a solução das adversidades. Parte desses cursos serviu e suas realizações no plano astral serviram de inspiração para se pensar os trabalhos sobre o Feminino tão em voga em nossos dias. Porém não podemos pensar o feminino como sendo da mulher e o masculino dos homens. Feminino e masculino são polaridades que coexistem em todos os seres nas mais diversas proporções. É importante a capacitação de todos para o feminino. É o feminino o novo dial energético da Terra até que se acomode a integração, a harmonia dessas duas polaridades. Os trabalhos energéticos de cunho cigano, envolvendo as forças naturais, os elementos, eu gosto muito de realiza-los, porque recuperam a sensibilidade feminina, a religa a sua ancestralidade e de posse dessa força interna e da nova vibração externa, elas podem resignificar a história de seus pais, dos seus ancestrais, e principalmente, a própria história da linhagem que carregamos, tanto do agora em direção ao passado, quanto do agora em direção ao futuro.

 


 Júlio falou do trabalho de entidade cigana. Um trabalho de proteção, de cuidado, de negociação de karma, de possibilidades, de equilíbrio energético para estar em condições propicias de se receber o que se deseja e o que lhe é merecido. Basicamente, esse é o trabalho cigano, porém quando os ciganos não são um alter-ego da própria pessoa, abrimos para uma inovação de realizarmos um duplo, triplo, trabalho de remissão e resgate karmico. Abrimos para a possibilidade de trabalharmos incorporada com um antigo desafeto para juntas resgatarmos um padrão de amor, amizade, cumplicidade que nos unia e nos fortalecia e que por motivos de ciúmes, de inveja, de disputa e rivalidade perdemos. Perdemos e nos faz falta, perdemos e debilita nossa alma, porque podemos ser mais plenas, harmônicas se encaixarmos isso dentro de nós. Ela tinha uma caminhada no mundo católico, com realizações de pregações, mas, sobretudo de cura pela graça do Espirito Santo. A sua aproximação desperta a possibilidade do espirito santo ser desvelado, se mostrar, ter nome, cara, estamos falando do kardecismo e das amigas espirituais que a ajudam no processo de cura desde o nascimento. Cura emocional, cura de feridas da alma. Curas que precisam realizar um com o outro e um no outro para recuperarem a integridade que se deram e compartilharam.

Eu sou a responsável pela abertura de uma nova trilha de vivência e experiência para ela. Responsável por apresentar e não por vocês terem escolhido. Mas, naquele momento era uma chave de abertura para novos horizontes para vocês dois. Uma vida na qual o sentido estaria mais perto. Não apostávamos que o grude entre vocês seria tão forte. Acreditávamos que realizado o encontro, encontrado a harmonia que um proporcionava ao outro seguiriam os seus próprios caminhos, ela o mundo da canção nova, você o mundo da bola. Porém havia outras conjecturas no céu. E dezenas de possibilidades na Terra, os caminhos anteriormente traçados antes do nascimento começavam a ser reformulados em vida. Seres como vocês e tantos outros começavam a ter as condições de mudarem o próprio destino, a própria sorte. Aqueles caminhos certeiros e unívocos que eram tracejados nas estrelas e formatados no suor da vida, lá nos idos de 1974/5 começavam a ganhar mais horizontes nos idos dos anos de 1992/3. E essas aberturas, essas conjecturas se fizeram exponenciais. Aquilo que era um caminho, desdobrava-se em dois, que se desdobrava em 4, que passava a ser 16, que se multiplicava por 16 até que o infinito se faz material e tangível. As vidas formam se tornando uma nova fronteira para a manifestação palpável do invisível. Vocês na força de dois, na coletividade de outros, co-criaram e construíram futuros possíveis e improváveis para vocês. Estávamos diante de uma nova história e uma nova forma de vivê-la, uma tendência que igualmente foi se alastrando entre os seres, entre os indivíduos e de repente estávamos na Terra com um processo de aceleração na qual um individuo poderia viver três, quatro vidas em apenas uma. Isso era impensável antes do século XX e inviável antes da Convergência Harmônica de 1987.

Alguns seres que estavam alinhados consciencialmente a esse movimento, que nasceram para auxiliar numa transição da Terra, receberam esse potencial, herdaram esse potencial e o que fizeram em menos de dez anos, praticamente em cinco foi ampliar a rede de possibilidades de vocês para horizontes não sonhados e nem projetados anteriormente. Você que seria um jogador de futebol profissional foi levado para os campos do saber, da sabedoria onde professava e resgatava uma consciência filosófica esquecida, abandonada. Então não se surpreenda por não estar na cátedra acadêmica, o trabalho é outro, é o de conscientização, sensibilidade consciencial como chamamos. 

Nesses portais criados, realizados, vocês abriram para a chegada de dois seres que simbolizam uma nova Terra (Victhor) e a nova Terra da Terra (Yasmin). Por vezes o ser encarnado não compreende o que isso implica. Muitos de vocês que tiveram o curso da vida alterado, mudado, não conseguem visualizar o impacto que é de uma criança índigo, de uma criança cristal, de um ser hibrido no meio de vocês fisicamente, mas isso é revolucionário. Encarnados, vocês não conseguem ver que habitam uma nova Terra, um novo lugar e isso só é possível primeiro porque vocês catalisaram um processo de transformação de mil anos em dez e depois germinaram as sementes para que essa energia fosse ancorada. Cada um de vocês que trouxe um novo ser, um destes seres para a seara da Terra fez uma aposta no futuro. Fez uma aposta na vida, no amor, na esperança. E, você sabe o que isso representa e simboliza para você. Você sabe que o seu niilismo é então vazio, porque você apostou no amor, no educar. Você como milhares de outros, frente à oportunidade infinita de brilhar sozinho, ter um gozo de alma pleno e individual, chamou e abriu as portas para um gozo coletivo.

 

E é desse gozo que faço parte. É nesse gozo que mais uma vez nos unimos e nos fortalecemos, nos aproximamos. O século XIX e XX não foi fácil para ninguém. A arrogância tinha alcançado um nível de materialismo nunca observado. Esse peso esteve nas relações e a nossa, por mais amorosa que tenha sido, carregou o ressentimento da solidão, da individualidade. Tivemos que caminhar sozinhos, com outros parceiros, para podermos chegar a um mesmo lugar e darmos um novo impulso.

Mais do que um trabalho espiritual foi um trabalho psíquico no qual os símbolos, os desejos, o amor foram se mostrando cada vez mais ricos, propícios a partilhas cada vez mais salutares. Esse universo simbólico abriu as portas para o meu trabalho no campo da psicanálise e das artes. Um trabalho que tenta ver o artista no seu dito e no seu não dito. Um trabalho que busca recuperar os aspectos mágicos, singulares, simbólico, dos artistas, dos seres, nos seus mais diversos afazeres. Um trabalho sensível que auxilia a cada um entrar no seu campo psíquico, na sua esfera mental (simbólica) e esse campo acaba por desvelar a dimensão coletiva dessa criação. Que os pensamentos, os sentimentos, que acreditávamos ser criação individual, aspecto autoral eram na verdade um sentimento, um pensamento que pertencia uma vasta vizinhança de seres, pessoas. Nesse novo formato de arte, nossas simpatias, antipatias, empatias foram ficando mais visíveis. Nossas construções antes compreendidas como individuais ganharam uma composição coletiva, e tudo isso é muito cigano.

