Pastor Silas Malafaia fez
uma declaração dizendo que Jean Wyllys continuando seus ataques ao Pastor
Feliciano os ajudariam muito nas próximas eleições e no fortalecimento dos
fieis, por incrível que pareça, é fato. A exposição obtida por Feliciano foi
imensa.
Eu não vou defender que o
Estado é laico, porque isso é apenas no papel. O Estado é cristão com fortes
tendências católicas. Orientações religiosas como o kardecismo, Umbanda,
Candomblé, Budismo e outros não gozam da mesma benevolência e complacência do
Estado. E tudo isso nos serve para mostrar que o religioso não esta distanciado
do político, pelo contrário, a dita laicização do Estado é recente e não de
toda observada; haja vista, os ateus, que pedem para tirar crucifixos e símbolos
católicos das instituições publicas e estatais. Somos cristãos até mesmo quando
não sabemos. E quem aponta isso é quem não é. Porque para aqueles que pertencem
ao mesmo sistema de crença, independente se católico, pentecostal, protestante
é o outro, o diferente. O não eu.
Posto isso parece que o
problema parece ser mais político do que religioso, embora a capilaridade do
mesmo desvie para questões de fé, de hábito e de crença. A discussão é sobre representatividade
política e legitimidade social, midiática, vejamos.
Pastor Feliciano disse em
público o que grande parte dos seus pares de Congregação dizem no púlpito, no
altar. As interpretações homofóbicas, racistas, sexistas desses lideres
religiosos são retirados ipsis litteris
do livro sagrado. Sendo que cada congregação faz uma hermenêutica mais ou menos
radical.
Os evangélicos um dia
foram minoria em nosso país. Foram discriminados, não que ainda não sejam, mas
é que hoje mudaram de lado, de posição, de lugar. Não são mais aqueles para os
quais se apontam os dedos, pelo contrário, hoje, eles apontam os dedos em
especial dois: o indicador para acusar e o dedão para no melhor estilo romano
de Nero, Caligula, DiocleciANO dar o veredito.
Esse novo lugar dos evangélicos
no Brasil é pré-ocupação da Igreja católica há trinta anos e dizem muitos que a
escolha de um papa latino-americano dialoga com uma tentativa de minimizar a expansão
dessas ‘seitas’. Dentro desse cenário, não podemos perder de vista que foi a
IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) que conseguiu ensinar o caminho por uma
representatividade efetiva, isto é, sair do campo estritamente religioso e ir
para o front político. Não é outra também os motivos atuais de rupturas entre
diversos pastores e congregações. Poucos têm observado a politização da
religião em nosso país. Mas a maioria despertou quando estava e está se
tentando realizar a ‘religiolização’ da política.
Nada mais justo em uma
sociedade democrática do que eleger aqueles que nos representa. E também nada
mais bíblico, já que em toda a sua história o poder temporal sempre esteve
atrelado ao poder espiritual. Profetas eram alçados a reis. O líder religioso é
um líder político. O discurso católico esvaziou essa dinâmica, mas ela é tão
regra, que Jesus para os judeus não é o Messias. O Mashiach é um líder político,
mais do que um líder religioso. Essas coisas não se distinguem na história do
povo eleito de Deus.
Mas a questão que tudo
isso suscita é: o que nosotros temos
a ver com isso? Quais são os limites dessa representatividade? Até que ponto
minhas crenças e convicções devem ser espargidas para toda sociedade? Essas demarcações
não são claras, nem límpidas, nem transparentes. Essas demarcações são quase
que inexistentes. Temos como hábito segregar, excluir, silenciar essas
discussões e seus interlocutores.
A comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) tem como princípio guardar o lugar dessas
discussões. Ela tem como base constitucional representar essas vozes que não
são escutadas por outros meios e mecanismos. Ela tem como princípio dar cara e
voz a um grupo segregado da sociedade. Pode-se e deve-se discutir quais os
limites de atuação dessas vozes e rostos, no entanto, não se pode esvaziá-la
por intermédio de um discurso contrário. Difícil o jogo democrático.
Estou defendendo que por
mais absurdo e extemporâneo que seja um brasileiro do século XXI carregar
debaixo do braço e utilizar como norma de comportamento regras de um povo do
deserto de mais de cinco mil anos. Acho anacrônico alguém utilizar as bases de outra
sociedade e de outro tempo para orientar as suas. Mas, isso pode ser aceito até
o momento no qual se busca justificar as desigualdades e a discriminação, seja
a negros, mulheres, homossexuais.
Pastor Feliciano, Silas
Malafaia, a cantora do Calipso, todos os fieis, tem todo o direito de
acreditarem nisso, mas não podem ainda que por instrumentos democráticos adentrar
a CDHM. É o mesmo que aceitar Jean Wyllys- negro, homossexual, candomblecista
como pastor da Assembléia de Deus. São violências desnecessárias e contraproducentes.
No Twitter e no face rodou
muitas frases, escolho essa para findar:
"Meu nome é JESUS, judeu, andei com uma prostituta, amei meu traidor, fui morto pela intolerância religiosa e Marco Feliciano não me representa."
Precisamos de dar a Cesar o que
é de Cesar e a Deus o que é de Deus.