Nosso povo, nossa cultura sempre pensou os elementos culturais como sendo coletivos. A ideia de autoria é estranha ao nosso povo, já que a música surge e nasce da inter-relação com a fogueira, as chispas, as labaredas, as lembranças imemoriais, o rodopio das saias, o vento das arvores. Nessa combinação a música é de quem? De quem dança? De quem canta? De quem conta a história em torno da fogueira? De quem toca? De quem é a autoria? Do vento que assobia? Do lobo que uiva? Do cachorro que late? De quem é a música se toda essa sonoridade é coletiva. Se toda essa sonoridade marca o compasso de cada mente e coração. Para nós isso nunca teve sentido, por isso compomos uma tradição folclórica que enriqueceu toda Europa nos seus aspectos estéticos e econômicos. O trabalho de muitos artistas como ciganos proporcionou esse entendimento muito claro de que estávamos diante de uma energia muito livre, solta, libertária, incontrolável, por isso cigana. E foi na abertura dessas possibilidades, vendo recursos infindáveis sendo gerada a partir da vida de cada um, de cada dois, de cada família, de cada coletivo que descortinamos também essa mesma abertura para as searas espirituais, compreendido agora como psíquico, como simbólico. 

A ADAGA FLAMEJANTE.

Assim recuperávamos símbolos que estão desde a mais longínqua estória de nosso povo, de nossa origem. Um conceito que percebe e compreende a vida como sendo arte e o da Arte como Magia. Arte como sinônimo direto de espiritualidade. Arte como passaporte para o intimo e o universo. Arte como expressão singular-coletiva do simbólico, isto é, o mundo psíquico que habitamos. Para tanto fizemos uma releitura das nossas construções, das nossas criações, dos nossos empreendimentos existenciais. E em cada uma delas fica notório a força e a presença da magia, do invisível desvelado em mil faces, milhares de pedaços. Em cada obra de arte há uma senha para à espiritualidade. Há muito mais nelas que estamos e a maioria das pessoas conseguem ver, sentir e perceber. Somente com os olhos amplificados por outra voltagem percebemos o universo que eles retratam a nossa volta. A força coletiva que ela aponta.

 

Quando da primeira psicografia dessas informações, as minhas 24 horas eram inicialmente, realizar o trabalho de atração dos espectros de possibilidade. Possibilidades que eram bem únicas, quando muito, duais. A partir de mudanças conscienciais começamos a monitorar como alguns seres em relação um com outro produziam e criavam padrões que desafiavam as expectativas e especulações, e prognósticos que tínhamos até então. Isso nos provocou uma nova forma de observação e vigilância na qual nosso trabalho passou a ser estritamente vibracional. Alterar a vibração dos seres repercutia significativamente nas mudanças materiais a ocorrerem. Isso acarreta uma nova dimensão das informações disponibilizadas, das psicografias realizadas, das canalizações proferidas, em comum, todas elas falam do imponderável, de uma nova ordem. No geral, elas marcam a aproximação de mentores e guias espirituais que não mais ditam caminhos e sim honram ainda mais o caminhar de cada irmão. 

Nessa abordagem desenvolvemos uma forma de trabalhar, pensar e conceber a mediunidade não mais como um fator moral, mental e sim numa abordagem estética e científica. Ou seja, pensar e auxiliar o médium em seu desenvolvimento nos valendo mais da Arte e da Ciência do que dos discursos morais. Tratar a mediunidade como uma habilidade técnica na qual o médium deve se responsabilizar não por temor a Deus, ou medo do inferno, ou culpa; mas por orientação clara de embelezamento existencial tanto de si mesmo, quanto de todos os que estão a sua volta. Essa unificação entre arte-ciência-filosofia é o conceito de religare, de nova voltagem; para que não caiamos nos tropeços religiosos de sempre. É uma fuga dos proselitismos seja ele católico, protestante, espirita ou outros e uma maneira de engajar todos os seres que despertaram no afazer consciencial, da sensibilidade por um mundo melhor independente de sexo, religião, nacionalidade, orientação sexual. Está sensibilizado, faça o trabalho de despertar-despertando-si. 

Essa busca pela unificação é também parte cara do meu trabalho, pois é junto a ele que se desdobra o Simbólico. É no viés do simbólico, na compreensão profunda do símbolo que se recupera toda sacralidade, toda espiritualidade, até mesmo no que quer se convencionar chamar de profano.

Não deu para ser cronológico como os dos amigos que fizeram antes, porque cada vez mais o tempo subjetivo no qual habito se perde e se desfaz no tinir das horas. O tempo, como irão vendo de agora em diante é uma grandeza relativa, consciencial. No primeiro momento da psicografia, anos atrás, minhas 24 horas eram equivalente, proporcionalmente a uma semana de vocês. Hoje, não saberia lhe dizer o que me representa 24 horas, talvez um ou dois meses de vocês. Nesse espaço cochilo por 15 minutos, o que daria uma equivalência de 8 horas de sono.

Basicamente é isso. Um forte abraço em vocês e que a força da natureza, símbolo puro do amor de Deus esteja em vossos corações.

31/8/2017

 É isso! Essas são as 24 horas de Alícia.

14/05/2003

 


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

24 HORAS: 4º RELATO- JÚLIO

Júlio Soares é trabalhador nas searas do eterno. Irmão distinto e resoluto pelo seu senso de coragem, retidão e justiça, nos prima pela sua presença na exemplificação dos seus atos e ideais. Naquele tempo de 2003 Júlio se apresentava para nós como cigano. Homem bonito, louro, alto, olhos verdes quase chegando ao azul. Uma cor de pele morena, bronzeada. Um homem bonito em todos os sentidos e nessa beleza estava colocada uma grande força de sedução nos mais diversos campos e níveis.

(O vídeo encontra-se no final do texto) 

Trabalhei com Júlio em inúmeras festas ciganas nas quais ele conduzia o ritual no plano físico. Porém, ele não era o que na Umbanda chamam de meu cigano. Ele estava apenas de passagem para a chegada de um amigo, irmão, denominado Solano. Aqui é importante nos atermos um pouco mais.

Solano é um homem alto, mais de 1,80 de altura. Magro. Deve pesar na casa dos 77/74 kg, um tipo de corpo esbelto, longilíneo, similar a corredores de maratona. Olhos pretos. Naqueles tempos se vestia impreterivelmente de preto e era chamado por todos de El Bruxo! Os trajes em conjunto com o apelido e a forma de ser me eram suficientes para simplesmente ignorá-lo, mais do que ignorá-lo, discriminá-lo mesmo. Não gosto de bruxos, não tenho simpatia por esse universo e o achava muito ‘tirado’ mesmo nunca tendo a paciência e a humildade de conversar com ele. Esses meus preconceitos astrais são inúmeros, tive o mesmo com Luís Soares que se apresentava para mim de batina e eu me julgava no direito de não conversar com padres. Pois bem, Solano ficou na dele esperando. Com a paciência e a orientação de Oran, ele sabia que na hora certa haveria a nossa aproximação. Enquanto isso eu ia trabalhando com Júlio. E, esses trabalhos com Júlio mais do que processos de transmutação, de negociação de karmas que realizávamos em cada ritual, estávamos acertando as nossas diferenças sem que eu soubesse, ou desconfiasse.

Sei que em determinado momento, poucos anos após minha separação, Júlio disse que o nosso contrato tinha chegado ao fim, que aquele seria o último encontro que ele faria comigo. Chorei. Achei uma sacanagem, especialmente, porque Solano assumiria essa nova fase em diante. Eu não tinha ideia do que estava sendo realizado, do que estava acontecendo. Ano depois psicografando a mensagem de um músico alemão, eu tenho a certeza que reconheço a energia. Nesse reconhecimento se desvela toda uma explicação dele ter trabalhado comigo enquanto cigano. Falava ele que se apresentasse na forma dele de músico, eu não iria trabalhar com ele pelos mesmos motivos que fiz com Solano e Luís Soares. 

Trabalhar como uma entidade cigana lhe possibilitou reestabelecer os vínculos afetivos, de amizade, de respeito e, sobretudo confiança que eu havia perdido nele, e assim se deu. O inusitado de tudo isso é que ao recuperar a confiança nele, na vida, no Pai, na eternidade; eu recupero a confiança em mim. E é essa confiança que permite a aproximação e a atuação de Solano. Se com Júlio a gente realizava encontros, festas ciganas que trabalhavam esses aspectos que a gente nem imagina e sonha, com Solano a gente de fato trabalha com rituais e magia. Abrimos portais, conexões com tempos e espaços interdimensionais que há muitos estavam trancados. O retorno de Solano, a aproximação energética de seres como ele representa a decodificação, a abertura de estruturas cristalinas nas quais depositamos muitos conhecimentos e informações. Solano é um desses seres que possuem as senhas desses universos, desses encontros, porém a abertura é coletiva. Individual-coletiva. É um sistema de rede criptografada na qual a ativação de um libera o outro e assim sucessivamente. Milhares de seres que eu não conheço, que não encontrei fisicamente, tornaram possível o retorno e aparição de Solano e com ele a nossa responsabilidade e compromisso de liberar os campos cristalinos para os mais diversos processos de cura e transformação consciencial, em todos os planos e níveis.

Dentro do Cristal

Foi então dentro desse cenário que àquela altura me era invisível e impenetrável que Júlio nos contou das suas 24 horas e é para lá que nos deslocaremos.

Júlio como havia exposto acima é obreiro das searas eternas, tendo a sua frente espíritos devotados que primam pelo mesmo sentimento de justiça e retidão. A sua lida espiritual se faz em um educandário no qual buscam auxiliar os irmãos transviados das leis da vida a compreenderem o que nos regula. Eles estão lá não por ser melhores do que eles, mas por terem passado exatamente pelos mesmos dissabores, imposturas, enganos. Assim, ele e a equipe na qual faz parte regula leis e tarefas, práticas e vivências, meditações e posturas que conduziria os irmãos desditosos à reabilitação de sua consciência e da sua dignidade existencial.  

Denominar o trabalho dessa atividade é um tanto problemático, na falta por hora de uma ideia melhor a veremos a de um advogado (conhecedor das leis) e a de um professor (cumpridor das mesmas em si para exemplificar ao outro). Seria então um espirito que faz do sentimento de justiça a sua taça de realização. Algo perto da magistratura sem que se entenda que eles julgam. Não, eles não julgam, apenas acolhem e nesse acolhimento auxiliam cada um no seu processo reflexivo de encontrar em si mesmo (maiêutica) leis e regras claras para o seu próprio reestabelecimento. Esse grupo de trabalho influencia, inspira o mundo da justiça, da política, da economia e da arte. Hoje, anos depois, a identificação fica mais clara, eles estavam falando no que tange a magistratura de penas alternativas. No que se refere ao ensino, de uma educação focada na forma de aprendizagem do aluno. Eles estavam falando de uma perspectiva na qual se consiga mostrar para o individuo como ele se situa dentro do todo e como ele pode sentir-se acolhido por esse todo sem necessitar se anular ou violentar o outro. Sendo assim, o trabalho dele é o de ensinar as leis da vida. Coisa aparentemente óbvia em todos os seres espirituais, mas que, no entanto, no caso em questão ganha contornos diferenciados por lidar com irmãos que no gozo das atribuições materiais fizeram mal uso do poder.

Aqui é um recorte muito caro ao trabalho dele(s), lidar com pessoas desencarnadas e muitas ainda encarnadas que tem uma visão orgulhosa e vaidosa do poder. Seja artista, seja jurista, sejam empresários, sejam políticos, seja quem for que considera o poder um manejo, uma arma de manipulação para satisfação das suas ambições e desejos pessoais. Não, o poder é visto por eles como sendo um atributo de responsabilidade para ampliar a autonomia, a disciplina, a liberdade dos outros seres. Estar em um posto de comando é aprender a lidar com a estrutura interna de ambição, de desejo. É compreender a duplicidade desse atributo. De um lado há o poder pessoal e de outro há o poder da função. Em ambos se pede uma atenção para aprender a lidar e a tratar a si mesmo e os outros, por conseguinte, o mundo. Assim, se pudermos denominar, no que tange as lides desses trabalhadores do bem, diríamos e salientaríamos que eles ensinam as leis do poder espiritual (verdadeiro) e não do ilusório poder material.

No re-eduncandário: amor e justiça, Zelo e Perseverança, um recanto/repasso calmo e tranquilo. Longe de toda agitação e de toda ostentação ‘material’ é que se dá a reeducação dos amigos espirituais que fizeram mal uso do poder sobre a Terra. Seja o poder espiritual/religioso, material-financeiro-econômico; político-social; ou até mesmo carismático. No re-educandário lidamos e esbarramos com criaturas/seres que na Terra tiveram grande proeminência. Grandes políticos, juízes, bacharéis, acadêmicos, formadores de opinião que trabalham na reeducação de si mesmos. São irmãos queridos que imersos no mundo da bajulação, da vaidade e do interesse perderam o propósito maior de suas vidas que era o de servir ao próximo.

 

As 24 horas do nosso amigo é atribulada, cheia, tendo sempre, a todo instante, o servir ao próximo como lema e ideal. Elas se iniciam quando os amigos encarnados estão dormindo e são conduzidos ao re-educandário para ouvirem palestras, trocarem informações, fazerem ajustes, abrirem novos leques de possibilidades sem acusações, julgamentos. É uma prática espontânea de troca de experiência entre iguais. Essa é a parte constante, rotineira do trabalho, pois diariamente são conduzidos uma leva de seres até lá, ficando outra grande parte impedida de chegar devido as influências espirituais que sofrem na matéria. Essa é uma grande dificuldade, nos livrarmos das vibrações mais densas, mais pesadas que nos envolvem, especialmente, pessoas que são responsáveis diretamente e indiretamente por centenas, milhares de vidas. Júlio nos explica assim:

Imagine as vibrações que são enviadas para um chefe de Estado? Para um empresário? Para um juiz? Para um médico? Para um professor? Citando alguns exemplos. Por diversas vezes a carga de raiva, de ódio é tamanha que dificulta e impossibilita a nós mentores espirituais e obreiros da vida eterna influenciarmos. Cada vez mais, eles vão ficando suscetíveis às ideias perversas, desconectadas do alto. Há uma gama de seres que se alimentam do poder, ou melhor, da ilusão que ele garante. Esses seres impedem, impossibilitam, fecham as portas de acesso de percepção, de entendimento a searas mais altruístas, renovadas, esperançosas.

Talvez seja difícil imaginar as correntes magnéticas que chegam a um patrão que tenha 200 funcionários? Ou a um comunicador/formador de opinião visto ou lido por milhares de pessoas? A do presidente de uma grande corporação ou ainda o chefe de Estado de um país, de um bairro? Todos nós estamos inseridos em uma corrente inequívoca de atos-ações-pensamentos. A ação que tenho com uma pessoa influencia todo o sistema, tudo em volta. Se das minhas ações dependem milhares de seres direta ou indiretamente, essa corrente energética chega de forma muito mais forte e impactante quando conseguimos acionar um elo direto da corrente e é esse o nosso trabalho, retirar as pessoas do corpo, durante o seu processo de sono e lhes darmos inspiração para encontrar alternativas menos barbaras, violentas, possessivas e destrutivas contra terceiros. Nossa tentativa é a de ensejar em cada um que a humanidade é a nossa família e não apenas alguns. Libertar os seres do egoísmo é a nossa árdua tarefa e é somente se libertando do egoísmo, do egocentrismo, das identificações egoicas que começamos a fazer com que nosso trabalho surta efeito pessoal, social, coletivo, familiar.  

Basicamente é assim que ele nos explica e é através dessa corrente de unidade que se dá a 2ª parte do trabalho de Júlio e dos seus: a proteção dos seres. Eles seriam filtros da espiritualidade que equalizam as energias que nos são direcionadas. Exemplo: se toda insatisfação das pessoas chegarem até o prefeito, se toda insatisfação do trabalhador chegar diretamente ao patrão, ou vice-versa, estariam arruinados, destruídos. (E, diga-se de passagem, que energeticamente, moralmente é assim que muitos se encontram, apesar de apresentarem um ganho material elevado, essa é uma das ilusões que os amigos tentam lhes fazer enxergar). Tentam mostrar que o poder temporal é ilusório. A fortuna, a riqueza alimenta o corpo, seduz a alma, arrasta bajuladores, mas não preenche o sentimento de miséria interna que vai aumentando cada vez mais. Novamente, Júlio nos esclarece:

Conseguir aplacar esse sentimento de vazio interno é o sentido da nossa proteção, das nossas orientações, não apenas a eles como a todos os seres. Nós atuamos como ciganos tendo como compromisso essa orientação, essa negociação, essa clareza do que é passível de se ganhar, o que é justo que se ganhe, e o que é extorsão, roubo, miséria milionária que fica muito caro. Custa caro, porque não se pode apropriar da energia coletiva sem retribuir a cada um, ao todo, o que é de todos e não apenas de um.

Essa é uma engrenagem complexa para se explicar, mas ainda assim tentaremos. Para um Jesus reencarnar e se iluminar é fundamental muitos aportes luminosos, muitas bases de luz que lhe darão apoio e estrutura energética ainda que tantos nem o soubessem, porém é assim que funciona. Imaginem então que nos 40 dias no deserto Jesus descesse e resolvesse destronar Pilatos e conseguindo esse feito, ele ficasse de posse de toda riqueza, todo ouro, todo trabalho e suor do povo de Israel e Judá, quando ele desencarnasse, ele prestaria ou não contas? Prestaria contas, não por ter tido poder político, ter virado político, ter conseguido ouro, vinho e mirra. Prestaria, porque não compartilhou, não retribuiu com quem lhe dera sustentação. Diferentemente, quando o ser faz uso dessa energia de sustentação e deixa para todos um caminho no qual podemos atravessar em seguida, ele cumpre o compromisso. Ele possibilita que após dele milhares de outros seres se iluminem. A porta depois dele é aberta e a travessia é segura. O valor disso é incalculável e damos o nome de Graça. É essa graça o preço, o valor que buscamos em nossas ações e atitudes, pois é uma das únicas que retribui ao universo, a vida, o que ela nos dá- o dom de existir. Isso não se paga a não ser ofertando a outros a retribuição de se construir caminhos para todos, para outros, para sentirmos gratos e agraciados pela Vida.

Outro exemplo seria quando vocês veem o ancora do jornal feliz e sorridente diante da câmera, o telespectador pode não saber da importância do cameraman, da maquiadora, da equipe de produção, do jornalista de rua, de toda rede e cadeia que é necessária e fundamental para que se veja a cara e a voz dele; porém, ele tem que saber e reconhecer que é apenas o porta-voz de uma equipe. A parte visível dela. Um personagem superimportante, mas cujas regalias e privilégios precisam ser compartilhados e distribuídos com todos.

Assim sendo, esses amigos trabalham como filtros. Trabalham em um processo de sondagem no qual só passara aquilo que corresponde a um aprendizado karmico, programado e dentro do estabelecido pelo mais alto. Aprendizado este que a todo instante, eles só não podem decidir se será pelo amor ou pela dor, porém quando entram em nosso caminho dizem respeito a nossa malha, a nossa aprendizagem humana. Eles tentam nos incutir a necessidade do amor, de como podemos nos estruturar para aprendermos e ensinarmos de forma mais amorosa, tenra, terna, contudo a grande maioria começa a aprender quando está na iminência da perda material, da derrocada financeira, emocional, sexual. Somente aí começam a se atentar para o ensinamento do invisível, se dão abertura e passagem para a chegada de novas perspectivas, alternativas.  

O fato a ser registrado é que é difícil proteger o ímpio quando o justo clama por justiça. Sem fazer alarde e alarido, pois não é isso que se quer, mas pudesse ver e ter a consciência, cada patrão, da chaga moral incrustada no seu ser quando da fome ou necessidade que passa o filho do seu funcionário para financiarem a sua distração esdruxula, não praticariam tal insanidade. Pudesse ter a mesma consciência o político e de como lhes chega a dor e a energia do desamparo dos pequeninos, serviria de ‘graça’ para ter a ira aplacada e a justiça saciada. Pudesse ver e saber o que produz as mensagens proferidas pelo formador de opinião aos pequeninos se habilitaria a trazer para si as chagas que provocou em outras pessoas. Longe de ser castigo, resgaste, é compromisso de um entendimento que fica cada vez maior- estamos todos conectados, interconectados. Somos todos um e não podemos acreditar que se pode ser feliz sozinho, cercado por injustiça, que se pode achar rico materialmente sendo indiferente a fome, a miséria dos seus compatriotas, dos seus irmãos de humanidade. Assumir essa lógica de vergonha, de opressão, de dor e miséria é fardo que todos nós trazemos, porque fomos iludidos na crença de que o poder é concentrar, é juntar, é segurar nas mãos e ter o controle de se dar na hora que se quer e para quem se deseja. Mudanças consciências alcançadas devido a mudanças internas de cada um de nós tem permitido a Solano e outros seres interdimensionais liberarem informações, conhecimentos que foram bloqueados, obstruídos por seres que implementaram a escassez, a miséria, a fome, a opressão como forma de poder. Hoje quando falamos de poder estamos falando de recursos renováveis, de materiais recicláveis, de formas de energia limpa e não poluente, de modos de cooperação e de sustentabilidade na qual todos possam ganhar, todos possam lucrar, todos possam contribuir. Essa liberação é dentro-fora, interna-externa, subjetiva-objetiva. São nesses espaços intersubjetivos que novas mentalidades brotam, crescem, expandem, ganham frutos e mostram que há solução e ela não se faz na guerra, na luta, no controle, na perversidade. Ela se faz no amor, na solidariedade, não na caridade, na solidariedade, na fraternidade.

Adicionar legenda
A caridade é ainda um último ensejo de que estou dando algo que é meu para alguém que não é tão bom quanto eu. A solidariedade trás a premissa de que estou compartilhando algo que é nosso. Um recurso coletivo que repasso uma parte e estou aberto a receber outra. A caridade é vertical, ainda que não se queira, vem de cima para baixo e essa verticalização permeia e sustenta a dinâmica de oprimido-opressor. A solidariedade horizontaliza a prática. Estou lhe ajudando porque você e eu somos iguais, somos irmãos, somos um. Não tenho culpa, ou receio do que você é, nem vergonha do que eu sou. Somos e podemos ser ainda melhores se ampliarmos nossa rede de solidariedade para todos os níveis e setores. Compartilhando amor, informação, conhecimento, ativando as estruturas cristalinas e conscienciais. E tal prática é difícil, pois preferimos sempre a dor ao amor.

No entanto, aqui se inicia a outra atividade àqueles que tomaram consciência da sua função e responsabilidade planetária e sistêmica. É a criação e elaboração de alternativas a prática desditosas do poder. As empresas juniores seriam uma ilustração para os ideais por eles praticados. Ideias que vão desde a alternativa renovada para lidar com um problema de três pessoas até o de toda população planetária, assim vejamos:

A proliferação do 3º setor é uma das propostas geridas a muito por esses seres. A ideia de um banco para crédito popular o é também. A ideia da educação como alicerce e alavanca de transformação, idem. Em todos esses pontos e outros há a primazia de que não haveria mudança de cima para baixo como sonhou as utopias de esquerda e de direita. A realização da transformação do homem não viria de um modelo econômico-social-político seja ele de esquerda capitalista ou de direita comunista. A mudança só se realizaria individualmente, mediante gestões alternativas de mudanças locais, em sua distribuição de poder. Ou mais substancialmente, no entendimento do que é poder e como se faz o exercício disso. Poder para todos. Dividido para que cada um assuma a sua cota de responsabilidade e faça uso coletivo desse acesso. A descentralização do poder amplia o surgimento de novos caminhos, novas lideranças, novas situações. Cotas de acesso e representação de poder para todos auxiliam no desenvolvimento de alternativas ainda não pensadas, não situadas, não elaboradas, não colocadas em prática devido às obstruções materialistas, egoicas que postula e compreende o poder como conquista individual. 

Isso só se torna viável quando os que detêm materialmente iniciam um processo de divisão através da distribuição de atividades e responsabilidades. O empresário cria uma creche para os filhos dos funcionários. Essa prática corriqueira viabiliza um padrão vibratório-energético satisfatório para o crescimento moral, social e espiritual do mesmo. Assim como, movimenta uma energia capaz de transformar outros setores e lugares. É a prática dessa mudança estrutural, material que são o foco das ações do re-educandário. Ensinar-nos a lidarmos melhor com o poder, seja ele sexual, financeiro-econômico. E nessa parte trazemos Júlio para falar conosco:

Já não atuo mais como Júlio, os tempos são outros. Eu aproveito o ensejo para falar então desses novos tempos, como eles se deram na dinâmica física e material de vocês e como eles se deram extra fisicamente e interdimensionalmente conosco aqui fora desse campo material denso que se encontram.

Era ainda o ano de 1997, dez anos da Convergência Harmônica que abriu as portas para vários acessos. Quando a gente fala de portais, vocês automaticamente visualizam campos luminosos no céu, poucos se dão conta de que um portal solar só se abre quando corações, mentes, chacras sexuais foram abertos interna e pessoalmente. Seja individualmente, seja por casal, seja por coletividades. São esses mecanismos de junção, de atuação, de confraternização que abrem os portais e nos permitem passar.

Foi assim que eu chego até você. Estávamos separados por anos luz de orgulho e vaidade. O amor que tínhamos um pelo outro não conseguia espaço para a desilusão que nos causamos, a frustração que nos causamos. Em outros tempos o destino atrativo para esse mote de energia era eu renascer como seu filho, ou encontra-lo como amigo para resgatarmos esse amor. Porém, eu você e milhares de outros podemos contar com uma alternativa que estava se abrindo naquela época de forma sistemática, mas pioneira, o trabalho interdimensional. Eu iria assumir as característica de uma antiga vida, para seguir um roteiro criado por Oran afim de conseguirmos reativar nosso amor e confiança. Eu seria de novo um cigano, um andarilho, um criador de cavalos, nascido na Andaluzia, em terras espanholas e nisso eu resgataria todo um lado de magia, de sedução, de erotismo, de atração. Juntos iriamos construir etapas, níveis, situações das mais diferentes e inusitadas, como fases de um jogo que iria permitindo e dando novos acessos a novas fases e entendimentos (portais) no seu sentido mais pleno. Portais seriam e são fases e etapas de um jogo que não tinha, não existia, não estava preparada antes de terminarmos a anterior. Assim, ela era apenas uma possibilidade remota, muitas vezes nem vislumbrada, imaginada, porém fomos re-aprendendo a movimentar esse universo cristalino, a abrir conexões internas, externas, inter e multidimensionais. Fomos conseguindo vislumbrar o universo como cascas de cebolas, como seres dentro de seres formando uma estrutura conectiva que se comunica das mais diversas formas e com linguagens que começamos a entender. Cada trabalhador da luz, no seu espaço, com as suas habilidades co-criou e co-cria esses recursos e essas dinâmicas luminosas.  

Nesse trabalho, você abriu as portas do seu universo para mim e pude estar diante de um dos mais belos mundos que vi. Um mundo não apenas mental, um mundo que você construiu, erigiu com muito amor, dedicação, sofrimento, sublimação. Um mundo no qual eu fazia parte, eu era parte, eu me encontrava e pude dar colorido, sentido a ele e consequentemente ao meu. Quando nessas reconstruções nós superamos o século XX já não era mais possível continuar como sendo Júlio, eu precisava me valer do personagem que fora, mas agora não mais apegado a vaidade da boina, da imagem. Não mais amargurado por ver a esposa, a amada, se apaixonando por um jovem talento. Agora maduro para compreender que não posso controlar as vontades, os desejos e os quereres de outros, tampouco devo controlar os meus.

Nesse cenário, eu não me despeço de Júlio eu o integro. Trabalhando como entidade, eu pude realizar a integração de muitas vidas, de muitos aspectos e era a sua hora de realizar o mesmo, a integração de quem é você. Para isso, Solano é parte essencial. Ele é a porta interdimensional que permite vasculhar caminhos, rumos, estradas desabilitadas. Ele é a representação de milhares de seres que segundo os relatos históricos, materiais, desapareceram, sumiram sem deixar vestígios. Esses seres mudaram de estado vibracional. Como ele lhe disse e você não acreditou e ainda não acredita, ele foi morar dentro de um CRISTAL. Sim, nos cristais há seres consciências que demarcam espaços, portais, caminhos, informações, conhecimentos que eles vendo os riscos que correriam, os aprisionou. Combinaram entre si que esses conhecimentos só seriam liberados coletivamente, quando a humanidade alcançasse um nível de maturidade espiritual que permitisse a circulação dessas informações de novo.

Solano, o Brujo trás isso para você e é compromisso seu com o planeta devolver isso para todos. Auxiliar a cada um acessar a malha cristalina e retirar o acesso consciencial que lhe é próprio. São mediante esses nadis gigantescos que os espaciais caminham, se mostram, aportam. É por intermédio desses portais internos que entidades e médiuns vão se alinhando produzindo um novo tipo de relação e intercambio.

Pois bem, eu relato o restante desse processo no Sensibilidade Consciencial. Lá explico o que nós músicos do espaço temos feito e como que esses trabalhos no re-eduncandário nos mostrou que em sua maioria éramos músicos e produzíamos uma regência, uma cadência nesses encontros por vezes complexos, perigosos, pesados, densos. Como o de discutir energia alternativa no Oriente Médio, propor novas fontes e recursos energéticos nessas e outras localidades. E isso foi fundamental para estarmos aqui, para termos a liberdade de falarmos de integração consciencial. Para podermos falar de terapia, para podermos abrir um espaço que é na verdade um laboratório para colocarmos em prática ideias pilotos que vamos estudando no plano astral e necessita de implementação no físico.

A implementação é a parte que lhe cabe, assim como a supervisão, os ajustes dessas e outras medidas que vamos fazendo em conjunto. As 24 horas então de Júlio adentram universos variados, especialmente os nossos. Não desassociamos o tempo de nosso mundo subjetivo. E duas décadas depois de trabalho podemos falar com muita segurança que uma nova forma de trabalho, uma nova concepção e abordagem terapêutica, social, está apenas começando. Vocês estão no horizonte dessa nova criação. Um mundo no qual as distinções entre eu e outro, aqui e lá, dento e fora se perdem e se integram, se interpenetram.

Minhas 24 horas mudaram significativamente. Antes era imprescindível que eu estivesse lá, hoje eu sintonizo o lá dentro de mim e atuo, estou. É uma nova forma de escalonar o tempo e vivenciar os espaços. É uma nova maneira de situar no espaço e compreender o tempo. Mas, essa conversa já está registrada e atualizada.

 Segue o vídeo. 

 


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

24 HORAS: 3° RELATO- RICARDINHO

 

Ricardinho é meu moleque anjo. A segunda entidade que tive a honra de incorporar. Deveria assinalar como sendo a primeira, porque ele abriu as portas para recepção de tantas outras. Por anos acreditei que ele e Paulinha seriam os meus filhos nessa vida, mas não, Victhor e Yasmin já estavam antes na fila. Ricardo foi meu filho em Machu Pichu, naqueles momentos finais da história do nosso povo. Foi meu irmão em vários outros momentos, em que travamos várias e inúmeras batalhas pelo conhecimento. É um amigo, um irmão de alma que caminhamos juntos diversas vezes. Em Machu Pichu, ele também fora morto, viu nossa família ser dizimada, nosso povo ser quase extinto. 

O fato é que sem a presença de Paulinha e Ricardinho, próximos de mim, gravitando minh’alma, eu não teria condições psíquicas de ser pai. Os acontecimentos traumáticos que vivenciei com eles em vidas anteriores me marcaram muito e a desconfiança na vida, a dor da perda, que me atormentaram foi apaziguada com a presença e a força deles.

Paulinha já lhes deu o relato dela, Ricardinho deve falar mais abaixo. 

https://universofiholosofico.blogspot.com/2020/10/24-horas-2-relato-paulinha.html

O ponto é que esse medo de ter filho, essa negação em ser pai nunca foi algo racional, algo claro. E aqui dá para ilustrar como é esse trabalho dos erês. Basicamente, a cada incorporação, a cada desdobramento, a cada percepção de que estava perto, eu fui aproximando de outras crianças. Cada criança que vejo vendendo balas vejo Ricardinho. Esse garoto carioca, assassinado aos nove anos, juntamente com a mãe e mais duas irmãs, ambas mais velhas do que ele. Eu fui ficando mais tolerante com a infância. Para mim ela não tinha nenhum sentido. Reputava e de certa forma ainda reputo, um desproposito nascer zerado, num corpo no qual não se tem nenhum controle, que nem falar consegue. Num corpo desse o melhor a fazer é dormir e acordar com 12, 13 anos, foi mais ou menos o que eu fiz. Eles foram me ajudando a ter mais compreensão, tolerância, respeito, admiração e foi na trilha desse desenvolvimento que tive dois filhos, nenhum planejado. Não alcancei esse nível, mas todos vieram com esse sentido que me proporciona paz, cura, reestabelecimento.

Vamos ouvi-lo.

Meu nome é Ricardinho, eu sou da turma da Paulinha. Eu nasci, cresci e desencarnei no RJ, sou carioca da gema, do morro de Dona Marta. Minha família foi chacinada, palavra doida, eu a aprendi esses dias. Você deve estar pensando que foi ontem ou no mês passado, ou há dois anos. Na verdade foi a 40 anos atrás, hoje, 2017, cinquenta anos atrás.

E, tudo mudou. Algumas coisas para melhor, outras para pior. Para descrever as mudanças temos que falar de política e esse tem sido um assunto complicado nos últimos tempos nos quais tudo está dividido entre petralhas e tucanos, mortadelas e coxinhas. Eu desencarnei no Rio de Janeiro devido uma divida de jogo do meu pai. Foi talvez uma das primeiras e únicas chacinas da história do Rio naqueles tempos. A vida tinha um valor, que nem a falta de palavra de um homem, colocava em risco de morte a vida dos seus familiares, a própria sim, mas dos familiares não. Meu pai não se emendava, já tínhamos perdido salário, casa. Minha mãe teve que se prostituir para pagar divida de jogo e nada dava jeito, até a chacina de nossa família. Nessas desventuras, eu desencarnei sem ter comido um pedaço de pão. Não apenas devido às desventuras de meu pai, a passividade de minha mãe, como que no morro faltava materialidade. O morro tinha charme, carisma, malandragem, tinha delicias, solidariedade, companheirismo, mas não tinha pão. O básico faltava: água, luz, esgoto, arroz e feijão compunham a solidariedade do morro. Hoje o morro tem materialidade, talvez e alguns tenham apenas isso, faltando a solidariedade, a compaixão, o valor à vida.

Na década de 1950 a paisagem astral do morro era a de um idílio. Quando se subia o morro chegava-se de certo próximo ao paraíso, tamanha a tranquilidade, a paz de espirito, a serenidade encontrada naquele espaço. Hoje o cenário da maioria dos morros é de desterro. O que era espaço de esperança hoje é de preocupação e desespero para a maioria. Há um clima de terror, de guerra, de ódio. Aquela energia de amor, de bondade, que aquecia o asfalto, hoje se inverteu e a energia de paranoia, hostilidade, que domina o asfalto subiu. São cenários diferentes, de outras realidades, que pode ser acompanhada pela arte, pelo samba, pagode, rap, pelo funk. O morro hoje é mais materializado, tem de tudo, absolutamente de tudo. O morro foi transformado num centro operacional e com ele toda a loucura de uma vida voltada apenas para satisfação material. Eles mataram o charme do morro. Construíram aterros e condomínios fechados tentando apreender, encapsular esse estado de ânimo que era peculiar em nossos dias. Estou falando de uma vibração amena, suave, gostosa, tolerante, amorosa, respeitosa. O morro era brando, não cobiçávamos nada do asfalto, nem o pão que nos faltava. Não desejávamos nada da vida do asfalto, nem o estudo. Nossas pipas, nossas brincadeiras, nossas atividades supriam nossos corações e essa energia era redistribuída para toda cidade. Com o passar dos anos a ostentação foi aumentando. O ser foi sendo humilhado e a revolta por ter quebrou a mansidão da alma. Aos poucos todos foram ficando contaminados por uma vida vazia, sem esperança, ambiciosa de mais ilusões, vazia de nobres sentimentos e belas esperanças como exalávamos antigamente. O preço dessa transformação é a perda de sentido, de referência, de valores que as drogas, o tráfico, a violência expressam tão bem. Hoje no morro encontra-se de tudo e todos podem ter tudo, até a coisa mais cara do morro: sonhos fora da matéria. Sim, o estado de confinamento e tensão em alguns morros é tão recrudescido que parte da população não consegue desprender-se mais do que alguns metros do próprio corpo. O astral ficou tão intoxicado pelas práticas ambiciosas e desprovidas de valores que grande parte dos moradores vive em estado de sítio. Não conseguem se transportar oniricamente para fora dessa realidade, alimentando essa rede de tensão, estres, pressão que acomete toda a cidade.

Morei no RJ na década de 50. A violência na periferia é sintomática desde muito. A razão material de a minha família ter passado por isso foi divida de jogo do meu pai. É a mesma razão hoje em dia, em qualquer periferia do Brasil ou do mundo. Esse é o trabalho que faço o de mapeamento de zonas de conflito, as causas, as origens e as razões delas acontecerem individualmente e socialmente. Nós chegamos à conclusão de que a violência é uma doença ocasionada pela falta. Falta de comida, de bebida, de lazer, mas, sobretudo de perspectiva. Perante a permanência dessa falta o ser humano volta a ser animal, bicho, mas isso é assunto para as descobertas sociológicas que já começam a despontar para esse caminho. Só falei disso para salientar a necessidade de entenderem que a grande mudança se dá e se opera pela informação, pelo conhecimento. O espiritismo tem a proposta de intercambiar os dois mundos. As religiões, as seitas, os grupos religiosos infestam as periferias, no entanto, são poucos, os que proporcionam transcendência aos seus fieis. São poucos os centros religiosos, independente da denominação, que proporciona informação aos seus fieis para adquirirem autonomia, serem capazes de pensar, agir, pensar por si mesmos escudados pelo evangelho. A rede já esta pronta, nós a atiramos ao mar, alguns encarnados também, não temam puxá-la como Simão. Pescais homens como cristo nos legou discípulos, apóstolos, do conhecereis a verdade e essa vos libertara.

É tudo estranho, porque na década de 1950 nos morros tinham às vezes uma igreja católica e algumas casas de candomblé. Vivia-se uma forte espiritualidade. Hoje se tem mais igrejas do que casas, mas Jesus é mais um produto material. Jesus é o que promete materialidade e não transcendência. Jesus é um produto a ser consumido como cocaína, maconha, drogas, uísque, cerveja, tv a cabo e conexão wireless. Tirando algumas balas perdidas, alguns corpos no chão, materialmente, poucos lugares são melhores de morar do que o morro. No entanto, a atmosfera de apaziguamento, de frescor, de ternura tem dissipado, sumido. A materialização da renda proporcionou uma perda dos valores que sempre fez do morro um cantinho mais perto do céu. A lógica das drogas que seduz e arrasta milhares de seres, seja para sua venda, seja para o seu consumo, hipnotiza e ilude quanto ao verdadeiro sentido da existência, que longe de ser, morrer sem comer pão, não deve ser a de achar que a vida de outro irmão vale menos do que o de um celular. Hoje os jovens tem pão, as crianças têm pão e bolsa famílias para acalentar e matar a fome precisamos criar sonhos além da matéria, precisamos ensejar de novo que Cristo não é mercadoria, não está à venda, não se pode comprar, não se barganha, não se negocia. A partir disso temos o ideal- bens materiais e espirituais lado a lado. Condições e oportunidade de cada um ser aquilo que é. Condições de cada um ofertar ao outro e ao mundo o que se é.

As análises conjecturais tanto das sociedades quando dos grupos sociais é um mote de predileção da minha alma. Dentro disso ainda, o meu recorte é a violência. Tenho estudado sobre a violência há séculos nos seus mais diversos nuances e a violência do século XXI tem um requinte de barbaridade que imobiliza a ação, o fazer, o agir das vitimas; elas sentem-se culpadas de agirem de forma violenta e essa lógica é a violência perfeita. Mahatma Gandhi talvez não fosse possível hoje e Hitler com sua campanha de marketing dominaria, conquistaria o mundo sem precisar guerrear. Seria um pop star, ou um CEO capaz dos atos mais bárbaros, sanguinário, legitimados pela lógica nefasta do capital.

São análises e discussões como essas e outras que realizamos ao longo das minhas 24 horas. Em 2003 elas tinham como aporte, o acompanhamento das reuniões publicas e de estudo realizadas por você e seu grupo ao longo da semana; a preparação da supervisão para ampliarmos nossa conexão; meus trabalhos fora da imagem de criança que é mapear zonas de conflito, zonas de guerra e compreender formas alternativas e não violentas de superação, nem sempre possíveis. O homem é um ser violento e os níveis de violência que tem sido realizado ao longo das décadas, acabam por mostrar que a única forma de se provar humano é sendo violento. Uma violência que como destacamos tem recebido requintes cada vez mais sutis, mas não retira, ou reduz a arbitrariedade, a redução do outro a condição de objeto, a esterilização do sangue, da dor e do sofrimento. Enfim, é uma violência que aprendeu escamotear a morte, a dor, o grotesco, os aspectos que refreiam os instintos mais primitivos e perversos de todos os humanos. Encontrou-se uma forma moderna, contemporânea de ser perverso, diabólico, malvado, ruim e ser premiado, louvado. Isso nos lança diante do contrassenso e da contradição performativa mais emblemática, a saber, diante das violências simbólicas cometidas nos mais diversos níveis contra os seres, o revidar físico é a única instância de uma prova de humanidade. Se antes, a violência era o retorno à barbárie, nesse agora que nos encontramos, no qual a barbárie se faz sob o pretexto de uma humanidade Botox, plastificada, esticada, pacifica. Por trás dessa passividade impede-se o outro a ter acesso as suas necessidades básicas e fundamentais como o direito a água, a comida, a medicação natural. O revidar é ato humano, pelo menos é como temos observado. Já que o ápice dessa violência é criar a esterilização da resistência. O ápice dessa violência é ler e estigmatizar como terroristas pessoas que lutam e reivindicam direitos legítimos de grupos.

Por favor, não estamos defendendo radicais, extremistas, fundamentalistas islâmicos, cuja essência vibracional é idêntica dos radicais, extremistas do capital. Estamos falando de grupos organizados que compreendendo a lógica exploratória de alguns radicais capitalistas se opõem a eles pelo direito à moradia, aos bens e recursos naturais e são assassinados, envenenados, desacreditados, para que a lógica permaneça. Uma lógica de miséria, de exploração, de descrença e desterro. A lógica que está nos morros com o tráfico, que está em milhares das igrejas pentecostais com os pastores, que está em muitos cultos de matriz africana com os falsos pais e mães de santo. Essa lógica não é violenta, ela é a violência. Ela é a exploração em todos os níveis. Em todos os pontos que ela se encontra, ele deseja a exploração, a escravidão, a submissão, a penúria, a entrega de tudo, especialmente, daquilo que não se tem. Cria-se uma lógica de ambição que é oposta a da prosperidade. Fabrica-se uma perspectiva de falta, de escassez em detrimento da partilha e da solidariedade. Busca-se e difunde-se o enriquecimento de um, seja moral, ético, financeiro, material, em detrimento a miséria de centenas. A lógica do dizimo representa bem essa arquitetura maldita, violenta, diabólica de milhares darem o seu 10% para que uns poucos usufruam do suor coletivo de todos. Já imaginaram quais transformações sociais, econômicas poderiam ser realizadas se na administração desse fundo fosse novamente redistribuído para todos em forma de viagens, conhecimentos, informações e outros? Se o representante não fosse ladrão e sim um representante de Jesus? Mas, o apelo deles é iguais as do tráfico, que por sua vez é igual a dos grandes conglomerados. Eles servem a Mamon e sendo assim, cultuam o seu deus, escravizam os desavisados, seduzem os esperançosos, iludem os desafortunados e calam, compram, matam, envenenam e intoxicam aqueles que deveriam e devem ser a voz do alto. De forma que fico nesses núcleos observando, estudando os três motes de violência:


Primeira a simbólica organizada e planejada por alguns poucos capazes das mais diversas e sofisticadas formas de manipulação mediante estratégias midiáticas que vão desde mensagens subliminares em filmes, revistas, sites, até mesmo a transferência de propagandas, discursos e capital para alimentar a visão distorcida de perversa de poucos;



Segunda a violência no seu substrato físico, sangrento, sanguinário, que é a que vos chega pela mídia, sem mostrar o que se esconde por detrás desse Botox, dessa plástica social de se esticar o tecido social e escolher os pontos nos quais ele se rasga;



Terceira e servem como intercessão entre esses dois planos e é o que temos estudado e desenvolvido desde 2015 é o substrato sexual, as dimensões de prazer, controle, sexualidade que regulam as duas esferas e as duas práticas.

Fomos percebendo que os casos da violência, os casos de conflito, não são estritamente dinâmicos de grupos, há neles caracteres intersubjetivos que apontam para esse lugar complexo e vasto que é a psique humana. Perceber a violência dentro desse cenário interno amplia e nos permite mapear onde será e o que motivará determinados setores, grupos, a agredirem outros segmentos. Retornando ao nosso país e a análise nesse viés que destacamos acima no qual se vislumbra a divisão entre coxinhas e pão com mortadela. Nunca há ódio, nunca há violência se os espaços mentais, psíquicos, sociais não se cruzarem. Enquanto o conquistador espanhol sabe que o Inca é um ser inferior, não há violência, nem massacre, nem genocídio. Esse começa quando desponta na psique um sentimento de inferioridade. Diante dessa percepção aquela sensação de medo do estranho, do desconhecido, aflora impressões diversas que vão se complexificando quanto maior for o medo. No caso do Brasil temos a matriz indígena, africana e enquanto elas guardaram espaços internos, enquanto negros e índios sabiam o seu lugar, não havia violência. Havia a cordialidade. Quando um desses representantes chega a presidência do país há uma identificação negativa. Há uma luta interna, imensa, sangrenta, que custa se acomodar nos espaços mentais das pessoas. Como aceitar um nordestino, retirante, sem curso superior, ser presidente da nação? O conflito é interno e isso dará o start para desencadear uma sucessão de fatos, de acontecimentos, de raiva, de ódio, que estavam ‘pacificamente’ apaziguados, porém aflorou, despertou e estamos vendo as manifestações de ódio, de raiva, de intolerância dos dois lados. O homem cordial brasileiro é ódio puro.

Mapear esses conflitos, essas violências é o que tenho realizado. Trocamos essas informações com sociólogos, cientistas políticos, que fazem análise de conjecturas com essa precisão. A maioria ainda sem interligar os eixos, cada um sob um enfoque, mas estão chegando uma geração que não vai desassociar a violência física como resposta as demandas simbólicas, que por sua vez abrem as camadas para o universo intersubjetivo das pessoas. Juro que vocês entenderão isso, porque as ações de provocação (simbólicas) são realizadas sabendo quais os tipos de seres (psiquicamente) irão se opuser e com isso serem mapeados para os mais diversos fins. Isso já está sendo feito por organizações que cooptam lideranças antes de elas se saberem lideres.

Muitos de nós temos nascido para enfrentar esses e outros conflitos de frente. Os lugares físicos que eu mais me atenho são o tráfico no Rio de Janeiro e a contaminação disso na sociedade. A construção coletiva e social dessa lógica criminosa eu venho estudando a partir de um comando da capital paulista. Já a manifestação brutal dessa violência, estudo vendo os carteis mexicanos. As sutilezas das articulações simbólicas na criação de pontos de tensão, de conflitos e práticas mercantilistas de solução, Wal Street e Genebra. O Estado Islâmico são perversões dessa lógica, é o caos dentro de um controle que não se tem. Um efeito colateral inesperado, imprevisível, mas que longe de ser uma resistência funciona na mesma lógica, a mesmíssima lógica do capital. Querem o controle, buscam o poder. Os trabalhos suaves, sutis, impactantes têm sido feito com as programações de software aberto, com as programações em rede de uma inteligência coletiva em bases solidária e participativa. As transformações impactantes têm sido despontadas com o capital verde, o entendimento da natureza como parceira, o que implica uma lógica primitiva, ioruba, banto, xamanica de parceria e respeito à natureza no seu sentido mais profundo. Passam também com trabalhos bioenergéticos que vão ancorando novas formas e uso dos recursos minerais, novas formas de energia. A revolução está acontecendo e não implica no fim do dinheiro, que é um sistema de troca mais evoluído que se pode ter, permite que cada um obtenha e adquira o que desejar. Então o problema não é o dinheiro, ou a riqueza, ou a prosperidade, o problema é o uso mesquinho, tacanho, criminoso que tem sido perpetrado e ensinado às pessoas. Compreender que há novas formas de se ganhar dinheiro e uma nova forma de usá-lo distribui-lo é como combatemos a violência no seu estado mais germinativo- a ambição.

Basicamente é isso que tenho realizado e realizo ao longo das minhas 24 horas, que como disse, Paulinha tem dormido apenas 6, 4 horas. As outras 18/20 horas temos nos dedicado a elaborar formas e alternativas de nos melhorarmos socialmente.  

Ricardinho 17/8/2017

 


Finalizando, quero registrar que não tinha consciência disso. Sabia que era através de Ricardinho que as intuições dos livros e muitos trabalhos me chegam: Penas Redentoras é um exemplo. Muitas das escolas que vim a lecionar, foi ele que as ‘atraiu’ e ele é sem dúvida a entidade mais frequente em minha sala de aula na interação com os alunos. Aprendemos juntos, embora não faça isso conscientemente.